Sílvio Fagno

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⁠Tua Voz Lá Fora -

Estou sempre a ouvir tua
voz lá fora, como a
gritar meu
nome.

Por um instante, alguns segundos,
uma grande esperançame
toma e eu imagino você
subindo as escadas,
abrindo o portão,
entrando pela
porta
e eu sendo feliz
de novo.

⁠Sem Cura -

⁠Poderia não ser
uma mágoa,
mas é.

Pois dava para
ter sido tanta
coisa...

Inserida por SilvioFagno

⁠Teu Aniversário -

Neste dia especial,
dedico-te o mundo e tudo
que nele há de
poesia.

Mas sei que não me queres
no teu mundo,
então,
dedico-o distante (sozinho),
em silêncio.

E porque vives no meu
mundo — coração — (ainda
que não me ouças nem
me vejas mais e assim
queiras),
espero (ansioso), que me sintas
nestas simples e sinceras
linhas,
com a profundidade, graça
e leveza
com que fizeram
tua alma.

⁠⁠Bela-Tarde -

A bela sob o sol
suave ao tom da pele.

O sol que a beija é
da tarde.
O brilho que irradia
é da bela — tarde bela,
bela tarde... bela.

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠⁠De Que Lado? -

⁠No momento em que a barata
ainda respirava e se mexia,
e o pé do cristão avançava,
descia,
de que lado Deus estava?
O que pensava?
O que fazia?

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠Então... -

Podemos,
com entusiasmo,
falar, pensar em coisas sem limites.

Mas
devemos,
com cuidado,
limitar certas coisas.

Inserida por SilvioFagno

⁠Nariz de batata, olhos de tamarindo e coração de chocolate. — acho que sou eu.

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠SABEDORIA -
(Sobre o 31 de Dezembro e 01 de Janeiro. Sobre Avós e Netos. Sobre a Tardezinha. Sobre os Palhaços. Sobre a Poesia.).

Observem as crianças:
elas já nascem
sábias.

Passam a infância inteira
tentando ensinar os adultos
que, por prepotência e
falta de tempo,
não lhes dão a atenção
necessária.

Na adolescência,
por inquietude, irresponsabilidade,
falta de tempo
(numa das aventuras
dessa fase),
deixam-na esquecida,
num canto qualquer do mundo.

Na fase adulta,
hora ou outra,
olham para ela, reconhecem-na,
mas, pelo excesso de compromissos,
severidade, falta de tempo,
não usam-na corretamente.

O Tempo — sábio, dono de tudo —
nos traz junto com a velhice,
a essência da infância.
Agora
carregada de histórias,
experiências e, para alguns
(de olhar atento),
a sabedoria necessária
para prestar atenção
nas crianças
(sábias).

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠O Tamanho das Coisas -

⁠Bem,
eu me importo com todas
as pessoas.
Sim,
de alguma maneira
me importo.

Algumas mais, outras nem
tanto,
algumas outras bem
menos, enfim.

Mas as que mais me
interessam — que eu dedico
mais cuidados, mais atenção,
mais tempo — são aquelas
que têm a capacidadede
contemplar um grão de areia
com a mesma devoção com
que olham o céu.

E olham para o céu
com a humildade dos que
enxergam grandeza num
grão de areia.

Porque as coisas:
os sentimentos, os valores...
a vida,
são do tamanho que a gente
se dispõe a enxergá-las — senti-las.

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠Eu Mereço Tudo do Nada Que Sou -

"É só um momento,
vai passar!" — todos dizem.

E lá se vai mais um
dia, dois... três semanas,
um mês.
"Calma, calma,
vai passar!"

Então, três meses, sete...
dez anos.

"Quando terminar o
colégio, com certeza
passa.
Casando. Pronto:
casando passa, tenho
certeza."

A verdade é que ninguém mais,
além de mim, tem culpa.

Às vezes,
penso que dormi aos 16 anos
e só acordei aos 35.
(E o que se pode fazer quando
se está dormindo, além
de sonhar?).

Foi o que eu fiz: apenas
sonhei.
A minha vida inteira,
tudo que eu fiz foi sonhar,
no conforto da minha casa,
do meu quarto.

Fui o homem mais forte do mundo quando criança.
Quando adolescente,
o maior jogador de futebol
que já se ouvira falar.
Virei adulto e pensei:
"para ser um grande
artista,
basta escrever algumas boas
canções ou alguns belos
poemas de amor."

Fiz tudo isso.
Às vezes,
de maneira genial,
mas tudo dentro da minha
zona de conforto.
Sempre à espera de um
milagre, sempre à espera
da sorte — sempre a esperar.

A grande coragem — essa —
usei-a para os amores
que tive ou que
pensara ter.

Foram alguns, e todos
se foram.

