Cartas sobre a Felicidade Epicuro
SOBRE O CRISTO VENCIDO NA SAPUCAÍ
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Não acho que o desfile da Escola de Samba Gaviões da Fiel tenha tentado afirmar que Jesus Cristo foi ou será vencido definitivamente pelo Satanás. O contexto é uma eterna guerra entre o bem (representado pela figura de Jesus Cristo) e o mal (representado pela figura do satanás), na qual muitas batalhas são vencidas pelo mal. O mesmo desfile mostra, lá no finzinho - mas quem ficou assombrado fez xixi na calça e não conseguiu vê-lo inteiro -, que o bem finalmente vence o mal. Em suma, Jesus Cristo vence o satanás, pois é imortal, segundo a Bíblia que fala de sua ressurreição e do fato de que Jesus é O Próprio Deus Feito homem, justo para morrer e ressuscitar, como ato definitivo da vitória do bem.
É também um alerta: vivemos tempos de muita intolerância, no Brasil. De muito preconceito e uma raiva imensa dos próprios cristãos contra o próximo que não os obedece ou não segue seus passos, tintim por tintim. Especialmente no contexto equivocado e lamentável desta fase na qual políticos que se autointitulam cristãos podem tudo, com o apoio incondicional da maioria do povo, que os pôs no poder. Para tanto, basta exibirem o rótulo de cristãos, mesmo se contradizendo em atos e palavras terríveis que ostentam a cada dia. Esses políticos, regidos pelo seu líder maior, o presidente da república, têm como soldados fiéis, dispostos a matar e morrer por eles, nada menos do que sessenta ou mais milhões de brasileiros. É assustador.
Neste contexto, é que o mal está vencendo o bem. Pelo menos temporariamente. O amor ao próximo seja ele quem for... a graça... o livre arbítrio... as virtudes que fazem acolher o outro sem perguntar qual é sua crença, ideologia, orientação, escolha pessoal... tudo isso acabou entre nós, por determinação política instigadora do espírito de vingança, soberba, segregação, racismo e todas as demais fobias contra o próximo não ajustado às rédeas de um grupo que arroga deter as verdades da vida e da morte.
Nem falo do mundo. Falo do Brasil. Este país que se fechou pra nova mentalidade necessária perante as mudanças da humanidade. Mudanças sociais. Nada a ver com o mundo espiritual, que não é regido pela sociedade política; econômica; tocável, como se prega. É orientado pela fé e as divindades possíveis, nas quais não creio, mas respeito quem crê. Por ora, o mal vence o bem, como aquele Demônio da sapucaí venceu temporariamente o Cristo (ou o Santo Antão, como alguns disseram, e vale a pena ler sobre tal santo). Espero sinceramente que os cristãos - notadamente os evangélicos - acordem a tempo de não sacrificarem mais ainda o bem, que perde muitas batalhas para o mal.
SOBRE O CASO DA PONTE RIO - NITERÓI
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Já dei até opiniões contraditórias neste caso. No fundo, está difícil de avaliar sem nenhum risco de ser injusto, o desfecho do sequestro do ônibus na Ponte Rio - Niterói, nesta fatídica terça-feira 20 de agosto.
Houve sim, uma operação policial inteligente, calma, criteriosa e profissional. Com relação à morte do sequestrador, o que posso dizer é que se foi de fato necessária; se o rapaz ainda oferecia perigo aos passageiros e o motorista, realmente a prioridade eram as vítimas do momento. Se ele já não oferecia perigo, foi execução. Não defesa dos 39 cidadãos que, neste caso, já não eram reféns.
Sou sempre a favor da justiça. Da vingança, não. Da defesa da própria vida e do cidadão de bem. Não da execução. Execução, nem de criminoso. "Criminoso bom" é criminoso preso, para ter a chance de se ressocializar, como a lei prevê. A redenção é o princípio legal da lei humana, e o princípio bíblico também é esse, para o "pecador". Não sou religioso, mas as minhas referências à bíblia são sinceras, porque o Novo Testamento me toca e tenho grande admiração por Jesus Cristo, embora não o tenha como guia espiritual. Como líder sobrenatural. Tenho sim, um olhar humano e social da Bíblia.
Portanto, justiça sim. Execução não. Defesa sim. Jamais vingança. Se o tiro no sequestrador ainda era necessário, aplaudo. Se não era, estou entre os críticos do ato. Matá-lo não por necessidade, mas "para ele aprender a não fazer mais isso" é desumano. Se é que foi assim. Realmente não tenho olhar técnico a contento para determinar sobre isso. Apenas avaliar na base do se...
