Coleção pessoal de naenorocha

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ENGASGADO

Palavras eu já limitei
Na egressão da boca
De coisas que poderiam avariar o mundo
E fiquei como quem exita
Tomar o remédio amargo.
Se isto aqui não te dói
Por seu lado, me tira o poder de contravir
O que me vem de encontro.
Todos os ventos se afunilam
E para qualquer lado limitam a minha graça.
Chorar não posso
Seria a descontinuidade do sonho
A mudança dos signos
A obrigação dos ascensionários
E dos descendentes luminares.
E o que faz acreditarmos
Em seus poderes binários
O que não conto como papelões
Porque são dois, não são três.
Se fossem ímpares
Contava sete os deslumbramentos do mundo
E não regeria em meu relento
Um césar sequer, que não fosse
De um embaraço pelos caminhos fluviais.

ACOLHE

Não fale do amor a crueldade
Pedaços do vestido dela acabem
A que não fique só amizade.
Que o amor rasteie o bem como seu guia
Um acervo de bondade e mais carícias
Que seja assim, que seja assim
O teu lugar cabendo a mim.
O meu lado direito que há da minha
A terna boa, aquele passarinho
Que junta palhas e faz um ninho.
Carrega os gestos como quem foi
Que todo movimento é de fazer
Cair dos céus ou levar num balde
Fermento, águas levar e trazer
É bom pra tudo, que renascer.
Acolhe as mãos da renascida
O filho todo o tempo apetecido
Que se repete toda alegria
E faz aquilo, tão repetida

GERMINA

Não deixa que o amor
Em ti resvale
Amor a conta dele
É simulada
E a boca é tua
E o beijo é dela
Amor te entrego
Ainda com garantia
Amor que repetir sempre te dou
Tanta esperança
E o sol já levantou
Amor tomas que cuide a sementeira
A ti eu trouxe
Flores vermelhas
Tudo o que dou
Meu colo aninha
Germina em ti
Como o que sou.

GOTEIRA

Da telha canelura
Pingo a pingo de barulho
E pela irregularidade da chuva
Gotas caem, tonel se entope
Ninguém comporta as águas dentro de si
O que sobra pinga e respinga
Que assim lava o chão
Até o dia que se espera.
O vento manso não trisca a telha sobrecéu
Para que entre maravilhosamente
E resfrie toda minha gente
Confusa o canto da procela.
O solo que há chuva
Já por entrada, finca bebedeira
Que não correrão nem subirão.
Toda temporada é pega de surpresa
E não há motivos
Para que as flores contem
Do tempo o que lhe faz abrolhar.
De toda paciência, salve a clemência
Que Deus nos mostra
Quanto ao vento que a chuva chamega
E lhe leve aonde se mais necessitar.

IRREVERSÍVEL

Contemplo o rio em seu percurso
E tudo se parece no tempo
O próprio momento
Colho com as mãos o que cabe dele
Mas não o retenho
E na efusão da água fervente
Tomo vôo como uma ave rebelde
A tentativa de conter sua corrente
É a mesma de manter
A minha vida no controle
Do meu olhar, da minha vontade.
E memol ela se refugia de mim
Ou segue o seu curso desde a nascente
Como algo feito assim mesmo
Que ninguém toca, não se retém
E nem se revolve
Para um reparo, que ajusta
O que está incerto,
O que a faz , muitas vezes doída.

DETALHE

Detalhe...
Era o brilho do teu olhar entre as pessoas
A buscar-me sorridente em cada canto
E a festa esverdeada do encontro.
Detalhe...
Era o teu vestido varrendo o chão
Pelos caminhos para todos os lados
E os teus cabelos naturalmente penteados
Como um manto em que te envolvias.
Detalhe...
Era o teu rosto marcado de ansiedade
De uma dor, da tristeza do passado.
E o teu sorriso, que por isto eras a mais destacada.
Detalhe...
Era a tua mão pousada nos meus dedos no caminho
Abraçada do beijo que trazias.
Detalhe...
Era o teu encanto impudente
E o teu abraço no meu erro.
Detalhe, para mim, não são detalhes
São pequenos feixes de luz
Compondo e enfeitando a nossa história
Pirilampos brilhando na paisagem
Mostrando os passos de onde passamos...
Detalhe de eternidade na passagem
O que já somos por constância.

