Cerrado

Cerca de 4503 frases e pensamentos: Cerrado

⁠ESPAÇO (soneto)

Tragando a vastidão do cerrado profundo
A solidão num canto, a saudade devassa
Saudade do afeto que no peito arregaça
E que vagueia na dor, lamentoso mundo
E na esteira sem fim da tristura sem graça
Ei-la embalada na sofreguidão de moribundo
Recostado no abismo sepulcral sem fundo
Do pesar, e encruado suspiro que não passa

Poeto. Me elevo em busca de um conforto
Vou pelo estro de encontro a outro porto
Pra aurorear a sensação com cheiro de flor
E nesta emoção que se tornou um lastro
No vazio. Cheio de pranto no árduo rastro
Cato a poesia para abrir espaço pro amor...

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
19/07/2020, 15’10” - Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

⁠SERTÃO CERRADO (soneto)

Este amarronzado árido de se ver
Que o cerrado tem no seu cerro
Nos dá sensação de mais querer
No espaço variado, sem encerro
No sertão, a vida, deixa se correr
Em uma magia, num desemperro
Sem pressa, o que tem de suceder
Será. Perder o tom é um fatal erro

Nessa lentidão mirrada, o incrível
Tudo assim, chapadão disponível
Juntado... mais isto, mais aquilo...
A cada canto o encanto acridoce
Tudo é muito como se nada fosse
E tão magnificente em seu estilo.

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
22 julho, 2025, 14’44” – Araguari, MG

Inserida por LucianoSpagnol

⁠DIA DE FRIO NO CERRADO (soneto)

A manhã de nevoa branca e fria
num úmido dia, e tão invernado
em maio nas bandas do cerrado
embrulhado pela geada ventania
Ruflante folha, em triste romaria
e a garoa, em um tom enxarcado
num bale, do inverno anunciado:
faz frio, frio que frio no frio viria

Arfa no peito este frio ardente
achega no cobertor cavaleiro
é frio que sente, e mais sente
Vergado, olhar gelado, cordeiro
ó dia de frio no cerrado, gente
escasso ao sertanejo costumeiro!

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
29 maio, 2025, 169’29” – Araguari, MG
Frente fria

Inserida por LucianoSpagnol

⁠CÂNTICO ÁRIDO NO CERRADO (soneto)

Já não mais os agridoces cheiros
Vindos dos ventos dos silvados
Não ressoam cânticos brejeiros
Que concebiam versos alados
Onde estão os frescores cordeiros
Cheios de sessamentos afiados
Pelos dias amenos e tão inteiros
Cá no cerrado, tão pavonados?

Secura, aridez, rolando ao léu
Onde foste azul, cinza é o céu
E, que hoje vimos mais e mais
Tem poeira no horizonte, urge
No fim da vereda a sede surge
- Estia o chão e os mananciais!

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
17/06/2025, 10’39” – Araguari, MG

Inserida por LucianoSpagnol

MEUS VERSOS (soneto)

Meus versos, assobio do vento no cerrado
A alma melancólica devaneando na rima
O sentimento escorrendo de sua enzima
Do grito do peito do sonho estrangulado
Mimo das mãos no verbo que a alma lima
Ternura na agonia, voz, o lábio denodado
Galrando sensações num papel deslavado
Que há no silêncio do fado em sua estima

Os versos meus, são o olhar em um brado
O gesto grifado no vazio sem pantomima
Vagido da solidão parindo revés entalado
Meus versos, da alacridade me aproxima
Me anima, da coragem de haver poetado
Ter e ser amado, o telhado, riso e lágrima.

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Abril de 2017 - cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

⁠TOCAIA (soneto III)

E o entardecer que suavemente emoldura
O cerrado, onde repousa o sublime poente
Turvará ele, assim, cessante, resplandecente
Num suntuoso final do dia, cheio de textura
Pois o tempo findando arrasta o olhar da gente
Em um encantamento, com uma doce ternura
Revelando formosura, feita, nesta entalhadura
Do anoitecer, que até a sensação pulsa e sente

Então, da luminosidade do sol pouco restou
Absorvida pela escuridão da noite, passou
E, agora, o sombreado se fazendo tão certo
Sem deixar resquício nem fulgor, esvaeceu
Cá no sertão o continuado obscurecer e eu
Concernente, de tocaia, com fascínio inserto.

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
26 junho, 2025, 19’27” – Araguari, MG

Inserida por LucianoSpagnol

⁠SONETO À GOIÁS

Saudação cerrado! Bom dia alvorecer!
Ouço o vento árido numa brisa quente
Que vem do planalto numa só vertente
Circunvalando os galhos num retorcer

Ipês amarelando o chão, ali cadente
Que divinal, a arte do desigual a ser
Numa beleza que o diverso é prover
Dum céu apinhado de estrela luzente

Boa noite! Pôr do sol da cor do açafrão
Da caliandra que enfeita todo o sertão
Onde a gente vai do cinzento ao lilás

Águas cascalhadas, de som e canção
Timbrando o capim santo em exalação
Numa superfície, num só lugar: Goiás!

© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
Agosto de 2016 - Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

⁠SETEMBRO

Do pôr do sol neste horizonte rubente
Eu perco-me, é tarde cálida no cerrado
O pensamento ao vento e tão passado
Numa contemplação remota e ausente

A sensação se encole, e o vazio espora
Ergue ao longe uma solidão perturbada
E da saudade se ouve uma voz chorada
Sussurrando ao ouvido agrura que cora

Num segundo o céu tornou-se agreste
E as minhas sofreguidões tão sozinhas
Se espalhando por todo canto celeste

Setembro. Sua rima nas prosas minhas
É! ... falam de amor, como se me deste
De novo a flor, que pro amor avinhas...

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
2021, setembro, 11, 18’27” – Araguari, MG

Inserida por LucianoSpagnol

⁠SUCUPIRA

Florir no cerrado ou no ressecado recanto
Ou mesmo em chão cascalhado, de feitio
Sedutor, nobre no sertão, dum lilás manto
Que se destaca dentre outras. Bela e sutil

Quando desabrocha ao olhar, um espanto
Entre a profusão mil, e as passifloras mil
Ela, singela, que nascida é pra o encanto
Adorna as planícies do planalto do Brasil

É de vê-la ímpar, de tal graça, ao vento
Tocando a alma, dum magnetismo total
Sucupira, árvore cheia de encantamento

E, de vê-la arroxeada copa tão colossal
Que aviva cada canto do árido cinzento
Aprazia, sacia, numa poética sem igual...

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
12/09/2021, 19’41” – Araguari, MG

Inserida por LucianoSpagnol

⁠PASSANDO 2

Escrevo diante do cerrado pálido
É setembro, há pó nas venezianas
No pensamento, rubras filigranas
Orlando o sol no horizonte cálido

Na sensação, uma dor doidivanas
De melancolia, que tem hora certa
Misturando tons, emoção e oferta
Desenhando as ilusões cotidianas

Desponta ao longe aquela saudade
Que me faz esquecer do que fazer
Do que pensar. Da minha vontade

Vago inquieto, e vou devaneando
A poesia vazia, sem sabor, prazer
E nos minutos o destino passando

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
21 setembro, 2021 - 09’00” – Araguari, MG

Inserida por LucianoSpagnol

⁠RENOVA

Caliandra, chuveirinho, pequi, lobeira
Florindo no cerrado pós a chuvarada
Maravilhando a renova por inteira
Do sertão pro verão tão camarada

E as águas cantam pela cumeeira
E as flores encantam na alvorada
Embalando a primavera Brasileira
Numa variação mística e encantada

Ao ritmo do rebento faz belo agora
Onde a sequidão vai nos longes fora
Longe da aridez, do vigor ausente

Os tons de esverdeado forte e pleno
Cobrindo o planalto, agora sereno
No ciclo vital de vida contundente

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
11/12/ 2020, 10’13” – Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

⁠APENAS UM SUSPIRO

Na hora melancólica da luz poente
No cerrado, no ocaso do fim do dia
A voz de um desalento impaciente
Na sensação, um engano repetia

Na lembrança o lembrar ausente
Na dor, uma agonia que asfixia
O aperto em um tom crescente
Avivando o sentimento que jazia

E no entardecer o olhar morria
Nos perdemos de nós dois, fria
A saudade, no silêncio a cicatriz

Depois, sei lá depois, tudo calado
Vazio, sem vontade de ser amado
Pois, era apenas um suspiro, infeliz!

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
12/12/ 2020, 08’59” – Araguari, MG

Inserida por LucianoSpagnol

⁠O JATOBÁ DA PRAÇA

Rasgando o azul do cerrado
Copa densa, beleza colossal
Reina entre todas, encantado
O jatobá, é sombra, é casual

Afinal, o seu porte escultural
É vida, cor, sabor imaculado
Gosto exótico, fruto espiritual
Tem dinamismo, e é arrojado

Há mistério na sua ramagem
Juras de amantes, tatuagem
Entalhadas no tronco, ao léu

Ó jatobá! donairoso, de valia
Mergulha o sol por sua ramaria
Em pique esconde com o céu.

