Sílvio Fagno

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⁠De Sorte –

⁠Se você já me viu feliz
— genuinamente feliz —
acredite:
você é uma pessoa
de sorte.

Inserida por SilvioFagno

⁠Confusão –

Têm pessoas que
vivem para o
apego.
Outras para o
estrago.

E a vida
— divertidamente trágica —
(por todas elas e aos
pranto de tanto rir),
só se dá o trabalho
de apresentá–las.

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠Um Alívio –

O Velho Buk tinha razão.
Assim, vos digo:
Algum tipo de paz começa,
quando você começa a
diminuir certas coisas:

Primeiro,
a quantidade de pessoas com
as quis você tem algum tipo
de relação na vida;
Depois,
a importância dessas pessoas;
E por fim,
as expectativas sobre essas
pessoas.

Felicidade? Não, não acredito
em tanto.
Talvez uma espécie de alívio
— algo como um caminho
a algum tipo de paz.

Inserida por SilvioFagno

⁠Meu Pai –

Meu pai está sempre
exagerando nas
coisas:
Eu digo-lhe: "Pai,
quando for à rua
traga-me três sardinhas,
daquelas com molho."

Dez minutos depois chega ele
com cinco sardinhas. – e eram
uma e meia da tarde de um
sábado quente de verão.

Já perdi a conta de quantas vezes
eu acordei e percebi que ele já havia descarregado todo o carro,
subido, silenciosamente, as escadas trazendo minhas roupas
e os pães e o que mais havia.
Depois, cuidadosamente, preparado o café (que se não esfriasse, duraria três dias), enquanto, paralelamente, lavava
os pratos e copos e talheres do meu dia anterior ao dia anterior daquele dia.

Meu pai está sempre fazendo coisas a mais para poupar-nos
da coisa maior.

Exagerado, ele sempre diz:
"se não sobrar não deu".

Meu pai sempre foi muito calado
e discreto com as palavras,
mas sempre fez e faz o que pode
e um pouco mais por todos nós,
em gestos simples, nobres e
exagerados de amor.
Digo, MUUUUITO
AMOR!

Inserida por SilvioFagno

⁠Um Abismo –

⁠Minha felicidade é só um detalhe:
Um olhar, um sorriso...






— um abismo.

Inserida por SilvioFagno

⁠Cruel –

Não estamos prontos para
a verdade.
Nunca estivemos, nunca
estaremos.

Sapos aparecem quando insetos
aparecem. — é a natureza
das coisas.
Embora o resultado disso (em que insetos são engolidos vivos), possa parecer, um tanto quanto, cruel, é apenas o fluxo natural
das coisas.

O SER HUMANO É CRUEL! — pois tem a consciência dos seus
atos — da dor do outro,
do sofrimento
do outro.

Mente conscientemente; maltrata conscientemente; mata
conscientemente.

Não estamos prontos para
a verdade:
Culpamos a sorte;
Culpamos o destino;
Culpamos a vida — nunca a
nós mesmos.

Culpamos deuses e diabos — nunca, nunca a nós mesmos.

Não estamos prontos para
a verdade.
Nunca estivemos, nunca
estaremos.

Inserida por SilvioFagno

⁠Circos Pobres -

⁠As redes sociais são como
circos pobres — de essência.
Com palhaços infelizes, superficiais e sem
muito talento.

Mas quando as cortinas se abrem (ainda que as piadas sejam
repetidas, vãs e, muitas
vezes, levianas),
é preciso divertir a plateia
— também de palhaços —
tão infelizes, medíocres e
superficiais quanto
todos eles.

Inserida por SilvioFagno

⁠Traição –

Naquele dia eu morri.
Sim, eu morri.
Mas morri porque
mataram-me.

Eu não queria morrer. — em mim,
havia sonhos, havia desejos,
havia sentimentos.
Mas, naquele dia, mataram
tudo.
— Mataram os dias seguintes,
as semanas seguintes, os meses... aquele ano inteiro e todos os outros dias até este.
Mataram-me e dançaram sobre
meus restos mortais.

Ainda estou no chão
— quase imóvel, fragmentado, esquecido —
mas há um sol nascendo de dentro para fora,
forte como uma criança que cresceu,
mas não desaprendeu sua
melhor brincadeira.

Inserida por SilvioFagno

⁠O Cão Triste –

Certa manhã, enquanto eu cruzava um terreno que fica atrás da
minha casa,
fui surpreendido por um cão
que está sempre preso
naquele local.

