Coleção pessoal de Hugopires

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Ainda que você erre, faça o bem durante a vida. Arranje uma maneira de tornar-se inesquecível, pois, assim, quando a morte vier, será como a raiz para cada semente que você semeou. Cultive a vida, não permita que o fim enterre também a sua história, busque motivos para ser plantado.

A flagrante inconstitucionalidade de Alemanha e Argentina

A você que comprou o ingresso na expectativa de ver o Brasil disputando a final da Copa do Mundo no Maracanã, e se depara com uma Alemanha (que goleou a seleção brasileira na última terça-feira) e uma Argentina, que dispensa maiores comentários ou xingamentos, lembre-se que a Constituição Federal de 1988 lhe garante a liberdade de ir e vir, ou, neste caso, parar e permanecer em casa assistindo ao Rodrigo Faro na Record.

É o que determina o inciso II do sempre lembrado art. 5º da Carta Magna: "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei". Ou seja, não vá...

Até porque, correr o risco de ver os hermanos levantando a taça em nossa casa é tratamento degradante que beira a tortura, prática, por sinal, vedada pelo inciso III do supracitado artigo: "ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante". Trata-se de crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia, conforme estabelece o inciso XLIII. Você está protegido...

Por falar em casa, lembre-se que ela é asilo inviolável do indivíduo, de modo que sendo o Maracanã a sua, a nossa casa no domingo, alemães ou argentinos só poderiam levantar a taça com autorização judicial, muito embora o desastre de uma final sem o Brasil já tenha se consumado.

Contudo, ainda que um Lewandowski concedesse tal autorização teratológica, o Maracanã, enquanto propriedade, não estaria atendendo a função social de sediar a vitória do Brasil no domingo, a fim de apagar a mancha de 1950.

Portanto, por todos os ângulos que se analise a matéria, não se vislumbra outra figura senão a da inconstitucionalidade dessa final em pleno país do futebol, e tão somente do futebol, nada mais. E se você não concorda com a análise feita aqui, lembre-se também que o art. 5º, em seu inciso IV, garante a liberdade de manifestação do pensamento, vedando, no entanto, o anonimato, razão pela qual assino ao final.

E se você for ao jogo, o art. 927 do Código Civil ainda pode salvá-lo dos danos psicológicos e morais de ver o Messi levantando a taça em pleno "Maraca".

P.S: O texto deu 7 parágrafos e 1 "P.S" (que não significa Pronto Socorro), foi mera coincidência...

Amor e tempo convivem em sentidos opostos. O tempo passa e leva com ele a nossa vida; já o amor, quando a gente encontra a pessoa certa, traz de volta a vida que o tempo levou.

Quem é o cantor?

Corre o boato em Pasárgada que durante uma assembleia para a escolha do cantor da Copa, com milhares de manifestantes na rua, um louco subiu ao palco e gritou em alto e bom som:

- Se vai ter Copa ou não, se vai ter uma ou duas, eu não sei, só acho que deveria ser o Tiririca o cantor da abertura...

Foi um estardalhaço total, quebra de vidros, a multidão toda com máscara na cara queimando álbuns de figurinhas, gás lacrimogêneo e bala de borracha pra todo lado, gente chorando com a foto da Claudinha Leite e até um grupo de pitbulls uivando no canto da praça, numa cena de completa desolação.

Então o louco recuperou por um instante a sua sanidade e disse:

- Foi mal, que loucura a minha, melhor que ele seja apenas Deputado Federal. Depois dessa, vou-me embora de Pasárgada...

E a paz voltou a reinar a todo o povo.

DIREITO

Sempre acreditei demasiado na força das palavras. Sempre acreditei que os nossos pensamentos nos levam aonde quer que queiramos, e que basta ter perseverança para alcançarmos os nossos sonhos, pois o único direito que não nos foi dado é a desistência.

Foi com esses ideais que comecei a escrever esse texto, vez que tenho visto por aí inúmeras chacotas envolvendo estudantes e profissionais do Direito, algo como "por que se chama Direito se está dando tudo errado?" ou "Aí você se forma, não é mais estagiário e ainda não passou na OAB, o que você é?", "Por que eu fui estudar Direito!?", entre outras tantas que me fariam ficar nesse parágrafo até o fim da Faculdade.

