Da Solidao Cecilia Meirele
Canção de indagas
Ao ler Cecília Meireles
Se minhas mãos
Não te mostram viagem
Que fazes tu
Nesta minha paisagem?
Se os meus pés
Te guiam um caminho
Que fazes tu
Em destino sozinho?
Se os meus olhos
Te clareiam a avenida
Que fazes tu
Que nunca chegaste à casa minha?
Se os meus braços
Te encurtam a distância
Que fazes tu
Que nunca me alcanças?
Se meus abraços
São todos puro mel
Que fazes tu
Por que me és cruel?
Se depois de tudo
Inda estou perdida
Que fazes tu
Que não me encontras em tua vida?
Não Sou Cecília
Não sou Cecília,
mas caminho,
absorta na multidão,
Solitária.
Desenho meus descaminhos,
e busco,
felicidade!
Escrevo pra provocar.
qualquer
acontecimento.
De repente,
surreal.
Que me surpreenda.
e que ninguém,
se arrependa!
Cores
(a Cecília Burle)
Enquanto a gente é criança
Tem no seio um doce ninho
Onde vive um passarinho
Formoso como a Esperança.
E ele canta noite e dia
Porque se chama: Alegria.
Depois... vai-se a Primavera...
É o tempo em que a gente cresce...
O riso se muda em prece,
A alma não canta: espera!
E ao ninho do Coração
Desce outra ave: a Ilusão.
Mas esta, como a Alegria,
Nos foge... E fica deserto
O coração, na agonia
Do inverno que já vem perto.
Nas ruínas da Mocidade
É quando pousa a saudade...
Não é fácil lavar louça quando eu poderia estar lendo um soneto da Cecília, um poema do Bukowski, qualquer coisa do Drummond... se bem que o tilintar de colheres, facas e garfos é inspirador; a espuma do detergente, o barulho dos pratos, a água caindo... ah, tudo é poesia e isso me transporta pra um horizonte sem limites; eu sou um anjo e condeno os pecados do mundo, mas eu também tenho os meus pecados, esta paixão... esta paixão pela vida; Louis Armstrong sabe de tudo: "what a wonderful world!" que mundo maravilhoso; garfos, facas e colheres tilintam... pratos e panelas são lavados lembrando-me que pessoas se alimentaram, a água cai como cristais lembrando rios e lagos, a poesia é viva e dinâmica; e eu reflito no meu horizonte: os pecadores passam, a paixão nos rejuvenesce e a poesia... a poesia é o ar que você respira, a água que você bebe, é o que te alimenta. Ah, quem vive sem poesia?
ODEPÓRICA COM CECILIA MEIRELES
Quem achar pegadas assim, que se disponha a seguir.
É subida de montanha e caminho tortuoso!
Pode até não ser, depende de teu ser.
A única certeza? Lá em cima o sol reluz.
Aqui embaixo tudo se reduz!
AMANHÃ SERÁ OUTRO DIA
Índia Cecília
Num sonho que parecia real me vi caminhando por uma trilha de uma mata virgem, usada por tribos indígenas ou caçadores, assim imaginei que fosse. Quando de repente me deparei com um riacho que onde havia uma taipa de pedras que servia de caminho para atravessar o riacho. De repente ouvi vozes de alguém, eram rapazes e moças indígenas tomando banho no riacho logo abaixo da passagem, fiquei observando o divertimento dos jovens indígenas quando de repente um deles notou a minha presença ali perto e me reconheceu e me chamou pelo nome para atravessar o riacho e ir junto com eles. O nome do qual me chamaram parecia conhecido para eles mas eles me pareciam ser estranhos. Mas seguindo em frente na história os jovens indígenas se aproximaram de mim e entre eles havia uma moça de uma beleza rara, morena esguia e altura média alta, cabelos negros caindo abaixo dos ombros. Tinnha um rosto comprido, lábios finos e compridos. Vestia uma saia que chegava abaixo dos joelhos parecia ser brim branco com bordados de flores silvestres cor de rosa. Usava uma jaqueta de couro de animal silvestre. Costurada com tentos finos e bem trabalhados. A jaqueta de couro tinha uma cor marrom com estampas trabalhados a mão. Ela se aproximou de mim e ficou parada por uns instantes me contemplando, de repente me convidou para ir junto com ela até sua aldeia. Era uma moça quieta, quase tímida, porém séria e segura de si própria. Ela deveria ter uns 27 anos de idade. Me convidou para entrar na tenda da família no qual havia uma idosa que logo imaginei fosse sua vó. Depois de alguns instantes apareceu um senhor, índio mediano trazendo um javali