Coleção pessoal de leofraden

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⁠O moderno culto da ciência vive da esperança de milagres. Mas pensar que a ciência pode transformar a sorte humana é acreditar em magia. Às ilusões do humanismo, o tempo replica com a realidade: frágil, insana, “insalvada” humanidade. Mesmo permitindo que a pobreza diminua e a doença seja aliviada, a ciência será usada para refinar a tirania e aperfeiçoar a arte da guerra.

[⁠O ateísmo é] uma concepção monstruosa e antinatural, e difícil de ser aceita pelo espírito humano, ainda que insolente e anárquico, embora se encontre quem a ostente, seja por rebeldia, seja pela vaidade de emitir opiniões originais e reformadoras.

Pergunta o moralista se na luta de classes contra o capitalismo, são permissíveis todos os meios: a mentira, a falsificação, a traição, o assassínio? Respondemos: são admissíveis o obrigatórios apenas os meios que aumentam a coesão do proletariado, inflamam sua consciência com um ÓDIO INEXTINGUÍVEL para com toda forma de opressão, ensinam-lhe a desprezar a moral oficial e seus arautos democráticos, dão-lhe pela consciência de sua missão histórica e aumentam sua coragem e sua abnegação.

O tédio surge quando não podemos fazer o que queremos, quando temos que fazer o que não queremos ou, ainda, quando não temos ideia do que queremos fazer.

Há dois tipos de revolução e, antes de transformarmos essa palavra em ídolo, é importante saber de qual estamos falando. Há o tipo exemplificado pela Revolução Gloriosa de 1688 e pela Revolução Americana de 1783, nas quais pessoas essencialmente cumpridoras da lei tentam definir e proteger seus poderes contra a usurpação. e há o tipo exemplificado pela Revolução Francesa de 1789 e pela Revolução Russa de 1917, nas quais uma elite toma o poder de outra e estabelece para si um reino de terror.

Todas as espécies existem em um número mais ou menos variado, o que nos induz a crer que não seja este mundo a única obra isolada de Deus nem que a matéria de que ele se serviu para criá-lo se haja esgotado.

Os homens são menos sensíveis ao prazer do que à dor.

Se tudo o que não vemos não existisse, nossa ciência se acharia muito empobrecida.

Quem se vangloria de seu saber não sabe o que é o saber; o homem não é nada quando pensa ser alguma coisa; quando se exalta engana a si próprio.

O mundo é por excelência o templo sagrado a que o homem tem acesso a fim de contemplar monumentos que não foram construídos pela mão humana, mas sim erguidos pela divina sabedoria.

Apenas de que o auge da capacidade intelectual se dá por volta dos 35 anos, a velhice tem suas compensações. É apenas nesse momento que a experiência e a erudição se tornam de fato ricas: teve-se tempo e oportunidade para considerar e refletir as coisas sob todos os aspectos, comparando-as entre si e descobrindo os seus ponto de contato e membros conectivos; por conseguinte, apenas nesse momento as compreendemos bem em toda a sua concatenação. Tudo foi esclarecido; por isso, conhece-se mais profundamente até mesmo aquilo que já sabíamos na juventude, visto que há muito mais provas para cada conceito. Aquilo que nos anos de juventude só acreditávamos saber, sabe-se de fato na velhice, e muito mais, porque possuímos conhecimentos meditados em todas as direções e, portanto, inteiramente coerentes, enquanto na juventude nosso conhecimento é sempre lacunar e fragmentário. Apenas quem envelhece adquirir uma ideia completa e pertinente da vida, pois tem uma visão geral do seu conjunto e do seu curso natural, e sem especial, porque não a ve como os outros, ou seja, apenas a partir do ponto de entrada, mas tamb[em a partir do ponto de saída, reconhecendo, assim, toda a sua nulidade, enquanto os outros sempre se encontram na ilusão de que o que é realmente bom ainda ocorrerá.

Na juventude rege a intuição, na velhice, a reflexão. Dessa forma, aquela é a idade para a poesia, esta mais para a filosofia. Também em termos práticos somos determinados na juventude pelo que foi induzido e por sua respectiva impressão, na velhice apenas pelo que foi pensado. Em parte, isso se deve ao fato de que s[o na velhice ha casos intuitivos em numero suficiente para serem subsumidos a conceitos, ganhando, assim, plena importância, conteúdo e credito; ao mesmo tempo, ha moderação, pelo hábito, da impressão do que foi intuído. Por outro lado, na juventude, a impressão das intuições portanto também do aspecto exterior das coisas especialmente quando se trata de cabeças vivazes e fantasiosas, é tão preponderante, que o mundo é visto como uma pintura. Desse modo, preocupam-se sobretudo em saber como figurarão e se apresentarão nesse mundo, bem mais do que a respeito da própria disposição interna. Isso se mostra ja na vaidade pessoal e no exagero em cuidar da aparência, característicos dos jovens.

