Escárnio
Final de ciclo para o maior narcisista da história; idolatrado e cheio de glórias pessoais; visão grandiosa de si; ícone absoluto da cultura jurídica; homem de autoimagem inflada; poder implacável; verdadeiro deus vivo; um líder excepcional; um líder divino; homem no centro das atenções; líder infalível e intolerância de oposição. A estrela apagou; o martírio acabou. A alegoria ofuscou; pirotecnia acabou; cabotinismo expirou; o firmamento está em paz; o estrelismo apagou. A esperança venceu o escárnio. Esplêndida felicidade. E agora, rei do sol?
Memórias de um sentimento em transe
Te lembras do dia em que escarrou a desesperança em minha cara?
Te lembras do dia em que me estapeou a cara com sua falta de empatia?
Te lembras do dia em que derramou o amargo de seu rancor sobre minha cabeça?
Te lembras de quando socava minha boca toda vez que eu gritava 'eu te amo' ?
Lembra-te da perversão de sua língua, quando esta atirou palavras pra assassinar o que ainda havia dentro de mim? Eu lembro.
O amor não é lindo. O amor dói, corrói, destrói. O amor é como o câncer que consome o meu pâncreas. O amor é escuro e fétido como um sumidouro raso. O amor é sujo e usurpador, como a terra que há de sorver minha carne e meus ossos.
O amor é estúpido, imoral, mordaz. O amor é vão, breve, voraz. O amor é o prato que não se serve na saga humana do escárnio.
O amor é a arte do contentamento em face do desencanto. O amor é assunção da decadência, conjugação do esquecimento.
Eu lembro, tu lembras. Eu esqueço, te esqueço.
Vão sentimento. Em transe.
A CARECA
Brilhante obra alva
Do vácuo feito em novelos
Grande cabeça calva
De ideias e de cabelos.
Universo velho sisudo
Cabeça nova p3lada
Ele abraça tudo
Ela reflete nada.
A careca não tem vista
Nem orelha
E nem língua.
Ela é a dor do artista
Da centelha
Que só míngua.
O uso de imagens de pessoas consideradas "exóticas" com a intenção de provocar risos, zombarias e escárnio é cada vez mais comum na sociedade pós-moderna.
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