Coleção pessoal de DnaCydinha

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Recorda-te de mim quando eu embora
For para o chão silente e desolado;
Quando não te tiver mais a meu lado
E sombra vã chorar por quem me chora.

Quando não mais puderes, hora a hora,
Falar-me no futuro que hás sonhado,
Ah de mim te recorda e do passado,
Delícia do presente por agora.

No entanto, se algum dia me olvidares
E depois te lembrares novamente,
Não chores: que se em meio aos meus pesares

Um resto houver do afeto que em mim viste,
– Melhor é me esqueceres, mas contente,
Que me lembrares e ficares triste.

Uma hora vou morrer
não quero choro nem
lamentação quero
apenas as recordações
de todos os momentos
de atenção.
Quando desta vida partir
os vermes já estarão festejando
para devorar minha carne,
mas nunca minha alma.

Segunda canção do peregrino

Vencido, exausto, quase morto,
cortei um galho do teu horto
e dele fiz o meu bordão.

Foi minha vista e foi meu tacto:
constantemente foi o pacto
que fez comigo a escuridão.

Pois nem fantasmas, nem torrentes,
nem salteadores, nem serpentes
prevaleceram no meu chão.

Somente os homens, que me viam
passar sozinho, riam, riam,
riam, não sei por que razão.

Mas, certa vez, parei um pouco,
e ouvi gritar:-"Aí vem o louco
que leva uma árvore na mão!"

E, erguendo o olhar, vi folhas, flores,
pássaros, frutos, luzes, cores...
-Tinha florido o meu bordão

Chega de Saudade

Vai, minha tristeza, e diz a ela
Que sem ela não pode ser
Diz-lhe, numa prece, que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer

Chega de saudade, a realidade é que sem ela
Não há paz, não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai

Mas, se ela voltar, se ela voltar
Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei na sua boca

Dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim

Que é pra acabar com esse negócio de viver longe de mim
Não quero mais esse negócio de você viver assim
Vamos deixar desse negócio de você viver sem mim

Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

O uísque é o melhor amigo do homem: é um cachorro engarrafado.

Algum dia em qualquer parte, em qualquer lugar indefectivelmente te encontrarás a ti mesmo, e essa, só essa, pode ser a mais feliz ou a mais amarga de tuas horas.

Devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade.

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Deus é bom, mas não te percas

Em votos ineficazes.

A Terra escuta o que dizes,

O Céu contempla o que fazes.

Augusto de Oliveira

Ateu – enfermo que sonha

Na ilusão em que persiste,

Um filho que tem vergonha

De dizer que o pai existe.

Alberto Ferreira
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Como Espírito, eu estudo

A minha morte passada,

Se por fora mudou tudo,

Por dentro não mudei nada.

Batista Cepelos

Pedágio
(Moacyr Franco)
Minha mãe me fez rezar
Para ser feliz um dia
A felicidade se passou
Foi durante a noite e eu dormia

Fui ao culto, rezei missa
Bebi pinga no terreiro
Vi que a graça nunca vem de graça
E os pecados eu paguei primeiro

Me bati contra o destino
Virei saco de pancada
Quero o braço levantado hoje
Pra depois não acredito em nada

Me ensinaram semear
Plantei rosa. fiz canteiro
Mas enquanto eu reguei semente
Desmataram esse mundo inteiro

Descobri que tanto faz
Sobriedade ou mais um porre
Só se vive mesmo nove meses
Pois o resto, amiga a gente morre

Já morri em nova york
Outro tanto em paris
Mas agora que te conheci
Vou morrendo um pouco mais feliz

E por isso não me fale
No futuro, no amanhã
Paraíso é esse instante aqui
Que comemos da mesma maçã

Faz de mim o que quiser
Faz de conta que é feliz
Deixa o mundo se matar lá fora
E me mate só de amor aqui

Já parti em tantos barcos
Já chorei em tanto cais
Quando digo que te amo assim
É porque te amo muito mais

Quando digo que te amo assim
É porque te amo muito mais

Fui Mirar-me
Cecília Meireles

Fui mirar-me num espelho
e era meia-noite em ponto.
Caiu-me o cristal das mãos
como as lembranças do sono.
Partiu-se meu rosto em chispas
como as estrelas num poço.
Partiu-se meu rosto em cismas
- que era meia-noite em ponto.

Dizei-me se é morte certa,
que me deito e me componho,
fecho os olhos, cruzo os dedos
sobre o coração tão louco.
E digo às nuvens dos anjos:
"Ide-vos pelo céu todo,
avisai a quem me amava
que aqui docemente morro.

Pedi que fiquem amando
meu coração silencioso
e a música dos meus dedos
tecida com tanto sonho.

De volta, achareis minha alma
tranqüila de estar sem corpo.
Rebanhos de amor eterno
passarão pelo meu rosto

Mal Secreto

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja aventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!

O guerreiro da luz aprendeu que Deus usa a solidão para ensinar a convivência. Usa a raiva para mostrar o infinito valor da paz. Usa o tédio para ressaltar a importância da aventura e do abandono. Deus usa o silêncio para ensinar sobre a responsabilidade das palavras. Usa o cansaço para que se possa compreender o valor do despertar. Usa a doença para ressaltar a benção da saúde. Deus usa o fogo para ensinar sobre a água. Usa a terra para que se compreenda o valor do ar. Usa a morte para mostrar a importância da vida.

