David Mourão Ferreira
Ama-se a vitória difícil, porque a derrota lhe preenchia quase todo o espaço possível. E foi com o que restava que se venceu em todo ele.
O tempo que passa não passa depressa. O que passa depressa é o tempo que passou.
O amor acrescenta-nos com o que amarmos. O ódio diminui-nos. Se amares o universo, serás do tamanho dele. Mas quanto mais odiares, mais ficas apenas do teu. Porque odeias tanto? Compra uma tabuada. E aprende a fazer contas.
Chora aos berros como as crianças até te estafares. Verás que depois adormeces.
De que te serve a inteligência, se não tens inteligência para a usar com inteligência?
Vive a vida o mais intensamente que puderes. Escreve essa intensidade o mais calmamente que puderes. E ela será ainda mais intensa no absoluto do imaginário de quem te lê.
Ser inteligente é ser desgraçado. O imbecil é feliz. Mas o animal também.
O grande paradoxo do artista é ter de tornar invisível a visibilidade do artifício com que torna visível esse invisível.
Eu fui à Floresta porque queria viver livre. Eu queria viver profundamente, e sugar a própria essência da vida... expurgar tudo o que não fosse vida; e não, ao morrer, descobrir que não havia vivido.
Não importa quão limitado possa parecer o começo: aquilo que é feito uma vez está feito para sempre.
Se uma planta não consegue viver de acordo com sua natureza, ela morre, e assim também um homem.
Fui para os bosques viver de livre vontade. Para sugar todo o tutano da vida. Para aniquilar tudo o que não era vida e para quando morrer, não descobrir que não vivi.
Não nasci para ser forçado a nada. Respirarei a meu próprio modo.
Viva cada estação enquanto elas duram, respire o ar, beba a bebida, saboreie a fruta, e deixe-se levar pelas influências de cada uma.