Cartas e Prosa de Fernando Pessoa
Um passarinho na janela
Era uma manhã como tantas outras, quando minha atenção foi capturada por um pequeno pássaro que, com graça e leveza, pousou na janela de minha casa. O passarinho, em sua serena vivacidade, parecia trazer consigo um mundo de reflexões.
Suas asas delicadas tocavam o vidro com a leveza de quem afaga o próprio destino, e seus olhos, dois pontos brilhantes, refletiam a quietude de um espírito livre, como quem tem um céu inteiro dentro de si. A presença daquele pássaro revelou-se como um oráculo silencioso, sugerindo-me que a vida, em sua essência, é uma eterna contemplação do invisível.
Enquanto o passarinho perscrutava o horizonte, pensei nas vezes em que nós, humanos, presos em nossas angústias, deixamos de perceber as belezas simples que nos cercam. Ignorância é acharmos que pássaros, só porque têm asas, não caem ou que nunca descansam nos tapetes de Deus durante o seu percurso. Essa liberdade não tem nada a ver com invencibilidade.
O pássaro, em sua graciosa indiferença, ensinava-me a arte da quietude, a contemplação do instante presente, a sabedoria de viver sem pressa.
E assim, naquele encontro fortuito, compreendi que a janela não era apenas uma barreira física, mas uma metáfora da alma, uma passagem para a introspecção e para o entendimento do nosso lugar no mundo. O passarinho, ao pousar na janela, não apenas a tocava, mas convidava-me a abrir as portas do meu próprio coração para as sutilezas da vida.
À margem, aguardo o repouso do rio.
Ao ouvir o murmúrio de suas águas, aquieto-me.
Sinto um amalgama de esperanças futuras
e temores imediatos.
Transbordo.
Rompo diques, mas nunca é o suficiente.
Estou exausto!
Reprimo-me.
Sustento um pequeno universo.
Será que algum dia alcançarei minha margem?
E, ao lá chegar, poderei finalmente descansar?
E, nesse merecido repouso, encontrarei
ouvidos ávidos por meus murmúrios, com o intuito de descobrir neles a sua própria serenidade?
À margem, aguardo o repouso do rio...
Entre águas e encantos
O Boto
Deslizando
Entre águas e encantos
Sigo navegando pelo Solimões
Não estou bicho nem homem
Estou
À tua espera
Num tempo
Suspenso na correnteza
Remos parados no momento
De tua ausência
Não preciso de rede
A me prender
Tua falta é corrente mais eficaz
A me segurar
Sou soma de encantos
Amontoado de lendas
Esperanças e sombras
Tudo o que me resta
Pesado numa balança
De um só prato
Seguindo
O curso de um rio de histórias
Não desisto
De te buscar entre as águas
Teu amor
É o que me leva a existir
A Virgem
Meus passos ecoam as margens do Rio Negro
Minha voz já é parte da floresta
Meu coração habita entre vitórias-régias
Busca-me
Perco-me em ti
Para me tornar inteira
O espetáculo
Na junção de nossas águas
Lenda viva
Amazonas
Existiremos
Como o encanto perfeito
Horizontal
Assim como o rio que rasga a floresta
Nossa fertilidade
Garantida
Na umidade dos dias
Ecos de canções
Rios, igarapés e os guardiões da flora serão testemunhas
Os peixes e as feras verão
Nosso mistério
Existo, existiremos
Apressa-te,
Leva-me
Para dentro da lenda
Estrela
Ah,
como são belos esses fragmentos de luz própria
que insistem em brilhar mesmo já findos há muito.
Estrela,
enganas o tempo,
este que a tudo destrói menos teu brilho.
Tu,
luzeiro meu,
tal qual tapete celeste,
és aquilo que termina, mas em mim nunca acaba.
Fotossíntese
Assim que a vida floresce, dissipa-se a névoa,
Sentimento de raiz, movimento de folha.
Aprofunda-se na terra, água e sais. Embriaga-se e se perde em si.
No tocar dos raios, folha e fruto,
A luz que amadurece o verde,
Alimenta a distância. Clorofila.
As folhas umedecem as margens.
Deixe-as,
Em silêncio, crescendo.
A luz não carrega limites. Transcende e vira sentido. Sacralidade.