Mas saibam que,
ao menos por esses,
eu dediquei-me ao
máximo — fiz de
tudo, sabe?

Preocupava-me em dar
atenção,
estava sempre à disposição
para qualquer eventualidade,
cuidava da alimentação,
da saúde.
Caprichava nos detalhes,
imagina:
eu corrigia, com delicadeza,
erros de português.
Nem saberia dizer quantas canções, quantos poemas escrevi-lhes.
Fui totalmente dedicado, esforçado,
afetuoso, nem sei como mantinha
tanta disciplina, tanta devoção.

Sonhei, batalhei, fui até o limite,
mas foi tudo, tudo em vão:

Ninguém quis
ficar.

Hoje,
me sinto mais velho do que
realmente sou.
Hoje,
me sinto mais inseguro que
quando era uma criança
doente.
Hoje,
com uma sensação de rejeição crônica, necessitando, urgentemente
de reparos na alma,
qualquer boa intenção parece-me
amor verdadeiro.
(Ainda que, traumatizado,
desconfie que acabará
amanhã de manhã).

Hoje,
o que restou-me foi este enorme
medo de gente,
medo de ruas desconhecidas,
de multidão.

Hoje,
ainda dentro do meu quarto,
escrevo para mim mesmo,
falando da vida (sonhada),
do mundo (imaginado),
mirando as paredes — ora
quentes, ora frias — independentemente
do que sinto.

Hoje,
como sempre foi,
olho para o teto e ele
limita-me.
As paredes limitam-me.
Limito-me aos cômodos,
à vista da janela já conhecida,
aos rostos íntimos.

E,
certamente por tudo isso,
como um prêmio, indesejavelmente (merecido),
eu estou, exatamente onde estou,
como estou:
perdido, com uma enorme sensação
de inutilidade e aos prantos
no chão.
No chão do banheiro, encostado à privada — que está com a tampa aberta e a descarga quebrada.

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠⁠O "X" do Problema -

O "X" do problema é que
sempre nos oferecem (primeiro),
o "melhor" de cada um.

E quando começamos,
com o tempo,
a conhecer, verdadeiramente
a essência, já é tarde.

Está ali o sentimento
impregnado — roubando verdades, camuflando defeitos, nos ridicularizando.

E isto,
nesses casos,
é desmoralizante,
traumático, revoltante.

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠Salvar o Homem -

⁠Para manter-se,
literalmente, ainda vivo,
um poeta, um artista, precisa,
por muitas vezes,
ignorar sua arte.

Largar de mão da visão artística
na maneira como enxerga
as coisas — a vida — e encarar
coisas mais comuns (que, naturalmente, também fazem parte
do seu dia a dia),
de maneira mais crua, mais vazia,
mais real:

Uma conversa estúpida,
com pessoas
estúpidas;
Uma pia de pratos sujos;
Um bico para ganhar alguns
trocados ou um emprego
maçante;
A não compreensão, a não
valorização da sua
arte;
A rejeição, o vazio de algumas pessoas, de alguns sentimentos,
de alguns sonhos — da vida.

É nessa hora que ele precisa
entender que, às vezes,
é preciso matar o poeta, o artista
para salvar o homem.

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠Sobre Sentir ‐

⁠Se alguém,
ao falar de um sentimento,
não tiver o brilho nos
olhos,
o entusiasmo nas
palavras...
a empolgação de uma
criança ao brincar,
esse sentimento
é inútil.

Inserida por SilvioFagno

⁠Pequenino -

⁠Ninguém encara a solidão
de um chão de banheiro
sujo e frio, e finge
chorar.

Já interrompi um banho
porque havia um pequenino inseto
se afogando naquela água
de lágrimas e sabão.

Só queria que os meus problemas ficassem do tamanho que eles realmente são.
E não do tamanho que eu os transformo e eles transformam-me.

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠GRITO -

Respeitem a Arte e seus
artistas!

É um trabalho tão digno e tão
duro quanto qualquer
outro.

Ou você acha que um florista
tem uma vida fácil porque
trabalha vendendo
flores?

Inserida por SilvioFagno

⁠No Limite -

⁠É uma noite maldormida por anos;
Dias que não amanhecem ou
nunca acabam;
É um desânimo crônico
estendido;
Uma falta... excessos... solidão.

É um não trabalho;
um não relacionamento;
uma não realização — pequenas e repetidas rejeições diárias — invisíveis aos outros.
Invisíveis a todos
os outros.

São dias cheios de coisas vazias,
em que nada acontece
e,
aparentemente
são nesses dias em que
"nada acontece",
que pessoas esgotadas,
saturadas — no limite —
desistem de
tudo.

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠Mistura Ácida -

Agora são
exatamente 3h37 de uma
madrugada quente de
novembro.
E neste momento
tudo que preciso fazer
é dormir.
Apenas dormir.
Mas dormir é tudo que eu
não consigo fazer.

