Chico Xavier - sobre Disciplina

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Sobre o monte liso
contra o céu uma só árvore.
Gesto de vitória!

o ruído
de um rato sobre o prato
como resulta frio!

mosquito morto
sobre poemas
asas e penas

Todos aqueles que devem deliberar sobre questões dúbias devem também manter-se imunes ao ódio e à simpatia, à ira e ao sentimentalismo.

Os grandes homens, ao ensinarem os fracos a raciocinar, colocaram-nos sobre a estrada do erro.

O velho salgueiro
Inclinado sobre o lago
Resmunga baixinho.

Sob a árvore
sobre o carro
repousa o joão-de-barro

Meio-dia. O cego
marcha, batendo, batendo
sobre a própria sombra.

À sombra, num banco,
folha cai suave
sobre meu cabelo branco

Partitura alegre:
cai a chuva sobre o charco
no ritmo dos sapos.

Duna cálida
e sobre ela uma
pálida mulher

sobre seu carro rangente
o obus bem alto, sem pressa
passou acima de nós

Vento de primavera:
Sobre uma antena, um pardal
Trina e defeca

Disputa-se sobre tudo neste mundo; argumento irrefragável do nosso pouco saber.

Sombra de remagem
sobre prata do açude,
trêmula de frio.

Sobre a folha verde,
um movimento ondulante:
taturana verde.

Amamo-nos sobre tudo, e aos outros homens por amor de nós.

Neblina sobre o rio,
poeira de água
sobre água.

É possível descobrir mais sobre uma pessoa numa hora de brincadeira do que num ano de conversa.

Richard Lindgard

Nota: Pensamento muitas vezes atribuído, de forma errônea, a Platão. É uma paráfrase do que Richard Lindgard escreveu no seu livro de 1907: Link

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O que é que ele vê nela?

E o que é que ela vê nele? Nossos amigos se interrogam sobre nossas escolhas, e nós fazemos o mesmo em relação às escolhas deles. O que é, caramba, que aquele Fulano tem de especial? E qual será o encanto secreto da Beltrana?

Vou contar o que ela vê nele: ela vê tudo o que não conseguiu ver no próprio pai, ela vê uma serenidade rara e isso é mais importante do que o Porsche que ele não tem, ela vê que ele se emociona com pequenos gestos e se revolta com injustiças, ela vê uma pinta no ombro esquerdo que estranhamente ninguém repara, ela vê que ele faz tudo para que ela fique contente, ela vê que os olhos dele franzem na hora de ler um livro e mesmo assim o teimoso não procura um oftalmologista, ela vê que ele erra, mas quando acerta, acerta em cheio, que ele parece um lorde numa mesa de restaurante mas é desajeitado pra se vestir, ela vê que ele não dá a mínima para comportamentos padrões, ela vê que ele é um sonhador incorrigível, ela o vê chorando, ela o vê nu, ela o vê no que ele tem de invisível para todos os outros.

Agora vou contar o que ele vê nela: ele vê, sim, que o corpo dela não é nem de longe parecido com o da Daniella Cicarelli, mas vê que ela tem uma coxa roliça e uma boca que sorri mais para um lado do que para o outro, e vê que ela, do jeito que é, preenche todas as suas carências do passado, e vê que ela precisa dele e isso o faz sentir importante, e vê que ela até hoje não aprendeu a fazer um rabo-de-cavalo decente, mas faz um cafuné que deveria ser patenteado, e vê que ela boceja só de pensar na palavra bocejo e que faz parecer que é sempre primavera, de tanto que gosta de flores em casa, e ele vê que ela é tão insegura quanto ele e é humana como todos, vê que ela é livre e poderia estar com qualquer outra pessoa, mas é ao seu lado que está, e vê que ela se preocupa quando ele chega tarde e não se preocupa se ele não diz que a ama de 10 em 10 minutos, e por isso ele a ama mesmo que ninguém entenda.

Martha Medeiros
Crônica "O que é que ele vê nela?", 2003

Nota: Texto originalmente publicado na coluna de Martha Medeiros, no website Almas Gêmeas, a 5 de Maio de 2003.

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