Coleção pessoal de Amontesfnunes

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QUANDO MORTO

Claro que os animais,
com alma ou sem alma
quando morto, suas almas,
não nos assombram...
Nem nunca irão nos assombrar!
Pois vivos, são ininterruptamente,
assombrado por nós.
Nós os assombramo-los
o tempo todo, todo tempo...
Com nossas ações, nosso dividir
e nossas ganâncias para com eles.
Os animais vivos...
Vivem o mártir o flagelo
a prisão sem condenação
noites longas de escuridão
e dias muitos amarelos.
Muitos das vezes
eles vêem a óbito amarrados,
fechados, engaiolados
e tudo isso é claro...
Sem nunca terem sidos, condenados.
Antonio montes

TRUPE DE VENTO

Um trupe de vento passou por aqui
vindo, não sei de onde,
Indo... Sei lá e não sei se esconde
... Sem asas sem bonde,
Sem respeitar saia de moça
nem charuto de conde.
Esse vento, ouriçou placa...
Bandeira, roupa no varal!
Provocou... Carreira em potro,
tombo de bêbado
e voar de pombos.
Levantou pipas da molecada
poeira das estradas e atiçou...
Atiço areia sobre as águas.
Aquele trupe de vento que passou por aqui
.... Vindo não sei de onde...
Fazendo corrupio no cisco,
alegrando, cardumes de piabas dos rios...
Pássaros no estio,
farfalhou as folhas
disparou as hélices eólicas
espatifou o bocado da farinha antes da boca
ouriçou os cabelos da velha louca
e badalou os sinos das igrejas.
Aquele trupe de ventos que passou por aqui...
Passou trazendo águas e nuvens
levando as chuvas
alegrou, melou os olhos
Destampou as rolhas,
farfalhou as folhas...
Aquele vento que passou por aqui,
abrindo porta e fechando janelas...
Serpenteou por todas vielas!
Urrando que nem lobo...
Rangendo que nem dentes
esturrou, como se fosse um leão.
Aquele vento que passou por aqui
chiou venenoso, que nem serpente
desfez, procissões e saravas
jogou cisco na cuia do almoço
no momento de cear...
Despedaçou exame de abelhas
desmanchou rasto de ratos,
destrambelhou, voar de pato
provocou e oscilou as ondas do mar.
O bando de pássaro se foi com ele
voltou por causa dele
as borboletas ficaram alem dele
aquele vento, levou as velas da canoa
e o canoeiro, perdeu o dia de chegar.

Antonio Montes

VALA DE OSSOS

Descobriram n'aquela vala antiga
uma pia de ossos de gente...
E algumas casas de formigas.
Os ossos, todos iguais,
com exceção, da diferença de tamanho
mas na cor, todos brancos e com certeza
... As lagrimas de todos, eram d'água.
Ossos, todos esqueléticos,
sem pele, sem sangue, sem carne
Não dá para saber as cores dos
olhos e da vida dos donos...
De quem vivia em castelo
ou de quem vivia em abandono,
quem era pobre ou rico...
Católico, crente ou descrente
quem nasceu primeiro, ou depois
a única diferença que se dá para notar
é d'aqueles que urinavam no penico.
Aquela vala cheia de ossos de gente
é mesmo aquilo que pode se falar...
Que aqui, somos todos inocente!
Que somos iguais perante a terra
e que todos um dia, irão se acabar.
Antonio Montes

PATO NO CARDÁPIO

O pato esta no cardápio...
No cardápio sem lago sem nado,
sem suas penas sem voar...
E sem o seu espaço no ar.
Esta no cardápio... Cardápio lindo!
Cardápio colorido, com letrinhas
com laço, onde ali, ensina o que há.
O pato esta no cardápio...
Assado grelhado,
temperado com salsa, cebolinha...
Com olho, cebola e açafrão.
O pato esta no cardápio...
Cozido ao molho,
preparado sob folhas de manjericão.
Esta no cardápio... Sob sal, vinagre,
vinho tinto, daquele que nos faz miragem.
O pato, esta no cardápio, ora veja...
Na bandeja, em cima da mesa...
Acompanhado com taças de cervejas.
Antonio Montes

