Coleção pessoal de naenorocha

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Com certeza esquecestes de que viestes aqui por mim
Pelos meus braços te conduzi trôpega e infeliz
Que buscavas em qualquer passagem um ideal assim.
O lugar confidencial para uma alma aprendiz.

Que tomastes minhas mãos buscando o guia
Do meu corpo que naqueles momentos mais te servias
O meu coração calado tudo de ti ouvia
Buscavas aquela lua com sua face esguia.

Provável que já não lembres destes acidentes
Tens a memória curta e os olhos comprometidos
Com a visão espantada vais completamente
Ao entorno das estrelas comoventes.

Envolvida com a beleza que cabia em teu manto
Sopravas os lugares mais propícios tu limpavas
Quando as aves divinais, pra nosso espanto
Os teus cabelos de mormaço se desmanchavam.

Quando, à brisa teu cheiro bom perpetuava
Nesses lugares te prendias nas flores o teu encanto
E tu sorrias por um anjo que os orientava
A nave móvel que o anjo trouxe perto pousava.

Vida, é um risco que corremos em contemplá-la
Quando se mostra boa e harmoniosa
Não é bom achegar-se dela e tocá-la
Os trages dela são de furta cor curiosa

E eu falo assim por um desmando
Não me foi permitido sequer citá-la
Mas apenas por eu ter uma já distando
Nem por isso é bom beijá-la

Na vida tudo me atrai, esses sinais
Tão próprios dela chegando na dispersão
Ausência ruim e nos abala muito mais
Saber que somos nós que temos coração.

Ah, como me inebria e me cativa
E é, por sua graça muito mais caprichada
Quando ela vai passando linda e altiva
E já não temos mais como chegá-la.

É da gente mas parece tão primeira
Indiferente, sem comunhão, cativa nata
Que é desgosto afirmá-la deserta
De seu grande mistério desordenada.

Seu olhar detém num abraço ardente
E com todo o perigo que coremos vale amar
Tal como ela quer, num só repente
Amá-la, tocá-la e admirá-la.

Guarda-te na coveniência porque num dia
Em que passes no caminho lentamente
Já somos velhos e a beleza que ardia
Não Seja no fim de passos tão lentamente.

É DE DEUS

Enquanto eu destinguir
Os galhos das frondosas folhas
E avistar sem engano a fruta madura
Enquanto eu tiver essa vontade
De come-la codimentada de sal
Enquanto eu me cativo
Dos cantos espalhados dos pássaros
Que bicam as frutas, o seu alimento
Enquanto eu me paralisar
Diante deste simples mistério
Que já deixamos de tentar
Falar, explicar
Eu me defronto com o amor de Deus
Confirmando o seu poder
A sua vontade de nos ver felizes
E é da comida que deglutimos
E da água, virgem que correm das nascentes
Da espera das estações próprias de cada coisa
Que os homens e os pássaros se enchem de vontade
Eu me confrontarei com os negadores
Do poder Divino.
Foi Deus quem tudo fez e criou na sua completude
Tudo o que vemos de bom e prazenteiro
Deus não inventou a falta, ou a escassez
Foram as esperas dos animais
O homem com sua ganância
Os animais das matas com sua fome inglesa.
Enquanto eu subo aos céus
Vou me aproximando dessa verdade
A verdadeira verdade é de Deus
Tudo é de Deus
Que Criou, que aprimorou
Que do seu conhecimento cibernético
Criou o que está para ser feito
Deixou a luz para nos iluminar
O escuro para meditarmos
E as condições de espera e paciência
Do dia e da noite que chegam e saem
No desencontro de fazerem o tempo.

O AMOR

O amor quando chega
Entra no seu jeito volátil
E se instala no quarto.
Muda as cobertas
Deixa meia janela
Solta a cortina.
O amor não vai para a sala
E se entroniza lá onde está.
E a vontade que dar
É a de tomar sua companhia.
O amor não vai à cozinha
Lá ele se perderia
Com o cheiro
Do que está sendo cosido
O amor tem a fome
Dos dias em que esteve ausente
E dentro do quarto
É como estar dentro de nós.
E nos aperta e se alarga
E toma quase toda a cama
De tudo o que trouxe
Presentes, vontades, faltas
Desejos atraentes
Alguma piada nova.
E o amor nos ama
Sem fazer força
Ele nos ama
Cobre-nos com ele
Deixando apenas o lugar de respirar
E comete o amor
E nos ama inteiramente.