Voltando à Bíblia, nestas horas me pergunto se Cristo hoje não seria apedrejado junto com Maria Madalena, naquele episódio do "Aquele que não tem pecado atire a primeira pedra"... ou o que fariam quando ele dissesse ao ladrão na cruz: "Ainda hoje estarás comigo no paraiso". Será que não gritariam: "Maldito Jesus defensor dos direitos humanos!"? Não há como ninguém saber.
Uma certeza eu tenho: Festejar pública e claramente a morte de um jovem, como o governador fez, é desumano. Os sequestrados, mesmo, não fizeram essa festa. Só tiveram alívio. Em um todo, não é realmente uma questão festiva.
Esta é a minha segunda postagem de hoje. Não gosto de parecer que moro no Facebook. Mas precisava tirar um tempo neste início de noite, para me manifestar. Estava em meu coração. Tinha que sair.
Ninguém me confunda por minhas postagens, com um cidadão justo. Tenho minhas raivas, impropérios e grandes equívocos como ser humano que sou, mas o que mais me assusta hoje na humanidade são a frieza, a truculência e a hipocrisia. Em especial, dos que dizem seguir princípios cristãos.
Uma boa noite a quem puder.
MINITRATADO SOBRE A INVEJA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Os seres humanos têm inveja.Todos têm. Nisso não há exceção. Não é somente o outro. Você e eu também temos, por mais que ninguém ouse admitir algo tão aviltante, mal visto, pequeno e constrangedor.
Mas o bem lidar com a inveja que às vezes pulsa em nós, está em não fazermos dela uma arma de autodestruição, que tem origem na tentativa exposta ou sonsa de possível destruição do nosso alvo.
Não há inveja boa... mas a boa destinação do sentimento incômodo. Isso ocorre quando não a usamos contra, mas em favor de quem invejamos por um momento, para não invejarmos pela vida inteira; o que seria uma tragédia íntima.
Cresceremos de fato como pessoas de bem, quando reagirmos a cada “invejada” nossa. Quando reconhecermos que também invejamos e que não somos tão invejados quanto pretendemos parecer.
Cresçamos com as nossas invejas, admirando aberta e sinceramente o admirável. Agregando valores e reconhecimento a quem desperta essa vilania em nós... também aceitando ser modestos coadjuvantes na história do outro, quando for o caso.
Se eu sinto inveja, é porque o meu alvo tem conteúdo e merece o meu melhor. Tê-la não é ser invejoso. Ser invejoso é alimentar a própria inveja e me dedicar à vingança do sucesso ou do destaque alheio.
Vale a pena repetir que também devemos ter cuidado com o quanto julgamos que nos invejam. Pode ser que o nosso convencimento ou megalomania seja uma inveja enrustida de pessoas que gostaríamos de ser.
UM NOVO OLHAR PESSOAL SOBRE A BÍBLIA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Faz tempo que li a Bíblia. Do Gênesis ao Apocalipse. O Novo Testamento, em separado, li algumas vezes. Não sou um profano inconsequente. Sei por que a Bíblia não é para mim um parâmetro de vida. Mas tem sabedorias que me tocam e vejo em Jesus Cristo um ser humano especial, cujos ensinamentos vale a pena observar.
Entretanto, não decorei a Bíblia. Nem a li com o objetivo de arrotar aos quatro ventos: "Está escrito no livro tal, versículo tal... Este ou aquele livro diz isto e aquilo naquele ou outro capitulo"... A Bíblia não é para recitais. Não é proibido recitá-la, mas esse não é o objetivo real nem central de seu manuseio.
Voltando a ler alguns textos bíblicos, retorno aos dez mandamentos e aos pecados capitais com um novo olhar sobre toda a Bíblia. Pecebo que ela não é toda composta de ordens ou mandamentos. Tem conselhos, avisos, observações, opiniões, registros históricos e literatura. Nem tudo nesse livro é para salvar ou condenar a humanidade. Ainda que fosse cristão, acredito que neste momento meu olhar seria o mesmo, se eu me permitisse tirar conclusões próprias. Sem a intervenção e o crivo do meu líder denominacional.
A Biblia só tem dez mandamentos. Definitivos. Não tem milhares. E só tem sete pecados que podem, efetivamente, condenar o ser humano. No Velho Testamento Deus dá as cartas, com dureza, vingança e castigo. No Novo Testamento Cristo propõe com amor, leveza e liberdade. A graça que substitui a velha lei, que não deu certo, por isso a substituição.