Amigo leitor, não quero ser falso moralista, tampouco tenho pretensão de convencê-lo acerca dos meus erros ou acertos, de modo que às vezes também rio dessas frases, às vezes até as compartilho em tom de gozação, mas eis que descubro a trama ardilosa do desânimo que isso pode causar lá dentro dos ideais, pois se é certo que as palavras têm poder, não ganhamos nada em desmerecer a nossa escolha, ainda que por mera brincadeira.

Lembro-me dos primeiros passos que dei na jornada do Direito, a primeira vez que li o art. 5º da Constituição, que, com a ajuda do professor, fez surgir interpretações que não estavam estampadas no texto, mas guardadas para aqueles que se debruçavam sobre elas. E tantos sonhos que nutria, e ainda nutro, de ser um grande jurista para poder ajudar quem precisa e fazer a diferença.

Sim, pode soar piegas a última frase do parágrafo acima, mas é esse o meu mapa do maroto: "poder ajudar quem precisa". E é justamente essa meta que a gente vai perdendo no decorrer dos anos, é justamente essa utopia que vai se desfazendo no horizonte enquanto ficamos presos a encarar somente o lado negativo dos desafios. Vamos nos tornando individualistas demais, pessimistas demais.

Sempre comento com meus amigos, pelos corredores da Faculdade de Direito, que a nossa escolha não é para qualquer um. É preciso ter gana por vitória para vencer o curso e não apenas cumprir a hora, é preciso ter sonhos para superar a longa caminhada que se apresenta e, sobretudo, acreditar que é possível ser melhor, não melhor que os outros, mas melhor que nós mesmos.

Não podemos deixar essa chama apagar dentro da gente, de verdade, se é Juiz que queremos ser, corramos atrás desse sonho, essa é a hora! Se é Promotor, Desembargador, Ministro, Advogado, Professor, seja lá qual for o sonho que você, leitor, nutre, não o deixe se perder em frases desanimadoras sobre a carreira, porque ao final quem se perde somos nós mesmos, e então seremos apenas mais um...

E quanto às respostas para as perguntas do começo do texto ("por que se chama Direito se está dando tudo errado?" ou "Aí você se forma, não é mais estagiário e ainda não passou na OAB, o que você é?", "Por que eu fui estudar Direito!?"), ninguém melhor que você para encontrá-las.

E na mesma toada de Tércio Sampaio, despeço-me desse texto para ir às aulas de sexta-feira à noite na Faculdade de Direito: “o encontro com o direito é diversificado, às vezes conflitivo e incoerente, às vezes linear e consequente. Estudar direito é, assim, uma atividade difícil, que exige não só acuidade, inteligência, preparo, mas também encantamento, intuição, espontaneidade. Para compreendê-lo, é preciso, pois, saber e amar. Só o homem que sabe pode ter-lhe domínio. Mas só quem ama é capaz de dominá-lo, rendendo-se a ele.”

Escrever é algo fantástico, do nada você sente uma vontade mágica de criar um mundo, então suas mãos falam mais rápido que sua boca, seus olhos são engolidos pelas palavras, e, de repente, está pronto. É como se estivesse predestinado a ser você o autor daquilo...

O Batman e a justiça com as próprias mãos

Ben Affleck será o próximo Batman. Como todos devem saber, tal personagem é um homem morcego que venceu o medo e luta contra as injustiças do cotidiano, fazendo justiça com as próprias mãos a fim de salvar Gotham City de toda a corja de malfeitores que tentam destruir a cidade.

Batman sai todas as noites atrás de bandidos e mafiosos para fazer valer a sua própria lei. Entre prédios, muros e escuridão, brilhará sempre o sinal do morcego, e o homem das trevas restabelecerá a paz aos homens de "bem" de toda a Gotham.

E assim a trilogia vai se refazendo...

