Coleção pessoal de naenorocha

21 - 40 do total de 434 pensamentos na coleção de naenorocha

UM GESTO

Basta um gesto teu, por descuidado que seja,
Eu já me abeiro a ti, e colado ao teu ouvido,
Me declaro apaixonado, como se ainda esteja,
A começar uma aventura, uma outra recaída.
Amor não me canso do teu amor, e sem notar,
Já de minha boca saem palavras, aquelas lindas,
De quem com zelo, e certeza que o amor não finda.
Repete, várias vezes, e quanto mais digo mais afina,
A minha voz proposital, o meu amor que determina.
Qual o louco que tendo à mão a pérola procurada,
Dá-se a mostrar, deixa-la em lugar fácil ao outros,
Qual o homem em sua sanidade, tendo já encontrada,
A felicidade plena da vida, diz-se infeliz, outro louco.
Ao teu primeiro gesto, uma palavra de lábios,
Já me prostro em teus pés como diante de altar,
E no meu consciente vago, procuro saber dos sábios,
Que diriam a uma deusa, ternuras de lhe encantar.

QUEM

Quem projetou esta manhã, quem rebuscou,
Do escuro que se perpetuava, suas entranhas,
Quem criou esta manhã, a todos determinou,
Seus nomes, e que se a chamem estranha.
Os arroubos de alegria e gestos entre os homens,
Se faz exato, pela beleza, de costume esperada,
E o que se vê, um plasma apartado de sua cor,
Um gesto de quem procedente, foi malogrado,
E não trouxe ao espelho a ver o que se afigurava.
Uma manhã por certo, destoa, do ocaso barrento,
Se aproxima mais, no entanto não é fim, uma farra,
Que só quem dela exauriu-se teve este tormento.
Quem concebeu esta manhã, o fez por ver,
Dos seus olhos opacos a visão mais distorcida,
Do que pede o homem, clemente, a viver,
E estampou-se o tempo errado já no seu começo.

SOMBRA

Quem, entre todos que a mim olham,
me veem como sou de fato, um assombro.
Que encorajado sem ver nada, bate o meu ombro,
e diz tratar-se das minhas invenções.
O fato de eu estar perdido, pesa,
mas não sou eu quem não se encontra,
não esse que ao seus olhos conta,
como matéria pura, que faz sombra,
existe, ou por aqui já esteve
outro igual a mim, que não era eu,
um vestígio, talvez uma ilusão dos olhos,
pois nestes terrenos nunca pisei meus pés.
Sou este ausente, o que se sente, miserável e mentiroso,
tambem sou, o que desvia os olhares bem inencionados das pessoas,
que se viram a procurarem em mim,
marcas de outro passado, de onde não vim,
e afirmo ser, tudo como eu, enfim,
um nada que se mostra agora,
e ninguém percebe, ou se dar conta,
de que fui invandido por uma grande onda,
também de um oceano inexistente.
Sofro de um mal recorrente,
e de saber, tudo sobre essa criatura,
que não é uma caricatura,
sou eu em pele e ossos,
que deixa sombra por onde passa,
mas fica só um rastro,
o do que não vejo e é minha companhia,
aonde eu vou, até se eu entrar o céu.

PALAVRA

Uma palavra dita na exatidão do tempo e certa,
Fazem igualar-se no mesmo nível do chão,
As montanhas mais elevadas, é a mesma fé,
Que não só no coração se cabe, vale uma ação.
Uma palavra bem dita, precisa no seu sentido,
Dita com a convicção absoluta de que é aquilo,
Faz com que os mares retrocedam investidos,
As ondas rastrearem, quietarem seus tombadilhos.
Uma palavra vale por um gesto que se faz,
Com a precisão dos olhos rentes à outros,
E assim se falam, e a palavra não é silêncio, mas
A mais deliciosa e firme e não se ouve pouco.
Uma palavra dita, e feito o gesto, ao mesmo valor,
Remove até as cabeças, ditas pensadoras,
Depõe dos tronos os reis, e se vai portador,
Do decreto que os depôs, a palavra abolidora.