Foi dessa forma que vi o quanto a Bíblia continua sendo usada como arma, peso e aguilhão... como as atuais religiões cristãs estão atadas à crueldade, às guerras, às pragas e ao temperamento divino incontrolável, tirano e destruidor.
E pasmemos: o que ficou do Velho Testamento, que é essencial para o bem viver, as religiões relutam em aceitar. Sabem por quê? Porque dizem respeito à felicidade; ao bem do próximo. Os dez mandamentos não incluem preconceitos; não mandam segregar, oprimir, julgar, subjugar, destruir. Dizem para não matar; não roubar; não cobiçar o que é do próximo; honrar pai e mãe; amar... tudo pelo próximo; sem cobranças.
E os pecados capitais? Desde a gula, passando pela soberba e outros cinco, todos prejudicam o outro e só por isto são condenáveis. Com a Mão-de-ferro do Velho Testamento ou a graça do Novo, a Bíblia Mostra - desde o Êxodo - um Deus muito mais Preocupado com o homem do que com a Própria Grandeza e as escolhas humanas de foro íntimo, quando não causam danos ao outro.
TRATADOS DE AMOR, CARÁTER, GRAÇA E LEI
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SOBRE CONVERSÃO NÃO RELIGIOSA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Ninguém se torna uma pessoa melhor quando se converte a uma crença, fé ou religião. Nem é pessoa pior enquanto não se converte. Nossa essência nos segue aonde vamos e o caráter de muitos é que se arquiva por temor do possível Deus, do inferno, e pelo interesse no céu que acende as mais acirradas ambições humanas. Os eventuais e sinceros arrependimentos, dramas de consciência e mudanças de comportamento ocorrem não pela conversão religiosa. Isso mora na índole dessas pessoas que se corrigiriam dentro ou fora de um grupo, mas por questões culturais nos habituamos a vincular um evento ao outro, seguindo as orientações massificadas ao nosso redor, desde o berço.
O arquivo do caráter mediante a fôrma (fôrma, mesmo) da conversão pode ou não ser mantido, a depender do quanto as propagandas dos dois extremos do além continuem convincentes para o indivíduo. Esse temor do possível Deus e do inferno; essa perspectiva ou ambição das ruas de ouro e cristal, dos muros de puro jaspe, as mansões celestiais e a glamorosa aposentadoria espiritual tende a ser bom para a sociedade só enquanto há medo e o suposto convertido cujo mau caráter se arquivou não se julga intimo, "assim com Deus" e, portanto, merecedor da impunidade pela hipocrisia de fazer o contrário do que prega, geralmente visando vantagens pessoais.
Tudo estritamente nos moldes da velha hipocrisia política e social neste plano, gerada pela pressa de conquistar aqui mesmo as vantagens e o poder que, segundo as falácias denominacionais, hão de se perpetuar no tal de céu. Acredito no ser humano e na sua capacidade pessoal, intransferível, de resgatar o melhor de si, quando esse melhor é viável, mediante o despertar da consciência e do amor, sem nenhuma interferência sobrenatural. Esse mérito já é do ser humano que se permite mudar na vida presente. Também acredito no mau caráter que não muda. Só se adéqua e se mascara enquanto, quando e onde lhe convém.
ACIMA DA LEI
Demétrio Sena, Magé - RJ.
O amor é o principio da justiça espontânea; não institucionalizada nem gerida pelo peso da culpa. Quando falha o princípio do amor, exatamente por ele não se forçar, a ética substitui o que deveria ser intuitivo, brotar livre do íntimo, pelo que vem da racionalidade; a consciência e a civilização. Isso é a ética; é o poder de nos incomodarmos com a ideia de sermos injustos, inconvenientes, maus, desonestos, abusivos, deseducados e desiguais para o semelhante.
Pela ótica da ética, nenhum ser humano é inferior ao outro. A nós. Ninguém tem o direito de oprimir, segregar, constranger, ostentar superioridade, julgar, subjugar e suprimir os arbítrios de foro intima. Não se há de admitir uma hierarquia humana entre semelhantes, nem a exacerbação das hierarquias trabalhistas, classistas, religiosas e de outras naturezas sociais.
