Coleção pessoal de mucio_bruck

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Fio que um dia há de me tirar pra dançar... até lá, sigo em passos lentos, observando a vida, me redescobrindo, me recriando, ensaiando os passos da mais bela dança... e no passar do tempo, aos poucos, me descortinarei sem pressa ou sobressaltos, pois aprendi que esperar não cansa, só dói um pouquinho, quase nada! Porque no tempo da espera, nos permitimos ensaiar, nos preparar... ganharmos confiança! Mas, se acaso a dança não acontecer, saberei que não fui eu quem ficou estagnada no outono de minha vida... a olhar os ponteiros do relógio, repetindo as mesmas horas...

"Nesta vida, incontáveis foram as surpresas que me visitaram! De certo, tantas e tantas outras hão de vir, só não sei afirmar quais delas me farão chorar ou sorrir!"

Ode à vidas Falidas e a Esperança . . .


Desci do mundo por um dia
Quantos não desejariam estar em meu lugar
Quantos, tudo dariam para não estar
Não importa, a escolha foi minha


Vi famílias viverem para o bem
Outras em que o casal se maltratavam
Desconhecendo futuras letais consequências
Abrindo chagas em almas um dia sãs


Vi homens mentindo, mulheres honestas
Vítimas de ciúmes, perdendo a vida
Por escolhas de um amor que ´só elas sentiam
Vi perdões verdadeiros, unilaterais, em pura fé


Ao longe, a fartura, a fome castigando crianças
Idosos na lida do campo, outros acamados e só´
Médicos desistindo de se esforçarem pela vida
Que deles não eram, para não perderem a hora


Adolescentes cambaleantes em ruas vazias
Depois de se drogarem, vagando sem rumo
Sem fiarem: o destino é um atento observador
E que a vida ensina, seja no amor ou pela dor


Vi a medicina evoluir com a ciência informatizada
Quantas descobertas desde então?
Curas imputadas à fé no Criador, milagres?
Homens se dizendo Profetas, outros que eram


Vi a vida acontecer na rara flor brotava numa encosta
Animais servis, outros arredios e violentos
Vi o mar sereno, sob a lua cheia a convidar
Estrelas que enfeitam o céu e apontam direções


Mas, o que mais pranteei nessas verdades
Foram estupros, homens assassinando mães
Mulheres se oferecendo a pais de família
Sem moral, se prostituindo como se natural fosse

Me alimento de sentimentos
Aro em mim a “terra” de meu plantar
Semeio-os e os colho em mim
Nesse fazer, os dias parecem fáceis
De se viverem, de serem vencidos
Ledo engano, há dias de alegria e fé
Há os de mistérios e descobertas
Há de bem querer e decepções
Assim, me vem e cabe em mim
Toda forma de ser e acontecer
Desde colher nos jardins de meu eu
Sementes de bem, que nele tem
E trocá-las por um sorriso seu

Amar é um ato...


Sei exatamente onde desejo chegar
Não conheço caminho outro
Que não seja o do respeito e paixão
Numa jornada de Fé, Sacrifício e Doação


Encontrarei pela jornada optada
Agrados, desafios e muitos mistérios
Amigos farei e nem todos serão presentes
Pois o por vir é longo e terão os ausentes


Caminharei por vales, avenidas e veredas
Temerei inimigos, farei pactos com a alegria
Me irmanarei com a coragem que me falta
E usarei o bem querer que de mim salta


Sei exatamente onde desejo chegar
Quiçá, a última estação, e descerei
Almas inquietas ali, à minha espera
Entes, esquecidos em amor, verei


Abraçarei cada Santo de minha Fé
Serei fiel aos que de mim cuidaram
Não esquecerei jamais de sê-los grato
Pois amar não é escolha, é um ato

Nem sempre o que fiamos ser de bom alvitre para o que nos convém, deve ser aplicado ou possa se encaixar no universo da alegria e na vida do outro! Muito antes, pelo contrário...

