Coleção pessoal de naenorocha

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ABRAÇO

Ainda não é noite
Mas já sumiram os entes
E o que adianta agora
Horas mais pra frente.

O amor chegou no tempo esperado
E a noite agora já tem mandatário
Veio o mais tarde possível de tudo
Um esguio rei um débil solitário.

Grito o teu nome mas a noite turva
Além dos olhos os esforços aéreos
Ninguém, se quer, tem de mostrar ternura
Que reclame a si a posse do império.

Laço, o meu anjo sem asas
Sem sentimento porque tudo foi
De a namorada elevar-se o abraço
Se dá num gesto que ninguém propôs.

INDIFERENTE

É indiferente o pensamento
Ao que ferve em sentimento
Parar a sofrer
Dores do inconsciente
Chora, acalma o momento
Dói
Tudo é um só tormento
Amar, viver, por descontento
O amor em tudo dói
Chora dores até ficar dormente
O sono vir e o sonhar intente
Novamente o choro
O amor em tudo acorda
Não dorme profundo
Dorme na pele
Dorme no esconderijo calado
O amor em tudo implora
Contra as referência do tempo fundo
O pensamento todo é de lembrança
O sentimento é todo de desesperança.

" E eu sou igual a outros, atordoados despertos, que vêem o céu refletido e acham que a lua é perto."

" Vou, como sou sozinho. Um rio que não se encontra, que faz a curva no estio e se deságua na sombra"

" Para se atingir a salvação como pregam os profetas é necessário passar por dores terríveis."

" A todos quantos se interessaram por mim eu me mostrei inteiro, assim pouca gente me conhece sequer a metade."

" Nada é tão frágil quanto o silêncio, nada é tão denso quanto a palavra."

O MEU AMOR

O meu amor não faz surpresas
qualquer momento ele se despe
se troca, vira a beleza
E o meu olhar nunca esquece..

O corpo do meu amor
É uma escultural beleza
Adia os meu dissabores
E reina a sua nobreza.

E eu não quero o meu amor
Comparada a uma princesa
Que os nobres só têm pudor
Mas não possuem a beleza.

Meu amor me convidou
Pra ir com ele morar
E onde ele ir eu vou
Ele é quem é o meu lugar.

É quando nas noites mais claras
Se posso dizer clara, a noite
Meu amor ilumina a cara
E me ama sentindo dores

MÃOS DE DEUS

Mãos de Deus dentro das águas.
Apurando cores, entre o céu e o mar
O Criador vai contornando
O tom da tinta original.
Ai, quanta tristeza
Ver que o futuro é só isso,
Os homens arrendando, descolorindo
Deus consertando, de novo.
Mãos de Deus dentro das matas
Replantando, o igual
Um verde que nunca conhecemos
De outras cores pontilhados.
Ai, que amargura
Viver a vida no futuro.
Coaxando numa lagoa,
Teremos nos atrevido mais.
Mãos de Deus do azul do céu
Michelangelo refazendo
O que terminou por contestar,
De azul e branco retocados.

O TEMPO DE AMAR

O tempo é próprio dos que amam profundamente,
Olhos e nós são espalhados pelo vento.
Chove muito e o tempo é bom para os que plantam.
O tempo assim, arremete o amor a outros tempos
Em que as tardes eram de gemidos e caras sorridentes.
Vai o dia e fica o tempo propício
Para os que têm no amor um vício.
Para os que vêem nos leitos precipícios.
E cai à toa, a loa é boa, sulcaram a terra
Erraram o ventre, a força da mente materializou
O amor que se quer, o amor que vier.
O tempo de hoje é propício à jogatina
Alguém olha nos olhos e se declina,
Até à boca, que se molha nas verdades.
Que amar é bom, que todo mundo sabe,
Que amar é tom de céu todo azulado;
Vai o tempo e fica o dia na metade,
E todo o dia foi por nós bem demarcado,
Manhã o sol clareei, tarde o amor melhorei,
De noite perdi-me contando estrelas
E olhos que brilhavam do mesmo tanto.
O mundo contempla o tempo, que há em todo lugar.
Nos pés de quem fareja uma perna e meia
Nas mãos de quem segura seu coração.
Para os que vêem nos olhos luzes,
Seguram a claridade e se dão na boca
Regujitos das entranhas expostas,
Amor que não vê pelas costas, e não se despede,
Prefere andar, montar o próprio nome,
E amar, montar o diagrama, se enclausurar
Aonde for bom, o tempo é todo para se amar.

