Coleção pessoal de audreyponganborteze
Querida dor, eu queria dizer que vou parar de bancar a infantil. Sinto as lembranças vindo com a brisa e você as acompanhando. Queria dizer que parei com estratégias e subterfúgios, parei de usar remédios que me derrubavam para você desparecer. Eu sei que não importa quão longe eu vá, você poderá sempre me alcançar e causar muita dor de cabeça, agora eu sei disso. Sei também que você é necessária e me faz mais forte, mais capaz de superar os obstáculos. Por isso eu paro de fugir de você, eu te aceito e eu te abraço como uma irmã. Seja bem vinda.
Há muito tempo eu lhe disse que algumas coisas são difíceis de serem explicadas,que algumas coisas só precisam ser sentidas, como o sopro do vento no rosto. E nesse momento meu querido, eu sinto: sinto o carro correr em alta velocidade, sinto a melodia de Nenhum de nós tocando no rádio, sinto o vento, e principalmente, sinto a liberdade gritante por todos os meus poros,e de como a liberdade é uma coisa inteiramente minha, e é mais plena, e sempre será, sem você atrapalhando.
Eu havia trancado o restante do amor que sentia por você em uma caixa escura dentro do meu coração. Porém, nesse momento há qualquer coisa, como o céu, o mar, o sopro do vento, que abriram essa caixa e levaram um sopro de oxigênio ao amor que sufocava. E agora esse amor está forte, agora esse amor está vivo, e grita. Grita em desespero para você voltar, grita em desespero para não morrer.
E eu e minha amiga rimos e falamos de garotos, até que ela tocou no nome dele e eu disse como ele era idiota e que bom que estava fora da minha vida. Só que quando fui dormir, como todos os dias, ele ainda foi o último pensamento do meu dia. Quer dizer, o penúltimo, porque o último foi uma frase de Drummond: "essa ferida, meu bem, às vezes não sara nunca ,às vezes sara amanhã".
Havia gente nas ruas, lojas abertas até tarde, luzes de natal, agitação, e como sempre, casais. Casais de mãos dadas, casais abraçados, casais se beijando, casais por toda a parte. Foi estranho, mas pela primeira vez em muito tempo, não pensei "todo mundo tem alguém para abraçar ,menos eu" ,eu só pensei "ainda bem...Ainda bem que estou sozinha, que estou solteira. Ainda bem que as luzes brilham e logo é natal. Ainda bem que as pessoas riem e ainda bem que me livrei de você".
E quanto a ele, bem...Estive pensando e apesar de ele ter sido grosseiro, me falado aquelas coisas horríveis, eu sentia paz. Sentia paz por ter resolvido nosso impasse, nosso chove não molha, essa angústia que me dilacerava há mais de mês. Por mais que agora doesse, não doía ao ritmo de uma sinfonia de Beethoven, e sim ao ritmo de uma bossa nova e era como se o amor doesse em paz.
Amor é bicho instruído.
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem,
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.
No começo eu tive medo porque a sua ausência doía demais e eu tinha medo que essa dor durasse para sempre. Mas há qualquer coisa de diferente agora; eu sinto uma força absurda na sua ausência, como se eu pudesse ir muito mais longe sem você, como se você fosse um peso morto e eu pudesse ser muito mais feliz sem você. E meu bem, há momentos em que dói tanto, há momentos em que não dói nada...A verdade é que o caminho do amor é repleto de flores e espinhos e não se pode separar um do outro, por isso amar significa sofrer em qualquer idioma.
Por que demorou tanto? Eu estive esperando por você a minha vida inteira! E me perdoe se tenho dificuldade em demonstrar sentimentos, se os demonstro apenas por minha escrita; minha forma de fazer arte. É o meu jeito de amar, amar de um jeito poético, colorindo o mundo e descendo do meu pedestal de orgulho para demonstrar amor quando você menos espera, quando o amor explode e fala por si mesmo, não obedecendo as regras de comportamento e conveniência, coesão e coerência.
