Fala
Do Fanatismo!
Fala-se em demasia na "Verdade Absoluta", no entanto essa inexiste, trata-se de fantasias racionalizadas, o que de fato existe, são miríades de verdades, e todas são verídicas para os que as defendem.
Peste
Vai lá e fala para sua amiga que acabou de treinar, que ela está linda, que está parecendo com um peixe.
Ela vai te perguntar, qual peixe, amiga? Um baiacu.
Agora saia correndo, se não ela vai te devorar viva.
Você é aquela mulher que não esconde o que sente, é aquela que fala e age conforme o que diz, você é aquela mulher que não tem medo de ser feliz
Tapioca
Com suas mãos sofridas e negras,
A goma molhada é esfarelada
Enquanto me fala da vida...
E nela algo me diz,
Que a áfrica é Vó de todos os brasileiros,
A fécula repousa,
O descanso que os negros não tiveram,
Mas minha Vó tem o sorriso,
Tem o prazer pela vida,
Que correntes, troncos e rebenques não lhe tiraram...
O leite de coco, feito com esmero
Corre entre seus dedos,
Ralado e esmagados por mãos potentes;
Enquanto a tapioca é assada,
Ela me fala com certa nostalgia,
De um amor do passado,
Nesse momento os olhos
De vovó são como o lago,
Mas nenhum guerreiro mostra o seu lado fraco
E quando a tapioca cheira, ela pega a frigideira
E no movimento rápido vira a tapioca,
Então me olha com carinho, neste rico país
Que ela ajudou a construir;
Morando sob uma humilde casinha de taipa,
De piso morto, ela ainda é feliz...
TADEU G. MEMÓRIA
PERFIL
Você brinca, fala, gargalha, e cantarola um falso contentamento, mas o ar triste não te abandona, e o teu perfil lacônico se eperde no infinito, em contraste com o horizonte, a divisar o inatingível dos astros; você é um vulto, você é quase uma miragem que eu envolvo e apesar de tudo eu consigo entender a tua abstração; a tua incompreensão; só não posso crer, que você queira se furtar aos sentimentos que eu não te nego. Eu reconheço os meus defeitos e aceito os teus, mas a indiferença é uma imposição, e se compõe na tua tentativa de de uma integração; isso passa a ser fingimento e isso eu não suporto. Compreendo a inconstância e a estupidez de tudo, mas aceito e sofro essas mesmas vicissitudes, só não entendo que você não perceba que temos algo, que nem a vicissitude das coisa consegue mudar, e, é isso que me faz ansiar a tua espera, é isso que me faz ter esperança e desesperar o teu desespero, é isso que consola a minha angústia e me faz sofrer a tua aflição, é isso que me liberta demim mesmo e me faz ser escravo de você; é isso que me faz existir na tua vida, e não viver a minha existência, é isso que me liberta de mim mesmo e me faz ser escravo de você, não, eu não sou o ideal que você idealizou, sou um cara cheio de defeitos, de ambições e limitações; mas é esse cara cheio de defeitos, que chora a tua tristeza e que tem como objetivo o teu ideal; sim eu sou o reflexo de você, mas você não se olha e eu perco a minha imagem, olhe pra mim, sim eu te amo, mas o que há de errado nisso? O que há de absurdo, se para cada pecado teu eu tenho um perdão, se para cada olhar eu tenho uma promessa, o que há de absurdo? Eu te amo, e, isso nem a inconstância das coisas, nem a instabilidade da vida vai mudar, porque eu não te idealizei, mas se você não existisse eu teria que te inventar...
Quando vivemos o evangelho, nossas palavras só confirmam aquilo que todos já sabem, mas quando falamos o que não vivemos, também seremos conhecidos, não por cristãos, mas por HIPÓCRITAS.
"Todo poeta fala sobre o amor, todo poeta entende o amor, mas não nasceu para ser amado de verdade. Talvez seja por isso que eu não encontro um amor verdadeiro; talvez seja por isso que todo poeta está sozinho. Se não fosse assim, ele não seria um poeta."
A bíblia fala sobre “semelhante”, semelhante, não pela aparência, mas pelos valores e tradições, sua família e pela vida que se assemelha. Toda vida é semelhante para o reino do Universal absoluto porque toda vida passa pela máxima da existência: nascer, permanecer e desencarnar.
PROFESSORINHAS
Demétrio Sena, Magé - RJ.
A dose certa de afeto
na fala mansa e pautada,
extrai o pólen mais doce;
mais delicado e secreto
que a professora conduz...
... ... ...
Que vai na luz de seus olhos
dentro dos olhos em flor...
... ... ...
Achando amor e aconchego,
são feito balas de neve,
açúcar fino e suspiro,
nos doces dons que remetem...
... ... ...
Professoras derretem no céu-da-boca...
REFLEXÃO ANTI-JOGO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Só se fala em vencer; chegar na frente; fazer a diferença... temos que aprender a empatar; chegar junto; fazer a igualdade.
PALAVRA FÉRTIL
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Fala branda e pausada chega e pousa;
logo adentra os ouvidos desarmados;
ousa mais, vai mais fundo e se aconchega
onde o chão dos sentidos é mais fértil...
Grito, não; grito é fala de festim;
chega e sai sem cumprir o bom papel;
rouba o sim, mas o sim é negativo;
é artigo ilegítimo e não dura...