As notícias correm,
palavras vêm e vão de um lado
para o outro dentro da minha
cabeça que não sossega,
não se desliga.
Uma mistura ácida de lembranças presentes, desejos reprimidos e saudades incuráveis.

Que noite:
enquanto todas as outras pessoas, bem ou mal,
tocam suas vidas em
frente,
tudo que eu consigo fazer
é sentir-me completamente parado, travado, inútil — perdido.

Inserida por SilvioFagno

⁠Esta Página -

Quando um dia,
se um dia, tu chegares
até esta página e leres estas linhas,
saibas que eu terei te amado
a cada dia:
De sol ou de chuva ou naqueles em que há de tudo um pouco, e
nada de mais há.

Terei te amado a cada noite escura
ou de luar, e, quem sabe, nos
sonhos das madrugadas
mais solitárias.

Terei te amado sempre que tu sorriste ou choraste, ou não fizeste nem uma coisa nem outra.

Terei te amado a cada falta tua,
a cada lembrança tua, a cada
saudade da gente,
Pequena.

Sim,
eu terei te amado, inevitavelmente,
a cada segundo antes que tu
chegaste até aqui — nesta página,
com estas linhas, estes versos.

E,
talvez
continuarei a te amar
mesmo depois que tu enxugares
o rosto, fechares o livro e
esqueceres-me numa
noite de um sábado
qualquer da tua
vida.

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠Aos Meus Avós ‐

⁠De onde se é capaz de se imaginar,
eu sinto, como uma primeira
força, que eu nasci dos
meus avós.

Dali:
de onde eu alcanço
o sonho,
os primeiros choros,
os primeiros
passos.

Dali:
da casa cheia, maior,
de todos.
Dos grandes encontros,
das brincadeiras no balanço
da rede, do colchão no
meio da sala,
da sala, dos quartos cheios,
das risadas com os primos
e tias e tios.

Nasci do chão áspero (que
desgastava só os lados
dos pés),
das plantas e da caixa d'água
(fria), com pequenas pedras
e latas em cima e o que eu não
me lembro agora.
Dos quintais de objetos
e pinhas e mamão.
Das histórias
(depois, repetidas inúmeras
vezes),
do pequeno velho espelho amarelo
no lavabo de mãos ao lado do
velho quarto com objetos
e um forte cheiro
de sertão.

Nasci dali:
das conversas, das piadas,
dos longos cabelos, da
tagarela que não para
de falar.
Nasci de onde eu reconheço
(hoje),
o primeiro colo,
o afeto, a ternura, a doçura
nas palavras, nos gestos,
nos cuidados — a proteção.

Assim,
de onde se é capaz de amar incondicionalmente,
eu sinto como uma primeira
força maior que eu nasci
(e eu não sabia ontem),
do primeiro amor dos
meus avós.

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠Repara -

Se o dia amanheceu
e você não reparou
no simples
— no essencial da vida —
você ainda não acordou
(pra vida).

Inserida por SilvioFagno

⁠Perdoar -

Perdoar
é o ato de proteger e
ensinar pessoas
(más)
a machucar
você.

Inserida por SilvioFagno

⁠De Coração -

Morrendo como todo
mundo,
sentindo como
poucos.

É assim, de coração:
sentir e ignorar os sentimentos
e desejos mais urgentes,
mais intensos, mais
sinceros,
enquanto aprende a suportar
o medo de perder o que
não é seu. — o que nunca
foi seu, nem nunca
será.

E taí um ato inútil de bravura
daqueles que não têm
mais escolha.

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠Por que Vivo –

Confesso que, às vezes,
é bastante revoltante pensar
que: não importa o que se faça
(de bom ou de ruim),
um dia
— e pode ser hoje mesmo —
sem mais, tudo acabará.

Seremos reduzidos,
fisicamente
a nada.
Sem chance para um novo abraço, uma nova conversa ou
um novo reencontro.

De certo modo,
ainda viveremos enquanto
alguém lembrar–nos.
Mas nada, nada mais será acrescentado de nossa
parte.
Mas sinto que se eu tivesse o amor dela (assim como
sinto que tenho de alguns
outros),
não teria motivos para pensar nisso.

Pois o peso da vida não é lembrar que irei (como todo mundo), morrer.
O peso da vida é esquecer
por que vivo.

Inserida por SilvioFagno

Difícil Mesmo –

Estar triste é suportável.

Difícil,
difícil mesmo é estar
desanimado, angustiado,
perdido.

Inserida por SilvioFagno

⁠Apesar –

A vida — incompreensível —
pode ser incrível, apesar
de tantos, apesar de
muitos — apesar
de tudo.

Inserida por SilvioFagno