FIRMAMENTO

Um dia eu descobri
Que lua é um espelho
E sua luz que veste as noites
De brancura e de saudades
É luz que o sol lhe dá em cortesia.
Quando ela lhe assedia
E lhe mostra sua face esguia
Nas horas do arrebol.

E que nenhum dos dois caminha,
Quem se movimenta é a gente
Que quem os procura é a terra
Em rodopios de fruta na água
E por isso lhes vemos rodar.
Por isso esse encantamento
Que a gente tem pelos astros,
Descompensados, olhamos suas danças.
Que quando, mesmo dormindo
Estamos andando, sem ver
E somos nós só,
Quem sós, que cansamos.

FÁCIL

Sou fácil de ser encontrado
Todos os dias eu me encontro com todo mundo.
E demoro em cada estação marcada
Como um trem de carga pesada
Deixando ali metade do que me exede.
Sou alvo fácil das frutas,
Dos dejetos dos passarinhos
Pois sob toda árvore me encosto
E ali faço meus votos diários.
Amo mas não me prende ninguém
Assim da mesma forma
Que seguro um fardo e converso
O dia todo sem perceber
Que perdi a hora de quase tudo,
Que aonde eu cheguei e estava claro
Agora está escuro,
Eu saio, dizendo e não, adeus,
Beijando e não tocando boca
Por algumas poucas vezes.
Mas mesmo assim,
Querendo ser um esquisito,
Só que nada premedito,
Eu sinto gosto na boca que beijei,
Eu sinto fogo no ventre que encostei,
Eu sinto a batedeira do meu coração,
Sou fácil de ser alvejado,
Em qualquer esquina
Ali faço uma mesa e várias cadeiras,
E lá me encosto em mim,
E encontro
O homem sem amor,
O ente sofredor.
Porque amar, além do sofrimento volátil
Tem as dores de dentro da gente,
Uma queimação, um desconjunto nos ossos,
Uma vontade de aos primeiros olhos,
Sair seguindo o rumo deles.

QUEM TEM BOCA

Dizem de jeitos que sou
Falam misérias de mim
Que nunca vou ter um amor
Que em tudo eu sou assim

Caso sem jeito, anormal
Que eu ando mal e tão só
Que vou ser sempre abissal.
Que o que quero no momento

É inoportuno eu ganhar
Me citam inciso sem fim
Falam de mim porque gostam
Me dão só meio de mim

O bem que eu tenho nem notam
Será porque eu vivo assim
Interessado por mim
Sei que falam mais de mim.

DESPRAZER

Alguém me ofereceu pela internet
Uma menina para que eu adotasse
De cara, fui com a cara dela.
Mas quando ela mostrou o rosto sem riso
E repetir o gesto, parecer domável
Uma menina, um passarinho amável
Que ainda tinha jeito e o mundo sabe
Que é mais fácil destruir, que ver construir,
Alguém assim tão belo.
Fiquei tendencioso a adotar aquela abelha
Que já adoçava, mel, seu nome era Izabel.
E depois de correr mundo gravar sites
Apagar os pretendentes, que eram tantos
Vi que aquele anjo, não era Izabel,
Também não era o diabo que se pinta
Era uma ninfa, só pra uma fodinha.
Em que mundo estamos, onde a beleza se estranha
Quando muda o papel deixa de ser a Isabel,
Pra ser uma babel, produto que se oferece no vento.
Meu Deus do Céu seja da Terra,
Que aqui que as coisas fervem, em alta compressão
Que ninguém põe a mão, por um irmão.
.

EU E MEU PAI

Quando perdi meu pai
Foi como perder o meu lugar
On ele estava eu estava
Cavei com Ele covas no campo.
Selei cavalo, amansei burro
Queimei monturos
Pra outro fazer no lugar.
Fiz a escolha por ele como Pai.
Herói foi só uma tendência minha
A admirar tudo o que Ele fez
Um homem, não um aprendiz, de brincadeiras.
Quando deixei de ver meu Pai
Passei a enxergá-lo muito mais
Hoje tudo o que faço e sinto
Está ele a dizer baixinho:
- Quê que é isso rapaz,
E se a vida pensa que O me tirou,
Errou mais uma vez, comigo,
Ela O me deixou.
E mais íntimo, mais cauteloso,
Uma fala que escuto, um coração que perscruto,
E amo, amo demais, essa solidão do meu Pai.