PENSO

Acordo de madrugada como de espanto,
Olho para o teu lado e não vejo o teu lado,
Tampouco vejo o teu corpo ali.
Corro à porta, abro o visor e não vejo,
As marcas escuras das árvores
Que sempre estiveram ali.
E não te vejo, chamo e não te escuto,
Saio... e recuso ver o que vejo,
A ausência de tudo,
Cadê o mundo, em mim dentro, perguntam,
Cadê teu sono... tudo foi como retirado,
Por máquinas silenciosas enquanto eu dormia.
Mas meu amor, o que queriam como o meu amor,
Já que me deixaram, e eu só não sou semente
Para repovoar o mundo. Porque o meu amor
Foi confundido com uma porta, um armário,
O que queriam com isso, já conseguiram,
Já formiga o meu corpo inteiro por esta façanha,
De extremo mau gosto, um pressuposto jeito
De me deixarem louco.
Só que o que não sabem é que já levantei louco,
Eu não tenho amor, eu grito e morro por um inexistente,
Eu não tenho casa e a porta que eu abrira
Foi a mesma que abro quando estou insone
Rolando no leito desta calçada, abri o meu coração.
E quando abro o meu coração tudo se escapa,
A natureza, que não reconheço ser,
As sombras múltiplas que considero ser eu,
Amor, eu nunca tive, mal sei chamar a palavra,
Por achar bonita e simbólica aprendi,
Ouvindo de outros que tinham,
E passavam de dedos laçados por sobre esta calçada.
naenorocha

INCONTESTÁVEL

A realidade intransponível das coisas,
O que todos os dias constato, haver,
Que a cada visão torna-se a verdade:
Tudo é o que parece ser,
Tudo é o que é
E é difícil certificar a alguém,
Pelo rosto de perplexidade repetido,
Que de mim se vê, nem é necessário crer,
Se isto é bom, e eu posso enfim expor um riso,
Ou se é tristes estas verdades constatar.

Basta sermos, para se ser uma realidade,
Um mentira, aos olhos.
Já tenho pensado tanto,
E sei que ainda hei de muito pensar nisto,
Por que tudo que penso e guardo,
São essas mesmas verdades,
E essas mesmas mentiras.

Quando às vezes me dou olhando a uma árvore,
E deduzo que essa árvore pensa,
Não consigo chamar a ela, minha igual,
Por que isto é uma verdade.
E eu uma mentira.
Talvez goste dela por não se parecer comigo,
Por não falar pra que eu sinta,
Os dissabores, a mais, de uma árvore,
E eu sei que somos iguais,
Que é uma verdade.
Que eu minto.
Às vezes sinto o bolinar do vento,
E me encanto, por saber que ele é meu irmão.
O que é um verdade.
E uma mentira.

QUEM DERA

Quem dera a minha vida fosse, inteira,
Como as manhãs previstas, seguras,
Como as tardes que não passam ligeiras,
Como as noites imprevisíveis, claras ou escuras.

Quem dera que de mim se fizesse
Uma lembrança que ninguém se esquece,
Uma saudade guardada, uma prece,
Que todos sabem e todos os dias rezam.

Quem dera que do sofrimento meu,
Nascesse orquídeas, e ela adubo fosse,
Pra que o mundo infectado em cheiro,
Se declinasse à beleza do que eu trouxe.

Sabendo pois, que não sou manhã,
Já ser a tarde me convencia que sou,
Aviso certo que um dia teria à mão,
A noite linda que minha vida anunciou.

MALOGRO

Minhas mãos foram além do medo,
E tocaram o seu rosto levemente,
Passando pra mim o que antigamente,
Chamava-me, e me chamavas de amor.

Quem vendo uma intimidade desfeita,
Não sente um ultimato ao coração,
De ti não sei, em ti não me vi mais,
A mais, o tempo foi, e ele leva,

Consigo só, o que carrega, não são lembranças.
Mas saem com as costas pesadas de marcas,
Das tentativas vãs de te deixar por aqui,
E ficar mesmo a apatia, de um amor que ardia.

Minhas mãos foram aquém do meu desejo,
E não te convenceram que um afago bom,
Faz muita diferença na pele que afunda,
Com a mesma volúpia que já fomos beijo.

BENTO

Se a dor que se anuncia
Com o vento que nunca mais havia sentido,
For da mesma intensidade de ontem.
A mesma que convivi pela semana,
O vento só trará chuva, se chover,
Mas se chover como promete,
Que vem das mesmas alturas,
A dor já será outra.
Me trará saudades,
A chuva sempre me traz recordações
De quem não quero lembrar.
Mas me entreterá por um bom momento,
Enquanto vejo os córregos se enchendo,
O cheiro da água quando bate na terra seca,
Os bodes acomodados quase dentro de casa.
Essas visões talvez me acalmem
E hoje eu não necessite fazer curativos
Sobre o meu corpo, que todo dói.
Se a dor que já inquieta só por eu falar,
E sua intenção é doer, e doer cada vez mais,
Não tiver o mesmo poder da chuva e do vento,
Eu terei sido bento, por Deus, pela água.

