Cronica de Graciliano Ramos
Escravo da paixão,
Escravo da razão,
Escravo da prisão,
Escravo da emancipação.
Escravo da polarização,
Escravo da isenção,
Escravo da ação,
Escravo da omissão.
Escravo da interação,
Escravo da solidão,
Escravo da exibição,
Escravo da inibição.
Escravo da iluminação,
Escravo da escuridão,
Escravo da união,
Escravo da divisão.
Escravo da decepção,
Escravo da satisfação,
Escravo da expressão,
Escravo da repressão.
Escravo da perdição,
Escravo da salvação,
Escravo do perdão,
Escravo da maldição.
Escravo da admissão,
Escravo da demissão,
Escravo da aprovação,
Escravo da rejeição.
Escravo da atenção,
Escravo da distração,
Escravo da obrigação,
Escravo da opção.
Escravo da organização,
Escravo da desorganização,
Escravo da compulsão,
Escravo da moderação.
Escravo da coesão
Escravo da fragmentação
Escravo da decisão
Escravo da indecisão.
Escravo da rebelião
Escravo da submissão
Escravo da limitação
Escravos da imensidão
Sem solução, somos escravos da situação.
Desejo
Uma viagem pela dualidade humana,
Entre frustração e realização, a alma emana.
Amor e ódio, um eterno dilema,
Entre decepção e gratidão, a jornada extrema.
Dosado ou gozado, num jogo sutil,
Sufocado ou aliviado, um fio a ser seguido.
Roubado ou comprado, escolhas do destino,
Acabado ou iniciado, um ciclo sem fim.
Manipulado, aprisionado, o coração chora,
Libertado, ensinado, a alma aflora.
Desesperado ou aliviado, na encruzilhada da mente,
Desmotivado, estimulado, numa dança envolvente.
Descontrolado ou equilibrado, o eu em harmonia,
Guardado ou compartilhado, na dança da energia.
Fragmentado, compactado, a essência da vida,
Complicado, simplificado, na jornada tão querida.
Menosprezado ou reverenciado, o ego em conflito,
Enraivecido, acalmado, o turbilhão se desdobra infinito.
Postergado ou antecipado, os passos do caminhar,
Calado ou revelado, os segredos a desvendar.
Amargurado ou alegrado, na dualidade dos sentimentos,
Abrandado ou intensificado, nos extremos dos pensamentos.
Distanciado ou aproximado, a conexão com o mundo,
Atrapalhado ou organizado, no palco da vida profundo.
Selecionado ou descartado, nas escolhas do viver,
Esperado ou inesperado, nos mistérios a perceber.
Acelerado ou retardado, no ritmo do pulsar,
Centrado ou dispersado, na busca do encontrar.
Apreciado ou depreciado, nas avaliações do ser,
Honrado ou desonrado, no julgamento a fazer.
Esvaziado ou completado, nos ciclos a se renovar,
Tensionado ou relaxado, na dança do respirar.
Relacionado ou desvinculado, nos laços da alma,
Atrapalhado ou facilitado, na jornada que acalma.
Falado ou silenciado, na linguagem do coração,
Vaiado ou exaltado, na expressão da emoção.
Apaziguado ou inflamado, no fogo que arde,
Desarmado ou engatilhado, na guerra que parte.
Preparado ou despreparado, para o que virá,
Rejeitado ou desejado, no desejo que clama.
Desejo, uma jornada de dualidade e contraste,
Entre luz e sombra, o coração se agasta.
Mas na essência dessa dança, encontra-se o enigma,
Da vida em toda sua complexidade, bela e intrigante obra-prima.
Na agonia da insônia, numa noite sombria, trago a correria do dia a dia como companhia.
Os ponteiros do relógio giram na mente trazendo a agitação do dia. A insônia persiste, sem dar trégua ao tormento que tanto aflige.
Oh, como anseio pelo descanso tão merecido, longe do frenesi que impede dormir.
Que o silêncio acalme a tempestade em meu peito, e que o sono, enfim, traga o alívio perfeito.
No olhar puro de uma criança a sorrir, reside a esperança que faz o mundo florir.
É difícil compreender quem não se encanta diante da pureza que emana, tanta esperança.
Que possamos sempre, com ternura e amor, apreciar cada sorriso como um tesouro de valor.
Pois ali está a esperança, a fé a nos guiar. Ali, no sorriso de uma criança, o mundo pode se encantar.
No palco do agora, forjamos nosso caminho em busca do aperfeiçoamento, sem desalinho. O passado, já findo, não mais nos detém, e o futuro, incerto, só no presente convém.