Para a savana de herbívoros pastando,
Alimento. Para um rio sem correnteza, Continuidade.
Serve de abrigo nas copas,
Sombra em seus meios.
Em feixes e cores, no desabrigo de Imagens encontra-se o manto verde.
Um aroma úmido,
um pequeno nada,
exala o singular cheiro de terra molhada.
Composto de chão de terra, britas e
fragmentos do cotidiano.
O perfume da chuva
tem aroma de óleo de sândalo,
restaura lembranças
ao passo que apaga os rabiscos do chão.
Perfuma o vento
no entardecer das cores,
limpa a lousa da calçada e da vida,
hidrata nossa esperança
e restaura nossos sonhos.
Voei
Foi assim:
Coração acelerado, isso ocorreu perto das dez.
Quando o avião decolou,
eu subi junto.
A alma foi atrás.
Quanto mais alto ele ia,
menos medo eu sentia.
Foi a primeira vez que não me senti ameaçado pelo medo.
Abriu a porta,
12.000 pés.
Engraçado como tudo fica pequeno daqui.
Tudo fica...
Na aparente loucura causada pela adrenalina, fiz as pazes com a lucidez.
Saltei
e, mesmo no ar,
relutei.
Quando percebi que não tinha mais chão,
voei.
Logo, nós três éramos apenas um:
eu, a alma e o ar.
Engraçado,
tudo fica tão pequeno daqui.
De repente, um grito!
Mudo.
Apesar do maxilar travado, dava para sentir o eco reverberando em minha cavidade torácica.
Qualquer som silencia diante dos céus.
Engraçado como tudo fica pequeno dali.
Foi lá que percebi algumas coisas:
Que o amor não é gaiola e céu,
que é para o alto que nascemos
e que o colo de Deus é infinito.
Não foi salto,
foi entrega,
foi retorno.
Além das Sombras de Ontem
Não me julgues pelo ontem,
onde sombras habitavam um passado distante,
como uma saudade que não sabe ser presente.
Não moro mais lá,
meu ser se desvencilhou das correntes antigas,
como a lua se liberta da noite.
Ao meu passado,
devo o saber e a ignorância,
as necessidades e relações,
a cultura que o moldou e o corpo que me guia,
como um rio que aprende a ser mar.
Não sou mais escravo de seus ecos,
nem de suas sombras persistentes,
que tentam se fazer eternas.
Hoje, sou um novo começo,
liberto dos grilhões que já me prenderam,
caminho firme na estrada presente,
sem olhar para trás, apenas em frente,
como um sonho que aprende a ser real.
Crescer é Perder-se
Se soubesse, criança, como passa o tempo,
Voltavas a brincar com pedrinhas no rio,
Continuavas a sorrir para as borboletas,
Aproveitavas o viver como passarinho.
A vida adulta é pura lamúria,
Tem gosto de saudade e cheiro de chuva.
Queria ter ainda a confiança do abandono,
Quando me esquecia nos braços de Deus,
E era feliz nos desvãos do quintal.
Hoje, crescido, com o controle nas mãos,
Não vivo, apenas existo,
Prisioneiro dos meus próprios medos,
Carregando o peso das responsabilidades.
Se pudesse voltar ao ontem,
Onde o futuro era apenas uma ideia distante,
E cada dia uma nova aventura,
Entregar-me-ia à pureza da infância.
Na simplicidade dos dias antigos,
Encontrava a verdadeira alegria,
E na inocência do meu olhar de menino,
Revelava-se o segredo da vida.
Hoje, vejo-me perdido em meio ao concreto,
Nas rotinas sem cor e sem brilho,
E anseio pelo riso fácil,
Pelo despreocupado viver.
Se soubesse, criança, que crescer é perder-se,
Voltavas a brincar com as formigas,
Continuavas a sorrir para o vento,
Aproveitavas o viver em plenitude.
Hoje que cresci e assumi o controle, não vivo.
Tudo é se der,
Tudo é quem sabe,
E o coração ainda sonha ser menino.
O BELO
A Floresta me basta.
Não que seja o lar,
mas ela é veicu-lar.
Não basta eu entrar na floresta,
ela tem que entrar dentro de mim.
Desta forma eu encontro a paz
e com a paz dispenso os meus sentidos.
