Coleção pessoal de bperdigao

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A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.

Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.

Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.

Prefiro o paraíso pelo clima e o inferno pela companhia.

O SILÊNCIO

O mundo, às vezes, fica-me tão insignificativo
Como um filme que houvesse perdido de repente o som.
Vejo homens, mulheres: peixes abrindo e fechando a boca
[num aquário
Ou multidões: macacos pula-pulando nas arquibancadas dos
[estádios...
Mas o mais triste é essa tristeza toda colorida dos carnavais
Como a maquilagem das velhas prostitutas fazendo trottoir.
Ás vezes eu penso que já fui um dia um rei, imóvel no seu
[palanque,
Obrigado a ficar olhando
Intermináveis desfiles, torneios, procissões, tudo isso...
Oh! decididamente o meu reino não é deste mundo!
Nem do outro...

CONFISSÃO

Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece...
Mas,
Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto!

Nós nascemos exigentes? Provavelmente, sim. Quando éramos crianças, precisávamos de cuidados, alimento e proteção. Se não tivéssemos tido tudo isso, não estaríamos vivos hoje, exigindo, cobrando, reclamando.

De nada vale tentar ajudar aqueles que não se ajudam a si mesmos.

SUCESSÃO

Depois que eu voltar
de dentro das molduras
apago os meus retratos
invento outras figuras

convoco os meus fantasmas
convido mil demônios
e dou posse a todos eles
no governo dos neurônios.

O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso.

Podemos odiar aqueles que amamos. Os outros são-nos indiferentes.

Se você odeia alguém, é porque odeia alguma coisa nele que faz parte de você. O que não faz parte de nós não nos perturba.

Quando eu morrer, que me enterrem na beira do chapadão, contente com minha terra, cansado de tanta guerra, crescido de coração.

Que isso foi o que sempre me invocou, o senhor sabe: eu careço de que o bom seja bom e o ruim ruim, que dum lado esteja o preto e do outro o branco, que o feio fique bem apartado do bonito e a alegria longe da tristeza! Quero os todos pastos demarcados... Como é que posso com este mundo? (...) Este mundo é muito misturado...

O bom das segundas-feiras, do primeiro dia de cada mês, e do primeiro do ano, é que nos dão a ilusão que a vida se renova... Que seria de nós se a folhinha marcasse hoje o dia 713.789 da era Cristã?

Do Livro dos epitáfios


Quando eu morrer ( se morrer )
Saltem então das rochas (com doshas)
Corram em direção à praia
Digam ao cuco que não saia
É feriado, acendam tochas

No meu enterro (um erro)
Nada de choro (um bolo)
Um festim neoliberal
Todos de porre
E o corpo? Que tal?
Vai de ônibus
Um estouro!

"A primeira vez que me enganares, a culpa será tua; já da segunda vez, a culpa será minha."

Tudo o que acontece uma vez pode nunca mais acontecer, mas tudo o que acontece duas vezes, acontecerá certamente uma terceira.

A única diferença entre a loucura e a saúde mental é que a primeira é muito mais comum.

O gênio, o crime e a loucura, provêm, por igual, de uma anormalidade; representam, de diferentes maneiras, uma inadaptabilidade ao meio.

Não, é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos modos de existir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso, entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus.

Socorro alguma alma mesmo que penada, me empreste suas penas, já não sinto amor nem dor, já não sinto nada.
Socorro alguém me dê um coraçao, que esse já não bate nem apanha
Por favor, uma emoção pequena
Qualquer coisa que se sinta
Tem tanto sentimento deve ter algum que sirva...