Sílvio Fagno
Coisas Que Me Interessam -
Faça o que quiser,
como quiser.
Afinal,
ninguém tem
nada a ver.
Mas saiba que, pelo menos
pra mim,
na hora de analisar
uma pessoa,
entre tantas coisas que
me interessam,
eu costumo olhar atentamente
caráter -pois todo o resto
é sempreconsequência
desse.
Certamente Pensam -
"Que cara mais chato,pessimista, resmungão..."
certamente pensam.
A verdade é que eu também
gostaria de poder escrever
aqui
algo belo sobre respeito,
sobre reciprocidade,
sobre admiração...
algo feliz sobre o amor.
Mas acontece queeunão
sou um exemplopositivo
de alguém queconheceu
o amorenquanto
era-o.
Já Era Tarde -
Apesar de escrever, naturalmente, desde sempre,
gostaria de ter me descoberto
poeta mais cedo:
talvez,
no início da adolescência.
Quem sabe assim teria
escrito coisas mais
leves,
mais lúdicas, mais
positivas.
Quando me descobri
poeta já era
tarde:
O amor havia perdido
a cor, o gosto,
o cheiro.
Minha escrita já estava revidando pancadas,
golpes violentos, covardemente
praticados.
Já andava meio amarga,
nostálgica e quase
sem esperança.
Hoje, inevitavelmente,
aceiteia condição:
Não há cura para quem
nasceu poeta.
Como Eu Não Devo Escrever -
Têm alguns poetas contemporâneos
(bem mais conhecidos
que eu),
com dezenas de milhares
de seguidores em suas
Redes Sociais,
que tudo que escrevem
e eu leio,
me causa desânimo.
É algo tão superficial
e vazio
e desnecessário
que me desestimula.
E eles continuam a soltar
suas frases (rápidas),
várias e várias todos
os dias,
alimentando e sendo
alimentados por
genteda mesma
espécie.
E não há nada de errado
nisso,
eu também tenhomeus
momentos de "desgraça-poética",
mas eu me ergo,
ainda que rastejando,
ainda que invisível
à massa, à glória,
ao sucesso,
e não me permito compactuar
disso tudo - nessa intensidade,
nesse entusiasmo, nesse profissionalismo.
Alguém então me pergutou:
"E por que continua a
segui-los?"
A resposta é simples:
Para saber como eu não
devo escrever.
Um Dos Grandes Gestos -
A coisa mais bonita que
existe é se doar por
alguém.
É,
a todo custo,
lutar, cuidar, proteger - estar ao
lado de alguém em qualquer
situação.
Se fala muito em adorar
entidades,
venerar deuses... tudo
isso é muito fácil:
é tudo feito em troca de
uma suposta proteção
divina, superior.
As pessoas, naturalmente,
têm essa necessidade de
algo assim grandioso como
proteção, como refúgio.
Mas dedicar-se a alguém,
com cuidados, afeto,
respeito, amor,
admiração...
é um dos grandes
gestos humano.
Sim,
ainda que seja em troca
do amor da outra
pessoa;
ainda que seja em busca
de algo recíproco,
essa é uma devoção, uma
entrega por algo
do mesmo tamanho - sem superpoderes nem
divindade.
Tão falho, imperfeito e humano
quanto o outro.
E abraçar esse risco
é a coisa mais linda
do mundo.
Guardar Palavras -
Aqui,
diante do teu rosto sob
a luz suave do sol,
tudo que eu deveria fazer era
guardarpalavras:
pois faltam-me adjetivos
convincentes.
Mas assim como no sol,
assim como no céu e
neste fim de tarde
no teu rosto,
"Deus" sabe, "Deus" sabe
o que fez.
Desabafo -
As pessoas,
em sua maioria,
andam sedentas por
desabafos.
Estão agarrando-se
ao menor
sinal.
Nunca -
Nunca jurei amor a alguém e
depois virei as costas.
Todo sentimento,
naturalmente,
tem sua parte de dúvidas,
incertezas - insegurança.
Mas se tem algo que eu
não abandono nunca
é um sentimento
verdadeiro, em
chamas.
(Ou ele morrerá em
mim
ou comigo).
Propaganda Ruim -
O que esses aplicativos populares
já me mandaram de bundas
epernas e peitos,
na tentativa de meconvencer
a baixá-los...
Besteira:
se me conhecessem,
mandariam os
teus olhos.
Desânimo -
É arrastar-se, quase que
rastejando, esbarrando
em tudo,
até a próxima
frase,
que só diz isto...
Mais paralisante que
o medo;
Mais vazio que
o nada;
Mais...
Ângulo -
Um amor inteiro,
quando não pode mais
ser amor,
vira ódio à direita
num ângulo de
noventa
grus.
Alguns (raros),
adormecem em sonhos
leves à esquerda,
e se transformam em
algo parecido com
amizade.
Mas amor só morre
(quando morre),
como indiferença na
outra extremidade
a cento e oitenta.
O amor bateu forte:
entrou feliz, sorridente,
sonhador pela porta
da frente.
Comeu, dormiu, sonhou
mais, brincou mais,
sorriu melhor.
Mas chorou...
O amor apanhou e,
triste,
acabou expulso pela porta
dos fundos de uma casa
mal-assombrada
chamada: realidade.
Abraçar o Risco -
Um sentimento
só se faz verdadeiro,
quando se abraça o risco
de se entregar
por inteiro.
Uma Eternidade -
De alguma maneira,
tudo é necessário - no seu
tempo, ao seu modo, à sua
medida:
do cientista ao coveiro.
Intelectual nenhum
faria bem o trabalho diário
de um rude
lavrador.
As diaristas
salvam mais famílias
do que âncoras de
telejornais.
Os padeiros estão acordados
todas as madrugadas,
trabalhando e trabalhando
para que o pão chegue
quentinho à mesa
do empresário que,
por sua vez,
nutre dezenas de empregos
e, consequentemente
de famílias,
mas enquanto isso,
dorme.
Se uma pessoa diz amar o
que faz e faz com empenho
e dedicação,
por mais simples
que seja,
há aí algo de muito
valioso,
e há nisso
uma eternidade.
Quando o ser humano entender
que a vida não é esta
competição sangrenta - como
tem sido por séculos, e
intensificada neste último -
(ainda que, de algum
modo, naturalmente haja),
estrangulando o mal
do ego,
não haverá nem muito
nem pouco:
mas o necessário.
Ridículo -
Acostume uma sociedade
a cultuar tudo que há de
mais medíocre e
superficial,
e ela não se dará mais
conta do ridículo.
Àqueles Que Me Mataram -
Me sinto completamente
vencido, derrotado.
Talvez isso,
denuncie uma fraqueza:
minha fraqueza.
E,
de fato,
de certo modo,
eu me sinto, realmente
mais fraco que cada um deles.
Mas eu não suportaria fazer
o que fizeram, como
fizeram - COVARDIA.
Muito menos ser
um deles.
Pelos Dois -
Algumas pessoas
fazem por onde a gente
nunca esquecê-las:
Seja pelo bem ou pelomal,
masquase sempre
pelos dois.
Extremamente Chato -
Um sentimento,
por maior que seja,
por mais belo e cuidadoso
e verdadeiro que seja,
quando demora demais
para ser entendido,
valorizado, correspondido,
satura:
Fica extremamente
chato.
Uma Flor Em Seu Cabelo -
Tão íntimo
que fica impossível acreditar
que ela não tenha
desabrochado
aí.
Restos de Sonhos -
Não sou o que aquela
criança que fui
sonhou.
Sou os restos de sonhos
que a realidade ainda
não matou.