Por que na juventude miramos a vida como imensuravelmente longa? Porque temos de encontrar lugar para as esperanças sem limites, com as quais a povoamos e para cuja realização Matusalém teria morrido jovem; em seguida, porque todomamos como medida da vida os poucos anos que já temos atrás de nós, cuja lembrança é sempre rica em material, portanto longa, já que a novidade faz todos os eventos parecerem significativos.

Se a marca da primeira metade da vida é o anseio insatisfeito pela felicidade, o da segunda é o receio da desgraça, pois, a essa altura, reconhece-se mais ou menos nitidamente que toda felicidade é quimérica, enquanto o sofrimento ao contrário é real.

Se na infância dedicado-nos com muita seriedade à primeira compreensão intuitiva das coisas, a educação esforça-se para nos transmitir CONCEITOS. Mas os conceitos não nos fornecem a verdadeira essência das coisas; esta, ou seja, o conteúdo profundo e autêntico de tudo o nosso conhecimento, reside antes na concepção INTUITIVA do mundo. Tal concepção, no entanto, só pode ser adquirida por nós, e de maneira alguma nos poderia ser ENSINADA. Donde resulta que o nosso valor, seja ele moral ou intelectual, não nos chega de fora, mas procede da profundeza do nosso ser, e nenhuma das artes pedagógicas pode transformar um simplório de nascimento num pensando: nunca! Simplório ao nascer, simplório ao morrer.

Cada um possui certos princípios de conduta inatos e concretos que fluem no seu sangue e seiva como resultado de todo o seu pensar, sentir e querer. Na maioria das vezes, cada um os conhece não in abstracto, mas só ao olhar retrospectivamente para a própria vida, percebendo um fio invisível. Conforme a natureza de tais princípios será conduzido à felicidade ou à desgraça.

Os acontecimentos da vida assemelham-se às imagens do caleidoscópio, no qual a cada volta vemos algo diferente, mas em verdade temos sempre o mesmo diante dos olhos.

Quem tem a inclinação e o hábito de submeter secretamente a conduta dos outros e em geral também as suas ações e omissões a uma atenta e severa crítica, trabalha na verdade em prol da própria melhoria e do próprio aperfeiçoamento, pois possui o suficiente de justiça, ou de orgulho e vaidade, para evitar o que amiude censura com tanto vigor. Em relação aos tolerantes, vale o oposto, como diz Horácio: HANC VENIAM DAMUS PETIMUSQUE VICISSIM, quer dizer, "concedemos esta liberdade e a solicitamos igualmente. (218)

O Evangelho moraliza admiravelmente sobre aqueles que vêem uma lasca no olho alheio e não vêem a viga no próprio; mas a natureza do olho consiste em enxergar o que está fora, e não dentro de si mesmo. Dessa forma, para nos conscientizarmos dos nossos defeitos, é um meio bastante adequado observá-los e censurá-los nos outros. Para nos corrigirmos, precisamos de um espelho.

Perdoar e esquecer equivale a jogar pela janela experiências adquiridas com muito custo. Se uma pessoa com quem temos ligação ou convívio faz-nos algo desagradável e irritante, temos apenas de perguntar-nos se ela nos é ou não valiosa o suficiente para aceitarmos que repita uma segunda vez e com frequência semelhante tratamento e até de maneira mais grave. Em caso afirmativo, não há muito a dizer, porque falar ajuda pouco. Temos, portanto, de deixar passar essa ofensa, com ou sem reprimenda; todavia, devemos saber que agindo assim estaremos nos expondo à sua repetição. Em caso negativo, temos de romper de moto imediato e definitivo com o valioso amigo ou, se for um servente, dispensá-lo. Pois quando a situação se repetir, será inevitável que ele faça exatamente a mesma coisa, ou algo inteiramente análogo, apesar de nesse momento, assegurar-nos o contrário de modo profundo e sincero. Pode-se esquecer tudo, tudo, menos a si mesmo, menos o próprio ser, pois o caráter é absolutamente incorrigível e todas as ações humanas brotam de um princípio íntimo em virtude do qual, o homem, em circunstâncias iguais, tem sempre de fazer o mesmo, e não o que é diferente. (Aforismos para a sabedoria de vida, p 213)