Ao passar perto do animal
e quase pisoteá-lo,
ele tentou, por duas vezes,
morder-me.
No susto eu o olhei e,
só então, vi:

Olhos de tristeza. — tristes olhos de mágoas e tristezas de um pobre cão preso.
E eu quase o pisei.
O pisoteei em todos os outros
dias quando o ignorei.

Então, ele olhou-me com seus olhos de remela e mágoas e tristezas e, como num
clamor, parecia dizer:

"Olha, a minha vida é isto — esse chão sujo, áspero, quente, de dias e noites de solidão, preso a uma corda velha e suja, já tatuada
em meu pescoço.

Eu não sou aquela pedra imóvel
e alheia a tudo que está
aí à sua frente.
Nem esses gravetos secos e ponteagudos próximos
aos seus pés.
Eu emito sons, eu pulo, eu corro, eu me alimento, eu sinto dor,
eu preciso de carinho e cuidados, e dizem até que sou o melhor amigo do homem.
Mas, e o homem?

Vivo neste mísero espaço de terra e entulho desde que cheguei
aqui, amigo.
Nem nome deram-me.

Vejo outros cães livres (com seus problemas), mas livres — sem uma corda presa ao seu pescoço — servindo para lembrar-lhes que há uma saída, uma última saída,
mas, para mim, nem essa."

Aquilo me cortou o peito,
e tudo que eu pude fazer foi ir até minha casa, juntar um pouco de comida e água e levar até aquele sofrido cão revoltado que, àquela altura, me recebera com alguma cordialidade (animal).

Deixei-o comendo — apressado, voraz — aqueles restos de restos,
e vim embora.

Mas aqueles olhos tristes,
aqueles olhos sofridos e magoados.
Aquele quase clamor uivado
e interno,
aquela revolta, aquela corda
no pescoço ainda... ainda
sufocam-me.

Inserida por SilvioFagno

⁠Aqueles Tempos –

Que tempos foram aqueles:

A lua,
ainda quando era apenas
um pequeno risco feito a giz no céu,
em mim,
era o universo inteiro.

Inserida por SilvioFagno

⁠Quase Ninguém Vê –

Há sempre uma tragédia acontecendo
por trás de cada "estou bem",
"é normal", "não ligo", e
quase ninguém vê.

Infelizmente,
normalizamos e banalizamos
algo tão sério:

O coração das pessoas.

Inserida por SilvioFagno

⁠Abraço a Tristeza e Descanso -

Eu sinto-me menos mal quando
decido estar triste ao invés
de irritado.
O estado de tristeza incomoda,
machuca,
porém muito menos do que
o de fúria.

A tristeza costuma acolher-me e,
de certo modo, acalmar-me.
A fúria não.
A fúria é destrutiva.
Extremamente destrutiva.

A maioria tem-na como uma forma
de defesa e de ataque, mas,
na verdade,
ela ataca-nos na mesma
intensidade, e isso causa um
enorme mal.

Prefiro ser um tolo triste e, talvez,
sábio — recolhendo-me e ficando
em silêncio —
a ser um tolo furioso e idiota,
cheio de ódio.
(Ainda que a vida cobre‐me o contrário).

Entre estar furioso ou estar triste
(em silêncio), afasto-me:
abraço a tristeza e descanso.

Inserida por SilvioFagno

⁠É de Partir o Coração, e Eu Sei. Mas Eu Preciso Dizer -

Quando sentir que tem algo imenso,
nobre e cuidadoso, alimenta-o
de mais vontade.

E se por acaso houver uma enorme
distância contra esse amor,
resista:
continua firme, diminuindo-a.

Se além disso há pessoas lutando
contra essa união,
mostra-se mais forte e corajoso
que essas,
e siga adiante, firme, em nome desse
sentimento.

Se ainda assim o mundo tentar impor "dificuldades", tais como:
Classe social;
Cor da pele;
Ou religião, então, revoluciona:
Inventa uma liberdade qualquer ou qualquer outra coisa sem nome, e continua mais
firme ainda.

Agora, se tem um sentimento imenso,
nobre e cuidadoso, e a única coisa
contra esse amor é o outro,
sinto muito. Sinto muito
mesmo:

É inútil!

Inserida por SilvioFagno

⁠Ainda Éramos Nós -

Eram sete e dezessete de uma noite
quente de segunda-feira, de um
fevereiro sem Carnaval.
E lá se vão quase duas décadas
de amizade.

Éramos jovens, cheios de sonhos
e de tempo,
e nem imaginávamos que,
quase vinte anos
depois, (meio às pressas),
ainda estaríamos assim, como antes.

