Coleção pessoal de acessorialpoeta

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A ELA

Talvez tudo me pudesse ser
Menos que fosse a mim amor;
Pois aos céus fosse esquecer
Nesse presente a minha dor...

Talvez eu amar jamais você
Poderia a esse meu fulgor;
Como mendigo em merecer
Cem mil estrelas ao esplendor...

Pois tanto que meus versos
São aos ares todos dispersos
Nem são ditos por ninguém...

E sem que amar me poderia
Mesmo que fosse à fantasia;
Que assim eu fosse de alguém.

DENTRE AS CHUVAS DA NOITE
(O retorno d’ Ela)

Tão bela, meu Deus, ela veio me encontrar...
Com sorrisos à face, uma pintura,
Qual uma prenda a me amar
Ela veio ao meu sentir de amargura!

Que aos céus fez-se os anjos tua candura,
E ao mar, a água azul, edenizar...
Tão bela ela veio... — Formosa e pura,
Que dos teus olhos fez-se o amor edificar!

E eleva-se, das noites, meu esplendor...
Os dias me são clarões ao teu amor.
Uma estrela de beleza aos olhos meus...

Ela veio em formosura, sem quer pecados,
Que de afoite ao teu clarão edenizado
Rompeu-me os versos de saudade, meu Deus!

DEPÓS A CHUVA
(A prometida)

Então, depois, que chegaste sorrindo
e bela, quando triste eu já estava,
sorriu... a minh’alma, que enlevada
de sonhos, a noite foi se cumprindo...

Hoje, que me és a luz deslumbrada
e infinda, infindo eu me vejo sentindo
orgulho dos meus olhos, que nada
enxergava de esperança se abrindo...

Certo que de euforia imensa e leve
possa pulsar por teu sangue que tece
o meu imenso coração elevado,

Elevar-te-ei o luar da noite cumprida,
por certo que me foi prometida
para morrermos de amor lado a lado...

ELA FOI UM SONHO!

Ela me mentiu, em passos leves de amor;
A verdade era uma lógica sem saída.
Era tanta paixão! — um desejo sem vida!
Que tanto atormentava o meu fulgor...

Tinha tanto brilho, mas uma luz sem cor;
Ofuscada em sentimentos, e comovida
Ela tinha tantos planos... sem que partida
Viesse sentir ao coração o meu primor!

“Prisioneira dos sonhos... não realizados!”
Tornando-nos espectros condenados,
De amores fúnebres a perecer na solidão...

— Ela se foi, como um conto de saudades!
E os teus anseios loucos de vaidades
Perderam-se nas falsas luzes da ilusão...

IMPROFÍCUO

Ando sobre a luz, sobre minha terra,
Buscando entender os meus sentidos...
Amar! Quantos amores, comovidos
Que a mim se estende e não encerra!

Navego pelos mares... Quanta guerra
Traçam os miseráveis e destemidos
Pela busca d’um poder! Louco-caídos
Não sabem entender o que vos dera!

Dei-os a minha alma cheia de amor,
A minha verdade e o meu coração...
Dei-os a fragrância pura d’uma flor!

Beijei-os a face sob lágrimas e dores,
Absorvendo-os o sal branco e vão...
Mas destes-me o voto vil dos amores!

SONETO VAGO

Porque à noite me abre triste
Num frio intenso sem amor,
E nessa ardência nada existe
E me falta à pele o seu calor...

Porque a lua é sem fulgor
E sem você nada consiste,
Porque em mim tudo persiste
Na luz branca do esplendor...

Porque morrem meus encantos
E intensos são meus prantos
Na noite imensa sem luar...

Porque eu perduro a solidão,
E na dor intensa ao coração
Eu vagueio sem te encontrar...

MURMÚRIO

Ao fim da minha vida, quem sabe
Quando frio estiver e profundo...
Sob a terra bendita deste mundo
Todo o calor do meu corpo acabe!