O AMOR SAGRADO

Todos os caminhos me levam
Para onde eu já estoi.
Este lugar parece ser mesmo meu.
Aqui resolvo, aqui me perco.
O tempo de varrer o mundo
Nesta minha idade, já vai longe.
Vivo diante dos inquisitores
Pagando por todas as minhas ausências
Por todas as lamentações.
Aqui vi o sol nascer e já me cansa
A esperança de outras luzes ficam distantes.
Eu não gosto de questionar a vida
Porque todos os argumentos
Que justifique sua dureza
Inevitável passei por todos.
Não quero lamentar por uma coisa perdida
E nem dar nome a isto
Mocidade e beleza
Coisas que o tempo nomeia sem piedade.
Escassez no meu dicionário
De palavras e seus sinônimos
Para dar um nome a vida.

SAGRADO AMOR

Sou um dos que justifica o que não vale
O precipício que anda sob meus pés.
Quero, às vezes, chamar pelo meu nome
Mas eu ainda não aprendi nem decorei
Por isto resiguinei-me à mutilação
Dos meus valores, abaixo da importância
Que uma vida vale.
Não sei se vivo ou morto eu chego lá
Ao abraço do Sôfrego da cruz
E acreditar nisto, que tem o significado
De tudo, o santíssimo, Cristo.

INCÓNITO

Não sei mais quem sou
Ou quanto de mim existe...
Tantas vezes mudei
Tantas vezes piorei
No tempo em que
Minhas penas se largavam.
Quem tem saudades
Vive no passado
Pisa com pés de gigante
O instigante andamento
De quem quer chegar.
Quantas vezes aportei
Às margens de qualquer rio
Tantas vezes me larguei
Em cursos que eu não sabia.
Quantos amores tive
Com a necessidade de amar profundo
Ou com a destreza de fincar-me fecundo
Ou nem amar, por vezes passei
Solitárias noites de inverno
Sem quem me cobrisse.
Quantas vezes no verão
Dormi sufocado
Por um amor que me agasalhava
De um cobertor pequeno
Que não me chegava aos pés.
Quantas vezes fui criança
Nas voltas do meu coração
E quantas vezes pisei com desequilíbrio
A posição do homem astuto
E assim fiquei chorando e cantando
Indo e voltando
Partindo e não saindo do meu lugar.
Por vezes não sei por onde fui
Na companhia medrosa do menino
E nas condições do adulto.

ANTES DE TI

Antes de te ter
Eu não tinha os provimentos de agora.
E tudo o que eu ganhava
Gastava em negócios com o mundo.
Tudo, nada, serviam-me
Da mesma forma, desatinada
Ou era pequeno ou demasiado grande.
O tempo encontra o que guardamos
E por todas as vezes tirava de mim.
Mas quando se tem o amaor do seu lado
Tudo tende a se modificar.
Se sou acanhado
Não sabia valorizar o que tenho
E tudo escapava de mim
Como água que contemos nas mãos.
E até eu desaparecia.
Clara estrela, benfazejo dia
Luminoso instante
Em que a mim te deste
Tudo passou a ter sentido e valor.
Encareceram, valorizaram-se
E hoje é o mundo
Que me acerca
Propondo negócios comigo
Mas tudo eu quero, contigo
Ninguém cogita, nem pensa ter
Sabem que são minhas
Todas as peças de ouro
Lustrado amor
Com o pano que cobre
De transparência,o meu coração...

AMOR

O amor não se derrama
É da conta do coração
O amor não se encharca
É dos orifícios do coração
O amor o que nunca erra
Acerta com precisão
O amor anda correndo
Mas não se mete contramão
O amor é a vontade
De se comer com a mão
O amor todo é real
Nunca tende à ficção
O amor dar na cabeça
E dói lá no coração
O amor não é acusador
Sua sentença é o perdão
O amor pode ser ferido
Por que se posta na posição
Como fez o amor de Cristo
Deu-se às lanças e ao perdão
O amor fica indeciso
Entre o vento e o portão
O amor é criação de Deus
De nós só pede sua gratidão
O amor vai às estrela
E brinca lá de cordão
O amor é uma flor aberta
Atracado aos espinhos
Também é o floral botão
É por amor que ao chão desce
Inesperadas chuvas de verão
Que vê o amor não se questiona
Sabe estar diante do bom sinal marcada a mão
O amor pode ser um vício
Que não gera depressão.
O amor é um lutador
Um barulhento tambor
Soqueando o coração.