Da falha do amor e a não incidência da ética, veio a lei como recurso derradeiro de organização social. Ela se vale de ameaças institucionais que deveriam se cumprir, por agentes instituídos via poder público. Em suma, só existe a lei porque a graça, provisão do amor, foi rejeitada e a consciência humana não foi suficiente para suprir o vácuo do amor, pela ética. E o mais assustador é que nem a instituição do medo, pela ideia de aplicação da lei, mostrou eficiência para conter os atos perniciosos da sociedade.
Nem a lei. Nem a tirania. Nem o terrorismo das religiões, pela figura lendária do diabo e as ameaças do inferno. Nada poderá conter o ser humano, porque o diabo é piada para nosso poder destruidor... os efeitos de nossas maldades. O inferno criado para outro plano é sofisma, face ao inferno que já instituímos na terra, com nosso desamor.
O amor está sobre todos os atributos capazes de salvar o mundo. Entretanto, ele nunca obriga. Deixa que a própria natureza humana encontre seu caminho. Serão necessárias muitas outras gerações, à base de muito sofrimento, não por lei, mas por consequências naturais, para que a humanidade, já cansada, reate com o amor e construa o próprio paraíso, que não será em outro plano. Esconde-se aqui mesmo, sob nossos pés enlameados.
Diz o livro de cabeceira dos cristãos, que pelo visto, cujo conteúdo ainda não foi absorvido, que só o espírito santo pode quebrantar e convencer o coração humano. É concebível para mim, pela minha profunda concepção além dos livros e das liturgias, de que o espírito santo é simplesmente a fachada ou o nome fantasia do amor.
SOB A REGÊNCIA DO AMOR
Demétrio Sena, Magé – RJ.
A Bíblia, que não é o meu livro de crença e regra, diz que Deus é amor. Minha visão do possível Deus tem suas reservas, mas do amor, este não. Nenhuma reserva, porque vejo nesta virtude a solução para os grandes problemas da humanidade. O amor extinguiria todos os sentimentos que geram guerra, fome, abandono, medo, raiva, opressão e desigualdade social. Sem todos esses resultados da falta de amor, nenhum país tentaria subjugar o outro; todos os países seriam bem governados, e seus povos, felizes.
Amor gera solidariedade, união, respeito, aceitação e acolhimento. Pessoas governam. E quando pessoas que governam se reconhecem pessoas, seres humanos iguais a todos os outros, a sociedade progride sem tragédias. Amor é sinônimo de sucesso coletivo; crescimento social; pessoa, família e nação bem sucedidas. É também o caminho, a verdade, a vida, e ninguém vai a lugar nenhum se não for por ele, o legítimo salvador da humanidade. Talvez não seja O Criador Direto e Mantenedor de tudo; que ninguém sabe quem foi, senão pelo sentimento intuitivo, inexplicável da fé... mas com certeza, é o legado insubstituível do poder de gerir o mundo, se o mantivermos em nós.
Pela minha ótica; pálida, insuficiente ótica, Deus não é amor; Deus é o amor, no sentido de o amor é Deus... em suma, não me refiro à Pessoa de Deus, mas ao substantivo abstrato que traz em si os atributos do que se convencionou como O Criador. Se na máxima ‘Deus é amor’ um é sujeito e, outro, predicado, eu diria que o amor é o sujeito; Deus, o predicado do amor. Ou se um é substantivo, e adjetivo o outro, afirmo que o Amor, agora também com ‘A’ maiúsculo, é o substantivo próprio. Deus é a qualidade do Amor.
SOBRE NÃO SER SHOW
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Hoje leio de tudo, porque leio mesmo;
sei entrar e sair, tenho crítica própria,
não a esmo e conforme os conceitos formais
que me façam pensar o que pensem pra mim...
Vejo tudo e decido se devo seguir;
só aplaudo se o faço pelas minhas mãos;
os meus sins e meus nãos, por que não meus talvezes,
têm origem nas próprias escritas de mundo...
Abro mão da leitura, retiro audiência
quando minha ciência, tão somente a minha,
não encontra contexto, sentido e prazer...
Porque nada esvazia quem já é pensante;
nada põe a perder quem um dia se achou
e quem sou não há show que precise forjar...
SOBRE EU TE AMO
Demétrio Sena - Magé
Vou dizer que te amo ao me achar nesse texto
que minh'alma redige na sombra do tempo,
no contexto sereno das minhas palavras
ancoradas no cais de um querer consumado...
