Coleção pessoal de PensadorRS

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Dez minutos são tempo demais para quem conta até seiscentos, a mais para um paciente terminal e a menos para quem não percebeu que eles passaram.

Lembrança (até mais)

Ela tinha um jeito delicado de ser
Eu sabia que não me pertenceria
Mas não sabia que tão cedo iria
Me deixar, assim, bem disperso...

A cada lembrança, pingo de chuva
A cada lágrima, que cai como luva
Eu me perco no mesmo pensamento
Que sempre é o do nosso momento

Seria fácil se não tivesse sido nada
Eu sonhei e fiz tudo aquilo por mim
Por nós... foi um beijo e todo o fim
Cada um, então, seguiu sua estrada

No fundo, sei que nos encontraremos
Só a distância insistiu em nos separar
Nada durou pra sempre e nem durará
Quando nos vermos, que reação terá?

Eu quero olhar aqueles olhos mágicos
Desfrutar de novo do sorriso demais
Nessa história, não há nada de trágico
Ela também lembra. Eu sei. Até mais.

As pessoas e os computadores têm uma característica em comum: ambos costumam ir perdendo a memória com o passar do tempo.

Às vezes a gente só acredita em uma situação no presente por sentir saudade de outra que foi boa no passado.

Somos

Somos a ilusão da crença
E a desgostosa descrença
Somos à prova de amor
Não há escudo à dor

Somos todos, somos únicos
Somos bilhões, somos um
Cada qual, nada igual
Só mais um, bem comum

Somos número, somos um
Querendo ser dois, ser par
Ninguém vive no singular
Não sejas mais algum!

Somos o que rejeitamos
As escolhas desacreditadas
Somos falsos irmãos
Empunhando espadas

Somos mesmo sem sermos
O fruto da divina criação
Mas a laranja apodrece
E o corpo cai no caixão.

A vida não precisa ser real para ser vivida.

Tempos

O passado é glorioso, o presente é intenso e o futuro é uma incógnita.

Caiu a ficha

Eu saí com ela depois de um tempo sem nos vermos. Conversamos, rimos, concordamos em muitas coisas e discordamos em outras. Ficamos horas nesta apreciação pura e mútua de um momento, até que chegou o instante em que ela teve que partir. Na ordem cronológica dos fatos, era só mais um lance a passar desapercebido pela maioria, mas o vazio que senti ao seu adeus foi bem perceptível para mim. Então, caiu a ficha: eu estava gostando dela.

Sufoco

Quando nunca tivemos algo
E temos medo de perder
Podemos estar agindo errado
Ao pensar, mas nada fazer

A ausência é também ação
Atrasando os fatos e fotos
Será que revelaremos ou não?
A quem nós somos devotos

Os velhos tempos se foram
Para sempre, sem discussão
Tudo se vai... uns a mais
Na inexistência de opção

Que cultivemos bons amigos
Sejam eles poucos, loucos
Mas que tenhamos um amor
Único e onipresente sufoco.

A despedida de alguém inconveniente é um alívio, enquanto que a de quem se ama é um martírio.

Estilo underground

O destino me pregou uma peça
Depois de todos os dias idos
Ele dizia: 'cara, vamos nessa!'
E eu me encontrava perdido

Nunca acreditei na hora certa
Lugar exato, algo a acontecer
Até minha mente estar deserta
Sem pensar, comecei a fazer

Música alta como som de fundo
Alma gritando, um barulho mudo
Silêncio nítido, mas esclarecedor
Colocamos mais fogo nesse calor

Gostei daquele estilo underground
Diversão, loucura, beer and sound
Óculos revelando uma outra visão
Olhares cruzando-se na contramão

Sem Carnaval, tocava a marchinha
Animando os fiéis amantes noturnos
Revelações íntimas nas entrelinhas
Palavras suaves, desejos absurdos

Pra que pedir desculpa por estar feliz?
Tente, ao menos, fazer alguém sorrir
Acabe a noite melhor do que começou
E, não se esqueça: a vida é um show!

Havendo um clima festivo, devemos desconfiar do homem que não aceita o drinque e da mulher que bebe apenas uma dose. A negação, bem como a aceitação parcial, revelam traços de conduta.

Eu não tenho medo do escuro. Tenho medo de não poder mais enxergar a luz.

Aqueles que têm muito em comum dificilmente ficam juntos, pois não buscamos alguém que seja o nosso espelho, mas sim quem nos complete.

Nunca perca a autonomia, a menos que você queira ser projetado por pessoas que mal lhe conhecem e pensam que lhe dominam.

Reflexão (tardia)

Entre a insanidade e a lucidez
A sobriedade e a embriaguez
Eu pego apenas mais um copo
Se for pra apostar agora, topo

Crescemos e envelhecemos
Desaprendendo a usufruir
Trabalhamos e perdemos
A experiência de curtir

Entre o fim do dia e o de tudo
Algumas letras, alfabeto mudo
Eu mantenho-me em silêncio
Um disparo pro alto, inexato

Nos alimentamos da carne
De algum animal sacrificado
A reflexão chega sempre tarde
Depois do jovem ser assassinado

País, sociedade, razão e religião
Porre, porrada, falta de opção
A continuidade é um erro fatal
Em um amanhã de pleno temporal.

Somos o futuro

Mais uma noite acaba
Mas não acaba o sentir
Um sentido quase raro
A novidade está por vir

Todo dia é um novo ar
Alguma coisa pra respirar
Estando nessa plenitude
Na eminência de atitude

É claro que haverá então
Outra paisagem lá fora
Somos o futuro, irmão
Quer mesmo dar o fora?

Opto por prosseguir aqui
Um tanto longe de mim
Ainda refletindo comigo
Motivado, mesmo sem ti.

Parto do descontrole

Aqui intercala o nosso intercurso
Dispensando qualquer discurso
Apenas uma maneira de pensar
Rejeitando quem possa segurar

Falamos um pouco de futebol
Descansamos no nosso lençol
Uma tirania devassa e cruel
Tumba no eterno mausoléu

Estranhamente me aguarde
Mesmo que os dias parem
Estou cansado de esperar
Pela noite que me agrade

Um caso em diversos caos
Sujeito bom dentre maus
A menina que se diverte
Na lembrança das Chacretes

Estaremos na área de novo
Para tentar socorrer o povo
Esta sensatez está perversa
E a paranoia assim dispersa

Quero cantar em pleno torpor
Como em um coma induzido
Livre, leve, em um total vapor
O descontrole foi assim parido.

Ser humano

Chuva que cai no dia de calor
Sensação de paz momentânea
Violência instaura o terror
A realidade é instantânea

Há disparidade em altos níveis
O consumo diário no capitalismo
O avanço utópico do anarquismo
Tantas diferenças, todas incríveis

Enquanto jogamos conversa fora
E outros não podem se expressar
Ignoramos a chance de mudar
Mudança global? Não agora!

Estamos cheios das tolices
Corrompidos pelos poderosos
Seres férteis em bizarrices
Nossos ídolos estão mortos

Quem pensa diferente, é louco
Quem pensa igual, é pouco
Quem não pensa, é normal
O que Ele pensa? Erro fatal.

A sociedade é uma demência coletiva e os hospícios são as ruas.