NEU POEMA

Um dia farei um poema para mim
Não qualquer lance rimada
Ou coisa como tenho sido assim
Menos que minha vida encarnada.

Farei do nada, como me projetei
Ao mundo de desvairo comovido
Sem escalas, não ao que não sei
A minha vida adulta, brilhos repetidos.

As passagem alheias e minhas, que andei dizendo
Tudo em meu poema será dissertado
A adversidade que existir, ou vi alguém vivendo
Em meu alento o que eu puder deixado.

De guizos nas pastarias, pássaros ao léu
Cantos recursivos nas mesmas horas leu
O mundo, a falta de um beijo no teu véu
Que me descobriu tão minha, a flor que amadureceu.

RETRATO

Rasguei o retrato
Em que aparecíamos colados.
Numa parte ficou menos de mim,
Na outra ficou mais você.
De um lado fiquei sozinho
No outro você ficou sem ninguém.
Num pedaço fiquei sem um braço
No outro fiquei te abraçando
Numa parte você focou sem pescoço
Na outra ficou minha mão.

Por esse avesso de coisas
Eu me assombro
Só de perceber
Quão forte é a ligadura
Que ainda nos une.

Rasguei o retrato
Tentando separar nossas vidas
Mas a nossa dividida direção
Cruzou-se em todas as frente
E misturou-se por trás.
Faces solitárias,
Mãos resistentes
Que não se separaram...
Como um nó.

SEQUENCIAL

Por haver já passado o ontem
E já o veio com um presente
Nada de nada quero trazer ou lembrar
Porque o inexpressível que se chama
Da onda de vento que varreu, bem apagou
Os pontos que formavam outra vida
De uma seqüência de dias e do próprio ainda
Quando andávamos brincando com o começo.
Está lá na extremidade acima
O desatino de nossa sorte
Que não fizemos ou construímos
De forma errada, nos era cobrado
A que fizéssemos certo.
E está lá no fim de baixo
O emaranhado de estopa
E a marca de muitas mãos
Circundadas por outros gestos
A forma de consultar o mundo.
Tudo apenas começou e já somos errantes
No caminho do centro
Longe do que poderíamos
Aprender com as formigas
Atrevendo-nos qualquer direção
Com os alinhavos nas mãos
E um nó de ponto cozendo nossos pés também.

CORAGEM
Chega o tempo em que nossa coragem se perde
De nós e vira um espectro a nos afligir.
Também, que para nós corremos o medo
De nossas próprias sombras
E trememos em sentirmos a ausência
De um braço largado sobre o nosso colo
Nas noites de sono e de insônia.
Atingiremos, com sorte, o tempo em que absortos
Passamos a retocar o cosmos
Sonhando com estrelas e lua
E o vácuo infinito que nos cabe estrelas e lua
E passamos a contar aos outros
Que não temos certeza do que somos
De onde viemos e aonde andamos.
Da noite fica o sentido de que tudo abandonou-nos
E não podemos ter a noção do tamanho que somos
E que já fomos maiores nos desejos
Nos sentimentos, e no espaço que continha-nos.
Chega o tempo, para quem tem sorte,
Que parecemos trocar um abraço com a solidão.