que havia caçado. Chegou quieto me observando de repente pediu para a moça trazer seu cachimbo e o tabaco, ela de pronto o atendeu. Foi quando ele me perguntou o meu nome no qual eu respondi Cacique Cajú e ele respondeu. Eu me chamo Cachoeira Serena, era ja tarde da manhã quando Índia Cecília apareceu servindo carne selvagem e pão feito com milho verde ralado na pedra trabalhada. Mas tinha um sabor extraordinário. A tarde foi divertida com os jogos típicos das tribos indígenas. Num certo momento nos acentamos para conversar e cada um contou a sua história, foi quando Índia Cecília contou a sua, que ela era órfã de pai e mãe e que eles haviam sido mortos numa emboscada de uma tribo rival e que havia sido adotada pela tribo na qual ela estava, e que seu marido flecha branca também teria morrido num ataque de onça. Quase chegando o final do dia Índia Cecília me pediu para acompanhar-la a um passeio ao redor da aldeia, caminhamos por cerca de meia hora. Quando chegamos a um lugar ermo com pouca vegetação e dali podia se ver o pôr do sol. Quando o sol ia se pondo encostando no horizonte Índia Cecília se virou de costas para mim e se sentou na minha frente e inclinou a cabeça entre os pés e colocou as mãos sobre eles. Durante o tempo que o sol ia desaparecendo sem se mexer com o cabelo encobrindo seu rosto, parecia uma oração que estava fazendo. E parecia que sabia que o sol havia se posto atrás do horizonte ela ergueu a cabeça olhando firme para o horizonte e lentamente se pôs em pé diante de mim. Quase trêmula olhando para mim, me pegando pelas mãos e em seguida colocou a sua mão direita sobre minha fáce esquerda e disse num sussurro quase mudo, AMANHÃ SERÁ OUTRO DIA.
A mata e o tempo
Como é fascinante
Lembrar de você, Cecília.
Na fazenda,
Sua adorável companhia.
Nos fins de semana:
Passeios pelos bosques,
Para contemplar a beleza
Da diversidade vegetal.
Cavalgar pelas trilhas
Até as cachoeiras do rio.
Saltar do alto das pedras,
Mergulhando até o fundo no poço
Nadar até os cipós nas árvores.
Na volta pra casa
Colher em abundância os frutos:
Araçás, cajus, ananás e maracujás,
Pela imensa mata tropical.
Ainda me lembro muito bem
O que você sempre dizia:
Queria ter asas
Para voar entre os galhos das árvores
E ferozmente
Impedir o homem
De desmatar este jardim natural
Cecília,
Na diversidade daquele bioma,
Você se encantava
A fauna te dava imensa paixão.
Eram tantas as espécies,
Ficaram na memória,
Me lembro muito bem.
Observávamos a aparição do Acauã, anu-preto,
araponga, águia real, bacurau, beija-flor, biguá,
caburé, coruja, curiango, curió, guaxe, jacuaçú,
macuco, papagaio, periquito, perdiz, sanhaço,
saracura, sofrê e tururim.
A mata atlântica nos impressionava.
Por possuir lindas jueiranas, jacarandás, baraúnas, pequis,
angelins, massarandubsa, paus d’alho e
imponentes jequitibás.
Cecília,
Observando o tempo lá fora
Me deu vontade de te perguntar:
Algum dia,
Essa mágica diversidade voltará a reinar?
Quem irá preservar?
Falai de Deus com a clareza - Cecília Meireles
Falai de Deus com a clareza
da verdade e da certeza:
com um poder
de corpo e alma que não possa
ninguém, à passagem vossa,
não O entender.
Falai de Deus brandamente,
que o mundo se pôs dolente,
tão sem leis.
Falai de Deus com doçura,
que é difícil ser criatura:
bem o sabeis.
Falai de Deus de tal modo
que por Ele o mundo todo
tenha amor
à vida e à morte, e, de vê-Lo,
O escolha como modelo superior.
Com voz, pensamentos e atos
representai tão exatos
os reinos seus
que todos vão livremente
para esse encontro excelente.
Falai de Deus.
Cecília Meireles
Mortes, perdas, tristezas
Uma vida de incertezas
Com o efêmero e com o eterno.
Do silêncio e da solidão a infância
O mundo fantástico dos livros
A fuga, a busca, a imaginação.
Do encontro dos dois mundos
Cria a consciência e a sensibilidade
Da real transitoriedade de toda a compreensão da vida e da humanidade.
Aprende a maturidade e a individualidade
Com muita distinção e louvor foi professora, pedagoga, jornalista e pintora
Entre línguas, literaturas, músicas, folclores e teorias de educação.
