Coleção pessoal de katiacristinaamaro

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" E a mesa posta, a casa limpa, o vestido bordado. Agora o cheiro das flores que murcharam na chita do vestido lavado. Agora esse café frio, uma das taças intacta, o vinho pela metade.
E ela contando sua coleção de esperas, crepúsculos e cartas rabiscadas em guardanapos."

"Porque a voz dele me toca feito as mãos
e as mãos dele me envolvem feito fábulas.
E as duas, quando passeiam em mim desabotoam
minhas mais mal-comportadas palavras."

"De repente sinto medo. Um medo antigo, o mesmo que sentia o menino escondido embaixo da escada, esperando castigos. Um medo e um frio que nascem de alguma zona escondida no cérebro, nas lembranças, nas coisas que o tempo escondeu ao avançar, como se recuando súbito pusesse a descoberto todos os cantos invisíveis, todas as teias de aranha recobrindo velhos muros, os mesmos que tantas vezes tentei escalar sem que houvesse nada depois, nenhum caminho, nenhuma casa. Nada."

"Felicidade é um clarão que nos ajuda a suportar o escuro.
Relampeia, olhamos onde estão as coisas e seguimos tateando com mais facilidade."

Já caí inúmeras vezes achando que não iria me reerguer,
já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
...
Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respirar nossas fraquezas.

O Menino Que Carregava Água Na Peneira

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e sair
correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores
e até infinitos.

Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira

Com o tempo descobriu que escrever seria
o mesmo que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu
que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo
ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro
botando ponto final na frase.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.

O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.

A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os
vazios com as suas
peraltagens
e algumas pessoas
vão te amar por seus
despropósitos.

Queixos tremem de emoção
olhares embaçam de tão tristes
sorrisos iluminam um ambiente
vincos surgem com o sofrimento
peles acetinam ao serem tocadas
e olheiras revelam um impasse...
Através da face é possível ler todos os sentimentos.

...

Mas é o que devemos continuar fazendo. Despir nossa alma e mostrar pra valer quem somos, o que trazemos por dentro.
Não conheço strip-tease mais sedutor.

Ai daqueles
que se amaram sem nenhuma briga
aqueles que deixaram
que a mágoa nova
virasse a chaga antiga.

Ai daqueles que se amaram
sem saber que amar é pão feito em casa
e que a pedra só não voa
porque não quer
não porque não tem asa.


Ai daqueles
que se amaram sem nenhuma briga
aqueles que deixaram
que a mágoa nova
virasse a chaga antiga.

Ai daqueles que se amaram
sem saber que amar é pão feito em casa
e que a pedra só não voa
porque não quer
não porque não tem asa.

A insistência é o nosso esforço, a desistência é o prêmio. A este só se chega quando se experimentou o poder de construir, e, apesar do gosto de poder, prefere-se a desistência. A desistência tem que ser uma escolha. Desistir é a escolha mais sagrada de uma vida. Desistir é o verdadeiro instante humano. E só esta, é a glória própria de minha condição. A desistência é uma revelação.

Se deixou levar por sua convicção de que os seres humanos não nascem para sempre no dia em que as mães os dão à luz, e sim que a vida os obriga outra vez e muitas vezes a se parirem a si mesmos.

"Não te encontro, não te alcanço...
Só — no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só — na treva,
fico: recebida e dada."

"...eu agradeço, eu tenho medo e espanto e terror e ao mesmo tempo maravilhamento e outras coisas com e sem nome, mas agradeço. Aos deuses dos jardins, aos deuses dos homens, aos deuses do tempo e até aos das ervas daninhas que nos fazem lutar feito tigres feridos fundo no peito, sim, eu agradeço."

"Remexo dentro de mim,
nem sempre é fácil
saber a parte de nós
que ficou no caminho:
toco... faço a ferida arder.
Sentir a ferida, é a maneira
mais rápida de curá-la.
Nada em mim foi covarde,
nem mesmo as desistências:
desistir, ainda que não pareça,
foi meu grande gesto de coragem."

"E como a uma borboleta, Ana prendeu o instante entre os dedos antes que ele nunca mais fosse seu."

Um lugar deve existir
Uma espécie de bazar
Onde os sonhos extraviados
Vão parar.

"Por que, Senhor meu, permitiste que eu tentasse fugir da minha pequenez? Por que me deste todos esses sonhos muito maiores do que eu?"

"O amor sozinho vagava.
Sem mais nada além de mim...
numa eternidade inútil"

As palavras proferidas pelo coração não tem língua que as articule, retém-nas um nó na garganta e só nos olhos é que se podem ler.

"Tua ausência é tão presente que é pessoa... e me abraça."

"Quando você me contou que havia um abismo no seu peito, um buraco no seu coração, eu tentei visualizar abismos e buracos...E vi muito coração dentro deles."
(Um outro ângulo.)

Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma. Daí a dificuldade...