Do nada
Quando os outros homens seguirem cegamente a verdade, lembra-te: nada é verdade. Quando os outros homens estiverem limitados pela moralidade ou pela lei, lembra-te: tudo é permitido. Nós trabalhamos nas sombras para servir a luz. Nós somos Assassinos. Nada é verdade, tudo é permitido!
Vivemos em um mundo onde tudo tem preço, mas quase nada tem valor, e as poucas coisas que tem valor, poucos sabem valorizar.
— Que foi?
— Nada. (Paixão, solidão, amor, lição, trabalho, calor, frio, vento, sono, fome, coração partido, promessas, amizades, distâncias, angústia, vontade de chorar, quero um abraço, preciso gritar, minha mente está um bagunça, eu amo você.) Nada mesmo.
Se o corpo parecer para você como algo maravilhosamente construído, lembre-se que não é nada em comparação com a alma que mora dentro dele e que é uma coisa divina.
É que só sei ser impossível, não sei mais nada. Que é que eu faço para conseguir ser possível?
LISBON REVISITED
(1923)
Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!
Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!
Me diz... Quem não gosta?
Cabeça no ombro... conversas engraçadas... risadas por nada... musicas apaixonadas... abraço quentinho transmitindo CARINHO!...
Se nada mudar, invente. E quando mudar, entenda. Se ficar difícil, enfrente, e quando ficar fácil, agradeça. Se a tristeza rondar, alegre-se, e quando ficar alegre, contagie. E quando recomeçar, acredite. Você tudo pode. Tudo consegue pelo amor e pela fé que você tem em Deus!
Sabe o tempo? Então, ele não cura tudo. Na verdade ele não cura nada. O que cura coração partido é se apaixonar. De novo.
Vamos voltar pra aquele lugar
Vamos voltar
Ao tempo em que nada nos dividia
Havia motivo pra tudo e tudo era motivo pra mais
Era perfeita simetria
Éramos duas metades iguais
