Cético
Todo verdadeiro poeta é cético
contudo, levam a vida a falar
de metafisica, de almas
e de coisas semelhantes
são sobremodo adoradores
da beleza e do amor
Naquele homem cético, moderado e taciturno, havia uma paixão verdadeira, exclusiva e ardente: era a filha. Camargo adorava Eugênia: era sua religião. Concentrava esforços e pensamentos em fazê-la feliz, e para o alcançar não duvidaria empregar, se necessário fosse, a violência, a perfídia e a dissimulação. Nem antes nem depois sentira igual sentimento; não amou a mulher; casou porque o matrimônio é uma condição de gravidade. O maior amigo que teve foi o Conselheiro Vale; mas essa mesma amizade que o ligara ao pai de Estácio, nunca recebera a contraprova do sacrifício; aliás apareceria em toda a sinceridade a natureza do médico. Ele só conhecia os afetos, por assim dizer, caseiros e inertes, os que não sabem nem podem afrontar as intempéries da vida. Nas relações morais dos homens possuía somente o troco miúdo da polidez; a moeda de ouro dos grandes afetos nunca lhe entrara nas arcas do coração. Um só existia ali: o amor de Eugênia.
O louco é aquele desnorteado das ideias.
O cético é aquele lastimoso incrédulo do mundo.
O sensato é aquele que evita tudo, evita até ser feliz.
Podemos viver sem normativas...
Apenas viver...
TROMBA D´ÁGUA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Um olhar assustado
rompe o céu; mesmo cético,
faz uma prece.
Cai muita chuva; parece
que Deus tomou diurético.
FANATISMOS
Demétrio Sena - Magé
Um ateu, agnóstico ou cético fanático (que impõe sua linha de raciocínio ao outro, geralmente aos gritos - porque todo argumento fanático é frágil) não é melhor do que um religioso de qualquer segmento, igualmente fanático. Ambos os lados são falastrões e repressores. Um obriga os seus a não acreditar em nada na direção oposta e o outro a acreditar em tudo na sua "cartilha" ou direção, sem nenhum questionamento; nenhum raciocínio independente acerca do que lhe é apresentado.
Sou o tipo de ateu que não determinou a não existência de Deus. Não acredito no Deus (ou nos deuses) que as religiões me apresentam, mas não arrogo saber nem provar o contrário. Não tenho tese definitiva, corporativa nem isolada. Não transformei meu ateísmo em um segmento e não frequento grupos de ateus. Minha não fé no sobrenatural é de cunho particular e intransferível. Jamais preguei. Conheço ateus que, se conseguissem, entrariam nos ônibus, por exemplo, para pregar aos gritos o ateísmo, com ofensas a quem não é ateu. Exatamente como fazem os evangélicos mais ostentadores, que se impõem com gritos e ofensas a quem não é evangélico.
Questões de fé e não fé não estão assentadas sobre provas absolutas e palpáveis. São baseadas em teses, bem fundamentadas ou não, porém teses, ou na aceitação pessoal plena do que não vê, mas crê. E crê que sente, pautado por escrituras supostamente sagradas com as quais se emociona, mediante pregações ou esplanações especializadas em tocar nas feridas... nos pontos fracos... nas emoções à flor da pele, que fragilizam profundamente a alma. De ambos os lados, não há como rotular alguém de imbecil. Ninguém prova em sã consciência, com a frieza natural de quem domina o saber, que Deus existe ou não.
Quando critico o fanatismo religioso, não é a religião. É o fanatismo. E faço isso nos meus espaços legítimos de fala (meus livros, meus perfis em redes socias, meu blog), para que só leia quem se habilite a entrar nesses espaços. Quem convive comigo no dia a dia familiar, no trabalho e outros ambientes de convivência física não sofre nenhuma crítica minha; nenhuma ofensa ou forma de repressão, retaliação, ironia, indireta... seja o que for. Nesses meios coletivos, domésticos ou não, trato a todos com o respeito que exijo.
Em meu núcleo familiar, existe uma diversidade maravilhosa: Sou ateu, minha esposa é católica, minha filha mais velha pende para o espiritismo, mas, quando criança, foi batizada na igreja católica, por decisão de minha esposa. Na sua adolescência, quis fazer crisma e a levei a todos os processos. Minha filha mais nova, também quando criança, quis frequentar igreja evangélica e, da mesma forma, quem a levava era eu. Sem crise.
Hoje, cada filha segue o que deseja. Ambas não mais frequentam grupos religiosos. Não "se converteram" ao meu ateísmo, mas têm algumas visões parecidas com as minhas, mesmo eu nunca tendo "catequizado" nenhuma delas. Repressão não combina com opinião formada e tranquilidade sobre a visão pessoal de tudo. Imposição no grito é insegurança. Não creio no Natal, mas minha casa é enfeitada na ocasião, por esposa e filhas. Elas são indivíduos. Têm seus direitos individuais.
