Cerrado
PASSANDO ...
Sulca-me as frontes já rugas encanecidas
Olhar embaçado eu vejo o velho cerrado
Torto, “pedregado”, arbusto tão delgado
No tempo vou em velocidades incontidas
Cabelos brancos, vá, não seja tão abusado
O meu espanto, quanto as tuas investidas
Tão fugaz, minhas queixas enfraquecidas:
Lamentos, surpresa, pavor, sem resultado
Tive antipatia, tive inocência, e repulsa
Com a estranheza furiosa da mudança:
No espelho a figura avelhantada pulsa
E, atendo ao inevitável, já, só lembrança
Passou, vai passando, e a história incursa
Ao passado, a temporada de ser criança...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Abril de 2021, 12’45” - Araguari, MG
O ipê florado no cerrado
Orvalhado, é um aparato
Um alvorecer encantado...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
Abril - Cerrado goiano
CERRADO E EU
Céu, vastidão e ventos, encanto dispersos
Pequizeiros, buritis, campinas verdejantes
Sertão de cascalhos, fontes borbulhantes
Lenhosos grossos, galhos tortos diversos
Fascínio e graça. Místicos antros imersos
Gramínea, ipês floridos, relvas rastejantes
Abundante é a fauna, cristais coruscantes
E vós, cerrado, que velais os meus versos
Cá estou tomado, e então te faço saber:
Saudade eu senti, e não posso esconder
O tal sofrer que na saudade é sem fim...
Cá estou, e suplico, ao extenso horizonte
As cachoeiras, o entardecer no desponte,
Que te conte: - sempre estiveste em mim!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
06 de maio, 2021, 09’22” – Araguari, MG
REPICAR
E os sinos dobram com melancolia
Na tarde do cerrado, triste sensação
E outras tristezas, aquela contrição
Hórrido vão que o pôr do sol esfia
O aperto na alma, a sombria poesia
Vazia, sem qualquer uma inspiração
Ao canto do entardecer, fria canção
Brandindo solitária emoção gentia
Dobram, e dobram. Saudade e prece
Funéreo sentir que nem mesmo sei
Donde vem, e pra onde então finda
E eles choram a sofrência que tece
As mágoas que na desilusão eu hei
Dando ao repicar mais tritura ainda!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Maio, 13, 2021, 20’09” – Araguari, MG
REPOUSAR DO CERRADO
Em redor do cerrado brinca o encantado
Alegre, vário, lindo, folgazão, divertido
Aguardando o ir do sol no céu abrasado
No entardecer, no horizonte escondido
No cenário rubro, do belo arrebanhado
Murmura o fascínio poesias ao ouvido
Prosando o sentimento tão acalentado
Em um mistério, sem qualquer ruído...
Obriga então o planalto altivo e airoso
A desfazer-se em penumbra caprichosa
Pra as estrelas surgirem em convulsões
E no cerrado o fulgor esvai melancólico
Escorrendo na imensidão tão anabólico
Em sensação, também, cheio de ilusões
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
20 maio, 2021, 06'10" – Araguari, MG
MADUREIRA
Minha Madureira, além cerrado, lamento
Tê-la deixado, no passado, saudade havia
Em cada ideia, indo mais longe a cada dia
Silêncio, falta do agito, penoso detrimento
Para ti, então, voltar não mais alimento
Nem nos sonhos, nem na ávida fantasia
Certo de contar é envelhecer na agonia
Que há de trovar memória e sofrimento
De toda a dor, pudera eu em ti caminhar
Olhar, estar e sentir o movimento, enfim
Esperar é navegar na ilusão, eu bem sei
Porque por não te ver é que vivo a poetar
E nem a poesia é um conforto para mim
Pois, por tuas ruas, julgo, não mais andarei...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
21 maio, 2021, 15'15" – Araguari, MG
CERRADO, da sua maneira
O belo dentro do cerrado perfumado
Canta o vento andante, canta, alheio
Entre tortos galhos, lá, bem no meio
Do sertão duro, ressequido e areado
E de encanto teus arbustos é armado
Gorjeia a vida, pulsa, do vário cheio
De uma imensidão o planalto adveio
É diversidade no cenário cascalhado
Da mesma beleza a variação do prado
Floresce o ipê, quaresmeira e lobeira
Desenhando as fronteiras do cerrado
Chove, seca, trovoa, a brenha inteira
É o agreste no seu santo apostolado
Encantado, imenso, da sua maneira...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
2021 maio, 24, 05'55" – Araguari, MG
SONETO AO INVERNO
Inverno, do cerrado, mirradas manhãs
Em brumas, frias, enfadas e maçantes
Sentimento turvo tal o som de tantãs
Oposição certa ao ardor dos amantes
És com melancolia, arriadas em divãs
Da prostração. Os dias dessemelhantes
Desbotadas as florescências temporãs
Poética fria, suspiros e duros instantes
E rufla o chuvisco pelo chão imaculado
Tremulando a terra, sensação solitária
Faz-te fundar, ó invernada do cerrado!
