Coleção pessoal de naenorocha

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PROCISSÃO DAS FORMIGAS

Procuro o sentido
Do caminho das formigas
E de verdade não sei
Pelos rumos aonde vão
Caminhando à frente
E fazem da frente
O lugar do seleiro
Onde tiram e botam.
E andando o contrário
Elas vêm mais carregadas
E vão na ida
E da mesma forma na volta.
O que lhes preocupa é a folha
Não o chão, não o rumo pontilhado.
Disperso o meu olhar
Vai sem nexo,
Carregado de outra dúvida
Uns pingos que se mexem
Voluntariamente, mas parece à toa
Que não andam perdidos
Seus pezinhos que voam.
Não há marcas das formigas
Pelos caminhos que palmilham
E se alguma marca houvesse
Fácil dava pra identificar,
Pra onde é que elas vão,
De onde vem é que elas vêm.

PALAVRAS

Palavras são ditas pra não termos
De recorrermos aos gestos
Que são palavras ocultas
Que quando saem são passarinhos
Arrebentando a gaiola, fugindo.
Palavras são ditas para proferirem,
Tudo aquilo que não basta
E não são necessárias.
Basta em dizer o que não é
Tudo, o que não se faz entender
Por que os sinais por si dizem mais.
Palavras foram feitas para serem vigílias,
E só aqui e ali, um murmúrio
Já temos sido displicentes e vãos.
Os gestos ferem mais que as palavras
E as palavras vestem mais
Que estas sobras de agulhas, navalhas.
Eu me contento em não dizer
Ao que não entendo
De dentro pra dentro e me contento,
Ninguém me ouve, nenhuma palavra,
Que alguém confunda ser a ele dirigida.
E com o mundo costumo agir da mesma forma,
Da mesma forma, as palavras são,
Do mesmo tamanho, da mesma dimensão
Repercutem o engano sendo mal entendidas.

"A vida fai ficando mais seleta, sendo mais propícia aos moços, quando esta vai se aproximando do topo."

"O amor quando sai só leva a mala, deixa a cuia"

UM REI

Sim, trata-se de um rei absoluto,
Que traz as diferenças e vantagens suas,
Que impera, quando na guerra do luto
Ver tombar milhares de suas criaturas.

Sim, trata-se de um rei parecido Deus,
Que quando fala a sua voz às alturas,
Faz se ouvir do mundo e, lá do alto céu,
O outro que grita é sua caricatura.

Sim, trata-se de um rei que reina ao leu,
Em leves lugares pousa e não se vê balançar,
Mas aos seus argumentos, tudo isso é seu,
O amor, a dor, qualquer sentimento, é de lá.

Trata-se de um grande, um guerreiro gigante,
Que comanda à frente toda a humanidade,
E o seu caminhar é certeiro e lento,
E quem o acompanha, chega-o em outra idade.

ATRÁS

Hei de caminhar sempre por essa estrada
Que por muito tempo venho já seguindo
Sem que me cause mais a noite anunciada
Qualquer medo ou motivo, de ir já saindo.

Não desiludido, mão sem a ilusão que mude
Um desgarrado que a dor vem no encalço
Caço também a paz...se ela estivesse em tudo!
É essa estrada o lugar, talvez, de encontrá-la.

Busco por aqui, a estrada que me apontaram,
Encontrar minha alma rindo, numa alvorada,
E onde ela está? Talvez siga sem noção,

Sem que me interesse além de caminhar,
Numa ilusão de procurar a minha aurora,
Com os tormentos de sozinho ir andar.