"A liberdade de expressão nos permite o direito de escrever errado, de falar errado, de errar na expressão da livre escolha".

SÓ EM PENSAR EM TI

Só em pensar em ti
Com as marcas que deixaste aqui
Comigo, a vontade é infringir
Os nós que os meus braços insistem
Em relutar que te ausentastes
E minha cabeça comanda
Ainda ações, sentimentos
De dor Para onde incide
A precisão do aparte
Como alguém que amputara a perna
Mas a dor insiste
Ele a movimenta e se cobre
Até onde seria o pé.
E assim eu te calculo aqui
Ainda fazendo parte de mim
Enquanto vou me diminuindo
A precisão do teu corpo esguio
E por me calar
Um sintoma de clara vida
Os meus pensamentos
Vadeiam e eu te anuncio
A princesa de outro reinado
Prometida a mim por legado
De alguém, um nó, uma certeza
Que me clareiam a alma.

FALADOR

Quando eu me levantar
O mundo já terá mudado
O amor já terá roubado
Todos os meus pingentes de fantasia.
E se eu levantar
Já será para levitar
Inaccessível de pedaços
E por minha, tão minha culpa
Enquanto estive inerte
O tempo não me contestou nada
Apenas passou e outras manhãs
Transbordaram à minha frente.
Eu desprovido dormente
Aguardando a distância dos dormentes
Esperando o trem da meia hora,
Tempo que por afetuosamente não leva
Meus conhecidos que me visitam.
Quando eu me erguer concluído
Já o mundo estará truncado...
E eu sou o romancista que delata
Que por aqui resvalam
Canhões em todas as direções.
Quando eu me levantar
Lavarei os lençóis de cama
E se ficarem cheirosos
Como sabão de lavadeira
Eu me deitarei, na minha condição..

TEMPO

Passa o tempo e a estrada vai
Aonde só ela sai
E eu não consigo ir.
Cada passo conta tempo
E o coração ainda inventa
Amores pra eu buscar.

Tempo
Que se conta rápido e lento
De quando chega a saudade
E a espera se ela vem.

Vida, ainda
Que eu te inventasse de novo
Vendo o tempo
Eu nem saia do ovo.

ADIOS

Vai o tempo e fica o dia na metade,
E todo o dia foi por todos demarcado,
Manhã o sol clariei, tarde o amor melhorei,
De noite perdi-me contando estrelas
E olhos que brilhavam do mesmo tanto.
O mundo contempla o tempo, que há em todo lugar.
Nos pés de quem fareja uma perna e meia
Nas mãos de quem segura seu coração.
Para os que vêem nos olhos luzes,
Seguram a claridade e se dão na boca
Regujitos das entranhas expostas,
Amor que não vê pelas costas, e não se despede,
Prefere andar, selar seu próprio nome,
E amar, montar o diagrama, se enclausurar
Aonde for bom, o tempo é todo um remédio.

Não fiques triste
Por perder algo que não era seu
O amor não é um privilégio unitário
O amor imita a Deus, na sua onipresença.
Enquanto você chora
Outros tantos, um círculo no mundo
Sentem o mesmo incômodo.
O amor se ausenta para arrefecer-se
Das plumas embebidas de água
E ficam lá até que se compreenda
Que o amor também se desconsola
E se decepciona pela indevida reciprocidade.
O amor quando bateu na tua porta
Viu todos os teus dentes e ouviu o teu coração
E se instalou, só não te disse que era provisório
Se assim soubesses não ficarias triste
E nem choravas
Simples, tu esperavas e vivias
O tempo que o amor dispôs
Ao teu tempo. Se foi curto
Da próxima vez...
Porque não se tem um amor todo o tempo
Partilha com ele a tua vida
Falas incompreensível
Faz um trato com o amor
Que toda reza, reza.