Os sentidos não fazem sentido.
Não confuda um poeta com um buda.
Um buda é um poeta, cuja vida virou poesia,
mas um poeta é alguém que se ilude com a beleza.
A beleza é uma ilusão,
pois a visão pode acabar,
e os ouvidos podem falir.
Então não haverá
o belo meneio das folhas luminosas
nem se ouvirá os sons do bosque.
Como saber se a ipoméia
e as hortências
ficaram azuis?
A função da floresta é me
conduzir ao vazio,
um vazio sem sentido algum.
DECLARAÇÃO DE AMOR... PRÓPRIO
Eu, por este simples instrumento poético, declaro, para todos os fins e direitos, me amar e respeitar todos os dias que ainda me restam nessa vida. Declaro, ainda, que ressignifcarei as experiências não tão positivas as quais passei, fazendo com que minha vida ganhe um novo sentido.
Declaro que minha atenção será constante, no sentido de construir boas relações e priorizar minha construção de dentro para fora.
Declaro que estou ciente de que nem todos os dias serão simples e fáceis, mas que lutarei bravamente para que os dias difíceis ganhem um significado de aprendizado e crescimento.
Declaro, também, que minhas conquistas serão alcançadas e que saberei valorizar cada vitória, desde as mais simples.
Afirmo publicamente que estou em pleno gozo de minhas faculdades físicas, mentais e sentimentais, dando-me aptidão a exercer o amor próprio.
Este instrumento poético de declaração de amor, passa a ter validade a partir de agora. Não de amanhã ou depois. Agora. Já.
E assim, ciente de que exercerei o declarado para fazer o meu mundo melhor, assino e dou fé.
Agora diga o seu nome em voz alta e vamos à luta!
Eu lhe Amo
Então... Eu preciso que você saiba que eu o amo, amo como nunca amei ninguém. Necessito de você como nunca necessitei de alguém. Você é meu oxigênio, a minha inspiração, a razão da minha felicidade.
Eu preciso que você entenda que nada nesse universo vai fazer eu deixa-lo de amar.
Quando eu estou longe de você, sinto saudade, meu peito fica apertado e meu coração acaba ficando um tanto triste. Quando eu lhe vejo, tudo fica melhor, mesmo nos dias mais complicados em que eu me sinto mais morta do que viva. Quando estou com você me sinto no paraíso. Cada vez que você toca em mim, sinto uma mistura incrível de sensações que nunca senti antes.
Eu quero viver com você até meu ultimo suspiro, até meu coração desistir de bater. Eu sempre estarei disponível para você, faço de tudo para que eu tenha tempo de estar com você. Você é minha prioridade.
Eu só peço que você nunca me deixe, que me ame apesar dos meus defeitos irreparáveis, que fique comigo até nos dias difíceis. Se você for embora, parte de mim irá com você, meu coração ficaria em pedaços e nada no mundo poderia concertá-lo além de você.
Não Quero Apontadores
O apontador de lápis é a prova viva que nem sempre a evolução quer dizer melhora, ela quer dizer mudança. Quando apontamos um lápis com apontador, ou ele não aponta por completo ou a ponta se quebra. Com um estilete é diferente, esteticamente não pode ser melhor, mas com certeza é mais prático e eficaz, os cortes feitos, além de prazerosos para quem os fazem, moldam o lápis ao seu bel prazer, na hora de afinar a ponta, o pozinho deixado pela raspagem do grafite será soprado, inexplicavelmente uma sensação de dever cumprido brotará dentro de nós, suavemente a ponta será testada nos dedos (os mais corajosos o fazem nas bochechas) e o lápis pode enfim continuar os seus afazeres.
Me dê inspiração
Que eu te dou uma versão !
Talvez de você, talvez de alguém que você queira ser,
Talvez de alguém que você abomine conhecer.
Quantas versões existem de você ?
Quantas dessas versões você deseja conhecer ?
Quantas dessas versões você já experimentou viver ?
Insta: @li.fer.nanda
Moça,
sua sensualidade é feito o destino, incontrolável, acontece e ponto.
Daqui, vejo sua sensualidade,
nos lábios,
no olhar,
na adorável alça de sua blusa,
que delicadamente flutua,
entre seu lindo ombro e seu desejável seio...
mas principalmente
na sua vontade de colar um corpo ao seu.