CLÁUSULAS DO PODER

Quem fez, quem não fez...
Quem fez... Quem não fez!
E a demanda segue pelos bastidores
de suas leis, e nesse emaranhado todo,
mesmo quando vão presos, saem em
poucos meses. Nem com foto, nem com
filme, gravação aprova... A prova da prova
dos mandões desviadores do poder, onde
eles próprios, estão mais preocupados
em editar nas leis, cláusulas que lhes safem
dos seus fardos do que arrumar algo bom,
para a população.
A democracia esta ai, toda rendada, as
condenações d'ela é rede p'ra peixe pequeno
e só pega, aqueles que não tem nada, nada
do país. E a grande população dança com
chamego todo vesgo, tanto imposto, tanta
terceirização, os poderosos da democracia
terceirizam até mesmo, a sua profissão
seu cargo, seus embargos e os bam, bam,
bans... Ganham com isso, uma duas três e
muito mais vezes do que deveria de ganhar.
Seus atos ilícitos, seus caminhos farpados...
Seus jogos fictícios, seus falsos mandados...
Tudo para desviar e perseguir os salários dos
assalariados. Quem fez, quem não fez...
Quem fez essas leis, tão áspera aos pobres!
quem fez essas proteções aos desviadores
ricos... Os grandes nobres que pegam de cá
o que não é deles... Para depositar do lado
de lá.
Antonio Montes

ALVORECER

No horizonte distante
morre o sol atrás dos montes,
a terra sucumbe nossos pés...
e o silencio sobressai aos sentimentos.
Vem a noite o rompante
... Surge a lua, triunfante...
O amor, encrua no quarto.
A ganância expande nas ruas...
Dias noites, momentos efêmero
Sol brisa, bolhas...
Sobre a linha do mar atenua,
as velas de um navio, uma canoa
cascatas de ondas, ventos, garoas...
redes, e esteiras de taboas.
Quirela de milho, charque uma boa broa...
Os astros circulam suas linhas
estrelas seguem o rei.
A tarde vem para atender as decepções
dos sonhos, e se deita sob a noite, para
sanar o cansaço mental e físico.
Tudo gira nada para de correr
cada mundo em seu mundo, cada ser...
Todos e tudo cada um, cada você,
Se você tomba, seu mundo para ti,
deixa de alvorecer.
Antonio Montes

COISINHA

Sabe coisinha...
Se não fosse, tantas coisas!
Eu iria comprar uma coisa.
_ Que coisa! Coisa p'ra que?
_ A coisa, p'ra coisá por aí.
_ Por aí... Por onde?
_ Pela estrada pela rua
pela linha de bonde.
Pelo dia e fantasia
pela noite que se zua
na gola na prata da lua
no açoite da gula sua.
Antonio Montes

O SALTO

Gato no muro
n'um pulo...
Saltou do outro lado
mundo gato
gato mundo
pula tudo
pula mudo
da à volta
salta a porta
anda, desanda inventa...
Por quinhentas ventas
por milésimas bandas.
Antonio Montes

SESSENTA

Já fiz sessenta
Agora sou adulto
com formação de velhice e tudo.
É... Cheguei aqui, estou vivo sim!
E tudo que aprendi...
Aprendi com o mundo.
Apanhei de palmatória...
Meu pai, mina mãe, não passavam
a mão sobre a minha cabeça,
e hoje eu agradeço-os, pois com isso...
Aprendi a ser da hora
e não dá cesta.
Penei com meu indulto de vida, mas
aqui, poderei ampliar a maluquice
... Ser velho, é querer ser jovem criança...
Até brinco de esconde-esconde
pena que hoje, a minha
parceira, é a tão esperada saúde.
Aprendi a temer a esperança,
voar na paranóia...
D'aquilo que hoje tornou-se grude.
Recebi um bilhete do presente...
Usando óculos de graus,
e mãos tremulas...
Eu li as cláusulas dos meus apegos...
Minhas manias
meu tempero curto
o silencio p'ro meu pensar...
E o chorar pelo viajar
dos novos defuntos.
O bilhete me chamou de museu
e ainda disse que as coisas...
As minhas coisas!
São misturas, mais que eu.
Ora bolas... Mas que bilhete audacioso!
Eu já fui criança, jovem feliz,
Ao comer, já mordi, pedaço de carne
segurando-o com, as minhas mãos...
Já brinquei de bola de gude,
já tive pião, estilingue, bola peteca
já pulei corda muro amarelinho
já rascunhei o mundo
apenas com um pedaço de giz.
É... Já fui feliz, sim, sim!
Muito feliz.
Antonio Montes

SEM BOTO

Não tinha águas nem mar...
Os tempos, eram outros
por isso, não tinha lenda
muito menos boto, não tinha
boto para o efeito, se consumar.

