Coleção pessoal de samuelfortes
Carta em Próprio Punho
Pensamentos, valem e vivem pela observação exata ou nova, pela reflexão aguda ou profunda de ser o ter, sem que o ter te tenha. Não menos querem a originalidade, a simplicidade e a graça do dizer. A vida é cheia de obrigações que a gente cumpre por mais vontade que tenha de as infringir deslavadamente. A mentira é muita vezes tão involuntária como a respiração. Esquecer é uma necessidade e a vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito.
A Casa das Mil Janelas
Passarei lúcido e frio
Num ponto qualquer da treva
Na praia de ondas brancas
Abrem-se as ondas cativas
No oco raio estelar
Vão e vêm,
Chegar-me o apelo vazio
Afloram perspectivas
Chega impressentida
Nunca inesperada
Que matam a morte
Por medo da vida
A tarde morre bem tarde
Que tarde que a tarde cai
Tão boa de querer bem
Parapeito
Falar sem aspas, amar sem interrogação, sonhar com reticências e viver sem ponto final.
Enquanto você sonha, estará fazendo rascunhos de seu futuro. Você nunca encontrará o arco-íris se estiver olhando para baixo, pensamos muito e sentimos muito pouco, sendo assim, a vida é uma tragédia quando vista de perto, mas se torna uma comédia, quando se vista ao longe.
Feito Fibra e Pedra
Nasceste para o sol
És mocidade
Em plena floração
Rosa que enfloreceu
Sobre teu rosto soberano
A vida em ti, que é sumo alegria
Em plena floração, fruto sem dano
Numa severa afirmação da luta
Uma impassível negação da morte
Feito pó, feito pólen
Feito fibra
Feito pedra
Processos e Minutas
Como passou depressa o tempo
Como mudou a poesia
Uma gota de chuva
A mais,e o ventre grávido
Estremeceu a terra.
Depois foi só. O amor era mais nada
Sentiu-se pobre e triste como Jó
Um cão, sarnento e de rua
Mas não de todas as ruas
Veio lamber-lhe a mão
Espantado, parou.
Depois foi só
A Morte Como Pessoa Feminina de Deus.
Com o feminismo por baixo dos lençóis, a pior forma de solidão a que se pode condenar uma mulher é a solidão de não fazê-la, de vez em quando, de objeto. A natureza, tem uma estrutura feminina: não sabe se defender mas sabe se vingar como ninguém.
Num mundo onde a aparência vale tudo e a essência é coisa não valorizada, descobrimo-nos donos de tudo e mestres do nada. Mestre, meu querido Mestre, quero aprender de ti a sabedoria de não ter nada e, no entanto, tudo ter. Porque me deste sua alma se eu não sabia o que fazer dela, meu coração não aprendeu a sua serenidade, na mágoa cotidiana da matemática de ser.
Mudez
Mudo, mas não mudo muito
Na esquina da cortina ao alto mar
Me vejo
Desejo de ser e tocar de vidro frio
Do horizonte cheio de montes baixos
Desembrulhar-me e ser eu
E raspar a tinta
Como os que me pintaram os sentidos
Nas grandes cidades
A vida é mais pequena
Na cidade, as grandes casas fecham
A vista e à chave
E as flores são cor da sombra
E tornam-nos pobres,
Porquê a nossa única riqueza
É ver.
O Pregador de Predadores
Na
Supernova
Que
Se esvai
O que
Nos
Constitue
No Sol
Que
Se exaure
A vida
Que
Nos enche
No regalo
Do predador
A tragédia
Do que é
Presa
A vida
Se alimenta
De vida
Como
Entender!?
Na falta
De um
Predador
Natural
Predamo-nos
O Poeta Lúdico e o Louco
Na insegurança
Das decisões
A angústia
Da ansiedade
Na incerteza
Do que está
Por vir
O temor
Onde
O tempo
Livre
De toda
Matéria
De que
São feitos
Os medos?
Quando
O tempo
De realizar
O que
Se aspira?
De recusar-se
A morrer
Sem ter
Vivido?