E no horizonte, a imaginação tão vária
E, no pensamento a saudade cortante
Sussurrando ao vento, o amor distante...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
30/maio/2021, 09’58” – Araguari, MG
Sensação térmica (calor no cerrado)
O cerrado está com palpitação ardente
Enquanto o sol avança com seu calor
Embalado na sede que arde na gente
Trazendo o desânimo com árido rigor
Sem nuvem o sertão é abafadamente
Fundando na mente acalorado rubor
Inflamando o horizonte, vorazmente
Dando a cada canto calmoso fulgor
Sensação térmica com cálida oratória
Dá piedade, dá alívio, nesta trajetória
Dá refrigério, conforto, harmonização
Porque chegamos no limite, no limiar
Ah calor! Fervente, tenha compaixão!
Porque és suor no verso a transpirar.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
17 março, 2024, 13’37” – Araguari, MG
ARTE RUPESTRE, O CERRADO
Essa tua diversidade, e encanto
Nos tortuosos tons da natureza
Ecoando no sertão com o canto
Das seriemas, ó quanta riqueza
Em ásperos traços, um recanto
Risca o planalto com a beleza
Do ipê, num ímpar sacrossanto
Causando uma ilustre surpresa
Tortos galhos, bravio trançado
Dos cipós, e o céu, afogueado
Tão soberano, tão misterioso
Em cada rasto, arbusto caloso
Crosta grossa de suco viscoso
Numa arte rupestre, o cerrado.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
30 março, 2024, 20’32” – Araguari, MG
VOZ DA TARDE NO CERRADO
Entardecer, a voz da tarde que murmura
No cerrado. Canta a juriti teu canto triste
Sussurra o vento, e o pôr do sol em riste
Fechando o dia, num rubor que se figura
A luz vai e a noite se fazendo tão escura
Na vastidão torpe o pio da coruja insiste
Corta o sossego do poente que partiste
Ficando o silêncio atroador em candura
É o lusco-fusco, crepúsculo e melancolia
Tecendo o ocaso no horizonte de poesia
E o anoitecer com aquele tom encantado
Ó vibração cheia de ruido, de sensação
Coaxa o sapo, o curiango em exaltação
É a voz da tarde no cerrado, em brado!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
07 abril, 2024, 18’05” – Araguari, MG
SÓ LEMBRANÇA
Oh! Cerrado! O tempo passa e insiste
tuas várzeas feridas, no ataque, tanto
e o teu sofrimento se mistura o pranto
de irreflexão. Quanto sentimento triste
A sedução no teu seduzir ainda existe
que teima na vida em morte, vil manto
deste desencanto, num sofrente canto
que murmura, que agoniza, e assiste
Agora, cerrado, é tablado de matança
de quem te lança, feri e além avança
em busca de mudança, árduo rosário
O teu fascínio és calvário, és cenário
de extermínio, tantos... tantos, vário
deixando para atração, só lembrança.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
08 abril, 2024, 20’36” – Araguari, MG
SEMELHANTE
O cerrado, místico, denso e feiticeiro
Sinuoso, diversidade um repleto veio
Espinhento, áspero, e singular cheiro
De magia vai deixando o poetar cheio
Se a secura envolve o agreste roteiro
Embora seja, a chuva também é meio
Pancadas, carregadas, vento violeiro
Que canta nos buritis, vergado esteio:
Então, ora acinzentado, ora matizado
Teimoso e fagueiro, pincela o cerrado
Tudo converte, a quantidade aprouver
É semelhante ao cerrado o meu fado
Ora descorado, ora tinto, vou variado
E neste tom, irei onde mansidão tiver!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
15 abril, 2024, 12’20” – Araguari, MG
CERRADO EM FLOR
Como é poético sentir a primavera
Quando de flor recama o cerrado
O matizado tinge, o aroma impera
Boa-nova, vida, sertão demudado
Tudo encanta, canta e reverbera
O céu com o um azul ensolarado
O escurecer estrelado, em espera
O eclodir em graça, ali desenhado
A primavera no cerrado, anuncia
Inspiração num verso perfumado