Vivem a vaguear as almas, em segredo
Sussurram-me as frases belas e frias
No ar gélido das tuas vozes, nos dias
Em que o meu sentimento é o medo!

Vagando ao igual penar nas tuas eras,
Sinto-me um ser dormente à espera
Das noites santificadas em um além...

Quem sabe quando chegar o meu fim,
Quando as rosas caírem sobre mim,
Aos ouvidos eu possa esquentar alguém!

O MEU CONFORTO

Sol poente... noite fria! Cá estou! Sou eu.
Eleva-me à fragrância da flor morta...
Que do dia, me restou a vossa porta
Por voltar à luz bendita que morreu!

Sou do teu conforto de saudade
O teu grito erguido em trevas de infinito...
Prega-me à cruz da insanidade
Que sou de ti a história curta de um mito!

Sou eu! Cá estou! Abra-me seus espaços,
Minha cruz, onde morre a minha dor,
Que já breve volta à luz os meus cansaços...

Noite fria... solidão! Oh, meu amor!
Dá-me o conforto dos teus braços...
A ilusão dos meus instantes de primor...

NAS FORMAS DE TI

Espera-me, ó meu Amor, que vou voltar!
Não vês como anda apagada esta paixão?
Tão cansado já está, o meu coração...
Vou ao além de mim p’ra te encontrar!

Espera-me, ó meu Amor, que vou buscar
A chama deste amor, que não foi em vão!
Mas que nos teus braços foi furação,
A estranha forma d’eu querer te amar!...

Não se tem como apagar uma velha chama,
Pode se abrandar quando é um que ama,
Mas nada pode extinguir o teu esplendor!...

Os teus sentimentos são finos e delicados,
São de afetos divinos, não de pecados...
Aos céus eu irei buscar o teu mesmo Amor!

MAIS QUE TUDO É AMOR

O que és de mim tão cedo pranto
Por vez em grande amor me ergue
A fazer da solidão um acalanto
Na estranha razão que me persegue...

Razão alheia que me é um tanto
No amado coração que me prossegue
Mais que tudo um estranho canto
Que o da paixão que o faz entregue.

Solidão oculta, oh, amor estranho,
Que por vez não sabe o seu tamanho,
Que não sabe o quanto vos me fere.

Um instante ausente e amargurado
Que nas noites mortas é meu pecado,
Na imensurável razão que o profere.

D’UM CÁLICE DE AMOR

O teu amor me fez sorrir
Quando o dia não mais me tinha cor,
Das luzes o clarão me fez abrir,
Das cores tu vieste em esplendor...

Do seu jardim imenso um furor
Fez-me em alegrias explodir,
E qual o bálsamo intenso duma flor
Fez-me em ar aberto o existir...

O teu amor é qual um cerne apurado,
É qual o vinho branco cintilado,
Qual a loucura do sangue atrevido.

Da sua paixão vivencio novamente
O que é do coração tão simplesmente,
Um cálice aberto enternecido.

CONSTANTE

Por tão mais amor que cresce
Em qualquer outro canto,
É que dos meus sonhos falece
Meu coração ao meu pranto...

Por tão mais paixão que a minha
Em qualquer canto encontrar,
É que de amor passarinha
Meu corpo quente em pulsar...

Por tão mais desejo de instante
Em outr’alma prestante
Haver com mais intensa virtude;

É que o meu sentir endoidado
É dom p’ra pagar o pecado
De amar com tão mais plenitude.

FÁBULA

Visto-me com os trapos do amor,
Devassando-me com a louca paixão
Dos amores que ferem sem pudor,
Sem pensar no meu pobre coração...

Eu quis ter um amor que não era meu!
Para que, assim, fosse embora a solidão...
Fantasia d’um doido que, então, morreu,
Como essência esparramada pelo chão!

Mas, eu hei-de ter o afeto verdadeiro,
Terno, doce, meigo, assim sisudo...
Que seja o último, porém, o primeiro!