Os arroubos nos tiram de quem somos,
nossos pomos forjados apodrecem
sobre galhos doentes; ressequidos...
A palavra que chove de mansinho,
tece ninho; põe ovos; dá ninhada;
tem raiz; alicerce; consistência...
INDIOMA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Brasileiro fala
corretamente.
Pra ser franco e direto.
Se considerarmos
que o idioma
de nossa gente
é o português incorreto.
MALÍCIA ÉTICA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Sempre fale bem daquela pessoa que você sabe que fala mal de você. Não faça isso por bondade, mas por malícia, mesmo. Malícia ética de quem sabe que o tempo e as comparações de comportamentos desenharão seu prestígio; sua boa imagem. Ao mesmo tempo a maledicência, por si só, corroerá por completo a falsa fina estampa de quem a exerce. Você não precisa fazer nada para se defender. A própria convivência de seus afetos com os maledicentes derrubará todas as máscaras.
E POR FALAR EM QUEM FALA...
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Lido com as pessoas de meus relacionamentos, dentro de suas condições pessoais de conviver comigo. Sempre acho, embora muitas vezes equivocado, que tenho bem mais elasticidade para recebê-las, com suas variações de comportamentos, do que elas a mim.
Com algumas pessoas me permito ser essencialmente quem sou, em todas as minhas esquisitices, manias e charadas. isso tem muito a ver com a confiança de ambos os lados. E acredite; para lidar comigo, há que se ter muita confiança; tanto em mim, quanto em si próprio.
Com outras pessoas, para seu próprio bem, já me permito podar um pouco, se houver algum compromisso de convivência. E com outras mais, externamente nem sou quem sou, pelo quanto me adéquo, me ambiento e me aparo, no caso de ser especificamente necessário conviver.
Não sou falso. Ser falso é fingir para ter vantagem, trair ou prejudicar alguém em determinado momento, como jamais será meu caso. Apenas reconheço que não sou de fácil compreensão. Nem aceitação. Nem discernimento. A depender de com quem convivo, é necessário eu mesmo proteger essa pessoa de minhas nuances; minha liberdade; minha integralidade vivencial. Preciso estar menos eu, naqueles momentos que me põem próximo de quem não tem condições de conviver com as minhas verdades.
Então às vezes mudo. Não a identidade, mas a forma de apresentação. Isso acontece quando concluo, depois de muita convivência e observação, que a pessoa em quem confiei ao ponto extremo de não ter segredos, formalidades, e assim estabelecer uma entrega honesta e desarmada, não entendeu o contexto e o tamanho do afeto. Não houve qualquer entendimento de minha falta de noção.
É aí que acerto o compasso. Passo a ser para tal pessoa, o que ela pede que seja, desde que isso não me descaracterize para mim mesmo, ao que seria melhor o rompimento definitivo. Pense bem. Pense muito bem, antes de se permitir conviver com alguém tão cru. Tão sem cozimento, confeitos e aparatos.
AS PRIMEIRAS PALAVRAS
Demétrio Sena, Magé – RJ.
O pirralho do vizinho demorou bastante a falar. Começou com mais de três anos. Mas era uma criança esperta. Começou logo a brincar na rua e sabia brincar de tudo. Jogava bola, jogava pedra em cachorros e gritava mais alto que todos os meninos.
Quando iniciou as falas, ficou muito tempo com um vocabulário escasso. Além disso, falava tudo truncado. As duas primeiras palavras que aprendeu a falar, não saíam de sua boca. Ele sempre as dizia em alto e bom som. Às vezes em separado, e às vezes tão juntas, que pareciam a mesma palavra. Levei meses para saber o que significavam pôia e calalo. Não houve dicionário que decodificasse para mim. Procurei em tudo quanto é canto, e nada. Nenhuma fonte. Nenhuma pessoa soube me dizer.
Só tive como saber o que eram pôia e calalo, no dia em que o moleque levou um tombo e a mãe correu, em desespero, para socorrê-lo com álcool iodado. Quando a pobre mulher passou o álcool no joelho ferido do menino, rapidamente compreendi o que pesquisei por tanto tempo, sem nenhum resultado. Também percebi que nunca estive só em minha ignorância com relação ao vocabulário estreito e complexo da referida pestinha. Em especial, no tocante ao mistério dos dois inseparáveis e distintos vocábulos.
Todos ficaram visivelmente assustados e boquiabertos com a imediata compreensão das tais palavras complexas, ao escutarem os gritos desesperados do menino: “Chega, mãe! Chega, mãe! Essa Pôia tá doeno pla calalo!”.
ALÉM DOS OLHOS
Demétrio Sena - Magé
Era gago na fala e fluente nos olhos;
tinha sempre um discurso de afeto ocular;
escrevia sem pontos, coesão, acentos,
mas errar com pessoas não era o seu texto...
Lia mal; porém lia o caráter de gentes;
sempre foi um leitor impecável da vida;
tinha dentes escuros e o sorriso franco
de pressoa da qual não havia suspeita...
Foi alguém bem além do letreiro da faixa;
era fora da caixa; da bolha; do ringue;
seu swing nos meios foi solto e sem notas...
Teve tanta elegância, saber tão profundo,
que ninguém neste mundo lhe causou inveja;
ele ria, por dentro, de quem ria dele...
... ... ...
Respeite autorias. É lei