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
15/12/ 2020 – Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

⁠INSATISFEITO

Cerrado, vivo tão só, na solidão
Aflige o peito, o peito em pranto
Distante ide o tempo, o encanto
Preso na tristura e na desilusão

Tão longe ando de ti, ó emoção
De ter-te no fado meu, no canto
Da prosa, amando tanto e tanto
Multiplicando, assim, a sensação

Ando calado, e inquieta a poesia
Desses desejos de mim ausente
Pelejo com o silêncio de cor fria

E nada me diz, nem o sol poente
Tudo é cinza e apagada a fantasia
Se sente querer, a força não sente.

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
22/12/2020, 17’54” – Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

⁠Ela É beleza e exprime o olhar cerrado...
Medo - Estado emocional resultante da consciência de perigo ou de ameaça, reais ou imaginários.
Eu Sou e exprimo a existência...
Amor - sentimento que induz a aproximar, a proteger ou a conservar a pessoa pela qual se sente ligação afectiva.
Medo Amor?
"Quem não vê bem uma palavra, não pode ver bem uma alma"
- Fernando Pessoa

Inserida por cawednes

⁠CERRADO E EU

Céu, vastidão e ventos, encanto dispersos
Pequizeiros, buritis, campinas verdejantes
Sertão de cascalhos, fontes borbulhantes
Lenhosos grossos, galhos tortos diversos

Fascínio e graça. Místicos antros imersos
Gramínea, ipês floridos, relvas rastejantes
Abundante é a fauna, cristais coruscantes
E vós, cerrado, que velais os meus versos

Cá estou tomado, e então te faço saber:
Saudade eu senti, e não posso esconder
O tal sofrer que na saudade é sem fim...

Cá estou, e suplico, ao extenso horizonte
As cachoeiras, o entardecer no desponte,
Que te conte: - sempre estiveste em mim!

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
06 de maio, 2021, 09’22” – Araguari, MG

Inserida por LucianoSpagnol

⁠REPICAR

E os sinos dobram com melancolia
Na tarde do cerrado, triste sensação
E outras tristezas, aquela contrição
Hórrido vão que o pôr do sol esfia

O aperto na alma, a sombria poesia
Vazia, sem qualquer uma inspiração
Ao canto do entardecer, fria canção
Brandindo solitária emoção gentia

Dobram, e dobram. Saudade e prece
Funéreo sentir que nem mesmo sei
Donde vem, e pra onde então finda

E eles choram a sofrência que tece
As mágoas que na desilusão eu hei
Dando ao repicar mais tritura ainda!

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Maio, 13, 2021, 20’09” – Araguari, MG

Inserida por LucianoSpagnol

⁠REPOUSAR DO CERRADO

Em redor do cerrado brinca o encantado
Alegre, vário, lindo, folgazão, divertido
Aguardando o ir do sol no céu abrasado
No entardecer, no horizonte escondido

No cenário rubro, do belo arrebanhado
Murmura o fascínio poesias ao ouvido
Prosando o sentimento tão acalentado
Em um mistério, sem qualquer ruído...

Obriga então o planalto altivo e airoso
A desfazer-se em penumbra caprichosa
Pra as estrelas surgirem em convulsões

E no cerrado o fulgor esvai melancólico
Escorrendo na imensidão tão anabólico
Em sensação, também, cheio de ilusões

© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
20 maio, 2021, 06'10" – Araguari, MG

Inserida por LucianoSpagnol

⁠MADUREIRA

Minha Madureira, além cerrado, lamento
Tê-la deixado, no passado, saudade havia
Em cada ideia, indo mais longe a cada dia
Silêncio, falta do agito, penoso detrimento

Para ti, então, voltar não mais alimento
Nem nos sonhos, nem na ávida fantasia
Certo de contar é envelhecer na agonia
Que há de trovar memória e sofrimento

De toda a dor, pudera eu em ti caminhar
Olhar, estar e sentir o movimento, enfim
Esperar é navegar na ilusão, eu bem sei

Porque por não te ver é que vivo a poetar
E nem a poesia é um conforto para mim
Pois, por tuas ruas, julgo, não mais andarei...

© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
21 maio, 2021, 15'15" – Araguari, MG

Inserida por LucianoSpagnol

⁠CERRADO, da sua maneira

O belo dentro do cerrado perfumado
Canta o vento andante, canta, alheio
Entre tortos galhos, lá, bem no meio
Do sertão duro, ressequido e areado

E de encanto teus arbustos é armado
Gorjeia a vida, pulsa, do vário cheio
De uma imensidão o planalto adveio
É diversidade no cenário cascalhado

Da mesma beleza a variação do prado
Floresce o ipê, quaresmeira e lobeira
Desenhando as fronteiras do cerrado

Chove, seca, trovoa, a brenha inteira
É o agreste no seu santo apostolado
Encantado, imenso, da sua maneira...

© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
2021 maio, 24, 05'55" – Araguari, MG

Inserida por LucianoSpagnol