Num salto, da ficção para o mundo real, nos últimos meses homens e mulheres sem fantasia, na luz do dia e sem sinais de morcegos, têm saído às ruas para fazer justiça com as próprias mãos, com o anseio de vingar as atrocidades cometidas pelos seus acusados. É algo como "olho por olho, dente por dente", em um inquérito feito às pressas pelos mesmos juízes que executarão a pena.

Em Gotham, quando o caos beira o precipício, a luz do Batman brilha sobre a escuridão e traz esperança aos desafortunados. E no Brasil, qual luz vai brilhar?

E eis que alguns "Batmans à brasileira" acendem uma luz que não clareia no fim do túnel e, motivados pela morosidade da justiça (aqui leia-se no avesso "celeridade da injustiça"), saem às ruas prontos para linchar os Judas, num jogo de todos contra todos, onde o próximo pode ser o justiceiro de ontem.

A diferença é que as ações do Batman são cuidadosamente planejadas e gozam de um farto amparo tecnológico, o que lhe proporciona uma excelência extraordinária. Excelência essa que nem mesmo as Excelências dos tribunais brasileiros detêm, tamanha a lentidão do Poder Judiciário no Brasil, além da ineficiência das polícias nas investigações criminais, mais por falta de amparo do que por falta de vontade dos seus agentes.

Mas a diferença primordial é a que se refere ao fato de o Batman ser apenas um personagem fictício, e talvez os "Batmans tupiniquins" tenham se esquecido desse mero detalhe, pois justiça com as próprias mãos só é justa se for aperto de mãos, do contrário é só vingança.

A consequência de tudo isso é a que se vê no dia a dia, atrocidades cometidas por marginais que não cumprem devidamente a pena, e, em contrapartida, barbáries cometidas por "cidadãos" como forma de resposta vingativa da sociedade. O problema é que aquilo que para alguns é a luz no fim do túnel, na verdade é um trem descontrolado vindo na direção de todos, e nesse empurra-empurra total, os "Batmans" têm matado Robin no lugar de Coringa, Alfred no lugar de Pinguim. Um verdadeiro retrocesso aos tempos remotos!

E, assim, a história vai se repetindo...

"ROLEZAUM"

Um país onde jovens pobres se reúnem aos milhares para marcarem seus encontros e fazerem algazarra em shopping centers. Como se isso fosse a bandeira revolucionária de um grupo. Apartheid? Não, não se trata de um apartheid à brasileira. Lembrem-se que o direito de ir e vir, parar e ficar, é um direito consagrado pela Constituição de 88, mas consentâneo de outros direitos também constitucionais, com os quais deve conviver de forma horizontal, pois não pode haver direitos absolutos numa democracia, nem mesmo a vida goza de tal presunção.

Como bem frisou o Juiz da 14ª Vara Cível de São Paulo: "O Estado não pode garantir o direito de manifestações e olvidar-se do direito de propriedade, do livre exercício da profissão e da segurança pública. Todas as garantias tem a mesma importância e relevância social e jurídica" (Processo n.º 1001597-90.2014.8.26.0100).

Não tenham dúvidas de que 6 mil jovens não se reuniriam por acaso em um local destinado às compras por aqueles que têm dinheiro, e, sobretudo, por aqueles que não o têm, mas que parecem ter e pretendem manter a ilusão de um padrão de vida falacioso. Tão falacioso é pensar que esses jovens estão ali apenas para se divertirem, apenas para um "rolezinho", apenas para poderem participar de uma vida que eles não possuem acesso. A força motriz que move esses milhares de jovens é a oportunidade de poder chamar a atenção, fazer baderna, pois se quisessem reivindicar melhorias de vida não estariam aos montes na frente dos shopping centers, mas diante da Assembléia Legislativa exigindo seus direitos. Se quisessem alcançar melhores padrões de vida, estariam lotando as bibliotecas municipais e provando para si próprios e para todo o resto da sociedade que são capazes.

É precipitado gritar que estão proibindo os jovens pobres de entrarem em shopping centers, beira o sensacionalismo. Eu, pobre que sou, sempre pude ir e vir, parar e ficar nos corredores, nas vitrines e nas lojas desses centros comerciais, e creio que você, que agora está lendo essas palavras, pobre que também é, pois se não o fosse estaria nesse momento numa montanha russa da Disney ou no gelo europeu esquiando com mais zelo que o campeão, também nunca fora barrado de entrar num shopping. O discurso de que estão proibindo a entrada de pobres nesses "templos da riqueza", é um discurso perverso que pretende criar uma celeuma e gerar um conflito de proporções prejudiciais para todos nós.

