Cronica de Graciliano Ramos

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⁠Vivemos cercados por crises permanentes — de identidade, clima, política, representatividade, coletividade, saúde mental, finanças, ética, cultura, educação...

Todas, de algum modo, precarizam o horizonte, turvam o futuro e enfraquecem nossa capacidade de sonhar sentido, traçar planos e cultivar esperança. Enfrentar essas crises exige mais do que respostas pontuais; exige restaurar a capacidade de imaginar o amanhã e o desejo de construir novos caminhos.

Inserida por I004145959

⁠Do interdito ao espetáculo, plataformas e influenciadores fabricam jargões — “pós-verdade”, “cancelamento”, “lacrar”, “fake news”, “discurso de ódio” — que carregam efeitos políticos, emocionais e geram consensos.

A censura antes visível cede lugar a uma linguagem disfarçada de espontaneidade, difícil de perceber. Ela causa fadiga cognitiva: tudo soa calculado, teatral, performático e politizado.

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⁠Toda queixa carrega um clamor, toda queixa revela um pedido de amor.

Toda queixa disfarça um desejo, todo desejo suplica por amor.

Toda queixa é um grito contido, todo grito é amor não ouvido.

Toda queixa é um gesto velado, todo gesto é amor camuflado.

Toda queixa é um eco tardio, um amor ferido, um vazio.

Inserida por I004145959

⁠Frequentemente, no convívio conjugal, vão surgindo pequenas fissuras que, se não cuidadas, tornam-se abismos. Muitos casais se percebem enredados em rotinas que silenciam afetos e ampliam ressentimentos. É comum que, ao chegar em casa, um dos parceiros busque refúgio nas telas e distrações que anestesiam o cansaço, enquanto o outro se ressente da ausência de diálogo e atenção.

De um lado, há quem se sinta relegado ao segundo plano, como se a presença fosse apenas tolerada, e não desejada. Gestos simples de aproximação — perguntar sobre o dia, trocar carinhos, compartilhar planos — vão se rarefazendo, deixando no ar a sensação de solidão mesmo em companhia. As saídas a dois se tornam exceção, e os momentos de convivência espontânea acabam cedendo espaço à indiferença.

De outro lado, há quem perceba o lar como um espaço tomado por cobranças e comparações. Após um dia de trabalho, alguns sentem que encontram apenas um inventário de críticas e expectativas que não conseguem cumprir. As comparações com outros casais ou modelos de perfeição alimentam sentimentos de inadequação e distanciamento.

Muitas vezes, os mesmos comportamentos criticados se repetem de maneira recíproca, criando um ciclo em que ambos se veem, em diferentes momentos, como vítimas e responsáveis. Não há inocentes absolutos, apenas duas pessoas que carregam frustrações, desejos de serem escutadas e compreendidas, e o receio constante de não encontrar acolhimento.

Para interromper esse movimento, é essencial que cada um possa expor suas percepções com respeito e clareza, sem acusações. Um diálogo paciente, sustentado pelo interesse genuíno de compreender o outro, pode devolver sentido ao vínculo que se fragiliza. Quando a conversa se mostra insuficiente, a busca por apoio profissional, como a terapia de casal, pode oferecer o espaço seguro onde a história comum seja recontada de maneira mais generosa.

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⁠Menos vozes, mais certeza;
mais vozes, mais incerteza.

Menos vozes, mais decisão;
mais vozes, mais indecisão.

Menos vozes, mais atenção;
mais vozes, mais desatenção.

Menos vozes, mais noção;
mais vozes, mais distorção.

Menos vozes, mais solução;
mais vozes, mais discussão.

Menos vozes, mais razão;
mais vozes, mais tensão.

Menos vozes, mais união;
mais vozes, mais divisão.

Menos vozes, mais concentração;
mais vozes, mais distração.

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⁠A cultura humana parece uma tapeçaria viva, nunca pronta.

Convenções e consensos construídos historicamente e socialmente se entrelaçam, se cristalizam e depois se desfiam, em processos constantes de construção, desconstrução e reconstrução.

Nada é absolutamente fixo, porque a realidade muda e nos convida a repensar.

Moral, costumes, leis — tudo parece provisório; tudo é relativizado, nada é absoluto.

Quando pensamos ter tecido um consenso duradouro, ele se transforma nos dedos inquietos de novas gerações e nas várias queixas que alimentam um ciclo sem fim.

A crítica constante é também força criadora, que renova mesmo diante do desgaste. Para uns, esse incessante desfiar é desesperador; para outros, libertador.