O sangue e alguns retalhos de panos sem peso,
Amanheceram depois da litania dos arrependidos,
Ou oportunistas, que depois de tanto saberem
Fizeram ainda o holocausto, em nome deles.
Ninguém pedira, a não ser suas bocas para dentro,
Nenhum queria retirar-se da última esperança,
E só algumas gotas de sangue, não mais vermelho,
Quase cor de areia, infiltra-se no lugar.
Em meio aos gravetos apagados, pela tempestade,
Ainda em riste erguia o único tronco,
Aonde o esticaram, quebraram suas veias,
Canais que antes tanta bondade escoara.
Julgaram tê-lo tirado de dentro do mundo oco,
Agora muito mais deserto, e ninguém pra se escutar,
Pois que ao justo, exatamente o incólume de qualquer culpa,
Deles se agradaram como ovelha para o abate.
Dos pedaços de pano, que quase não se via,
Dava pra sentir um cheiro brando de cravo se abrindo,
E ele fora pisado, por pés desnecessários, sem valia,
E mesmo assim ardia, em pleno ermo, uma presença santa.
O madeiro, mais afortunado fora lavado,
Com o mais puro líquido. Uma nuvem vermelha,
A deslizar seu lastro, até tocar o ponto onde Ele punha os pés.
E quem dentre tantos maus abortos, poderia sequer querer,
Ter como Aquele justo, a mesma justiça, ser o mesmo Ser.
Um entre todos, o único entre todos, o que nunca igualou-se
A ninguém, nem com o acréscimo desses dois mil anos.
Mas quem julga tê-lo morto, esse realmente morreu,
Quem considera tê-lo tirado, esse sem dúvidas apodreceu.

RAZÃO

Há coisas cujo papel é o de apenas justificarem outras. Ha muita teoria em torno daquilo que é palpável, um papel necessário dos que buscam entender aquilo cuja existência é visível , o que de fato existe dentro da matéria absoluta. Existe muita semelhança, ou uma necessidade de que se completem as coisas desordenadas, e tudo se iguala na verdade a que se chega, de que tudo é um tudo,. absoluto e resoluto. A vida, depende não dela só, mas de tantas minúncias, uma cadeia preenchida, completa, e às vezes vazias, das vidas desligadas. O que se pensa, tangenciado o corpo sólido, se diz, ainda sem a verdadeira certeza de qeu aquilo é, ou que é aquilo, de forma tão dura e impenetrável, que não cabe o fio do penamento, entrar, caber. O que se diz das coisas, fala-se sem a exatidão do átomo, e tampouco chega-se a conjunção dos ânios e íons, muito mais lomgíquos e inexplicáveis. E dizem serem eles parte de uma célula, que compõem o homem inteiro, todas as coisas, todos os sentidos e retalhos. Onde cabe a comprovação de Deus, do seu amor, se nem um olhar até hoje foi direcionado a Ele, e acreditamos na sua santa existência sem necessáriamente termos noção de sua aparência e forma. Vimos Cristo, Deus sem dúvidas, mas coberto de das fisionomias humas. Deus é uma dedução, tida pelas atitudes divinas, a que o homem, ainda hoje reluta em atribuir a si próprio. E se Deus não fosse real, certamento o homem chamaria prá si essa divindade.

Desse amor eu não quero
nem um pedaço de pão.
Desse amor eu não quero
nem mesmo uma refeição.
Estando morto na vida,
num canto da noite,
não venha buscar-me,
estarei bem aonde esteja,
entenda, eu não quero morrer.

Roupa rasgada na rua,
é bem melhor que amargura,
dentes cobertos de neve,
é bem melhor que guardados.
Estando torto da vida,
não tente mudar-me
não faça votos, não seja tão casta,
meu bem, não tente
virar pra beijar-me.

A VIDA

A vida é uma coisa que não se escolhe
E se acolhe.
A vida nos traz momentos de choro...
E por um momento chorarmos com ela.
É um entrelaçamento de fios que não se vê,
Uma combinação de líquidos que não se serve,
É um bulido, pelas entranhas,
É algo estranho, dentro da gente,
A vida dói sem que se fira,
Pois quem se fere é a carcaça, retraída.
É um povoado de tantas vidas
Umas por sobre as outras,
Pregadas como resina, que pinga.
A vida é um convento aparente vazio,
No qual se descobre depois de tanto andar,
Um coro fino, a repedir, a ensaiar,
Andamentos e tons,
A vida não tem tom. Dizem que é dom,
A vida é dona dos nossos pensares,
Do que estes causam, nosso penares.
A vida pulsa, e não nos tira do lugar,
Ela se enfeita, quando é perfeita a tarde,
Quando é perfeito o sol, sem friagem, calor
A vida é dor que se sente e não se sabe onde,
Pensamos até que dor que se sente dela,
É a de alguém que está bem por perto.
A vida é certa, o mundo é errado, ou
O mundo fala certo e a vida quimera.