Eu só digo eu te amo depois de curtir
o que sinto em azeite, cebola e vinagre,
pois preciso sentir que o que sinto é maduro
pra saltar num abismo e nem olhar pra frente...
Meu afeto é profundo e se deixa fluir
e florir na miragem dos frutos vindouros,
nos quais tenho esperança e dispenso a certeza...
Quando menos achares que chegou a hora
ou a minha demora fizer duvidar,
vou te amar como agora e dizer eu te amo...
SOBRE A BÍBLIA E O SER HUMANO
Demétrio Sena - Magé
Jesus Cristo veio ao mundo, porque o Destempero do Pai, ao expulsar do reino superior o seu anjo mais querido e talentoso, só piorou as coisas. E por toda a eternidade... porque o perdão e a segunda chance teriam sido a salvação de tudo, além do exemplo divino para todos os sermões que tratam de virtudes.
Ele veio, porque Deus não aprendeu Consigo mesmo e voltou a ser Destemperado e Truculento em muitas outras ocasiões. Quis ensinar a humanidade com violência... enviando pragas... ordenando guerras... destruindo povos... enviando assassinos ungidos que mostravam no fio da espada, como Ele era Terrivel... Fogo Consumidor... Implacável com filhos ou criaturas desobedientes e como suas desgraças alcançavam gerações e gerações dos que O desobedeciam.
O filho veio, porque O Pai só metia Os Pés pelas Mãos... exigia sacrifícios e sacrifícios, dos lideres de sua criação mais primorosa... provas e mais provas de amor que destruíam por dentro, os escolhidos mais sensíveis... tecia plano sobre plano, de uma salvação muito cara... pesada... impossivel mesmo, para os limites de uma humanidade já inteiramente contaminada pela fúria do anjo expulso e vingativo, que se sentiu injustiçado... sem direito à defesa... e sem O Perdão Divino, sobre o qual sempre ouviu, tanto no reino superior quanto do reino que lhe foi imposto depois.
Sim, Cristo veio, porque Deus não parava de fazer burradas e chegou a destruir quase toda a humanidade com um dilúvio que foi também um fiasco. Sempre Raivoso e Vingativo, talvez estivesse prestes a pôr em prática um plano que acabaria, de uma vez por todas, com o menor indício do ser humano. Mas o Pai repensou... evoluiu... finalmente cedeu À Própria Consciência e recorreu ao filho, como prova do Seu Grande Amor pela humanidade, que vinha sendo exposto ou declarado de formas extremamente brutas, equivocadas e sem nenhum resultado.
Não há críticas ao Pai, e sim, o reconhecimento de que Deus teve que ser Muito Deus, para recorrer ao filho e pedir ajuda... para não ter que destruir a criação "menina dos Seus Olhos" nem perpetuar uma condução sangrenta, mutiladora e bélica, da humanidade. O Pai decidiu ser Pai Amado e não Temido... para tanto, abriu Mão do amor humano obrigatório e deu liberdade aos filhos/criaturas para decidirem seus caminhos, conscientes dos preços naturais da escolha entre o bem e o mal, convertida em atos.
O filho sabia que O Pai sabia que a humanidade já estava (está ) contaminada pela expulsão "do anjo", e que a solução era parcial. Sabia (e sabe) que uma parcela imensa da humanidade já se tornou muito raivosa e intolerante... nem um pouco disposta a ser humilde o suficiente para perdoar Deus e aceitar o Seu Plano de rendição à paz e ao amor como os únicos dispositivos capazes da salvação global.
Agora, O Pai sabe que não há melhor plano e se compraz com as mulheres e os homens que aderem com sinceridade. É Cônscio das muitas distorções gananciosas e ávidas de poder das lideranças religiosas que usam seu Nome com má fé e manipulação... dos messias e deusezinhos que O substituem nos corações dos falsos fiéis tomados pelo sentimento de ódio, vingança, julgamento e condenação gratuitos do próximo em nome do fanatismo, a prepotência e a luta insana pelo comando e o protagonismo ilusórios.
Quem me conhece e sabe que a Biblia não é meu livro de regra e fé, por outro lado sabe da imensa admiração que tenho pela figura de Jesus Cristo como grande personagem da história universal. Um grande homem, cujos ensinamentos poderiam, sim, salvar a humanidade pela simples prática diária, se não estivessem mesclados à pratica, interesses escusos, vaidades, busca de poder pessoal... mentiras... hipocrisia.