Zé Macambúzio...


No auge de suas 78 primaveras
Bem delineadas pelo nome a que faz jus
Zé Macambúzio, era homem de fé quebrantada
Sitiante de parca leitura e boas prosas e tiradas


Tinha em vida poucos desejos e paixões
Cigarro de palha e uma rede na varanda
Rosinha “roçadeira” era seu grande amor
Mulher inculta, mas de fibra e imenso valor


Zé Macambúzio, jamais se deu à lida
Não se dava bem com ferramentas
Arados, enxadas, foices e plantios
Fez da languidez sua arte de viver

Na chegada dos reveses da seca
Decidiu deixar de se perdurar
E toda a redondeza o visitou
No intento de convencê-lo a reagir


Zé Macambúzio estava decidido
Encomendou sua urna e mortalha
Agendou a data de seu funeral
Convidou carpideiras e vizinhança


Tentaram removê-lo dessa sandice
Mas a ideia de passar a eternidade
Na horizontal, sem infortúnios
Sem incômodos, sem mendicidade


Chegou enfim o dia da despedida
Seguiu-se o cortejo e ouviu-se um a voz
“Zé, desiste disso que te dou um saco de arroz”
E Zé respondeu: “Com casca ou sem casca?”


De pronto, ouviu-se a resposta:
“É arroz com casca, Zé”
Sem pestanejar, Zé Macambúzio ordenou
“Meu povo, toca lá pro cemitério!”

Eis Amor...


Quase fui amada pela mulher que sou
Mas a ideia dele era outra, me usar
Para outra esquecer... e mudei o ânimo
E fiz dos verbos e rimas, serenas razões
Dando voz às sãs e boas amigas palavras
Quiçá, as mais próximas que se possam ter
Assim, loteei meu coração, desarmei minh’alma
Bem à beira de um cais, mar sem tormentas
Nele fiz morada das iguais e abandonadas
Juntas, vivemos a terna e finita eternidade
Acendi fogueiras, qual calor, pouco a pouco
Derreteram imensas e vagantes geleiras
Que oprimiam as paixões mais verdadeiras

Ânima...


Vera Cruz tem um horizonte singular
Aldeia de gente que sai a semear
Que canta, que planta flor na janela
De fuxicos em finais de tarde


Vera Cruz é terra fincada no norte
Tem parques, tem donzelas tímidas
A espera de um amor de contos
Que olham estrelas e fazem pedidos


Vera Cruz é um tesouro, brilho de ouro
Riqueza de sentimentos refletidos
Nos olhos de Veras, Marília’s, Glaucia’s
De Geralda’s e tantas outras mil almas


Vera Cruz é onde tudo se inicia e se dá
Passam estradas de terra, rios e sonhos
Viajam bois, peixes, amados, amantes
Seres simples, amiga, gente diamante


Vera Cruz é o berço do bom da vida
É a inspiração dos contistas e dos poetas
É um celeiro a céu aberto nas Gerais
Onde cabe o mundo e muito mais

Mais que demais...


Quando o amor é mais que demais
É forte, viril, chega bem chegado
Afaga o querer, acarinha a pele
Não teme recusa e nem esforços mede


Quando o amor é mais que demais
Conversa abertamente com seu eu
Habitante da alma, dono do desejo
E transpira seu bom, em corpo inteiro


Quando o amor é mais que demais
Não conhece nem reconhece desrespeitos
Não se dá a vícios de ditas distâncias
De presença de nãos, vãos abertos


Quando o amor é mais que demais
Respira em compasso gêmeo
Vivo, sadio e certo, dentro do outro
Não veem se horas são poucas ou demais


Porque,
Quando o amor é mais que demais
A gente ri, a gente chora, é mais gente
Entrega sem ego, o coração latente

Macumbeira...