E conhecer um dia o seu conteúdo,
Lhano, amável, leal, assim inteiro...
Sincero! E que me ame mais que tudo!

CASTIDADE

Fizeste de mim um arrebol bendito,
Do meu amor um feitiço imaculado...
Da minh’alma de crença o pecado
Fez-se de paixão um cerne erudito...

Fizeste de meu corpo teu bem restrito
Abrasado ao perfume de seu andado...
E do meu sentimento, conspirado,
Notou-me em versos teu feito infinito...

O meu espírito se mantém acesso,
Desde outrora ao notado em que nasci,
Desde que eu vivo a desventurar...

Que sol que nasce, em que sol avesso,
Em que casto tempo, em qual vivi,
Em qual vida, amor, vou te encontrar...

UM DIA...

Quando vier até mim à morte, Amor,
Quero-te toda branda no teu viver...
Quando o dia descansar de mim, a dor
Também descansará na luz do teu ser.

Quando vier a tu’alma a eu encontrar
Nos pés de Deus empossado de paz,
Quero-te a mim, por morrer nunca mais
O amor que me deste, num fino altar!

O meu coração é um ermo desastrado
Sob o teu querer doce e imaculado,
Que descansar prometeu entre a gente.

Mas deixa-me ir sem levar-te o pranto,
Sem que anoiteça ao teu acalanto
O amar-término dum viver descontente.

SER AMIGO

Ser amigo é ser verdadeiro,
É ser infante, mas inteiramente,
É entregar a alma por inteiro,
É desvendar o amor independente.

É dividir lealdade e ser o primeiro,
É doar, oferecer-se completamente,
É ser a flecha de um arqueiro,
É almejar o afeto que não mente.

Ser amigo é ser coração,
É amar com alegria e com paixão,
É ser verdade, até mesmo na dor.

Sem um amigo, nada se tem,
Nem mesmo uma causa que faz bem,
Porque ama... Com tanto pudor!

CORAÇÃO

Ao teu pulsar, choram as noites frias,
Ao teu pulsar não há orgias nem pecados,
Ao teu pulsar, amam os falsados,
Zombam... o que sente dor, em euforias

Aos meus acalantos de temor e de agonias...
Na solidão dos fantasmas magoados
Que vagueiam, dentre as horas, desolados
Em minha voz, de cantigas fugidias...

A vida é cinza... e sem luar, e sem primor...
Em cadências rigorosas sem amor...
De pele fria, acalentada e sem paixão
Que vestem os sepulcros do meu corpo

Aos pedaços, desse miserável coração
No compulsar... triste, e zombado, e absorto...

Eis o mal do mundo...

Tudo é uma troca! Por quê?
Sentir sem sentir... dar pra receber!
Não! doar por amor...
Receber, consequências...

ALMA PERFEITA

Se eu pudesse ser
Cada sentir de teus desejos,
O calor que sai de teus beijos,
A emoção que te faz viver...

Se eu pudesse ser
O pulsar de seu coração,
O teu sangue quente, em expansão...
Que a si se faz exceder!

Se eu pudesse ser
A tua magia e o teu encanto,
A paixão, que em ti és tanto,
O afeto, que não te faz perecer!

Se eu pudesse ser
Só em ti, a tua alma pura,
Tão meiga, oh, bela criatura,
Por amor, jamais iria sofrer!

POR TEU PRAZER

Eu queria ser apenas o teu querer,
Queria ser a tua paixão, tão louca...
Quem por um dia se fez perder
Com apenas um beijo de sua boca.

Apenas queria ser de tua voz rouca
Uma causa finita de prazer,
Mesmo que a sentisse tão pouca
Ser-me-ia de esperança em viver...

Queria ser o mar de teus desejos,
O estalado molhado dos teus beijos
E também a boca que vier beijar...

Mas não apenas só ser sentimento,
Também queria ser todo o momento
Da tua louca vontade de amar!