Tinha o amar... O amor...
O encanto do espírito santo
para uma historia se desdobrar.

E desabrochou... Desabrochou
desdobrando sobre a ingenuidade,
da virgem e quebrou o quebranto...
Quebrou o quebranto, com o
desabrochar do amor, o voou...
Voou em voar como se fosse
pétalas de flor.

Antonio Montes

O MUDO

Aquele mudo, falava muito...
O problema é, que quando desandava a falar,
ninguém entendia nada! Mas via, via a sua agonia,
querendo explicar... Via a sua, articulação e seus
gestos, os quais até parecia um ator de mímica
enfeitando-se em seu emaranhado falar.
Os ouvintes em sua volta, pouco entendiam...
quase ninguém entendia, mas viam a sua
fala, falando. Aquele mudo, era um verdadeiro
tagarela, adorava falar... Falar com sua fala, falar
com sua, voz muda. Quando ele desandava a
falar, desembestava com tudo, até parecia o...
Usain Bolt as carreiras... Ninguém agüentava
mas, gargalhava e aplaudiam. Ele falava com o
tempo, com a rua, com seus sentimentos, falava
do farfalhar do vento do chilrear das aves,
falava da olhada a olho cru, falava d'aquele que
falava, d'aquele que não falava, falava d'aquele
que ouvia e d'aquele que não ouvia, falava da
menina que corria pelas poças d'água, falava do
menino que andava nu... Falava do dia, da noite...
Falava com os pássaros voando, e dos urubus
pretos, pelos céus vagando. Aquele mudo, falava
que falava e falando... Falava da seca, da chuva,
do norte e do sul, da cidade do sertão... Falava e
falava muito! Até ganhou um apelido de mudinho
falador. Aquele mudo, falava com todos e com tudo...
Entendendo ou não, aquele mudo... Falava com Deus!
E todo mundo, do mundo.

Antonio Montes

EXORTAÇÃO DO AMOR

Eu estava no ápice da via, em dispara,
voando as margens das flores...
Lutando pelo primeiro lugar da corrida!
Almejando o primeiro lugar ao pódio.
Ai veio você...
Com sua bandeira maldita!
bandeirou o meu amor
assinalou o meu fim...
Me exortou-me p'ra escanteio.
Parei no meio...
Emperrei na partida,
fiquei seco como lagoa do norte...
Chorei na despedida.
No labirinto, sem prumo, em choque...
Zanzei sem rumo...
Sem tato para felicidade, adoeci.
Sem ti, padeci. Sem ti...
Almejei o sopro da morte.
Antonio Montes

CONVERSANDO

Tudo bem amor?! Tudo bem...
Estou só conversando;
eu não quero arengar com você...
Você é meu mundo!
Eu não poderei ficar sem ti, não posso
ficar, sem você que é o meu jardim...
A pétala, que n'essa vida me faz florir.
Sem ti, meus dias serão longos...
Sem horas sem auroras,
nem cantigas de senhoras.
E quando a noite cair!
Como figura, eu estarei as escuras,
juntando lagrimas de solidão e
nunca mais, poderei sorrir.
Sei, sei... Me calarei se quiser...
Se quiser, me calo! Não falarei, não falo!
Mas te peço, não me expulse de ti...
Sem você, sou oásis sem água,
pantanal sem jacaré, sem ti, fico
zanzando por ai, sozinho a pé!
Sem você.... Estarei por ai, vagando,
vagando... Vagando em sonhos...
As margens de um caminho qualquer.
Antonio Montes

PELAS PATAS DO BOI

O sapo, foi
_ O sapo, não foi...
_ O sapo foi!
Foi aos pulos e aos saltos,
foi ao sapateiro, encomendar sapatos...
Alpargatas de couros, rasteiras e de saltos
para saltos altos e baixo!
Para escorregar na lama,
saltar na poça d'água
e pular pelo asfalto...
Viu o sapo foi,
_ Não foi
_ O sapo foi, foi o sapo....
Disputar aquele campeonato
o sapo é nato, pra correr no saco
ensacado na estopa, quase trapo!
Sapo fraco, na sopa de poça
o sapo gosta... Das margens da roça.
_ O sapo foi?
_ Foi! Foi cantar oi, oi...
foi coaxar na prata da lua
mirabolar os transeuntes das ruas
O sapo foi... Foi, foi, foi!
Foi pular pelas patas do boi.
Antonio Montes

FILA NA SENHA

Já fazia uma cara, da pegada da senha!
E o cara estava de cara, por está na fila
Uma fila que todos estavam de cara, com ela
... De cara, porque a fila, nunca desandava.
Primeiro, por mais de hora ele quarou lá fora,
e para engolir o tempo... Ele começou
a ler os avisos, a frente dele.
Um aviso em particular, chamou atenção
.... E ele caiu em si
... E agora! O aviso tinha sido escrito a
mão e dizia... Não cobramos contas
separadas; obrigada.
Antonio Montes

CONTRA MÃO

Essa trilha concretizada...
pinche, pedra, força motriz,
contem morte n'uma errada
enforca vida por um triz.