Não é proibido entrar. O que acertadamente se proíbe é a aglomeração de milhares de jovens sem finalidade definida, em um local destinado a compras e não a manifestações, ante o risco iminente de desentendimentos. O exercício de um direito não pode obstar a aplicação dos demais direitos, do contrário estaríamos fadados a conviver em uma ditadura dos direitos fundamentais, na qual um direito do indivíduo se sobreporia aos interesses econômicos, políticos e sociais de toda a nação.

É a minha opinião.

REPÓRTER INGLÊS E A REENCARNAÇÃO DO CARAMURU

Um repórter inglês foi "gentilmente" convidado para vir ao Brasil relatar as benesses do país ao mundo, algo como conhecer e conviver com o povo primata do capitalismo selvagem tupiniquim, anfitriões da Copa do Mundo 2014. Por volta das duas horas da manhã, Ian Herbert e sua comitiva "iam" pela praia de Copacabana quando foram abordados por um grupo de brasileiros da tribo "ladrão vida loka", que avisou de prontidão a necessidade de possuir os seus pertences através da subtração, por sinal, atividade costumeira pelos nativos dessa tribo.

Talvez ele tenha sido descuidado em sair uma hora dessas, afinal, duas horas da manhã não é o momento certo para estar nas ruas. Mas, que horas são?

Enquanto começo esse parágrafo, o relógio no canto da tela marca exatamente 12h30m, será esse o momento adequado para sair às ruas? Quando descobrirem, e se voltarem da descoberta, me avisem...

Agora já são 12h31m, ainda não sei o momento certo, mas ao invés de progredir de minuto em minuto no texto, preciso fazer um retorno arcaico aos longínquos anos de 1500, quando um certo Diogo Álvares naufragou em terras brasileiras, ou Terrae Brasilis. É que, ainda perturbado pelo naufrágio avistou logo um grupo de assustados e selvagens antropófagos, que cercaram-no por volta das 14 horas (creio eu) e, em dialeto próprio e gestos avisaram que necessitavam, não de seus pertences mas de suas partes para saciar a fome. Diogo teve sorte, descobriu logo um meio de enganar os nativos com a velha espingarda salva no naufrágio, apresentou a malandragem lusitana aos indígenas e se tornou o temido e respeitado "Caramuru - Filho do Trovão", enviado por Tupã para protegê-los. Começa então a INVENTAR o Brasil.

Quem se interessar mais pela saga de Diogo Álvares, indico a leitura do livro "CARAMURU", de Frei José de Santa Rita Durão. Só quero antes contar que Diogo Álvares acaba casando-se com a índia Paraguaçu, que tem ares de adivinhar o futuro. Tudo bem! Para quem não leu, estraguei o final do livro, mas o fato é que a Paraguaçu jamais teria previsto que 514 anos depois, o inglês Ian Herbert estaria ainda na mesma condição que Diogo esteve no século XVI.

No poema épico de Santa Rita Durão os primatas não conheciam o capitalismo selvagem, sequer sabiam que estavam rodeados por tanta riqueza material, andavam "pelados pelados nús com as mãos no bolso" e nem imaginavam que os bolsos foram feitos para guardar as riquezas, achavam que a coisa funcionava assim espalhada pelo ar. O que eles queriam do português náufrago, era a carne dele para se alimentar, mas, então, a arma de fogo encantou a todos.

Os portugueses foram embora, as riquezas também, e o que ficou foi o legado de pobreza, de malícia, de esperteza sobre o outro, e, sobretudo, o desejo material a qualquer custo.

Já o Ian Herbert, chegou em praia tupiniquim e encontrou uma tribo não tão inocente, que não deseja comer a carne humana, mas quer os seus pertences, por isso é capaz de matar com a arma de fogo que Diogo esqueceu. Já não há mais espaços para "Caramurus", pois eles, primatas, são os pretensos filhos do trovão.