Fostes na pedreira
Levando meu nome
Num boneco de cera
Em noite de lua cheia

Macumbeira
Fostes na encruzilhada
Na sacola, ia pipoca, um prato e farofa
Atrapalhada, fizestes a reza errada

Macumbeira
Vieste à minha porta
Com vela, charuto e galinha morta
Tome tento e vê se se comporta

Macumbeira
Deixe de besteira
Arrume outro trabalho
Esse seu funciona ao contrário

Macumbeira
Não vá pela cabeça daquela que te incumba
De mal feitos, feldade, vildade e quizumba
Pois, chuto tudo que é macumba!

Sob o Domínio do Medo...



Te socorre a insônia desde aquele outubro
No vão das palavras não ditas... emudecidas
Viajantes aladas, vagando insanas em seu olhar
Tementes de verdades há muito adormecidas


Era só mais uma despedida, nada além
Mas ele, tolerante e tecido em querer
Chorava silencioso, coração aberto em chagas
Tomado da decepção da despida não entendida


Flor brotada distante, com sabor de estrada
Engano pelo temor do afã de se ver desnudada
De se expor, baixar guardas, crescer, alçar voo
Findar uma dependência finita de posse imposta


Revelaste tantos nós, amarras e submissões
Que em ti, jamais caberia qualquer forma de amor
Seja por desejo ou escolha, o bem não vigora em ti
E na opção da submissão, fio restada lhe a solidão

Enquanto dormia...


Um anjin
Que bem me queira
Me ensinou que noite
É o avesso do dia


Que toda rosa
Tem espinho e magia
Que, se pra alguns
Lua é corpo celeste
Pra outros, é queijo...
Ou astro de inspirar poesia!

Sábia em seus encantos...



Não mais tenho ao alcance o toque de tuas mãos
Puro carinho, que teciam meias a mantas de lã
Já não sinto o calor de seu abraço... seu afago
Tenho vivas lembranças, sentidas heranças


Trago em mim seus exemplos e aprendizados
E, quando penso já tudo saber, pacientemente
Lentos passos curtos e amenos me a trazem
No encanto de ditos, palavras eternas de mãe


Sábias, solenes, simples e desenroupadas
De qualquer intenção de sabedoria, já as sendo
Que, como flechas, atravessam meus enganos
Em decisões “seguras”, que descortinei equivocadas

Havia luz, amor e entrega de cuidados em tudo
Que aquela mestranda, dona de meu nascer
Em suas ações, me presenteava com toques de anjo
Linda mulher, plena, conhecedora do mundo meu


Sabia de cor, meus sonhos pactuados com o futuro
Curiosamente, sem os a tê-los ditos, mas que não me vierão
Dela, fui agraciado com eterna luz, dessas de alumiarem
De quereres às veredas amanhecidas em risos... ou ais


Fio não ter sido o melhor aprendiz nessa apurada vivência
Mas também não fui o menos agraciado nesse noviciado
Viajo ao passado, colho momentos dos tempos de infância
Replanto-os no eviterno jardim, morada de rica lembrança

Travesseiro vazio...
(Múcio Bruck)


Busquei por ti em meus pensamentos, no mais profundo de minhas lembranças... nas "gavetas da memória", um único momento em que seu sorriso se fez presente e nada encontre!

Você não estava mais lá, sequer escondida, residindo resignada ou em festa: havia partido, levando consigo de sua silhueta ao desenho de sua alva face, a reminiscência do som de sua voz, quase sempre ávida... o silêncio misterioso ao tocar-lhe a já decorada geografia de seu corpo, quantas vezes inerte no instante da entrega como se ao abatedouro estavas indo de encontro!

Nos dias passantes, não me dei conta de que a distância e a ausência, cada vez mais frequente, ditada pela falta do diálogo, se deram a passos largos... em horas corridas... dias apressados, ou quiçá, foram os meus dias mais céleres que os seus e foi exatamente nesses idos que me esqueci de lembrar em olhar-lhe nos olhos e dar a necessária e devida, melhor, merecida atenção.