Facão e cutelada no ar...
Nessa afiada guilhotina
todo dia, carrega tristeza
dentre sua sina assassina.

Sangue pinta suas margens
norte, sul ao fim do mundo
racional, irracional visagem
em uma fração de segundo.

Ceifadeira de vida e órgão
banco de adeus e lagrima
vacilo intimo, um contra mão
e o preço alto se propaga.

Antonio Montes

INFINITO TINO

No Dia de Finados, afinei as lágrimas
para molhar o chão do passado e andei,
montado nos sentimentos dos meus
cacos encilhados, eu...
Chorei de saudade e viajei no tempo
salpicando o ar dos momentos.

No dia de finados...
Eu vi as flores, arrancadas dos seus braços
largada sob a ira do sol, para satisfazer
o enfado do cansaço...
Vi os jardins chorarem suas felicidades
e os ventos soprarem o sopro oco, dos
seus amores.

No dia de finados... Eu vi a dúvida,
aflorando seus medos, seus credos, e seus
sonhos de horrores... Vi as lambanças
mística, revivendo o ato do seu assassino...
Eu vi o findo, cantando o hino...
No fino infinito do seu tino.

ATROPELOS

Meus Deus, meu Deus!
No cálice de traçada vida
taça, que desalinha os seus
futuro goles sem linha
inebriado os fariseus.

Derramam-se pelos ventos
acima do terra e dos céus...
Sibila fresta dos sentimentos
felicidade é momentos...
Rasgando a pele do véu.

E esses filhos seus...
Essas margens essas retas,
traçadas por reles ateus
vivem tremendo o alerta
dos trilhos da mão de Deus.

D'agora avante...
nas sombras os elefantes
compactuando atropelos
vivem o ontem o desmazelos
amanhã fora de moda
no mundo duro de telos.

Antonio Montes

EU SEM MIM

Outro dia, logo cedo, ao me despertar,
me peguei mirando a aurora da vida...
Acordei, falei qualquer coisa fãnha,
não reconhecendo a minha voz, corri ao
espelho, e me vi... Vi meu olhos vermelhos,
em lagrimas ali. Ali... Não me reconheci!
Assustei-me comigo mesmo...
Assustei-me com, o eu do outro lado.
Aquele eu apresentou-se, distante de mim...
Longe, muito longe dos meus sentimentos!
Aquele eu ali, estava...
Amassado, cansado, enrugado velho...
Para aquele eu ali, o mundo parecia esta
por um fio... Um ébrio na corda bamba
Eu nem me vi ficar assim! Não sei por onde
andei, não tive tempo de prestar atenção
em mim. Agora, sob a sombra desse
crepúsculo... Aqui! As vezes me convenço que,
esse mim, não sou eu, e que esse eu, todavia
carrega saudades de mim. Agora perto do fim....
Procuro o eu, que à muito... Esteve em mim.

Antonio Montes

TENTATIVA

Se você encontrar a minha garrafa por ai
anexo, o meu pedido de socorro...
Venha até há mim!
Venha até há mim, enquanto há tempo!
Enquanto vivo,
enquanto respiro e estou vivo...
Venha pelo sul, pelo norte...
Venha antes da morte!

Se você encontrar uma garrafa por ai
com meus escritos, leia-os,
leia os meus ditos e sinta o que tenho
p'ra lhes dizer...
Você me abandonou, acabou com a
minha água, e destruiu meu verde
e toda vida que eu sonhei p'ra você.

Com os feitos que você me enfeitou...
Estou sem margens sem leitos,
Estou zonzo sem ozônio nem oxigênio,
assim, não serei pleno, não serei pleno,
com o termino do seu amor.

Se você encontrar os meus escritos por ai...
Corra, corra! Corra, não morra...
Volte a zelar-me enquanto é tempo
pois o meu tempo esta se transformando numa zorra.

Antonio Montes