Fabio de Melo Acaso Deus Felicidade
Gosto quando você esquece o mundo e apenas me encara. Nessa troca de olhares a vida acontece, enquanto o tempo para. Palavras tentam explicar o que está na cara. Duas almas que se desejam sob regras que os separam.
Me alimento do que está vivo. Remonto meu destino como quem orquestra seu próprio fim. Desmontei estruturas pendulares, me vejo em olhares, sou o estralar dos calcanhares no chinelo de borracha, a sola do tênis que pisa o chão, os olhos que observam cores e formas, sou o aroma que invade as narinas, pertenço a tudo, tudo pertence a mim, tudo pertence a ti: o sorriso que cala a tristeza, a beleza que encanta olhares. o canto lírico da natureza, o ar carregado da cidade. a dor do arrependimento; a lágrima da saudade…
Enquanto meu lado emotivo estiver ativo, sinto que ainda estou vivo. Quero pertencer a mais do que um bairro ou uma cidade, quero ser mais que uma identidade, minha máxima é a autenticidade. Me peguei perdido em minha vaidade, me deixa ser eu de verdade, cansei de sua permissão sobre o que posso ser, cansei de ter que ter pra viver, quero apenas ser, existir igual ao vento, ser um pensamento que cria insensatamente. Pensamento vazios invadem minha mente, há vida enquanto eu for um elo da corrente, nem serpente nem vidente, apenas nobre sonhador, sofredor de um mundo que nos condena ao sacrifício, mil ofícios pro seu tempo ir para o ralo, sou eu quando falo e também quando me calo. As respostas sobre a vida estão no dicionário.
Me deixa falar, me deixa xingar, expulsar demônios de meus sonhos, tiranos de seus tronos, quero a vida simples de um instante natural, olhar pra dentro e perceber o espiritual, que move meu corpo, razão nenhuma a explica, aquela luz que ilumina a vida, a boca que traz as respostas, ideias opostas que se somam, maneiras de viver que se confrontam, liberdade pra assumir que o ego é a personificação da alma, nem tudo a alquimia explicaria nas entrelinhas, imagine quem se atreveria a procurar a razão do sol brilhar mais um dia, da onde vem a magia que a ciência não explicaria? Nem toda religião saberia, apenas apontaria, e se errassem a pontaria? Pra onde a razão apontaria?
Todo tempo investido, mensagens que traziam dedicação, amor e paz. Já me revoltos em mistérios aos quais me desfiz em sinais, igual a água: transcender o que nos prende, romper barreiras que nos separam. Lembrar de momentos aos quais nos foram eternos, viver todo instante buscando o valor de estar vivo, sou eu quando tenho me permitido tentar, cansei de esperar, preciso me levantar, começar a lutar, batalhas que nos mutilam, queria apenas valorizar a criação, olhar a minha volta interpretar cada situação e entender o valor da justiça e do perdão.
Humanos e suas manias, seres carismáticos, práticos, tudo que sou é o que a sociedade em mim reproduz, sou induzido a escolhas, meus pensamentos nem meus são, sou só um boneco, nos apegamos a Deus ou algo divino, divido minha vida em um sacrifício, me sacrifico pela cidade, uma nação que não tem rosto, de agosto a agosto trabalhando pra pagar o imposto, torço pra que minha vida brilhe, foco no que me orienta, já me despedacei pra me remontar em um quebra cabeças, dizem: “apenas ouça e obedeça”, dizem que sou manipulador, se sou, que seja pela liberdade da cabeça.
Vivemos ansiosos pelo que irá acontecer e como iremos agir, mas ignoramos o valor do ser e o porque de existir.
O presente em um segundo vai embora e vira história.
O futuro é uma idealização humana: uma fuga do agora.
Vivi mais de mil vidas até chegar nessa que me encontro, viverei mais um milhão apenas pra passar o tempo, nada faz sentido fora de si mesmo.
Quando eu era criança, em meio a meus questionamentos sobre a vida, eis que surge a religião, com o passar do tempo surgiram mais questionamentos, na adolescência conheço algo que supria a necessidade de respostas: a poesia, na fase adulta, nessa de querer entender a vida, guiado pelos versos encontro a filosofia, então decido seguir o caminho acadêmico para adquirir o conhecimento, no primeiro dia de curso, conheço a história e me apaixono.