Assim, já não mais cabia reconhecer-lhe os valores da mulher que eras, somente que esses "detalhes" que, passados desapercebidos, eram as jóias que me ofertavas... era tudo o que mais importava: e você partiu!

Não mais cabe chorar havê-la perdido, até porque, conta meu coração que nunca a tive.

Não cabe reclamar sua ausência, pois quando a tinha, não percebi quão valiosa me eras!

Estar ao seu lado, ao alcance de meu abraço não tinha preço.

Certo é que não partistes por falta de meu amor, mas porque não fui capaz de conquistar o seu!

Nosso beijo era pavio, queimando prazer
Pureza, sabor de melado, puro mel
Queria que soubesses disso
Para um dia, você se lembrar
Que o céu, residia em nossos lábios

Nos tempos dos fuzis...


Sou nascido em ano aguerrido, em ventre livre
Em tempos confusos, pais tementes e legalistas
Lúcidos nos entendimentos de sua época
Diferenciavam o bem do mal sem temores


Vim ao mundo em dias de instalada ditadura
E dela herdei temores e aprendizados
Foi no turbilhão dos fatos que assisti
Que forjei meu caráter e ideologias


Conheci armas e flores, algozes e heróis
Foi nas ruas, na insurreição de meu povo
Que a proporção exata do brio me arrebatou
Ali, vi a perversidade do poder, mostrava sua cara


Bandeiras, gritos de ordem pela liberdade
Passeatas, corações agitados e viris
Combatidos por déspotas sem arreios
Instituindo a vergonha no cenário da historia


Hoje, caminho pela vida, ruas e avenidas
Sob sol e lua, alvo de distraídos olhares
Passando cenários, pessoas, vezes sem rumo
Cada um com seu querer, quiçá, até um ideal

No vão que se deu...
(Múcio Bruck)

A madrugada trazia, silenciosa
Um ar frio, brilho estelar e forte desejo
Sua ausência, um vão infindo e dolente
O afã de um beijo, um abraço esperado
Machucava o querer e produzia lágrimas
O amor se negava a partir, se findar
Incomodava a vida decidida e ferida
A madrugada trazia lembranças
Torturava o penar, já sem voz
Quieto, acomodado na aceitação
Flor sem cor, pétala da solidão

A vida tece seu destino...


A vida respira e viaja atenta e confiante! Segue em frente e não raro, alça voo rumo ao infinito, mas só quando não perde a capacidade de se emocionar, de saber sua exata valia e conhecer cada uma de suas fragilidades.
Segue em frente, passos firmes e decididos, previamente desenhados, tecendo em sua trajetória, uma colcha de verdades dentro do próprio destino, vívido e adornado de certezas que, ao final, saberá que seu passado foi bordado com fios de realizações de desejos de bem!

A Louca de 20 minutos...


Olho-te aqui, agora
Com olhar jamais sabido ou tido
Olhos de quem sabe amar
E que aprendeu a desamar


Olho-te aqui, agora
Como quem implora, pelas retinas
Para que fiques um tantin mais
Vinte minutos de atenção, antes de se ir

Olho-te aqui, agora
Com o olhar de quem deseja
Quiçá, até mereça um colo
E acarinhar a dor que rasga a alma


Olho-te aqui, agora
Com íris incolor, sem vida
Mudez a suplicar que fique
Pois a voz já se recusa a pedir

Olho-te aqui, agora
Sentado bem ao seu lado
Com intenção de tocar-te a tez
Sentir o calor de são amor


Olho-te aqui, agora
E o sal de uma lágrima
Insana, toca meus lábios
Coerente, assumida, jamais derradeira


Olho-te aqui, agora
E de ti, sei, tudo o que me restará
Serão parcas lembranças, sinais de geleiras
Sentimentos fantasmas, falas nulas e vazias