Queria eu,
ter seu corpo
sobre o meu.
CIRCUNSPEÇÃO
Cuidado com a tua gola!
Que, em uma hora d'essas,
n'essas festas com arestas
nesse aperto, feito sem jeito
se fosse em mim,
apertado assim...
Ai de mim, ai de mim!
Essa sua gola...
Que, parece mais com angola
cheia de pinta, tanta tinta!
Ai de ti, ai de ti!
Já pensou... Se essa sua gola,
toda feita com amor
te degola?
Antonio Montes
Sentimentos
Sem ti não sou nada
Sou vela de chama apagada
Tenho a vida sem sabor
De um amante sem vigor
Apegado a segredos
Aventurado em devaneios
Dos velhos medos
Dos olhos cheios
Sou cárcere de ti rancor
Assim que perdi o pudor
Feito da consequência
De encontrar a dor
A única eloquência
Desta íntima convivência
Ouço o tilintar se aproximando,
sinto a ausência de umidade em meus lábios,
certo silêncio é rompido ao som do preenchimento do vazio,
contemplo o movimento fluído em um bailar peculiar,
percebo a formação de seus tons,
inspiro seus aromas ...
sinto-me salivar e ao lapso de um olhar sincero,
beijo a boca do cálice que me alimenta a alma ao toque de um anjo,
percebo seu corpo entre meus dentes,
roço minha língua,
degusto seu fruto levando-a ao céu,
na pausa de um sussurro sinto seu calor fugaz.
Ao meu redor sorrisos, amigos e prosa.
Um brinde aos amantes do vinho!
Desatinos do Tempo
O tempo mata da mesma forma que cura e nos traz a vida. O tempo ama, o tempo odeia. O tempo dá, exatamente da mesma forma que tira. O tempo anseia e desdenha. O tempo é o cheio, o tempo é o vazio. O tempo traz o tempo leva. O tempo é glória, o tempo é fracasso. O tempo é parceiro e inimigo. O tempo é longo, o tempo é curto. O tempo engorda o tempo emagrece. O tempo para o tempo não para. O tempo é para. O tempo não é para. O tempo enaltece, o tempo deprecia. O tempo nos deixa felizes e o tempo nos deixa tristes. O tempo é visível. O tempo é invisível. O tempo e seus desatinos...
O tempo vem o tempo vai. O tempo é tudo o tempo é nada. O tempo sobra, o tempo falta. O tempo deseja, o tempo ojeriza. O tempo é e o tempo não é. O tempo é Deus, ateu, gnóstico, agnóstico. O tempo é branco, preto e colorido. O tempo tem cheiro e o tempo fede. Perdemos tempo pensando, ganhamos tempo pensando. Nós perdemos tempo, mas o tempo não nos perde. Nós esquecemos o tempo, mas o tempo nunca, nunca nos esquece. O tempo e seus desatinos. O tempo é rei para uns e súdito para outros(que pensam que são monarcas). O tempo é luz e escuridão, é amor, é paixão, é lascívia é um não. É um sim é um talvez. O tempo é tudo. Não temos mais tempo para pensar sobre o tempo, no entanto o tempo está sempre a pensar em nós. O tempo é macho e fêmea, união e desunião. Somos caprichos, devaneios, desatinos do tempo...
Luciano Calazans. Salvador, 12/11/2012.
Vento
Sinto a respiração aliviada da noite
O sussurro do vento e seu timbre aveludado
a falar das vidas, de nortes, do pecado
Enquanto fito um sono digno das fadas
Numa mistura de lençóis brancos e pernas,
Viçosas, fortes, bem torneadas
Arquitetura em carne, osso e cheiro
Morros, montes e vales ocultos
As vezes não, pelo vento
Que revela os cheiros e fragrâncias
De Vênus, das suas, dos seus...
Como sou grato ao olfato e a visão
O tato, paladar e audição
Para que mesmo em obscenos pensamentos,
Possa tocar furtivamente o vento
Cheirar em um sussurro os montes
Degustar o sono das fadas
Ouvir a melodia do desejo ....
Meu
Do vento...
Luciano Calazans. Salvador, Bahia. 17/03/2015
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