Ian foi esperto, porque não bancou o esperto. Se fosse o Diogo...

Contudo, ainda há políticos espertos que querem bancar o Caramuru, que contratam repórteres para virem falar bem do país e passar uma boa imagem para o mundo lá fora, que tentam amansar os selvagens com pão e circo, com bola e grito. Mas o gol foi contra...

E nessa onda de fantasias, a reencarnação do Caramuru quer REINVENTAR o país, não através da solução dos problemas, mas pela pintura de um Brasil para inglês ver.

E essa frase continua fazendo sentido...

Quanto vale uma curtida no Facebook?
A pergunta é desafiadora, de tal modo que vale a pena tecer algumas palavras sobre o tema, não com o fito de obter muitas curtidas, mas, na busca de tentar decifrar o significado e a valoração de uma "curtida".
Verdade seja dita, a grande maioria dos "facebookeiros", senão todos, buscam diuturnamente uma curtida em seu perfil, seja de um texto, de um post engraçado, de um prato de comida, de uma foto em frente ao espelho... Ah! As fotos em frente ao espelho...
Narciso sente inveja quando lembra que se apaixonou por sua imagem refletida nas águas do Estige, e não teve um celular com câmera e um espelho cristal três milímetros para tirar fotinhos quinze vezes por dia, postar na rede e ter muitas curtidas por isso. Mas Narciso teve sorte, o Facebook o teria consumido muito antes que o reflexo das águas.
Hoje, o reflexo das águas na rede revela que as curtidas representam uma espécie de afago emocional, algo como "você é foda", no entanto, ser foda no Facebook é como ser rico no Banco Imobiliário, e o leitor esperto já sacou o silogismo proposto.
O pior de tudo é que há textos fantásticos na internet, fotos de acontecimentos históricos que jamais vimos por aquele prisma, fatos que transmudam a nossa forma de encarar o mundo, frases que embalam mesmo os que sofrem do "mal de Barrichello" (aquele que chega sempre atrasado), há até piadas engraçadas que nem o Ary Toledo nunca contou, e recebem em troca uma, duas, dez ou quinze curtidas. Daí vem clichês com erros de português (cento e cinquenta curtidas), indiretas para o mundo (cento e sessenta curtidas), pratos de comida (cento e sessenta e oito curtidas), fotos de melancia a cerveja (cento e setenta curtidas), e, claro, as fotinhos em frente ao espelho (quatrocentas e tantas curtidas). É, existem coisas que o bom senso não compra, ou melhor, não curte.
Aí eu te pergunto, à moda " marcelo-rezendiana": se eu vejo uma futilidade, seja qual for, com erros crassos de português, com um vazio que ecoa pela tela do computador, e, ainda assim, eu curto, não estou compactuando com uma ideia vazia e ajudando a propagar uma sociedade estapafúrdia que valoriza o fútil e cava o seu próprio fim?
Eu sei que você pode estar pensando que eu sou moralista, antiquado e xarope, mas o Facebook se revela pra mim como a Ágora que Sócrates não pisou, não como o lago que Narciso não viu.
Por isso, se me perguntarem quanto vale uma curtida no Facebook, eu direi de pronto: vale aquilo que você vale.

A pior das fantasias é aquela que se veste por dentro, aquela que ninguém vê, só você. Aquela fantasia de que as coisas estão como deveriam estar, ou, pior, estão melhor do que poderiam estar, enquanto na vida real, aquela que assombra antes de dormir, tudo é um caos: vai mal nos estudos, vai mal na família, vai mal na carreira, vai mal a Marte, vai mal, vai mal, vai mal (dá até uma "mau" marchinha).

Não é a toa que a grande sacada do Carnaval seja a fantasia

TODA FORMA DE PODER

Nos longínquos anos de 1986, por sinal, ano do meu recente nascimento, os Engenheiros do Hawaii compuseram uma música cujo título tomei emprestado para encabeçar esse texto que por ora escrevo: "Toda forma de poder".

