Montaigne
É prova irrefutável da fraqueza de nosso julgamento apaixonarmo-nos pelas coisas só porque são raras e inéditas, ou ainda porque apresentam alguma dificuldade, muito embora não sejam nem boas nem úteis em si
Acho que prazeres devem ser evitados se acarretarão dores maiores como consequência, e que as dores a serem desejadas são aquelas que resultarão em prazeres maiores.”
O mundo é por excelência o templo sagrado a que o homem tem acesso a fim de contemplar monumentos que não foram construídos pela mão humana, mas sim erguidos pela divina sabedoria.
Todas as espécies existem em um número mais ou menos variado, o que nos induz a crer que não seja este mundo a única obra isolada de Deus nem que a matéria de que ele se serviu para criá-lo se haja esgotado.
Nosso maior prazer neste mundo são os pensamentos agradáveis e a grande arte da vida consiste em tê-los no maior número possível.
Quando alguém conhece a si mesmo está conhecendo a singularidade e não a totalidade do homem. Conhecer a nós mesmos não é a garantia de conhecer os outros.
Um homem precisa de ouvidos fortes
Para ouvir o que se diz sobre ele,
Quando é julgado com liberdade.
"O cuidar dos funerais, a escolha da sepultura, a pompa das exéquias, visam mais à consolação dos vivos do que ao interesse dos mortos."
[O ateísmo é] uma concepção monstruosa e antinatural, e difícil de ser aceita pelo espírito humano, ainda que insolente e anárquico, embora se encontre quem a ostente, seja por rebeldia, seja pela vaidade de emitir opiniões originais e reformadoras.
Todas as coisas estão sujeitas a passar de uma
mudança a outra; a razão, buscando nelas uma subsistência real,
só pode frustrar-se, pois nada
pode apreender de permanente, já
que tudo ou está começando a ser - e absolutamente ainda não é
- ou então já está começando a morrer antes de ter sido
É impossível conversar de boa-fé com um tolo: não é só o meu juízo o que se corrompe nas mãos de um dono tão impetuoso, mas a minha consciência também.
Quem se vangloria de seu saber não sabe o que é o saber; o homem não é nada quando pensa ser alguma coisa; quando se exalta engana a si próprio.
Uma fealdade e uma velhice confessada são, a meu ver, menos velhas e menos feias do que outras disfarçadas e esticadas.
-- Michel de Montaigne
Diz Cícero que filosofar não é outra coisa senão preparar-se para a morte. Isso porque de certa forma o estudo e a contemplação retiram a nossa alma para fora de nós e ocupam-na longe do corpo, o que é um certo aprendizado e representação da morte; ou então porque toda a sabedoria e discernimento do mundo se resolvem por fim no ponto de nos ensinarem a não termos medo de morrer. Na verdade, ou a razão se abstém ou ela deve visar apenas o nosso contentamento, e todo o seu trabalho deve ter como objetivo, em suma, fazer-nos viver bem e ao nosso gosto, como dizem as Santas Escrituras. Todas as opiniões do mundo coincidem em que o prazer é a nossa meta, embora adotem meios diferentes para isso; de outra forma as rejeitaríamos logo de início, pois quem escutaria alguém que estabelecesse como fim o nosso penar e descontentamento?"