Vida real, amor virtual

Será possível que quem nunca esteve presente
Através deste meu sonho louco e apaixonado
Possa fazer sofrer tanto quando ausente?
Quando olho tudo e todos ao meu lado
E percebo que apenas você me faz contente.

Tua presença quase irreal ou etérea, talvez,
Vem encher meus dias de luz, de suave canção
E me fazer sorrir, cantar como uma criança.
Fazer-me uma adulta redescobrindo a esperança,
Ser feliz sempre, quando te encontro e me vês
Só porque estou a olhar meu sonho, minha paixão.

Não estou em seus planos, seus projetos reais
Mas, aqui, onde se vive apenas fantasia e ilusão,
Seu sorriso, seus olhos, desejo ver sempre mais
Não me importa pensar em quando chegará o fim
Eu nem sei de mais nada, vou viver essa paixão,
E que, mesmo depois, continuará existindo em mim.

AO LUAR

Os santos óleos, do alto, o luar derrama...
Eu, pecador, ao claro luar ungido,
Sonho: e sonhando rezo comovido
E arrebatado na divina chama.

Deus piedoso, consolo do oprimido,
Se compadece, à voz que ardente clama,
Porque meu coração, impura lama,
É um brado intenso para os céus erguido!

E o divino perdão desce da altura:
Grandes lírios alvíssimos florescem
Sob a lua, floresce a formosura...

E nessa florescência, imaculados
Raios longos do luar piedoso descem,
Choram comigo sobre os meus pecados.

Vigie seus pensamentos, eles tornam-se palavras.
Vigie suas palavras, elas tornam-se ações.
Vigie suas ações, elas tornam-se hábitos.
Vigie seus hábitos, eles formam seu caráter.
Vigie seu caráter, ele se torna seu destino.

Cantiga sua

Comigo me desavim,
Sou posto em todo perigo,
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.

Com dor da gente fugia
Antes que esta assim crescesse,
Agora já fugiria
De mim, se de mim pudesse.
Que meio espero ou que fim
Do vão trabalho que sigo,
Pois que trago a mim comigo
Tamanho inimigo de mim?

“ Achada a garrafa,
não tinha dentro gênio nenhum
para atender meus três desejos:
boca para encher de beijos
bolso onde sobrasse algum
alegria repartida à esmo.
Mas tinha muita pinga
o que vinha a dar no mesmo.”

Amor Amigo
(Cydinha)
Quero falar ao vento,ao mar;
A tudo e a todos no mundo,
A cada estrela que baila ao luar,
Sobre este amor tão profundo.
Que trago sempre na mente,
Eternamente no meu coração,
Estando ele,em mim,ausente,
Só restaria vazio,dor,solidão.
Meu imenso amor antigo e sempre vivo,
Grande carinho,sonho,enlevo da juventude,
Amor tão puro,perfeito,amigo,cativo,
E,que esquecer não quis e nem pude.
Por nossa imaturidade,
O destino nossos corpos separou,
Só deixando a grande saudade,
Pois,as almas,isso não afastou...
Estamos para sempre unidos em espírito,
Sei que moro sempre,em teu doce coração,
O meu é completamente cheio dessa paixão!
Este amor será assim,até chegar ao infinito...
Por hora,nos resta o grande e doce alento,
De saber,um do outro,que esta vida vai levando,
Sem nunca desesperar,nem pranto,nem lamento
Pois,pela eternidade,nós iremos nos amando!

Canção do Tamoio

I

Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.

II

Um dia vivemos!
E o homem que é forte
Não teme da morte;
Só teme fugir;
No arco que entesa
Tem certa uma presa,
Quer seja tapuia,
Condor ou tapir.

III

O forte, o cobarde
Seus feitos inveja
De o ver na peleja
Garboso e feroz;
E os tímidos velhos
Nos graves concelhos,
Curvadas as frontes,
Escutam-lhe a voz!

IV

Domina, se vive;
Se morre, descansa
Dos seus na lembrança,
Na voz do porvir.
Não cures da vida!
Sê bravo, sê forte!
Não fujas da morte,
Que a morte há de vir!

V

E pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamoio nasceste,
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.

VI

Teu grito de guerra
Retumbe aos ouvidos
D'imigos transidos
Por vil comoção;
E tremam d'ouvi-lo
Pior que o sibilo
Das setas ligeiras,
Pior que o trovão.

VII

E a mãe nessas tabas,
Querendo calados
Os filhos criados
Na lei do terror;
Teu nome lhes diga,
Que a gente inimiga
Talvez não escute
Sem pranto, sem dor!

VIII

Porém se a fortuna,
Traindo teus passos,
Te arroja nos laços
Do inimigo falaz!
Na última hora
Teus feitos memora,
Tranqüilo nos gestos,
Impávido, audaz.

IX

E cai como o tronco
Do raio tocado,
Partido, rojado
Por larga extensão;
Assim morre o forte!
No passo da morte
Triunfa, conquista
Mais alto brasão.

X

As armas ensaia,
Penetra na vida:
Pesada ou querida,
Viver é lutar.
Se o duro combate
Os fracos abate,
Aos fortes, aos bravos,
Só pode exaltar.