Nestes escritos, meus olhos adentram olhos que leem a Biblia como reforço e manutenção da religiosidade, para propor um olhar crítico sobre o entendimento comum. Segundo ela, Deus repensou seus atos por amor à humanidade, que não se dispõe a fazer o mesmo, por amor a si própria.
É o que penso, e no que posso estar errado... e como posso! Minha opinião é somente minha opinião... não sou nem pretendo ser o dono da verdade... apenas alguém que se propõe e propor.
SOBRE O SER HUMANO
Demétrio Sena - Magé
Tenho a pretensão de achar que sou um conhecedor do ser humano. Posso estar enganado, mas acho que achar me faz bem. É providencial; me blinda contra muitos espantos, frustrações, expectativas e até rancores. Se não é crime ou ato nojento, vil, profundamente anti-etico, tudo no ser humano é compreensível; perfeitamente passível de relevar a curto, médio e longo prazos.
Foi assim que mantive amizades preciosas com pessoas que aprontaram feio comigo, até mais de uma vez. Pessoas essas, que pouco tempo depois me surpreenderiam com gestos lindos e demonstrações naturais seguidas, de honestidade; sensibilidade; bom caráter. Compensaram em larga escala o meu convívio com elas, de formas enriquecedoras não para meu bolso nem meu ego, mas para o meu senso de humanidade.
Relevei mentiras. Injustiças. Arroubos agressivos... distorções, calotes financeiros, intrigas, palavras e compromissos não cumpridos e outras falhas de quem a minha intuição fez preservar. Não tornar inimigo. Não condenar como criminoso nem vilão em alguma escala. Simplesmente olhar como ser humano igual a mim, que também tenho minha carteira de erros. Muitos erros. Alguns graves.
TUDO É SOBRE O SER HUMANO
Demétrio Sena - Magé
Toda reflexão escrita (e publicada) é sobre você e eu, de alguma forma, porque tudo é sobre o ser humano. Até quando se usa o recurso do abstrato, do sobrenatural, da generalização e da licença poética. Já li muitos textos que mexeram comigo, me deixaram incomodado e só a custo me convenci de que não que foram escritos especialmente para mim, porque lá não estavam meu nome, o endereço, um segredo meu, uma vivência única ou específica nem qualquer descrição pessoal minha, mesmo quando os autores eram do meu rol de convivência.
Somos flagrados por um texto e outro, porque somos humanos, temos feridas onde cabem certos dedos e, sendo assim, ninguém precisa nos retratar para chamar à reflexão, ao sentimento e ao repensamento sobre nós próprios, talvez movidos por alguma coincidência de cunho generalizado. A menos que sejam declaradamente sobre, ou nominais, literaturas não atiram em alvos singulares... e muitas vezes falam dos próprios autores, ainda que o façam na terceira pessoa. Eu mesmo, falo de muitas mazelas minhas e depois percebo que o fiz como se apontasse o dedo na direção de outros.
Quem escreve e publica textos cuja fonte principal de inspiração é o ser humano com as suas virtudes e mazelas, vive na linha tênue entre surpreender pelo encanto e magoar pessoas que ele nem imagina. Algumas próximas, que reagem como se autuadas em flagrante... outras distantes, que se perguntam como certos textos as encontraram; como quem escreveu as adivinhou. Constato no espelho de minha trajetória, que ser um "escrevedor" às vezes é uma dádiva; outras vezes um incômodo; muitas outras um infortúnio.
SOBRE OS OUTROS
Demétrio Sena - Magé
Venho trocando meu carinho por educação. Carregamentos de amizade por alguma simpatia. Meu afeto por boa vontade. Isso me causa esvaziamento, é prejuízo profundo e demanda grandes esforços de quem ocupo dessas abordagens. Tenho que aprender a desonerar os outros.... a livrar as pessoas de mim.
SOBRE METADES INTEIRAS
Demétrio Sena - Magé
"Ter individualidade" ou "fazer o que eu quero" é ilegítimo", se há alguém ao meu lado e o excesso do meu eu a torna infeliz. Prometi (com ou sem cerimônia religiosa) amar e tornar feliz essa pessoa, "até que a morte nos separe". Se o amor morreu, já nos separou, e se foi em mim essa morte, preciso enterrar a vida que já não faz sentido e livrar minha companhia dos meus arroubos... ou se ainda existe amor, ajustar a convivência para a individualidade sem abandono... fazer o que eu quero sem "mostrar quem é quem"... ser livre sem trair ou deixar parecer que traio, por possível vaidade machista.