Com cada passo dado, moldamos nosso destino na cadência do presente, sem desatino. Deixemos o passado repousar, sem pesar, e o futuro, que se desenrole ao nosso olhar.
O agora é nosso para viver e crescer, neste instante precioso é que vamos florescer.
No palco presente, dançamos nossa canção em busca do aperfeiçoamento, em constante evolução.
Na roda da fala, a fofoca se entrelaça,
desloca verdades, provoca desgraças, sufoca a alma, num mar de desdém, um veneno dissimulado, que envenena além.
Palavras que correm, sem freio ou razão, espalham-se feito fogo, sem direção, machucam corações, destroem laços, erguem muralhas, em rostos sem abraços.
No eco da fofoca, a confiança se quebra, onde amizades naufragam, a alma se debulha. É uma teia tecida, de traição e engano, que envenena a mente e enche o coração de dano.
Então, que sejamos guardiões da verdade, que nossas palavras sejam luz, não maldade, para que no jardim da vida floresça a união. E a fofoca seja apenas uma sombra, sem função.
Imaginação
Em terreno fértil onde o saber não alcança, no vácuo do desconhecido, se agita; entre sonhos e devaneios, palpita.
Sem fronteiras nem limites, voa, criando mundos onde a realidade se escoa.
No palco do impossível, protagonista, em um espetáculo etéreo, onde a mente se alista. Assim, na falta de saber, floresce, entre mistérios e enigmas, se engrandece.
Estudo
Estudamos discursos escusos que não são nossos, explorando vozes em todos os nossos cursos.
Em palavras alheias buscamos inspiração,
para enriquecer nossa própria expressão.
Cada voz, um mundo a descobrir, em um mar de conhecimento a nos unir.
Estudamos discursos de longe e de perto, cada palavra, um tesouro aberto.
Na diversidade de vozes, nossa mente se expande, novas perspectivas nosso ser alcança.
Sonho reverso
Num sonho reverso, para além da imersão, onde universos múltiplos compõem o refrão.
No metaverso, deslizo entre portas abertas e semiabertas, vagando perplexo.
Em mundos paralelos entrelaçados, mistérios cósmicos se desvendam.
Cada palavra é um portal, guiando para além do entendimento astral.
Nas entrelinhas do poema, a essência do sonho reverso se revela, fluindo em universos paralelos.
Criatividade
Na mente aberta, a criatividade floresce, mas quando tudo está pronto, esmorece. Soluções feitas, tecnicamente corretas, confinam a mente, desaceleram as ideias.
Treinar mentes ávidas, em busca do novo criativo escondido nas dobras da mente, desvendar os caminhos, desfazer as trancas do inconsciente.
Mas, os infantes não precisam, mentes livres e abertas não esperam, exploram o mundo encantado, sem medo do passado e do futuro. Perspicazes e criativas no oceano das ideias, as crianças se atiram destemidas.
Transformar o monótono no inusitado, no espetáculo; criatividade não é só lucro e mercado, é a alma da inovação, o pulsar da inspiração.
Tela alienante
Na tela radiante, o mundo se enreda, a mídia escraviza.
Na massificação, a alma se perde. Na despersonalização, a essência se dissolve.
Nas ideias moldadas, pensamentos são guiados, pressionados e aprisionados em cárceres disfarçados.
Precisamos quebrar esses grilhões, despertar a visão na alienação, resgatar a singularidade na diversidade, encontrar a redenção na educação rumo à libertação da tela alienante.
Desaparecimento do narrador
Na era do 'like' e do 'share', o amadurecimento parece declinar. Sem o narrador para nos guiar, reflexões se perdem, sem nos tocar.
Na sociedade pós-moderna, onde tudo se expõe, o verdadeiro amadurecimento se esconde e o narrador, com sua voz sábia e serena, desaparece, deixando-nos à deriva, sem cena.
Mas quem sabe, um dia, ele retorne com suas histórias e reflexões que adornam, para resgatar o sentido perdido e mostrar que na vida, há mais do que um simples ruído.
Na carência, a alma implora; no excesso, o coração cansa; no meio, a paz mora.
A falta gera angústia: tudo aperta e grita; na vida aflita, o peito chora.
No excesso, tudo sufoca, tudo irrita; o fôlego vai embora.
Nos extremos, a busca é longa; no meio-termo, a paz vigora. O equilíbrio prolonga, serenidade aflora.