28 anos depois, um verso da música me vem à cabeça e me assola numa indignação lamentável, hoje o anúncio de uma morte encefálica ceifou também todos os cérebros pensantes desse país: o cinegrafista, em seu ofício diuturno, atingido por um rojão durante uma manifestação, veio a óbito. E são tantos atentados contra a democracia, que não demora muito e acharemos tudo isso normal, quando não é. E a música grita nas caixas ruins de meu som: "E eu começo a achar normal que algum boçal atire bombas na embaixada". E a embaixada dessa vez não foi um prédio suntuoso, mas um trabalhador que encarava as dificuldades do seu trabalho com a garra e a vontade de milhões de brasileiros no cumprimento do seu labor.

Mas regressando novamente para a década de 80, em 1988 uns homens engravatados disseram ao povo brasileiro: "Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL."

E a caixa de som, um pouco furada já pelos estampidos, pula sobre a minha mesa enquanto Gessinger quase aos berros diz a todos em casa: "Eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem nada". Ora, harmonia social e comprometida com a solução pacífica das controvérsias. Em que país? Pois não é pra esse rumo que estamos seguindo.

Aí eu me lembro de coisas que não me deixam em paz: direita, esquerda, rolezinhos, valorização do fútil, BBB, Copa do Mundo, roubalheira, Mensalão, Privataria tucana, Amarildo, Porto em Cuba e muito mais. E então, os Engenheiros do Hawaii (que não são "importados", tampouco engenheiros; assim como os médicos cubanos que não são médicos, mas são "importados") me ensinam algo que eu não quero seguir: "é tão fácil ir adiante e se esquecer que a coisa toda tá errada"...

"Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada,
Toda forma de conduta se transforma numa luta armada"

A democracia está perdendo.

.. MÃOS PARA TRÁS..

Pode ser que o título acima tenha ficado um tanto quanto sem sentido, e as reticências indiquem que haja algo escondido entre as palavras expostas (.. "mãos para cima.. "). Mas foi proposital a escolha e a forma do título, assim como foi proposital as reticências com apenas dois pontos, e não três, como formalmente pregado pela Gramática. O leitor pode até discordar desse meu pensamento, mas é que o terceiro ponto se apresenta como a 'vela' do relacionamento, e suspeito que seja, justamente, o ponto do meio..

E nessa toada de suspeitas, apresento as palavras que antecedem e ocupam o lugar dos dois pontos supracitados: "Jovem algemado com MÃOS PARA ATRÁS deu tiro na própria cabeça, diz PM". Essa é a notícia de hoje no Estadão, sobre um fato ocorrido em 14 de setembro de 2013, no interior de São Paulo, que até o presente momento não teve seu deslinde na Justiça.

Note que, talvez a minha imaginação não tenha sido tão fértil ao tentar propagar as reticências sem o ponto do meio (o suposto "vela"), e então respeito o posicionamento do leitor discordante, mas um jovem algemado com as mãos trás, dentro de uma viatura, e, ainda assim, conseguir sacar um revólver e atirar em sua própria cabeça de cima para baixo, é um acontecimento mais insólito e desconexo que o fruto da minha imaginação sem criatividade.

É só a gente pensar hipoteticamente: o ponto do meio é expulso das reticências, então um policial, após uma revista, prende-o e o coloca, desarmado, dentro de uma viatura, algemado, com as mãos para trás. O ponto do meio, ou o "vela", saca de um revólver que até então não portava, levanta os punhos algemados para trás e atira em sua própria cabeça, pondo um ponto final em sua história..

Antes que digam que estou aqui a defender bandidos, ou, supostos bandidos, não, eu não estou aqui a fazer isso. Só não é de admitir que a sentença criminal seja dada fora do âmbito do Poder Judiciário, em um processo que se encerra de forma célere e unilateral dentro das viaturas, nos calabouços escondidos nas ruas escuras da cidade. Seria o mesmo que admitir que as minhas reticências são a forma correta na Língua Portuguesa, esquecendo-se de todo o legado que construímos no decorrer dos anos.

Fora tudo isso, é importante que os fatos se elucidem, afinal, a pegar pelo título desse texto, não faz sentido jogar as palavras ou os acontecimentos sem um liame, sem uma coerência lógica que justifique a sua ocorrência.