Sentimentos não são bolinhas de gude que você pode jogar até enjoar. Exatamente, bolinhas de gude, brinquedo de moleque, seus brinquedos, pois há moleques de 41 e homens de 16. A maturidade está mais relacionada às experiências que você teve do que ao número de aniversários que você celebrou, e sinto lhe dizer mas ninguém te ensinou a ser homem ainda. Deixa eu te dar um conselho então: aprende tá, cresce um pouquinho, porque já está mais do que na hora. Seja homem. Por ela, não por mim, porque a mim você já perdeu...
E doeu, não vou ser hipócrita a ponto de dizer que não doeu, que não sangrou e que não passei o fim de semana afogada em minhas lágrimas. Admito que fiquei por muito tempo me perguntando o que fazer com a ressaca que você deixou no meu coração. E quanto à garota com quem você está, às vezes eu queria odiá-la, sabe, queria odiá-la por estar com você mas eu só sinto pena. Pena porque ela é só outra garota que você vai usar e depois jogar fora. Eu queria odiá-la, mas eu só odeio você.
E querido, talvez a gente nem dure, talvez você cometa o mesmo erro, talvez dure uma semana, um mês, ou talvez dure mais...Talvez seja uma tragédia, mas talvez seja a melhor coisa que poderia acontecer. Talvez é um advérbio de dúvida cruel, mas a verdade é que eu nunca vou saber como poderia ter sido se não tentar.
Eu queria agradecer, amigo. Agradecer por seu apoio, por seu conforto, por sua constante paciência em meus desabafos e confusões, meus dramas e poesias. Obrigada por ouvir minhas confissões e suportar as lágrimas de minha desilusão amorosa e o que se passou depois. Porque há algo depois da desilusão, mas poucos sabem disso, há vida depois de um amor e como já dizia Cher: "Do you belive in life after love?". Bom, eu acredito, porque ela existe, e essa é minha vida, e ela é surpreendente e louca, poética e complexa, obscura e brilhante, cheia de metáforas e sinestesias e ninguém sabe o que virá a seguir.
Ele disse que precisava ir, que tinha um jogo de futebol ou qualquer coisa do tipo e deu um beijo no rosto das garotas presentes. No meu caso, não. Ele pegou minha mão e a beijou. Não sei porque ele fez isso; se foi porque me desprezava para dar um beijo no rosto ou se foi porque eu estava muito longe. Eu nunca vou saber o porquê. O fato é que ele beijou minha mão de forma cortês e saiu. Ele me beijou a mão, se fosse o rosto ou a boca eu não teria ficado tão vulnerável, tão frágil, tão fácil, tão dele...Por um segundo eu fui dele e ele nem percebeu.
Eu elegi quinta- feira como meu dia preferido, mesmo preferindo a sexta, porque era na quinta que eu o via, que ele me cumprimentava e eu correspondia com um sorriso. Passei a amar as terças, porque era nas terças-feiras que ele conversava comigo por longos minutos até o ônibus parar em seu destino e ele me acenar um adeus. Coloquei as quartas-feiras em um altar, porque era nas quartas que ele me beijava, dizia que me amava, me cobria de elogios e promessas me dizendo um "até logo" cheio de segundas intenções. E eu odiava as segundas- feiras, porque era tudo cinza e sem graça sem a presença dele ali, como se nada tivesse importância e perdesse o tom, o sabor, a cor. E agora eu prefiro as segundas porque não preciso vê-lo, porque na segunda o coração não dói, porque não preciso me fingir distraída para não vê-lo quando ele passa, porque na segunda eu consigo respirar aliviada. Porque na segunda-feira, de algum modo, o coração não sangra.
As compras não me animaram, nem o dia, nem a luz do sol. Eu tinha a cara inchada de tanto chorar, a alma seca, e o coração com cade ferida aberta, exposta, e quando a rinite chegou após o meio dia, eu desejei que ela me consumisse por inteiro, acabasse comigo, me matasse.
Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.
Minha alma transbordou de tristeza, de modo que eu não podia pegar na caneta sem sentir no peito uma dor excruciante. Mas se eu não escrever, aí sim que é uma tragédia, que não falo, não existo, estou muda, estou morta. Eu não posso me permitir morrer em palavras, a morte mais trágica para um escritor. Não posso deixar que aquele cara mate essa parte de mim, uma vez que ele já matou minha esperança e enterrou vivo o meu amor. Por isso estou escrevendo de novo, e me perdoe a demora, me perdoe a má caligrafia, me perdoe a dor.