INCONTESTÁVEL
para Maria João

A realidade intransponível das coisas,
O que todos os dias constato, haver,
Que a cada visão torna-se a verdade:
Tudo é o que parece ser,
Tudo é o que é
E é difícil certificar a alguém,
Pelo rosto de perplexidade repetido,
Que de mim se vê, nem é necessário crer,
Se isto é bom, e eu posso enfim expor um riso,
Ou se é tristes estas verdades constatar.

Basta sermos, para se ser uma realidade,
Um mentira, aos olhos.
Já tenho pensado tanto,
E sei que ainda hei de muito pensar nisto,
Por que tudo que penso e guardo,
São essas mesmas verdades,
E essas mesmas mentiras.

Quando às vezes me dou olhando a uma árvore,
E deduzo que essa árvore pensa,
Não consigo chamar a ela, minha igual,
Por que isto é uma verdade.
E eu uma mentira.
Talvez goste dela por não se parecer comigo,
Por não falar pra que eu sinta,
Os dissabores, a mais, de uma árvore,
E eu sei que somos iguais,
Que é uma verdade.
Que eu minto.
Às vezes sinto o bolinar do vento,
E me encanto, por saber que ele é meu irmão.
O que é um verdade.
E uma mentira.

NÃO ENVELHECE

Já houve um tempo que a cidade não tinha idade,
Pra ela o tempo que conta parecia não andar,
Nem para frente nem para traz, ela era estática,
E ninguém se queixava, não se buscava novidades.

Bom era como era. As mesmas andorinhas voando,
As mesmas fontes luminosas, azuis jorrando,
Água renovada, não por química, com peneira, coando.
Os mesmos mendigos, tão conhecidos, passando.

Já houve um tempo em a cidade era deserta e fértil,
Os mesmos bêbados pingentes pelas nas calçadas,
Já quando o tempo se avançava, a lua imersa,
Dentro das águas refletia já o sol que raia,

Já houve um tempo em os dias da cidade, velha
Até pareciam não saírem de uma semana, um dia,
E assim o tempo era coisa que ninguém vela,
Só se adornava e se velava era só a nova vida.

DA MINHA SAUDADE

Quando o mundo era dos delírios
Do sonhar triste de uma paixão
De entrelaçar seus dedos noutra mão.

Quando da desventura se fazia uma cruz
E nela se pendurava em plena rua,
Só de chamar a atenção do seu amor.

Quando os pardais ainda de madrugada,
Já afinavam seus estridentes cantares,
E o dia era mais comprido pra nada.

Quando o ser amado era demais amado,
E seu joelho era mais procurado,
Que um broche quando cai no gramado.

Quando pelos coretos haviam retretas,
Só pra impactar como seus metais, varetas,
Os achaques, inaugurações do prefeito.

Quando a noite vinha se via a pracinha,
Cheia de amores, olhos de mocinhas,
E de rapazes com olhares em cima.

Quando o mundo foi desses delírios, vão,
E junto com ele, um tempo de ilusão,
E cada um com seu coração na mão.

PADROEIRA DOS VAQUEIROS

Oh Mãe de Deus,
Padroeira dos vaqueiros
Ouvi nossas orações
E sempre rogai por nós.
E nos proteja dos perigos que corremos
Quando à mata nos juntamos
Por entre galhos de fios.

Pois confiantes vimos a tua presença
Amores de uma nascente
Que depois transborda em rio.
Não só pedimos
Mas também te ofertamos
Nossa luta, o pó, a falta
Nosso amor em vossas mãos.
_________________________

Oh Mãe de Deus, escutai
Nosso clamor, nossos ais
Pois sempre, sempre serás

A Virgem a santa, a mais bela
Amor maior verdadeiro
Mãe de todos sertanejos

Ouve Oh Mãe nossa voz
Por Deus, por vez escutai
Não queremos ficar sós.

Venham como um relampejo
Teu olhar pleno de amor.
Tuas bênçãos sobre nós.

"Tudo que é capaz um grande amor, morrer ressussitar depois, colher paroaras e seus espinhos. Andar como um peixe na maré dando braçadas de viés, cheio de amor o seu convés! Só pro meu amor olhar pra mim, me atirei balas de festim, tomei diazepan com gim"

REVELAÇÕES

Da posição antiga no meu quarto
O espelho faz revelações ao meu futuro
Insinua que eu ando fora do tempo
E assim me nego a mirar a sua face
Sequer em sua frente passar
Que já existem marcas em meu rosto
Que já me mostram cansado
Inerte no passar dos dias
Que não me visto mais
Das roupas coloridas que gostava
Que deixei embranquecerem os meus cabelos
Que passo dias sem fazer a barba.