E sem a pretensão de querer estar correto, prefiro seguir o lema do jagunço Riobaldo em Grande Sertão Veredas: "Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa."

Pra quê BBB?

Se alguém souber me dizer, por favor me explique a utilidade e a necessidade de um Big Brother Brasil num Brasil brasil.

"Para manipular uma sociedade já manipulada" - bradam os que ainda tem olhos e que ainda enxergam as estupidezes da mídia brasileira.

Mas tem que servir para algo, nem que seja só por três meses. Ora, uma partida de futebol, por exemplo, dura quase sempre apenas 90 minutos e tem alguma serventia, afinal, um gol do Neymar de fora da área ainda serve para dar aquela emoção aos 40 minutos do 2º tempo, logo, a emoção sentida num lance desses é algo de bom, e, segundo o Galvão Bueno, é preciso que haja coração para aguentar o baque. Vou mais longe, uma luta do Anderson Silva, que dura em média 2 rounds, e que passa "ao vivo" na Globo, é uma apresentação dos "gladiadores do terceiro milênio", e que nos faz ficar acordados até 4 horas da manhã e, sobretudo, nos faz aprender que canela foi feita ou pra temperar alimentos, ou pra andar, menos para dar chute. Mas o BBB, pra quê serve?

E eis que me vem uma boa ideia: deveria ter como participantes políticos corruptos de todo o Brasil. Isso aqueceria a construção civil, já que uma casa apenas seria pouco; nos aproximaria dos participantes, já que poderíamos ter um BBB em cada comarca; tornaria as provas dos anjos impossíveis de serem completadas, já que não estamos a tratar de anjos; e, o melhor de tudo, salvaguardaria o erário público por três meses na História desse país, um fato nunca dantes visto. Assim, constitucionalmente falando, exerceria uma função social digna de apreço.

Não seria um boa ideia?

Respeitar o tempo é a prova mais difícil na faculdade de Direito. A vontade de enfrentar a vida lá fora extravasa os muros da faculdade, as paredes da sala de aula e as páginas de cada livro nessa jornada cronometrada de cinco anos na graduação. Contudo, esse cronômetro deve retomar sua contagem após a formatura, porque, do contrário, o diploma não passará de um pedaço de papel numa moldura cara, mas não pode haver no mundo moldura mais bonita que a nossa vontade de mudar a vida das pessoas com o nosso diploma e o nosso conhecimento. Por isso, a sina do estudante de Direito é ser pra sempre estudante.

Uma coisa que aprendi: retrospectiva uma vez por ano é coisa da TV. Na vida, ela deve ser diária...

Hoje eu acordei cedo disposto a dar uma lida em Direito Constitucional e, na altura em que José Afonso da Silva diz ser "na democracia que a liberdade encontra campo de expansão", extasiado por tal constatação, pego meu copo de Coca-Cola estupidamente gelado e encontro dentro dele um condor. Sim, um pássaro condor que não estava ali a toa e que me remeteu imediatamente à terceira fase do Romantismo brasileiro, e me fez lembrar de Castro Alves com sua poesia libertária influenciada por Victor Hugo. Então lembrei-me dos escravos, da liberdade ao inverso naqueles navios negreiros, dos miseráveis dos dias de hoje que ainda ontem dormiram nas ruas suportando a chuva fria que caía, e abri a janela e disse ao condor: voe, pois só tu és livre.
Ele se foi, rumo às Cordilheiras dos Andes onde é o seu lugar. E quanto ao copo de Coca-Cola, fiquei feliz por não ser um rato...

Ainda que você erre, faça o bem durante a vida. Arranje uma maneira de se tornar inesquecível, pois assim, quando a morte vier será a raiz para cada semente que você plantou. Por isso, quando eu morrer, quero ter motivos para ser "plantado".

Morrer não é sério!
Somos capazes de vencer a morte quando a nossa mensagem fica...
É sério.

Todo ano é novo, ele não dura mais que 12 meses. O segredo reside em torná-lo um novo ano, porque quando conseguimos isso construímos uma nova vida.