Ornado de alegria, e tenra poesia
Então floresce o fascínio, ao lado
Do amor, da beleza, tudo é magia
Afinal, é a primavera no cerrado!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
18 abril, 2024, 06’32” – Araguari, MG
PAINEIRA (cerejeira do cerrado)
A paineira da beira da estrada, florida
Com flores incontidas, belas, rosadas
Está mesma “barriguda”, desmedida
“cerejeira do cerrado”, tão iluminadas
No poetar meu, de vós, inteira, é vida
A poesia com suas rimas aveludadas
Quem sabe até da sedução prometida
Ao Outono, e na fascinação estacadas
Está, que me assombra e maravilha
De pétalas rosas e miolo amarelado
Bailando suave, e ao vento rosquilha
E tua pluma branca no fruto moldado
Pelo ar, voa, entoa, e pelo chão trilha
Em um espetáculo da poética ornado.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
28 abril, 2024, 20’22” – Araguari, MG
“Fog” no cerrado
A neblina guarda
a fria madrugada
e o cerrado se enfarda
em candura delicada
Ela vem de tão distante
sobre os galhos tortos
vibrante,
pensamentos absortos
e vai adiante...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
29 maio de 2024, 04’50” – Araguari, MG
AO POENTE (no cerrado)
Talvez por seres, ao olhar, encanto
dum belo cadenciado, ao dia findo
caindo, ó poete! És esplendor tanto
enchendo a alma de vínculo infindo
Trazendo o tom de um rubro canto
onde o enturvar no horizonte avindo
cerra o cerrado, corando o recanto
eu te sinto, pulsante, suave e lindo
Conduzes a cena, em uma prece
a eterna beleza, ao som do clarim
do ocaso, onde nunca se esquece
a magia. Vibra a sedução, enfim!
a emoção toma conta e apetece
num pleno fascínio dentro de mim.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
06 junho 2024, 18’07” – Araguari, MG
ALEGÓRICO CERRADO MEU
Alegórico cerrado meu, quão diverso
te cantei e canto, és cântico desigual
místico te vejo a ti, encantado visual
teu chão acre, seco, em te perverso
A ti eleva-te o fascínio, todo o verso
a quem te devotar, num ato visceral
e graça, te trova já, riqueza tropical
no teu controverso e incontroverso
Já que na sedução és-te comparte
seja deleite, ó dissonante quimera
que fôreis em tudo díspar encarte
Mas, de ti, a demudada primavera
rica, e bela, e tu tornarás baluarte
e assim, notar que o vário impera.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
31 julho 2024, 14’15” – Araguari, MG
PÔS-SE O SOL
Pôs-se o sol. Cá pras bandas do cerrado
da tarde o fulgor pouco a pouco esvaece
o encarnado entardecer, geme em prece
desmaiado o poente, num tom desafiado
E no horizonte, o luar obscuro reaparece
encapotado, embaciado. E desmantelado
o dia, tudo em silêncio está. Sombreado
rubro, taciturno, o escurecer resplandece
E no mistério das trevas, poético recanto
sinfonizando em uma melancólica sangria
faz-se noite, que vai cantando o seu canto
E ainda, ter toda a magia, faz-se a poesia
enchendo o sentimento de tanto encanto
assim, vem a noite, e amanhã é outro dia!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
04/09/2024, 18’46” – cerrado goiano
PELO CERRADO POETANDO
Pelo cerrado poetando vai contente
o poeta seguindo o verso encantado
e canta com o coração, tão ajustado
ao alegre tom de um versar ardente
Aquele, cântico alegre, docemente
no intenso som de um apaixonado
este, para contentar qualquer fado
com o canto que encanta e sente
Está poesia, também, é de alegria
qual o poeta, canta com tal doçura
prosando prazer cheio de alquimia
Assim, de amor na emoção pura
com canto mostro toda a euforia
por amando sufocar a amargura.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
12/09/2024, 10’54” – cerrado goiano
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