Que dizer
Da ética
Do agir
Sujeita
À ação
Da violência?
À tragédia
Do desamparo?
À submissão
Da incompetência?
À catástrofe
Do terrorismo?
À dramaticidade
Da tortura?
Ao sofrimento
Da descompaixão?
À insensibilidade
Da ambiguidade?
À tristeza
Que emudece?
À arrogância
Que asfixia?
Às esperanças
Frustradas?
Aos fantasmas
Dos medos?
Nada
Mais aterrador
Que cristalizar-se
Num estado
De maturidade!
No rescaldo
A sensação
De diluição
De algo
Imprescindível
Por vezes
A loucura
Só é lúdica
À distância!
Mãos Queimam
Baixou as armas
Jamais sacadas
Ensarilhou-as
Sem nunca
As ter
Desensarilhado
Sentiu-se
Um pistoleiro
Do entardecer
Sem nunca
O ter sido
No amanhecer
Uma sensação
De alegria
Não mais ser
O que nunca
Tinha sido
Desde sempre
Sentiu-se
Estranhamente
Feliz
Missão cumprida
Deu-se
Por satisfeito
O Tocar de Janelas
Do poste
Pela
Vidraça
A imagem
Serena
Peneirando
Chuvinha
Mansa
Deliciosamente
Mansa
Peneirando
Peneirando
Levando
Lavando
Sedimentos
E
Setimentos
Liberdade não pode ser dada, mas pode ser conquistada, ela está na raiz das ideias, onde nasce o direito de ser.
"Povo armado
Jamais será
Escravizado!"
Com que
Dinheiro?
Em andamento
Algum mimo
Eleitoral
"Meu trabuco
Minha vida?"
O Acertar de Bater de Palmas
A
Arrogância
Da estupidez
Não conhece
Limites
O instigante
Desconhecido
Origem
De tudo
Ao que
Parece
Ainda
Não acertou
A mão
A Face Clara e Obscura da Clareza de Clarice.
Você tem paz Clarice?
-Nem pai nem mãe.
-Eu disse “paz”.
-Que estranho, pensei que tivesse dito “pais”.
Estava pensando em minha mãe alguns segundos antes.
Pensei - mamãe - e então não ouvi mais nada.
Paz?
Quem é que tem?
(Clarice Lispector)
....
Na sequência desta e outras Clarices, hoje, está claro no escuro de tempo sobrio aqui e acolá, eu ,cá comigo, penso na guerra e na Pátria Mãe, no País que não sinto que tenho, já nem irmãos se entendem igual no futebol, na política, na religião e se mata em nome de Deus que inexiste como um Muda.
Por isso, não se respeita a cor da pele e as adversidades da sociedade do consumo, não penso, logo existo!
A moral,está na cabeça e não no bolso ou entre o vão das pernas, é a liberdade no voto consciente.
Outro lembra do sonho, que não acabou, de construir um País que se faz de Homens e Livros.
Não passarão!
A Camisa do Homem Feliz
Então, se a felicidade é ter o que se deseja, ela é rigorosamente uma impossibilidade. Em qualquer sociedade, há uma lógica da definição do desejo autorizado.
Das mulheres e seu legado
Das mulheres que sabemos
Fortes, guerreiras, resolutas
E num só tempo nos seus termos
Doces, suaves nas labutas
Da Paz, da liberdade, da alegria
Plantando a democracia
Na alma do nosso povo
Das Olgas, Elisas e Marias
Guardando seus camaradas
Clamando: para a guerra não irias
E enfrentando tantas fardas
Os algozes da liberdade
E sem temeridade
Os herdeiros do estado novo.
Das Clarices e Hildegardes
Que choraram por seus filhos
Pela dor e tantas saudades
Seguiram nos seus trilhos
Deixaram seu exemplo
Transformando num templo
Cada espaço da luta
A essas Mulheres saudamos
No dia do seu Congresso
Mulheres com quem junto lutamos
Pela Paz, liberdade e progresso
Guerreiras da Cidadania
Heroínas da Democracia
Merecedoras de todo sucesso!