DIA E NOITE

Passei a ter medo da noite
Não de noite
Quando não vemos os ameaçadores do dia
Quando a gente ver o que é daquele dia
Com mais acepção e precisão.
E se previne a noite
E pensamos com a luz do sol, no dia
Que não tem nada a ver com a noite
De noite temos as sombras dos sustos
E por ser igual às noite, das sombras
Nada podemos ver, na noite.
No dia o que não queremos ver
Somos forçados também a conviver
E as orações que cantamos de dia
Parece não terem o mesmo sentido
Quando o fazemos no lusco-fusco.
Resguardo-me com o meu coração de adivinho
Que a noite é um destino
E é cabido limpar os seus caminhos
Que se escondem destras das árvores
Que gritam ao mesmo tempo
Que a onça grita
De dor, parindo
De amor, que é ameaçador,

CAROCHINHA

Quando eu era bem menino
Gostava de ouvir estórias da carochinha
De não bater pestanas,
Engraçado, como a vida se protege
Como o tempo passa
Por tantos temerosos
À vezes chegam a marcar a alma.
O medo é companhia dos animais
Quem não tem medo
Fica sem comer
E sem dizer palavra alguma.
Apenas os meninos
Por um período muito curto
Enfrentam o medo.
E renegam sua companhia,
Por que morrem de medo
E se protegem no adulto
Fitando os seus olhos e catando gestos
Preparado para correr
Se o adulto se movimenta.
Quando somos meninos mesmo
Temos medo das estórias
E não tememos a carochinha
Hoje pretendo contar
Os pousos dos animais
Ver suas peles e penas multicores
A deduzir que tenho o mesmo medo
Das estórias da carochinha!

CURTA AUSÊNCIA

Ainda não passou o curto tempo
E eu já te busco pelos lugares
Com o que há de nós
O que guardamos
Nossos mantimentos
Do bem sonhar da alegria.
E não é do amor
Que semprfe sintom, agora
Quando não miro os teus olhos
Quando me vejo também nesta estória
O amor é só por ti,
São por ti todos os gestos que voltam agora
Mais demorados e cheios de agonia.
Sei da temperatura dos teus olhos
Do custo alto desta prematura lembrança.
O tempo ainda não é presente
E eu já mordo o meu lábio
Querendo tornar-me tu
Ou que sinto por ti, para ser grande
O amor, que, é, e tu me amas.
A confusão que o meu coração tenta desemaranhar
Quem saiu fostes tu
Ou terá sido eu?
Isto gera uma situação de desordem
Criada por nossas ausências,
Quando não é tempo para
Nada julgarmos
Neste andamento que ainda te vejo e mal saístes
Tenho todas as visões no tumulto de ir e vir.
A temperatura do teu lábio
Reticencioso ainda por me provocar
Antes de me abraçar com intensidade
Abocanhado pelo teu corpo
Só isto, só isto, nada mais
Nada, além disto, sou capaz.

O AMOR TEM DESSAS COISAS

Ai, o amor tem dessas coisas
Ora ele se mostra outras nem se vê
E é assim meu bem que eu sei lembrar de você.
Me adianta toda vida
Este amor que tanto amo
E assim vivo dos seus beijos
Nas medidas que há no mundo
Eu também me sinto assim
Me acalma amor

Os seus beijos repetidos
Tira amor de mim de onde mais tiver
Que é preciso ser,
Quem muito fala amor de ti.
A precisão de não querer seu teu amigo
Por que eu amo e assim só fico
A desejar e me maldigo
Na inconfiança .

DE VERA

Será o teu amor mesmo de vera
Que os meus sonhos nãos são quimeras
És tu que estás a me beijar.
É o nosso amor de uma nascente
Que vem antes de eternamente
Em nossas vidas desaguar.

Terá, este sentido, o do meu canto
Que toca em mim como um acalanto
Amando a ti, quero sonhar.
Certo, eu vejo em tudo primavera
Tira meus dias esta espera
Quanto mais dou, mais quero mais.

Gera do sol nascendo a longa espera
O teu beijo que de amor me intera
De boca a boca me salvar
Tenho amor por ti, a devoção
Que falo em ti na oração
Do amor que eu sinto saberás?

Espera, o teu caminho leva o meu
E eu te calculo neste breu
Do meu olhar te cobiçar
A terra é mesmo o nosso paraíso
E pra te ver eu não é preciso
Ser um arcanjo, nem voar.