PRESSA

Eu só ando com pressa.
Esta constatação é antiga
No entanto ninguém nunca me perguntou,
Porque da pressa, desses abertos passos?
- Para chegar onde temo não sair,
Para um lugar ao sol, pra me encobrir,
Para me distanciar das iluisões daqui,
Dos sonhos lentos,
Das irrealizações previstas.
E me apresso... mas os meus pensamentos seguem lentos,
Estáticos como a vida de quem fujo,
Eu quero logo um lugar futuro,
Correndo do passado,
Sem nem querer pisar o momento.
Eu me apresso enquanto o mundo
Ainda é um buraco raso,
E talvez por baixo ainda exista
Algum farelo de minério,
Alguma coisa que valha algo.
Eu vou com pressa, por que se estendo o braço
Ele vai além do que posso alcançar,
E eu não quero nada, a não ser andar apressado.
Sei que quem anda como eu, aperreado,
Pouco tem tempo de juntar,
Mas o que era de meu já juntei,
O que eu tinha pra levar, já levei.
Por isso ando nesta pressa,
Porque minha pressa é a de chegar.
Não a pressa de estar,
Não a pressa de ficar,
Minha pressa é a de continuar.
Assim, depressa,
Que a pressa é inimiga da razão.

MEUS OLHOS

Meus olhos tem aumentadas
Suas capacidades de verem
Eu vejo a lua passar distante,
Eu vejo minha alma andando
A dez mil metros longe de mim.

Vejo homens em barcos no alto mar
Com seus movimentos, de ir e vir
Árvores em plena mata, invisíveis
Carros em ruas a distar da minha
Disto são capazes meus olhos.

Se ninguém sabia isto de mim
Já sabem, pelo que vejo e mostro,
Porém isto ainda não prova
Ninguém os olhos que tenho
E nem têm como eu outros olhos.

CONFRARIA


Ninguém pode querer a vida
Que a si sugere.
Ninguém mais pode está só.
Os enigmas são revelados
À luz de todos os sóis.
Eu estou envolto de algo
Quem em mim se agita
Vou persistir em elevar as mãos
Aos bondes que ainda passam.
Engulo, por um amor, uma rosa
Que dentro de mim explodiu.
Só tive paz e segurança plena
Imerso no ventre de minha mãe.

Um esteio que vejo existir
Desde o princípio do meu tempo
Não me respirar do ar
Que não seja rarefeito.
Sou sempre tristonho dentro do escuro.

Adios sol calliente del tiempo escuso
Que não tens aos inocentes
Nada reservado em teus planejamentos
O só, o pobre, o nada, o nu.
Não vejo homens de boa vontade
Em parque alguma que freqüente
Os meus sonhos, eu, presente,
Sumindo, serei livre, amem.

ACALANTO

Muito antes de eu nascer já me acordavas com cuidados
Um anjo me designastes, antes de minha mãe pegar-me.
Ele me segurava quando eu corria rumo ao despenhadeiro
Ou quando me declinava sobre o precicípio.
Me embalava com canções compostas aí,
Serestas e acalantos, dormia ouvindo-os
Para aplacar minhas investidas nos caminhos da cruz.
De noite eu sentia cada passagem do Arcanjo
Sob minha rede armada no entrar do quarto,
E se ausentar nas estradas altas par o céu.
Após e tardiamente, uma mulher deitou-se do meu lado
Tinha uma forma de anjo fêmea,
E na minha vida, já se diminuíam os cuidados do tempo.

Se não for do puro atrevimento, manda-me o teu anjo
Para que cuide de minhas feridas expostas,
Para que resfrie a minha boca:
Há momentos em que mesmo a vontade não me convence
É necessário que eu te veja inteiro, rente aos meus olhos
É preciso que eu me veja em ti
E que encare os sofrimentos como um sol claro
A tua luz subindo e descendo sobre minha vida.

Manda o teu anjo que com ele eu aprendi a falar
De coisas que por aqui, nas divagações de mim,
Não mais sei contar a ninguém
Nem mesmo à mulher que dorme comigo
Nem mesmo o homem que soube ser meu pai.
Não és tu meu pai, que já flutua, que já é anjo
Meu pai, de verdadeira saudade lá bem de dentro de mim.
Manda-me essas pessoas todas
Para fazerem um coro, para eu poder dormir.

BENS DO AMOR

Sabes do amor com a paciência
Ungido ele, conta, restaria
E tudo, a salvo, que mandaria
Em ser fiança, a profecia.

Do que te deixa tonto penitência.
Calculas o amor de quem querias
Quando consegues desde a inocência
E nem ele tem, nem tu farias.

O coração no meio vem de afluente
E o meio era o fim do amanhecia
Os gestos meus, por sua ausência
Por ver sinais de calmaria.

Mesmo guardava por outros lugares
Lembranças de como foi são deixadas
Que ele encarnou, por ti andares
Completa muda, a desejares.

O amor do seu altar onde só cabe
Oculta-se e ainda te provocas
Ficando alheio, pela emboscada
E aliançou em teu, porque te adoça.