Muita coisa aconteceu
desde então:
algumas nasceram para o bem,
outras se perderam,
mas, enfim,
ainda estávamos alí por algum motivo.
Por tantos motivos, afinal, mas
por uma única razão:
Ainda éramos
nós.

E,
então,
alí, naquele local,
por alguns segundos,
entre uma palavra e outra,
entre um acorde e outro,
entre um riso e outro,
eu reparei em nós quatro ali juntos
como nos velhos tempos,
como nos últimos encontros a cada
três anos e, enquanto nos despedíamos,
eu pensei:

"Poxa, será que teremos a chance
de um novo encontro?
Droga,
ainda somos tão jovens,
eu não deveria estar pensando
nisso."

Mas eu pensei.

Inserida por SilvioFagno

⁠A Frieza -

Gosto de gente interessada naquilo
que ouve, fala e faz.

Gosto de pessoas que se empolgam
ao falar de coisas simples.
Simples e nobres: um poema, um livro,
um filme,
o pôr do sol visto através de uma
vidraça quebrada.

A frieza das pessoas me desestimula,
me põe pra baixo, me desanima,
a ponto de me deixar quase
sem ação.

Logo,
eu procuro o caminho mais curto
da conversa e tento encerrá-la,
o quanto antes, por
alí mesmo.

Inserida por SilvioFagno

⁠Maldito Sentimento Verdadeiro -

⁠Há guerra pior do que a que precisamos
matar nosso próprio coração
(já mutilado, esgotado),
infectado por um inútil e maldito
sentimento verdadeiro,
fielmente
não correspondido?

Inserida por SilvioFagno

⁠Costas Nuas –

Despertei-me primeiro que ela,
um pouquinho antes do
sol nascer.

O quarto ainda estava um pouco escuro.
Havia, somente, uma pequena réstia vindo
por uma fresta da janela entreaberta,
de cortinas malfechadas que,
poeticamente, alcançava
suas costas nuas.

Fiquei ali,
parado. Bobo.
Observando ela dormir, enquanto
o pequeno raio de luz, delicadamente,
beijava suas costas nuas.

Era o sol nascendo lá fora.
E um sonho acontecendo
cá dentro.

Inserida por SilvioFagno

⁠O Escuro, O Travesseiro e A Solidão -

O nosso "eu verdadeiro",
é aquele da metade
da terceira taça
de vinho.

Inserida por SilvioFagno

⁠Sem Direção –

Enquanto os interesses permanecerem
de esquerda ou de direita,
o Brasil continuará
sem direção.

Inserida por SilvioFagno

⁠Um Elogio –

⁠Tua boca ainda nem
se abriu,
mas os teus olhos já estão
a sorrir.

Inserida por SilvioFagno

⁠Os Espinhos –

⁠Às vezes,
diante de certas pessoas,
precisamos mostrar os espinhos
que, também, temos.
Para que não tentem pisar
na gente.

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠Ouça -

Ouça:
não confie em mim!

Não tenho como provar, de
maneira convincente,
indubitável, o que
digo quando
escrevo.

Nem mesmo
isto.

Mas há gente muito
pior, extremamente
perigosa falando
muito, falando
alto,
gritando insistentemente.
Fique atento!

Fique em silêncio quando
não souber o que falar.
É mais seguro.

E mais: ouça,
ouça atentamente
o que o silêncio
esconde.

A sabedoria pode
estar aí.

Inserida por SilvioFagno

⁠Mudei –

Ultimamente,
os meus gritos têm sido feitos
de silêncios.

Protesto em silêncio;
Lamento em silêncio;
Canto, sonho, choro...
em silêncio.

Ultimamente,
tenho dito muito mais
mudo.

Mudei.

Inserida por SilvioFagno

⁠Enquanto Ela Sorri –

— Por que as pessoas são tão cruéis justamente com os melhores
sentimentos?
— Cara,
sinto muito!
Na verdade, ela nunca existiu.

Foi tudo um jogo, uma farsa misturada
ao que o seu sentimento inventou.

Ela é esse vazio amargo rasgando o peito
que você sente agora, enquanto
ela sorri.

Inserida por SilvioFagno

⁠Mais Justo –

O que estamos fazendo
por nós mesmos?

Que sejamos mais justos
com os nossos atos
e sentimentos.

E ser justo, talvez signifique,
muitas vezes, desistir de algumas
coisas e pessoas que
desistiram da
gente:

Um emprego que se tornou maçante;
um belo par de sapatos apertado;
um grande sentimento inútil que
agora só maltrata, só distrói,
só machuca.

E quem sabe esteja aí o começo
para um recomeço mais justo
com nós mesmos, com
o outro — com a vida.

Inserida por SilvioFagno