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⁠Cultura: consensos tecidos, em teia entrelaçada entre passados e presentes.

Nada é fixo, tudo oscila e se desfaz, moral, ética e lei, fios que se fazem e refazem.

Várias queixas num ciclo sem fim, desfiar constante, dor e alívio, enfim.

Para alguns, pranto, trabalho e desespero, para outros, renasce o sonho verdadeiro.

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⁠Nem natureza fixa, nem construção fluida;

Nem substância rígida, nem folha vazia: semente que varia, DNA que fica, cria e recria;

Nem pura essência, nem pura aparência: é mistura, é experiência, é vivência, é existência.

Somos síntese viva, cultura e biologia,
união dinâmica em constante interação, transformação e evolução.

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⁠O capitalismo tem como vertente principal a propriedade privada e o mercado livre. Apoia-se nas contradições e ambivalências humanas, celebrando o individualismo.

O socialismo, assentado no coletivismo e composto por múltiplas correntes que oscilam entre o ideal igualitário e o controle rígido, ainda busca sua aplicação plena.

Essa abordagem pragmática — focada no real, sem idealizações, lidando com a vida como ela é — fez do capitalismo o sistema predominante globalmente, enquanto o socialismo permanece marcado por utopias e controvérsias.

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⁠Mesmo com vozes de diferentes minorias, existe um pensamento dominante, e quem foge dele é frequentemente silenciado — o que contradiz a própria ideia de diversidade como liberdade de divergir.

Diversidade não é só incluir corpos ou identidades; é sobretudo garantir essa liberdade, a pluralidade de pensamentos.

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⁠De fato, há uma convergência do capitalismo contemporâneo com pautas identitárias — especialmente quando essas pautas podem ser convertidas em imagem, marketing, consumo ou pertencimento a nichos.
Essa aderência, por vezes, não se dá por convicção ética, mas por oportunidade de mercado.

Ao mesmo tempo, observa-se uma divergência crescente do mesmo sistema em relação a ideias tradicionalmente associadas à ordem, à autoridade ou a papéis fixos — como os antigos ideais de masculinidade: o homem provedor, alfa, patriarcal, racional, contido.

Essas figuras, antes exaltadas pela publicidade e pela cultura de massa, passaram a ser vistas como símbolos de atraso ou opressão, sendo descartadas ou ridicularizadas nos novos discursos dominantes.

Trocam-se extremos sem espaço para síntese. Sai a rigidez do passado, entra a fluidez do presente — mas o radicalismo persiste, apenas com outra roupagem.

Em vez de integrar valores, seguimos substituindo um polo por outro, como se a sensatez fosse sempre sacrificada em nome da agenda do momento.

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⁠Ecos do Atraso

A estrada não tem piedade de quem tenta recuperar, em minutos, o tempo que se perdeu no espelho da vaidade.

A pressa nasce do tempo mal planejado, o perigo cresce no pé acelerado.

Quem vive correndo contra os ponteiros, faz do tempo seu oponente,
do volante, arma potente, e da pressa, tragédia iminente.

Mas o imprevisto — esse que todos culpam — só vira rotina onde falta disciplina.

Porque sair com tempo é sabedoria,
e estar vivo é sempre mais urgente
do que chegar na hora.

Não é no volante que se compensa o relógio. A velocidade no asfalto é convite ao velório.

Inserida por I004145959

⁠Quando a Revolta Vira Produto

Há uma incoerência gritante — e, muitas vezes, conveniente — nos discursos anticapitalistas que florescem dentro do próprio capitalismo. Militantes e ativistas que dizem combater o sistema usam plataformas como YouTube, Instagram e TikTok para monetizar suas críticas. Vestem-se de resistência, mas atuam dentro da lógica capitalista, lucrando com curtidas, visualizações e parcerias.

O que deveria ser luta virou negócio. O ativismo virou produto. E muitos militantes se tornaram marcas pessoais, embalando a indignação em discursos vendáveis, com engajamento calculado e lucros constantes — exatamente como o mercado gosta.

A pergunta que permanece é direta e incômoda:
Se são genuinamente contra o capitalismo, por que aceitam os frutos do sistema?

A autenticidade exigiria renúncia — abrir mão dos ganhos gerados por aquilo que se critica. Mas coerência ética é artigo raro.

