Camila heloíse
O lugar onde mora a paz é sempre distante. Para se chegar lá é preciso coragem, mais do que sabedoria. É preciso conhecer a si mesmo e ser forte o suficiente para se descobrir, se punir e se perdoar.
Quando nos afastamos fisicamente de alguém, deveria ser natural que qualquer lembrança ou pensamento relacionado à pessoa, também se afastasse.
Devia existir uma forma de sair de perto da gente mesmo. Pra poder respirar, refletir e pensar o que vamos fazer de nós.
Somos todos inconstantes. Sempre mudando de planos, de desejos e ideais. Até nossos sonhos são vítimas da nossa inquietude. Vivemos na base do “hoje eu quero isso, amanhã não sei”. E de forma muito confortável, invertemos nossa busca e inventamos outros propósitos. Amanhã coisas novas vão nos chamar a atenção, amanhã outros pensamentos vão dominar a nossa mente. Amanhã, nosso coração vai amar outro e depois de amanhã também. Nenhum amor dura tempo suficiente para florescer, nós amamos apenas a descoberta, o novo, a paixão chegando ao mundo e mal abrindo os olhinhos. Nós o abandonamos no instante em que ele tenta dar os primeiros passos, arriscar as primeiras palavras ou um olhar mais atento. Matamos sentimentos com a nossa pressa. Estamos sempre correndo sem nunca saber exatamente para onde. Em um ritmo frenético que busca sempre algo mais, impedimos que algo maravilhoso nos aconteça. Não ficamos até que o outro pegue no sono, não abandonamos uma única vez a mania de olhar o relógio e dizer que já está tarde, que é preciso ir embora. Não assistimos mais o pôr do sol. Sabemos apenas que já é noite, mas perdemos a beleza do anoitecer.
Nossas inconstâncias nos dão a sensação de que estamos dominando os próprios sentimentos, assim: amando, odiando, viajando sem paradas. Morrendo de sede, de fome, sem buscar recursos verdadeiros para que a gente se sinta menos vazio. Forjamos uma felicidade que nunca passará de fotos e sorrisos amarelos. Não passa da primeira porta, não atinge as outras camadas da pele. Não abraça verdadeiramente o nosso íntimo. Não dá frutos.
Os sentimentos virando apenas espasmos de madrugada. Enlouquecemos quatorze vezes por semana a procura de algo diferente. Deitados no gelo do lençol, a única coisa que a gente sabe e entende é que queremos sempre mais. Uma pimenta mais forte, um gole a mais na bebida, uma hora a mais mergulhados num beijo que parece nos revelar quem somos, mas ainda não supre aquilo que nos falta. Carregamos esta ideia fixa e inútil de que algo sempre nos falta.
Mas o beijo poderia sim suprir e nos revelar quem de fato somos, se a gente soubesse aproveitar a beleza daquele instante. Mas a nossa pressa vem carregada de um descaso insuperável.
Doamos tão pouco de nós para o outro, mostramos apenas o que vai a nossa superfície. Interrompemos as tentativas de quem quer se aproximar ou desistimos de uma aproximação fiel, por medo de nunca mais voltar. Medo de o amor prender. Medo de não saber vestir a felicidade. Medo de se dar conta de que a busca acabou e que sem isso a vida possa arruinar seu sentido.
Eu busco amor. Eu busco a mesma coisa que você. E é um absurdo sentir que buscamos as mesmas coisas, mas ambos sairemos perdendo. Estamos tão acostumados a procurar sempre que não sentimos quando um verdadeiro encontro acontece.
A verdade está na força que não fazemos para que as coisas criem raízes. O amor está nos detalhes da gente que não entregamos. A permanência está escondida atrás do medo de sermos nós mesmos. Não mostrar nossos defeitos com medo de ver o outro partir, apenas adia alguns segundos a nossa própria partida, pois não teremos mais nada a revelar se a maior metade de nós é feita de falhas. Pudera que fôssemos menos inconstantes, que a gente mergulhasse no fundo do outro e também permitisse que ele mergulhasse em nós. Estreitando assim as distâncias e estendendo os momentos mais felizes.
O segredo é chorar baixinho para não espantar as borboletas e rir alto para afastar as abelhas.
-- Camila Heloise
"Faz bem olhar as coisas como elas são, e melhor ainda, faz bem olhar a gente como realmente somos, ignorando a análise alheia e considerando aquilo que pensamos sobre nós mesmos e sobre o que sentimos.
Entendi assim que a velocidade dos dias assusta, mas que eles podem ser mais confortáveis se repararmos os detalhes e procurarmos por dentro aquilo que o nosso desespero pensa estar lá fora. E descobri finalmente que a gente sempre espera que outras pessoas tenham a corda na medida certa para nos tirar do fundo do buraco, sem nos dar conta que sempre existe uma escada esperando a nossa força de vontade e coragem para subi-la e sair de lá sozinho… Foi o silêncio que me disse."
A questão não é viver uma vida morna ou cheia de aventuras. A questão é viver de verdade e fazer o que quer que seja - Com o coração!!!!!
"Nem todo mundo vale a minha preocupação, o meu afeto, o meu cuidado, o meu pensamento e a minha saudade. Mas os poucos que me valem, valem tudo."
E eu preferia estar comendo qualquer coisa estragada e podre do que descobrir o que uma saudadezinha é capaz de fazer com o estômago da gente.
Outro dia eu queria ser a tua namoradinha. E isso me soa tão brega que até me sinto leve. Querer isso não me parece mais vulgar. Não sei se é pra saber se a sua mão é mesmo quente ou se a sua boca cheira chiclete de menta e cigarro. Mas queria ser.
Certeza que ele tem com os anjos alguma licença para ser o mais bonito. Ou então está transgredindo mesmo a lei de que todos somos iguais. Não, ele não é igual. E não é porque os olhos iluminam três quadras de escuridão. Mas porque teus cílios são tão sinceros quanto as palavras. Eu queria ser como ele, e ter a certeza das coisas que falo e não falar tão alto. Com todo aquele jeito paciente enquanto eu detono cinco bombas ao redor e não consigo parar. Eu nunca paro.
Hoje tudo o que escuto é o barulho do vento. Dispenso as horas que o relógio conta, pra viver de acordo com o tempo contado apenas pelo pulsar do coração.
"Desapeguei-me de tudo o que não me leva a lugar algum, partindo da ideia de que metade de nada, é nada também!"
Tomara que a gente saiba o que fazer com as novas oportunidades. Que a gente saiba cuidar melhor do que é nosso e do que é do outro. Tomara que os motivos bons continuem e os ruins desapareçam. Que o amor prossiga sem ser interrompido pela obsessão. Que a paz continue insistindo. Que os bons não sejam corrompidos. Que as dores sejam passageiras e abraços sejam mais do que dois corpos se encostando. Tomara que o próximo ano seja diferente, e o próximo, e o próximo… E que eu não perca a sensibilidade para perceber quando já não dá mais, ainda que exista uma longa estrada pela frente, que eu não perca a percepção de que a caminhada terminou. E pra ser perfeito, que eu me ame mais e me torture menos.
Não sei porque a gente corre tanto o dia inteiro atrás das coisas e das pessoas por aí, se no final do dia volta pra casa sozinho.
Cansada de sentir felicidade em doses homeopáticas. Ela queria uma alegria que durasse, que permanecesse.