Na literatura a sua infância, suas viagens e situações circunstanciais
Eleva-se na poesia primitiva
Que poesias! Puras, belas e verdadeiras.
Pungente de lirismo transfigurador
E terno de lirismo espontâneo
Simples sonetos de complexos simbolismos
Impregnados das pessoas, dos costumes e dos idiomas.
Uma poesia atemporal
A procura pela musicalidade
Deixa o doce encanto
Do mistério do canto das poesias
A vaga existência e a razão do ser humano.
MINHA CECÍLIA
Quão forte é essa mulher
Fui presenteado por Deus
Minha professora primeira
Minha Cecília tão mãe
No “visseiro” teu cheiro me assegurava
Um dia inteiro de sonhos e rios
De poesia, contos e beleza
Dos passeios no “quente e frio”
Dizem-me: criado por avó
Ah se soubessem dos encantos de sê-lo
Não seriam pejorativos na fala
Talvez por um momento só
Se todos pudessem percebê-lo
Não calariam o que não me cala.
A Irmã de Cecília
Em tenra idade um vulcão ativo
ilude-me, faz-me cativo e hipnotizado
Fazendo com que as lavas incandescentes de mais uma fantasia
paralisassem-me, tornando os meus dias
em uma eternidade destruindo as lembranças do passado
Meiga, doce, encantadora
se torna assim uma traidora
aos olhos dos homens, aos olhos do mundo!
Uma traição perdoável
pois Cecília se tornou tão instável após sucessivas estações
Abduzi o espírito de Emília
rasgando seu peito, e em seu ventre
fiz jorrar o mar de minhas emoções
Óh! quão culpado me julgo
por desfazer mil sonhos mas não me culpo
quando em meus lábios sinto os beijos de Emília
que colocou sua vaidade
unida à todas vontades
na alcova que agora não mais é de Cecília!!!01/02/2014
W. Lira Franca
Retrato II – Poema escrito em considerações ao Poema RETRATO de CECÍLIA MEIRELES
Eu era assim, como você
E nunca me vi tão longe do que já fui antes
Do que sou agora
Diga-me o que aconteceu com o tom
Do meu cabelo, da minha pele
A cor dos meus olhos já se apagara
Onde eu estava que não enxerguei essas mudanças?
Porque tive eu de fugir para não ver tais marcas?
Já me chamam de Senhora e me sinto tão invisível
Ao mesmo tempo que me vejo tão presente.
Como posso ter mudado tanto
E não ter morrido como sempre desejei
No memento instante, no tempo ausente.
Cecília não sabe amar
Cecília não era uma mulher de beleza padronizada ao que se diz perfeito, não tinha as melhores roupas, não sabia caminhar e beber água ao mesmo tempo, ao ficar nervosa sua cor nitidamente virava pimentão e suas palavras não saiam como queria. Não conhece o mundo nem sabe viver nele, tem medo do que não é como imaginara ao mesmo que tem fome de extraordinárias descobertas.
Vinte e três anos, muitas histórias tristes para contar com um grande sorriso no rosto preenchido de formas e linhas que a representam mais que qualquer coisa, cabelinhos negros que ela insiste em mudar, noites em claro, pois na sua vida a noite é o começo e não o fim.
As novelas que via na infância a fizeram ver o amor como algo bom que com sorte um dia teria o prazer de viver, porém, a vida não foi tão generosa e para ela a coisa toda para todo mundo se torna injusta quando o assunto é amar e ser amado. Persiste procurando, seja uma brecha, uma esperança que as pessoas podem ser boas o suficiente para desfrutar do privilégio que é o AMOR, mas em seu caminho só encontrou espinhos e seres espinhosos em que a incessante luta pelo Ego é mais importante do que dar e receber uma dádiva tão simples e que na verdade é o que tem de mais sublime na vida de qualquer miserável.
Segue andando sobe seus caquinhos sem apanhá-los, pois, o que se foi renova-se. Mas o que faz falta é doloroso demais para ser remexido e melhorado. De todas as esperanças perdidas, só o amor ainda insisti em brotar em seu peito, o que a faz acreditar que é só isso de fato importa na vida, que o amor não é uma escolha e sim um dever, uma lei a ser cumprida aqui na terra e além dela e que no fim só o amor explica tudo e dar sentido ao que não tem sentido.
- Andrêssa Agnel .
Fui Mirar-me
Cecília Meireles
Fui mirar-me num espelho
e era meia-noite em ponto.
Caiu-me o cristal das mãos
como as lembranças do sono.