Sou indivíduo, mesmo na vida conjugal, e não quero ser levado na rédea curta. Mas a reivindicação não pode cometer excessos que diminuam quem vive comigo. Tenho direito às amizades só minhas e meu cônjuge também; ao trabalho que me realize. Aos perfis em redes sociais e senhas só minhas. Mas nada pode ser usado para humilhação, abandono, traição (...). É fácil cobrar confiança à minha individualidade... mas preciso não fazer dela o salvo conduto para não ter escrúpulos. Nem tornar "cabeludos" os segredos aos quais tenho direito; até porque, um dia vêm à tona.
Respeito é troca. Liberdade é troca. Confiança também. Posso abrir mão da vida conjugal para "viver minha vida" e posso viver minha vida sem deixar de viver a nossa. É só alcançar a troca de respeito, liberdade, confiança e direitos individuais. A sociedade, mesmo democrática, tem leis que punem o mau uso da democracia. Vida a dois é sociedade dentro da sociedade. Também tem leis, mesmo com regime democrático. Há outra pessoa e meus direitos não podem massacrar os seus, por excesso; má fé. Sou livre para não ter vida a dois, mas a decisão tem que ser inteira, para não oprimir a outra metade. Consensualidade é valor inestimável.
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#respeiteautorias É lei
ESSES "VELHOS"
Demétrio Sena - Magé
Às vezes penso em alertar os mais jovens sobre a grande soberba que marcou minha juventude, para que seus anos tardios não tenham buracos iguais aos meus... tantas perdas irrecuperáveis... tanta sensação de que tudo podia ter sido diferente.
Mas o meu desejo ainda é soberbo e mostra que não aprendi tanto quanto penso. Cada um tem seu tempo, sua história, seu processo de maturidade... sua forma de absorver aprendizados. Também tive "mais velhos" que tentaram me alertar sobre minha soberba, tão em vão quanto hoje tento fazer, da mesma forma, em vão.
Esses "mais velhos"... pobres "mais velhos" como eu... ah, se eles soubessem o que não podem fazer, como pensam que podem (com licença, Gil), por "esses moços... pobres moços" e suas releituras das nossas trajetórias!
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#respeiteautorias É lei
SOBRE LÁ
Demétrio Sena - Magé
"Lá" é um horizonte. Nunca chegamos ao horizonte, por mais que pareçamos ter "chegado lá". O horizonte está sempre além... no horizonte. Sendo assim, qualquer pessoa pode voltar de onde ainda não chegou... e se não teve humildade no trajeto já percorrido, vai se deparar com aquelas pessoas às quais diminuiu, apartou e que, talvez, estejam mais fortes, agora... mais estruturadas e com mais bagagem do que as "lebres" que as ultrapassaram e fizeram chacota, expressamente ou em silêncio. A sorte quase certa, é que essas pessoas mais... longânimas, são menos... rancorosas.
Em todas as artes, letras, ofícios e, na vida cotidiana, muitas cadeiras dançam... muitas posições se alternam... a realidade mostra que nem tudo é questão de mérito; algo pode ser fenômeno reversível. Algumas vezes a vida corrige suas injustiças, por força do Ministério Público do universo. Há muitos talentos injustiçados e muitas fraudes do destino a nosso favor, mesmo que nós, pessoalmente, não tenhamos agido com fraude ou má fé... porém, se fomos frios e soberbos, um eventual recuo na trajetória pode ser bem desconcertante, ainda que, sem rancores à volta.
O "lá" e o "cá" têm uma parceria permanente. Toda ida pode ser definitiva. Como também pode não ser. Precisamos estar naturalmente preparados para que uma eventual queda não se agrave como consequência da nossa eventual construção conturbada, egoísta, excessivamente vaidosa ou questionável, a depender dos produtos e/ou dos seres humanos que fomos, nas construções... corporativas ou pessoais.
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#respeiteautorias É lei
PECADO
Demétrio Sena - Magé
Sou pra quem o pecado é sobre os outros;
é pecado se alguém ao meu redor
sentir dor, sofrer dano e tiver medo,
for castrado e tangido por meus atos...
Ou também oprimir, não der saída,
tiver peso de algema e de aguilhão,
um arpão que não deixe alguém voar
com a vida sem rédea e sentinela...
O pecado evolui, se torna crime,
se meu ato é tirano, impõe assombros,
põe escombros nas costas doutro alguém...
Destilar preconceito e julgamento;
ser eterno instrumento inquisitório;
há um grave pecado em quem é santo...