MÃE

Mãe os teus braços sempre se alargam
Apenas na carência que meus olhos dão
Necessitados e prontos dos teus abraços.
E não se esquece o beijo de mim
Quando me retenho demorado
Dentro dos meus sonhos
Que quem me lembra é você.
Mãe, querida do meu pai querido
Que também me abraça e me segura.
Passando dos ponteiros que o tempo conta
Meu pai me conta histórias de que seriam
Quem sabe a vida que a mim queria.
Não por reencarnação que me pedia
Dos remendados tiras de panos
De seus caminhos.
Mãe do meu pai, muito mais filho
Mulher a minha, a mãe que é
Minha mãe, que do meu pai exala-se amor
Mãe que de mim, ternuras e receios
Contai-me agora já que os meus
Exauriram-se de acontecer.
Será que a teu entusiasmo é medo
Ou será que o teu medo é audácia
Quando isto causa em nós temor que sai
Sobre do mundo em blocos longos
Sobre os meus ombros e do meu pai.

SAUDADE

Arranca esta saudade que ela é tua
Abriga a minha vida além da rua
Dorme comigo, no teu lugar
Que há inesperado além da lua.

E a tua mão que vá chegue à altura
A minha boca cabe a fruta crua.
Rebate o sol, com minha sombra dura
Me orienta nesta procura.

Vais me levando na própria procura
Não priva o meu amor esta doçura
Invade a casa, águas da chuva
E me concebe, de novo alvura.

Responde os versos que eu te escrevi
Da sombra que fostes por mim vivi
Além de mim tu compactuas
O meu vexame, minha amargura.

E agora tomado de amor saí
O amor louco que por ti aprendi
A intensa minha, toda esta clara
Que em ti achei que há pouco vi.

FERMENTO

Redemoinha o vento, que ternura
Se juntam sobre nós os seus comandos
Molhar os brotos que chegam frutos
Chover não molha por todo o ano.

Do que nós precisamos a casa cheia
O amo me faz perguntas sem respostas
E a dor é isso que se aperreia
O emplastro doce nas minhas costas.

Será do tempo esta eternidade
E do mundo será o sentimento
Amor não espalha é só a verdade
Que bota gosto, um condimento.

E quando eu for daqui é para aí
E quando em minha volta eu vou trazer
Só frutas doces que dão aí
Porque é de tudo ver e querer.

CAMBALA

Quando empuxarem a porta
E com a carruagem avara
Te levantares a chegar na maçaneta
E quando a porta se abrir
Tu estarás só
Só como no mundo
Todos do mundo
Em números dos nascidos
E que na lista revelada ao sol
São as fadigas de Deus.
Tu estarás somente
Com a puxador na mão
Disposto por desejar
Olhar se ver
A tua própria máscara
As tuas esteiras
Que te levam a diferir
Neste detalhe apenas
Talvez de quem
Naquela oportunidade
Rebate a tua porta
Como querer de ti um abraço
Da solidão submergida
Ainda só, tu andas
Como um moderno no mundo
Como quem só conhece a si
E de novo!

VERSEJADO

Tenho falado mais de outras vezes
O que dor do meu pranto todo o ano
Por onde eu passe quem não só, você
Calada a tua não um desengano.

O amor pede a confirmação das horas
Que tem tempo de andar e de sair
Amando o tempo quem não me descora
E fez comigo, tudo o que já vi.

E esta dor me tem desanimada
Por ti, me perde até varrendo o dia
Não, que pareça não valer nada
Tenho por ti a serventia.

E de aí, quem sabe é só ventura
E antes de chorar me faça a queixa.
Que o amor conforte a cama lua
E se deixe pronto na peneira.

PASSEIO NO TEU MAPA

Eu gosto quando o meu corpo roça o teu
Corpo é um fio tenso exposto o cobre.
Tão bom as temperaturas repousadas
Que queima e se presente
Quando vem o tempo com outro renque
De passistas.
Eu admiro o teu corpo e em mim
Se faz de dor quando te afastas
E o que mais me diz do teu corpo
São seus alcances, suas aduncas de ir e desandar.
Pois de me proferir o teu corpo
Ruboriza o meu, de conflagrar no fogo
De todos os arrabaldes permeados
Dos cuidados, que amor não contrasta.
Gosto de apalpar o fundo do teu corpo
De beijar-te aqui ali
Ir voltar trazendo o gosto
Dos teus jardins dourados.
Gosto de afundir-me com meus olhos
Nos pedaçosmoles
Colinas brancasecoloridas
Gosto de pacientemente alancear teus cortes
Do seu dissimulo ínmã e o que der que freme
Mitra teu corpo subdividido