LUMINOSA FLOR

Lindeza de flor
Sitiada de espinhos
Fiéis em seus postos
Como chegar ao meu amor
E minha a rosa que eu quero
São meus os sonhos em que ela se deita
E se transfigura de magnificência.
Do seu amor eu já provei
E ela sorveu o meu mundo
Encantou-se com o frescor molhado
Da fonte onde morreu minha sede
Onde, presumi, a quis amar.
E quase morro também
Sob a sombra do corpo dela
Anverso como uma encosta
Que protege caminhos
Qual predador acercando
Sua presa, antes de abancar-lhe.
Luminosa flor
Guarda-me contigo aonde fores
É por mim e pelo mundo todo
Este favor
É por ti, que ninguém vive
Sem um amor.

CADÊ O MUNDO

Entre os meus olhos
E o teu leito
Onde fica o mundo
Terá sumido
Neste espaço tão pequeno
Mas o tempo existe
E é por ele
Que conto meus desatinos.
Entre os meus beijos
E a tua boca
Cadê o mundo?
Coloca-se ante
O vidro embaçado
Sem futuro
Sem passado
Cadê tudo o que fiz
A fotografia de perfil
Do teu rosto simulado
Dessa costura fosca
A sombra fina
Que contorna o teu nariz.

PRESCRITO

Quero que a cada segundo
De cada minuto.
Que todo minuto
De toda hora.
Que pelas horas
De todos os dias
Que nos dias
Da vida toda,
Digas que me ama.

Porque em te ouvir assim
Com essas confirmações,
Que em mim se alargam,
Saberei que sou amado.
E que foi sem me esquecer.
Agora a pouco por me dizeres.

Quero que me repitas
As vezes do amor sentido,
Dentro da lista espessa,
Faladas por toda vida.
Assim me sentirei amado.
Quadrado em qualquer
Das partes do dia.
Falado em repetição
Colados na minha boca.
Temo que se assim não for
Se acabe essa comoção
Que percebo nos teus olhos.
E os meus a quem amarão.

FELIZ

Perdão aos que me vêem assim, feliz.
É só jeito de impor-me à vida
Que não gosta de pessoas alegres
Por ela todos eram como não me posto.
Um sofredor, resignado, rastejante.
Por ela não haveriam sorrisos,
E é por isso que eu rio, rio de nada.
A depender de suas graças,
O mundo era um cortejo extenso,
Daí eu só mandar flores,
Que ela me tome como diferente,
Dono dos risos, das caras de paz com ela,
Que ela me conte como um aventurado,
E conste no seu relato, eis um erro,
Um descalabro, alguém que nunca chora.
Ele não conta despedidas, não vai embora.
Por isso quando quero me derramar em água,
Me tranco no mais escuro do meu quarto,
Derramo lá o que tem pra ser aguado,
E o tempo que for necessário, a dor , o pranto,
Eu quieto, se ouço alguém por perto,
Bato martelos, passo as mãos nas cordas do violão,
Quando a voz destreme, imito um canto,
Pois quem canta está feliz,
E assim pra quem ouve eu fiz
Daquele dia, sozinho, uma farra.
Mas não deixo de sorrir, de mostrar-me feliz,
Assim a vida me deixa, sem saber que sou,
Entre todos os que ela persegue
E quer passar ao extremo fio,
Talvez eu seja o mais infeliz.
Feliz eu não sou, ou não estou,
Mas como eu, esses que a vida dá-se como castigo,
Sou mais um que ela não contou.

FÓSSIL

Ao me acharem
Descobrirão uma parte do mundo
Com o mistério
De onde surge a matéria
O barro das raízes profundas
Das árvores petrifeitas
Dos orifícios onde tudo cabe
O meu esboço defindo
A minha fisionomia.
Uma matéria
Que desperta o interesse
Para Niede Gidon.
O mais antigo dos homens
Se parece comigo
E eu não passei
Pela metamorfose
Como um fóssil qeu se junta
O primeiro homem
Tem profundo, traços meus
E eu descendo já mais pra cá
Mais ressente
Como a escultura
Que a chuva de ontem
Deixou para ser vislumbrada
Hoje no dia frio.
Um fossil não tem coração
Um macaco não fala
Limita-se a imitar gestos
Que a nós são sinais
Que eles aprenderam conosco
E não fazemos como eles.