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#respeiteautorias É lei
SOBRE RISCO SOCIAL
Demétrio Sena - Magé
Bom mesmo, é ser alguém respeitado em situações improváveis. Ou ser levado a sério em contextos que ninguém seria. Merecer, como não seria concebível no cotidiano, bons olhares e admirações sinceras. Ter a confiança de quem normalmente não confiaria, pelas livres exposições desse alguém; de quem ele é, sem qualquer camuflagem.
Secularmente, um ser humano precisa de muitos vernizes. Camadas incontáveis de massa corrida, casca ou lona sobre corpo e alma, para ter o respeito, a confiança e os espíritos desarmados em derredor. É algo inexplicável, quando alguém acerta em cheio ao escolher quando e onde mostrar sua versão mais deslavada, crua e desnuda.
Depois é leve o seguir. Tendo sido feliz em, talvez, um mundo particular, habitado por gente que sabe ver além e mais profundo, sem a canga de tantos dogmas. Gente que aposta no caráter, sem pé atrás, ainda que o casco à frente não ajude, por ausência de rótulo. Às vezes é preciso arriscar, para saber que determinadas pessoas existem.
Evidentemente, no meio do caminho tem as mesmas almas previsíveis... assombradas pelas próprias sombras.
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#respeiteautorias É lei
IMPROVISOS DE VIVER
Demétrio Sena - Magé
Não acordo pensando sobre o dia
ser de quem ou de que, no calendário;
sobre horário e critério pro que faço
entre meus improvisos de viver...
E não quero vigias de lembranças
ou que meçam daí meu sentimento,
ponham lanças na minha consciência
nem me façam seguir a multidão...
Quando acordo não sei que dia é;
sei apenas que acordo novamente
minha mente, meus olhos curiosos...
Quero a vida nos vãos e pormenores
de alegrias e dores ou surpresas
que não fico surpreso quando vêm...
... ... ...
#respeiteautorias É lei
MINI-TRATADO SOBRE A INVEJA
Demétrio Sena - Magé
Pode não ser inveja, e sim, uma sóbria e silenciosa admiração sem interesse; por isso mesmo, sem excesso de aproximação e procura. Ou pode não ser inveja nem admiração, mas um tanto faz: a pessoa não dá bola para o que você tem ou quem você é... por isso não estende um tapete vermelho aos seus pés. Você precisa conviver com a ideia de que alguém (ou ninguém) tem inveja de você. A inveja de quem consegue não ter inveja pode corroer suas vísceras. Isso tem cura. Procure ajuda profissional.
... ... ...
Respeite autorias. É lei
ARTILHEIRA
Demétrio Sena - Magé
Sobre a tua desculpa sempre pus a minha;
me sentia culpado se não desculpasse;
dei o passe perfeito a cada jogo teu,
para dares o chute que arbitrasses dar...
Foram tantos e tantos os gols que fizeste;
fui um débil goleiro que nem se mexia,
porque via em teus olhos uma perda eterna,
se num salto perfeito eu detivesse a bola...
De repente um descuido me fez espalmar
o teu chute perfeito como sempre foi;
meu olhar foi ligeiro e providencial...
Eu queria não ter acertado em teu dolo;
te manter artilheira sem nenhuma pausa;
preservar este colo de ninar teus truques...
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Respeite autorias. É lei
SOBRE UM NOVO TEMPO
Demétrio Sena - Magé
Entre as inúmeras formas de renovação humana e social que desejo a cada novo ciclo - pessoal ou coletivo -, sonho com um tempo de menos teorias da conspiração. Teorias em torno da crença... da não crença ou do ateísmo... da sexualidade, o gênero, a ideologia... dos hábitos, o passado, a origem e a cultura do outro, que só dizem respeito ao outro. Que não causam danos reais ao seu redor (as teorias da conspiração envolvem danos fantasiosos, todos causados por desinformação, superstições e fanatismo).
Se começarmos o ano cuidando mais de nossas vidas e menos das dos outros... desejando a nossa felicidade mais do que a infelicidade alheia... disputando menos destaques pessoais e dando menos ouvidos ao que não é de nossa conta e podemos observar silenciosamente, por conta própria, teremos um ano melhor. Já o mundo melhor exigirá de nós, mudanças mais profundas de pensamento, ação e respeito ao outro. Seja como for, é sobre nós em relação ao próximo e seu direito a ser quem é.
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Respeite autorias. É lei