Não passará um minuto
E os meus olhos sorrirão
Mirando os dela
Por que é assim
Quando estou
Seja em qualquer lugar
Com qualquer andar
Com qualquer chinelo
Com qualquer mochila
Com qualquer ferida
Caem por terra
Todos os edifícios altos.

Não passarão dez minutos
E ela me olhará maliciosa
A que eu lhe beije
E sinta a dengosa
E me esfrega meu rosto
Pelo seu colo.
Porque é sempre assim
Toda vez que estamos juntos
Nos damos em beijos e carícias
Que o tempo passa
E a gente não percebe.

Não se passará meia hora
E este aperreio que veio comigo
Até este tempo de sol alto
Permanece a doer contido.
Porque é sempre assim
Ela chega depois de mim.

Não passará uma hora
E eu estarei disto de agora
Tempo pra escrever a ela
Alguma coisa que mais
Adestre como um poeta.
Ela esquecida das horas
E foi pelas previsões que errei
Porque eu sei que ela virá.

VALSA

A minha vida é um sonho
Não um sonho sonhado
Que se conta como impossível
E bom.
Nem um sonho de valsa
Que de bom se sonha
E a boca pinga.
Minha vida é um sonho marcado
Pisado, no assoalho
Nos passos coreografado
Sobre o linóleo
Um pra lá, dois pra traz.

TEM JEITO

Prevalece, porque não seria
A desordem
Como deixaram a casa
Quando racharam as paredes
E pendulou o teto.
E algumas coisas precisam
Com o esforço de outras coisas
Ficarem de pé.
Na posição de partida
Na porta da saída
Porque ameaça o temporal maior.
Eram dois prenunciados
Um fez o que fez
Com a faltosa ajuda das pessoas.
Ficou por que não passou a miséria
Esperando o fotógrafo
Para que se registre o dia
O dia claro como poderia ser
Direcionado todo para os nosso olhos
E o perdemos no temporal escabroso.
Rachada pela caliça
Alaga-se a casa e os livros.
E permanece o dia mostrando
Que é vulnerável a vida

E é muito frágil o mito
Que deus não Dorme
Mas necessita olhar
Para todos os lados.
- Com o temor dos homens.
A vida vence e lança no chão do mundo
O perdedor.
Mas não me disseram nada do mistério.
E eles agora são tão visíveis
E sentidos a todo o momento
No que agora fico sabendo
Pensamento.

ACALANTO

Muito antes de eu nascer já acordavas com cuidados
Um anjo me designastes antes de minha mãe pegar-me.
Ele me dominava quando eu corria rumo ao despenhadeiro
Ou quando me declinava sobre o precicípio.
Me embalava com canções compostas aí,
Serestas e acalantos, com eles eu dormia
Para aplacar minhas investidas nos caminhos de cruz
De noite eu sentia cada passagem do Arcanjo
Sob minha rede armada no entrar do quarto,
E se ausentarem nas estradas altas do céu.
Após e tardiamente, uma mulher deitou-se do meu lado
Tinha uma forma de anjo fêmea,
E na minha vida, já se diminuíam os cuidados do tempo.

Se não for do puro atrevimento, manda-me o teu anjo
Para que cuide de minhas feridas expostas,
Para que resfrie a minha boca:
Há momentos em que mesmo a vontade não nos convence
É necessário que eu te veja inteiro, rente aos meus olhos
É preciso que eu me veja em ti
E que encare os sofrimentos como um sol claro
A tua luz subindo e descendo sobre minha vida.

Manda o teu anjo que com ele eu aprendi a falar
De coisas que por aqui, nas divagações de mim,
Não mais sei contar a ninguém
Nem mesmo a mulher que me acalanta
Nem mesmo o homem que soube ser meu pai.
Não és tu meu pai, que já flutua, que já é anjo
Meu pai verdadeiro, verdadeira saudade lá bem de dentro de mim.
Manda-me essas pessoas todas
Para fazerem um coro, para eu poder dormir.