Partiu-se meu rosto em chispas
como as estrelas num poço.
Partiu-se meu rosto em cismas
- que era meia-noite em ponto.
Dizei-me se é morte certa,
que me deito e me componho,
fecho os olhos, cruzo os dedos
sobre o coração tão louco.
E digo às nuvens dos anjos:
"Ide-vos pelo céu todo,
avisai a quem me amava
que aqui docemente morro.
Pedi que fiquem amando
meu coração silencioso
e a música dos meus dedos
tecida com tanto sonho.
De volta, achareis minha alma
tranqüila de estar sem corpo.
Rebanhos de amor eterno
passarão pelo meu rosto
Madrigal para Cecília Meireles
Cacaso
(Antônio Carlos Ferreira de Brito)
Quando na brisa dormias,
não teu leito, teu lugar,
eu indaguei-te, Cecília:
Que sabe o vento do mar?
Os anjos que enternecias
romperam liras ao mar.
Que sabem os anos, Cecília,
de tua rota lunar?
Muitas transas arredias,
um só extremo a chegar:
Teu nome sugere ilha,
teu canto:um longo mar.
Por onde as nuvens fundias
a face deixou de estar.
Vida tão curta, Cecília,
a barco tragando o mar.
Que céu escuro havia
há tanto por te espreitar?
Que alma se perderia
na noite de teu olhar?
Sabemos pouco, Cecília,
temos pouco a contar:
Tua doce ladainha,
a fria estrela polar
a tarde em funesta trilha,
a trilha por terminar
precipita a profecia:
Tão curta é a vida, Cecília,
tão longa a rota do mar.
Em te saber andorinha
cravei tua imagem no ar.
Estamos quites, Cecília,
Joguei a estátua no mar.
A face é mais sombria
quanto mais se ensimesmar:
Tão curta a vida, Cecília,
tão negra a rota do mar.
Que anjos e pedrarias
para erguer um altar?
Escuta o coral, Cecília:
O céu mandou te chamar.
Com tua doce ladainha
(vida curta, longo mar)
proclames a maravilha.
Rio, 1964.
Cacaso (Antônio Carlos Ferreira de Brito) nasceu em Uberaba (MG), no dia 13 de março de 1944. Com grande talento para o desenho, já aos 12 anos ganhou página inteira de jornal por causa de suas caricaturas de políticos. Antes dos 20 anos veio a poesia, através de letras de sambas que colocava em músicas de amigos como Elton Medeiros e Maurício Tapajós. Seu primeiro livro, "A palavra cerzida", foi lançado em 1967. Seguiram-se "Grupo escolar" (1974), "Beijo na boca" (1975), "Segunda classe" (1975), "Na corda bamba" (1978) e "Mar de mineiro (1982). Seus livros não só o revelaram uma das mais combativas e criativas vozes daqueles anos de ditadura e desbunde, como ajudaram a dar visibilidade e respeitabilidade ao fenômeno da "poesia marginal", em que militavam, direta ou indiretamente, amigos como Francisco Alvim, Helena Buarque de Hollanda, Ana Cristina Cezar, Charles, Chacal, Geraldinho Carneiro, Zuca Sardhan e outros. No campo da música, os amigos/parceiros se multiplicavam na mesma proporção: Edu Lobo, Tom Jobim, Sueli Costa, Cláudio Nucci, Novelli, Nelson Angelo, Joyce, Toninho Horta, Francis Hime, Sivuca, João Donato e muitos mais. Em 1985 veio a antologia publicada pela Editora Brasiliense, "Beijo na boca e outros poemas". Em 1987, no dia 27 de dezembro, o Cacaso é que foi embora. Um jornal escreveu: "Poesia rápida como a vida".
Em 2002 é lançado o livro "Lero-Lero", com suas obras completas.
O poema acima foi extraído do livro "Lero-lero", Viveiros de Castro Editora (7Letras) - Rio de Janeiro e Cosac & Naif - São Paulo, 2002, pág. 189.
Imitação de Cecília Meireles num sábado estrangeiro
Em prateleiras etiquetadas da quitanda
jaz a floresta útil, organizada e civil.
Na cabeça definha o pomar da infância
simples: mãe e vizinha, goiaba e abiu.
Sobe o número de hectares do mundo,
incha o mapa, exótico: istmos, fiordes.
Mas o açude do bairro era mais fundo,
o reino vasto, medido em quarteirões.
Na cama, uniam-se ao canto dos galos
o pio do bem-te-vi e do fogo-apagou.
Agora mal nos vemos e nem cantamos,
o alarme de incêndio é o que restou.
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