MINHA ALDEIA

Aldeia conquistada, da minha saudade!
Pedaço, quase nada de terra, e nenhum herói.
Não foi necessária a força, o cerco embaçador
Para se tornar terras de ouros.
Porque num abalançamento que fiz
Nada é tão belo e não
Como este lugar suspenso
Por dentro dos meus braços.
Aldeia que por meus olhos seletivos em séries
Identificadores dos reais caminhos
Que hoje não se sabe
E daqueles que são convites a que eu não vá
Que darão em outros fundos que não conheço
Mas que me têm recomendado
Numa escultura de bronze,
Já na entrada da aventura
Que também é saída dos que não visitam
Suas instalações seus primórdios
E saem em retirada pisando o contrário
Que não era previsto quando
Eu demarquei a tua face estrema
Tuas vias tornas que dão a ver quase todas as casas
Província, porque os teus conquistadores
Em nada te recuperaram
Não tiraram nem colocaram sequer um adobe.
Há uma razão para eu ter sempre saudade de ti
Que alguém arrebatou por acharem que ela
Era mesmo o lugar que conscientemente de
Seus elevados se tinha a vista do restante do céu.

AMOR

Difícil falar do amor
Ele fugidio, abstraído, confuso,
Um nome dado a um sentimento,
Sintomático da Silva,
Dos sobrenomes todos da vida.
E quem é ele, um vulto
Na multidão dos mitos
Na reunião dos rebelados,
Rompidos a sangue e fogo,
Com suas práticas sentenciadas.
Difícil dirigir-se a ele,
Pairar sobre as montanhas,
Às vezes ir muito além,
E gritar por qualquer nome,
Até que se manifeste, a virtude
A boa obra, peça finalizada.
E como se anunciará a sua boca
O seu semblante como se verá,
Algo admirpavel, sensível à dor.
Confiante, certo que assim se mostre.
Deve vir como um bruma leve,
Pairando perto e longe, compassivo
Fazendo caras e bocas, brincando à toa,
De tudo entendendo, tudo calando,
O amor vem dando visões de barcos,
Em pleno mar, que ora aparecem,
Logo se escondem por trás das ondas,
Em descompasso, com os olhos turvos
Que sobem e descem desesperados.

NADA

Eu, que por traz de tudo
Ando com nada nas minhas mãos.
Eu que por ser mensageiro de coisas boas
Hoje entregarei nada das minhas mãos.
O tempo todo estive contendo tudo nas cercanias
Acenando a ninguém para compartilhar o meu nada
Tantos gritos de aflição
Lancei no sentido errado
Quando o destino seria mesmo eu.
Eu, que por dentro de tudo
Não caibo nem o meu nada comporta
Sacudo os braços e a esfinge tatuada
Insiste em ser a minha companhia
Quando eu volvo para o presente
Com o desejo ardente de que seja
As minhas partes tiradas
Disseminada todas aos olhos especiosos
Que não se fincam no luar
O que serviria como um alento
Muitos momentos de graça.
Eu que mesmo remoto me movo
Para a direção onde estão os sonhos de todos
Querendo o meu para um remédio
Para uma dor
Para sarar
A chaga aberta que cabe nada.

A SAUDADE

A saudade chega surpresa
E nos incomoda, preguiçosa
E se reparte em dias
Pelos ponteiros do sol e da lua
E se observa em nossos lados de ferimentos
Também por onde a água nasce
E se entretém com o andamento dos rios
E se finca-se afluente.
A saudade é uma pertencente
Do veio de dentro
Da terra profunda e do coração.
A saudade não é traiçoeira
E nós podemos acompanhá-la
Do seu prenuncio de fazer-se
Até não contermos mais lugares cavos
Onde se ponha um castigo.
Somos só a superfície riscada
E nem retos somos, remotos
Gritos de despedidas
Em cada ponto que passe
A saudade líquida.

PASSARINHO

Passarinho fez fi,fi
Na hora que o sol se abriu
No tempo que ele te viu
levantar-se da cama.

Não te engana
Este passarinho sou eu
Que nunca deixou teu quintal
E nem do teu beijo esqueceu.