Inserida por I004145959

⁠Todas as estruturas sociais, econômicas e culturais são frutos históricos de relações humanas dinâmicas, moldadas por interesses, necessidades e contextos coletivos. Envolvem a participação — ativa ou passiva — de indivíduos e grupos diversos, de diferentes gêneros, classes e origens, que influenciam e são influenciados.

Patriarcado, capitalismo e neoliberalismo surgiram e se desenvolveram a partir dessas complexas interações sociais.

Compreender essa complexidade evita reducionismos e discursos simplistas — como culpar apenas o patriarcado — e abre espaço para uma visão integrativa que reconhece a responsabilidade coletiva.

Em vez de jogos políticos que buscam inimigos estratégicos, promover diálogos profundos e produtivos é o caminho para questionar e reformular as lógicas que sustentam essas estruturas.

Inserida por I004145959

⁠POEMINHA DE REFLEXÃO

Construimos pontes
desviamos rios
criamos vidas
tiramos vidas
reformamos deuses
a inamovível certeza de sermos
senhores, donos e reis do Universo.
Bactérias dissolutas
tsunamis, efeito estufa
vírus devastadores
rios e represas secando
desastres catastróficos
realçam o ridículo de sermos
senhores e donos do Universo.

Autor Benedito Morais de Carvalho (Benê)

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⁠Certo dia um sujeito me falou: "Você só faz versos falando de Barbalha, Juazeiro do Norte, Tipi, Iara e Aurora". Foi nesse Cariri que nasci e me criei, aqui tenho meus amigos, meus ídolos, meu passado, minha história...Para que diabos vou falar de Nova York, se não conheço e nem quero conhecer?
Benê

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E AGORA, POETA?

Meus passos desconexos
procuram nada mais que o destino,
meu olhar percorre o infinito
divagando a esmo,
sigo por ruas incompreendidas,
vou como quem soletra o coração,
descrente daquilo que já nem cria,
nas entrelinhas a seguir em solidão,
cúmplice da minha hesitação,
se sou o último ou o primeiro, nada sei,
só sei que sinto falta de mim,
porque em mim só vejo o meu eu,
desperto, disperso, e penso na vida.

Autor Benedito Morais de Carvalho (Benê)
Livro: A poesia da calçada não vende ilusão (2020)
20 de outubro- Dia do poeta.

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MÃE GAIA (Mãe-Terra)

Gaia ama seus filhos
que exploram
mutilam
e estupram Gaia.
Gaia agoniza
arde em febre
no aquecimento global.
Gaia violentada
ultrajada chora
se contorce em dores
vomita terremotos
vendavais
urina maremotos.
Filhos egoístas
salvemos nossa mãe.
Todos viemos
todos vivemos
dela dependemos.

Autor Benedito Morais de Carvalho (Benê)

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⁠ANO NOVO

Ano novo, novos planos,
esperanças renovadas.
Amores que se foram,
amores que renascem.
Novas saudades, idades,
novos amigos e investidas.
Ano novo, roupa nova,
vida nova, tudo novo,
novas idas e vindas,
até que tudo envelheça,
e, no próximo ano novo,
outro indicio, início,
de tudo novo de novo.

Benê (1993)

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Datilografia

Traço, sozinho, no meu cubículo de engenheiro, o plano,
Formo o projeto, aqui isolado,
Remoto até de quem eu sou.

Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
O tic-tac estalado das máquinas de escrever.

Que náusea da vida!
Que abjeção esta regularidade!
Que sono este ser assim!

Outrora, quando fui outro, eram castelos e cavalarias
(Ilustrações, talvez, de qualquer livro de infância),
Outrora, quando fui verdadeiro ao meu sonho,
Eram grandes passagens do Norte, explícitas de neve,
Eram grandes palmares do sul, opulentos de verdes.

Outrora...

Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
O tic-tac estalado das máquinas de escrever.

Temos todos duas vidas:
A verdadeira, que é a que sonhamos na infância,
E que continuamos sonhando, adultos, num substrato de névoa;
A falsa, que é a que vivemos em convivência com outros,
Que é a prática, a útil,
Aquela em que acabam por nos meter num caixão.

Na outra não há caixões, nem mortes.
Há só ilustrações de infância:
Grandes livros coloridos, para ver mas não ler;
Grandes páginas de cores para recordar mais tarde.
Na outra somos nós,
Na outra não vivemos;
Nesta morremos, que é o que viver quer dizer.
Neste momento, pela náusea, vivo só na outra...

Mas ao lado, acompanhamento banalmente sinístro,
Se, desmeditando, escuto,
Ergue a voz o tic-tac estalado das máquinas de escrever.

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