R.M. Cardoso

FAÇO DA POESIA, NÃO UM CÁRCERE DE EMOÇÕES, MAS A TRANSCENDÊNCIA DA LIBERDADE.

RESTAURANDO O CANTO

O etéreo
brilho
(que brota
d'aura)

doura
os sonhos
que n'alma
transitam,
agrega
o silêncio,
estimula
o ego
e o canto
restaura.

TROVA - 115

O meu coração vivia
Só de enredo em enredo,
Até que aprendeu, um dia,
Que o amor não é brinquedo.

INVERNO

Dos teus
olhos
saltam
lágrimas!

Faz
inverno
em
tu'alma!...

GEOGRAFIA DO AMOR

Muitas
vezes,
na geografia
do amor,
o ontem
e o hoje
se tornam
um
rio
sem
ponte.

A LOUCURA ME TEM SIDO O ÚNICO SINTOMA DE LUCIDEZ.

PRELÚDIO DE ALVORADA

Do porão
da madrugada
alongada
e turva,
brota
um
prelúdio
de alvorada.

TROVA - 116

Vagando na noite fria
E mais escura que breu,
Tropecei na poesia,
Quem sentiu a dor fui eu!

TROVA - 117

Por ti eu naufrago em mar
de sonho e ansiedade,
Mas não me venhas salvar
somente por piedade!

QUASE PRECE

Deixa que eu te oferte
Este canto quase prece
Que é veraz e é só teu!

Deixa que eu te oferte
O lirismo que floresce
Dentro deste peito meu!

Quando um dia, no entanto,
O meu estro fenecer,
Que a lembrança deste canto
Viva e vibre no teu ser!...

SEM O LIMIAR DOS ENIGMAS NÃO SE VISLUMBRA O ÓBVIO.

NAS ESTAÇÕES DA POESIA, AS MUSAS SÃO A PRIMAVERA!

REBELDIA


Vivo amontoando as horas
Na ideia de encontrar
No porão desse paiol
De humanas divergências,
Uma forma inexorável
De sentir sem expressar,
De ouvir sem responder
E de ver sem protestar.
Atravesso os dias
Debulhando minha mente,
Reciclando as palavras...
Pessoas adeptas
De facções ineptas...
Noturnas consciências...
A defasagem dos seres...
A erosão dos poderes...

(Chega de ingerir
Este gole de angústia)!...

SOBRE AS RUÍNAS DO PRETÉRITO EDIFICAM-SE NOVOS TEMPOS!

ESQUINAS

Pelas
esquinas
da reminiscência,
o silêncio
e a solidão
falam
coisas
de nós
dois!

Faço
de conta
que não
ouço.

DIAGNÓSTICO

Raras
erosões
psíquicas
de moderada
consequência...
eventuais
distúrbios
de origem
emocional...
exiguidade
de memória
e alguns
sintomas
de coisa
alguma.

TRILHOS

Carregado
de anseios,
meu
canto
- locomotiva -
segue,
segue
sem
parar
sobre
os trilhos
de tu'alma
(nunca
receptiva)!

TROVAS -

118

Da mulher - louvo a beleza,
Das flores - o doce aroma;
Louvo toda a Natureza -
O verso é meu idioma.

119

"Quem canta, males espanta",
Quão valioso conceito!
Quando, com alma, se canta,
A alegria invade o peito!

FUGA

Cá
(do fundo
da tarde)
eu
flagro
a fuga
do sol
que segue
deixando
rastros
que a noite
apagará.

TROVA - 120

A poesia tornou-se
A essência do sonhador
E a rima fica mais doce
Quando o verso é de amor!

NÃO SE DEVEM ESTENDER FARRAPOS DE ÓDIO NOS VARAIS DA ALMA!

CUPINS

Ando
meio
esquecido
dos instantes
que tingiram
de azul
os nossos
dias...

Os cupins
do tempo
danificam
a memória!...

TROVA - 122

Tragédias na vida têm
(Oh, mundo comovedor)!
Mas só quem perdeu alguém,
Sabe o tamanho da dor!

TROVA - 121

Uma flor eu dei a ela
Demonstrando o meu amor,
Só não sei quem é mais bela -
Se é ela ou a flor

TROVAS -

123

Mulata, loura, morena...
P'ra mim não importa a cor,
Contanto que valha a pena
E me enlouqueça de amor!...

124

Confesso, nunca se tranca
A porta do meu sonhar,
Cuja entrada se fez franca
Às musas do meu cantar!...