Paz de Espírito
No peito, um espírito despedaçado busca nas estradas o alívio esperado. Um acalanto, mas a alma sabe: é um breve encanto.
Onde o coração sangra em desalento, a mudança de lugar é um mero vento.
A dor, entranhada, não se cura na estrada; é uma ferida gravada na alma.
Por mais que se viaje, por mais que se ande, a enfermidade na alma permanece constante.
É preciso mais que mudança de cenário para curar o espírito; é um processo lento e diário, um luto necessário.
Um registro profundo das dores vividas, das lágrimas derramadas, das despedidas.
Um mergulho no íntimo, um olhar atento, um ombro amigo, um desabafo com o divino que traga a paz de espírito.
Comparações
Na vida, somos envolvidos em comparações. Pela vaidade, menosprezamos os menos afortunados. Pela inveja, repugnamos os mais privilegiados, num ciclo eterno de insatisfações e contradições.
Narcisistas, julgamos sem permissões, rotulando os outros com todo desatino. Ambicioso é quem nunca se satisfaz, acomodado é quem com pouco faz.
Cegos nos afetos, esquecemos as razões, que, para além das comparações, encontra-se a verdadeira paz.
Tirania Infantil
Com medo de perder o amor dos filhos, pais renunciam ao seu pátrio poder, entregando-se ao jogo sutil e hostil da tirania infantil, tornando-se frágeis e subservientes.
Colocados no trono por pais sem firmeza, sem voz, reféns de uma culpa atroz, acreditam que não dedicaram tempo e atenção suficientes para esses rebentos algozes.
Infantes exigentes, pais obedientes, autoridade enfraquecida, valência perdida, tirania fortalecida na culpa assumida.
No lar, o caos reina, pais sem direção, remorso que nutre em vão, jovens onipotentes em ascensão determinam o refrão.
Transfigurados em pais dos pais, esses pequenos tiranos comandam cada vez mais, numa inversão de papéis onde os filhos mandam e os pais apenas obedecem.
Conversa Franca
Não adianta!
Com a alma armada,
A conversa franca
É sempre cilada.
Peito blindado,
Olhar desviado,
Cada frase dita
Um golpe desferido.
O diálogo sincero
Não encontra abrigo,
Na alma ferida
É sempre mal visto.
Peito em defesa,
Olhos cerrados,
Palavras se tornam
Lanças afiadas.
Coração cercado,
A mente em tormento,
O diálogo sincero
É sempre mal interpretado.
E até quem ama,
Se vê afastado,
Pois a conversa franca
Machuca o amado.
Dualidade Simplista
Em um mundo desbussolado e polarizado, o homem pós-moderno vagueia entre sonhos e dilemas, sem rumo certo. Cobranças o cercam, expectativas tolhem, e sua alma se perde em profusão, entre o tradicional e o contemporâneo.
Na dualidade simplista, toda masculinidade é toxicidade, toda sensibilidade é fragilidade, todo incisivo é insensível, e todo o sensível é deprimido.
Importante frisar que ainda temos muito que evoluir. O homem ainda é visto como um ser que não pode falhar, fracassar e falir, sob o peso de expectativas irrealistas.
Pôr fim à opressão masculina, sem emergir a tirania feminina. Superar os estereótipos, que limitam e aprisionam, buscar a igualdade e o respeito, é um passo crucial nesse caminho.
Buscar soluções em diálogos abertos, evitando o jogo de acusações, é fundamental para criar laços de compreensão e união.
De certo, nem herói nem vilão, nem certo nem errado; somos todos humanos, em constante processo de aprimoramento.
Opressão do Lar
No casamento, ao despertar, dez mandamentos a executar,
Na opressão do lar, sem questionar, todo compromisso entregar.
Concordar é preciso, evitar o conflito, no domínio do lar, esse é o rito.
Seja primeiro a levantar e o último a dormir. Não parar, sempre agir.
Descansar? Nem pensar.
Mesmo em silêncio, sempre envolvido, errado ou certo, permanecer contido.
Adultos infantis
Na era de adultos-meninos, a imaturidade vigora, uma epidemia aflora.
Buscam-se significados divinos num mercado que promete felicidades sem cessar.
Um futuro disperso pairando no ar, na publicidade, anunciam-se sonhos de cetim para deslumbrar.
Marketing de existência vazia, oferece significados efêmeros, para almas ávidas por algo além do ser, parecer e agradar.
Adultos infantis seguem iludidos, buscando significados na existência do papel machê que aprisiona, impede o amadurecer.