... ... ...
Respeite autorias. É lei
O Cético
Cético que era,
carregava nas mãos a secura da descrença,
como quem segura um punhado de areia
que o vento teima em dispersar.
Cético que era, criou um deus afônico
para preencher seus silêncios
e atribuiu a ele todo o ruído.
Cético que era, sabia que o que floresce na certeza é sempre pedra,
e pedras, imóveis, não geram nada.
Cético que era, afirmava que a certeza era um campo estéril,
onde os dias passavam sem jamais brotar.
Cético que era, dizia que as dúvidas tinham raízes,
capazes de atravessar a pele das palavras
e germinar árvores frutíferas.
Cético que era, escreveu uma bíblia para ter no que acreditar,
mas a descrença, astuta,
plantou em seus bolsos sementes de inquietação.
Cético que era, reconheceu que caminhava entre sombras,
mas carregava possibilidades de luz.
Cético que era, sabia que só o incerto conhece caminhos.
Cético que era, encontrou na dúvida
o verdadeiro sopro da criação:
um gesto pequeno,
capaz de iluminar e reflorestar o mundo.
Cético que era, entendeu que o milagre mora no instante
em que o incerto se torna possibilidade
e o simples, eterno.
Cético que era, nunca guardou gentilezas ou atos de bondade para o porvir;
gastou tudo o que tinha de bom aqui.
Ser educador é ser cético, diante dos dogmas, é ser crente na sua práxis e principalmente, ser humilde para reconhecer quando erra para recomeçar e flexível para enxergar a necessidade de mudar o que planejou, tendo como foco o aprendizado do seu educando
Viver um amor ebuliente em um mundo cético,
E correr contra forças opostas e correntezas ferozes.
A era dos centimentos ecléticos.
Talvez pensamentos entresilhado?
Pessoas com crises existencialistas, adeptas de um universo sem bases concretas com rompimentos do bom senso e agarrados em suas próprias teorias.
aertonl@yahoo.com.br
Todos devem ter o dever moral de serem céticos, política e religião são os meios mais utilizados para manipulação social.
Relativismo é um problema nos dias atuais e, mesmo que os céticos, pragmáticos e sofistas, adotem-no como meio de acionarem um ponto de vista epistemológico que acreditam ser ideal, seria ideal para quem?
Hoje me peguei pensando... pensando na vida, o que vivi, no que deixei de viver. No que aconteceu, no que deixou de acontecer. Começa a fluir um sentimento singelo, sereno, terno... lembro dos momentos, dos bons momentos. Dos incríveis momentos que eu vivi, principalmente dos que eu não vivi. Lembro-me do que aconteceu e, lembro amargamente do que não deixei acontecer.
Hoje me peguei pensando... o quão intrépido fui com esses momentos. O quão incrédulo fui com os sentimentos vindouros que não se realizaram. O quão cético fui com os momentos que deixei passar. Algumas lembranças batem na minha porta. Outras esmurram. Tento olhar entre as persianas que escondem o meu rosto o que está a me incomodar ou a me presentear. Olhei de mansinho como quem não quer nada. Pude ver algumas coisas...
Hoje me peguei pensando... fiquei pensando sobre o que eu pude ver através das persianas. Sorri. Dei um sorriso amarelo com o canto da boca. Mas, na verdade, o coração estava transbordando. O coração estava caindo em gargalhadas. Quão tolo ele foi outrora – pensou. Este coração malévolo, traiçoeiro.
Hoje me peguei pensando... fiquei imaginando que, por um momento, eu poderia viver o passado no meu presente e, que, este presente poderia ser eterno. Diria que te desejo, que te quero por perto enquanto a eternidade for o presente. Ah! este presente... é tão ente. Só de pensar em reviver um momento que era pra ter acontecido... é como se fosse um encontro com o passado, um encontro com aquilo que não aconteceu.
Hoje eu me peguei pensando... o pensamento foi a mil. E, ao mesmo tempo, voltou a estaca zero. Logo pensei: no zero, que é o nada, existe algo, e esse algo, sou eu, somos nós, que somos nada. Um nada que se tornou tudo, um tudo que se formou do nada. Acho que pensei demais, creio eu...
"A grande maioria só "aceita", imaturos como crianças pequenas. Questionar não deve ser opcional. Questionar deve ser mais habitual que respirar, esse é o caminho para diminuir a escuridão em nós, porque o cosmos jaz em luz."