VIDA

Sou um vazio tão imenso e fundo
Que tudo que me ponho vira vazio,
Uma casa desalojada
Que o número ostenta,
Um atrativo à vida, que nela entre,
E constate o seu vazio, vazio,
Nada ficou a não ser seu nome,
Sua essência, casa.
De tijolos, telhas, e tinta.

AUSÊNCIA

Eu julgava ser a ausência
Uma divisão dolorosa do corpo,
Ou coisa sentida como prenúncio de morte,
Um buraco negro, sem fim sob meus pés.
Depois vi que a ausência
É uma companhia necessária,
Comigo, inteiro em dois, ela permanece,
A provar minha sanidade,
A dar-me os sentidos que não sabia,
A cativar-me como a melhor amiga.
E me acostumei com ela, tanto,
Que tanto faz o burburinho das ruas,
Ou o balbuciar risonho de um amor,
Colado aos meus ouvidos,
Que dou mais atenção a ausência.
Com ela a cadência do passo é mais livre,
A gente estanca, e abraça como quer,
Livre das dores que traz o abraço,
Distante dos olhares obrigatórios,
Que a companhia exige.
Alforriada dos escândalos
Quando queremos liberdade.
Hoje eu eu a ausência somos ímpares,
Um que se sente só mas seguro
Pelas duas mãos ocupadas,
Outro que se sente acompanhado,
Por um coração, guardado.

MUNDO

Desde criança, ainda pequeno,
O meu desejo era ganhar o mundo,
Não em partes de latifúndio,
Mas por todo ele palmilhar,
Botá-lo por entre as pernas,
Varar seus veios, caminhos,
E assim seguir, indo, indo.
Queria me deparar
Com as diferenças previstas,
Um mundo todo à minha vista,
De ele todo me aproximar.
Carregando em meus bornais,
O pó fecundo das estradas,
Imagens de novas pessoas,
E assim seguir à toa,
Sabedor que o mundo foi,
E sempre será como é,
De Deus, de nenhum homem,
Quem só tem direito ao nome,
E não o pode demarcar,
Assim julgava eu,
Um dia me prolongar,
Nos retos estreitos e ir,
Voltar só quando bem cansado,
Das aventuras tresloucadas.

PLANO
Lego a quem quiser seja
A quem deseje, a quem sirva, a quem goste,
O desafio de reconstruir o mundo,
E fazê-lo novo.
Meu compromisso, o mínimo
Que inda posso fazer
É ser mais um operário
É ajudar acabar com este escuro
Onde displicentemente me lançou a
Senhora minha mãe.
Existem algumas maneiras de acabar com a escuridão
Uma é destronar-lhe ostensivamente
A outra é fazer até o requinte,
Transgredindo as regras do jogo.
Outra maneira é aumentar a escuridão fazendo mais filhos
Educando-os e ensinando-os,
Higienicamente a fazer outros filhos.
Ir à missa todos os domingos
E contribuir para as obras da paróquia.
Ou criar mais um jornal,
Mais um partido, mais um grupo de estudos,
Mas uma conspiração militar.

O QUE FAZER

Amo-te muito, com suspiros de dor,
Quando me vem a tua imagem nos olhos
Quando me isolo com o teu rosto,
Vejo nele um tormento,
Do teu olhar insinuado.
Ofendido estou em teu rosto
Sob o teu amor suposto,
Os sinais de malícia marcados.
Amo-te e não é por gosto,
E ao ressurgir teu rosto,
Minha alegria é todo desgosto.
Quando o teu rosto revejo,
É como me ver morrer,
Amando-te no último arquejo.
È melancólico ver no teu rosto
Como terreno em braseiros,
Sobre, pairando, o deslize.

A agonia dos meus olhos
Em oposto ao um bem mirar,
O que renasce em abrolhos,
Teu rosto nem quero olhar.