Moacir LuÌs Araldi

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Não olhe agora
Não olhe agora,
Minha timidez vai me condenar.
Verás apenas meus olhos sem brilho.
Meio tristes e com vontade de te encontrar.

Não olhe agora,
Neste momento não há ondas no mar.
Apenas o barco da saudade ancorado e mudo
E a brisa fria insistindo em me torturar.

Não olhe agora,
Tudo é silêncio. Posso teu íntimo escutar.
Meus ouvidos se fecham nesta hora,
Pra não ouvirem a música que faz emocionar.

Não olhe agora,
Estou apenas olhando pra você.
Não tenho flores pra te dar.
Só versos secos pra te oferecer.

Não olhe agora,
Não quero que me vejas assim descontente.
Prefiro te ver feliz depois
Quando estiveres em minha frente.

Inserida por Moapoesias

Espelho (Homenagem ao dia dos pais)
Aparentavas tanta resistência.
Mas no fundo, no fundo era mole.
Por vezes eu e meus irmãos nos espremíamos em recolhimento.
Não por medo, por respeito.
Penso em quanto sofrimento passaste em sua vida simples e pobre.
Eu via em você um cerne, resistente a tudo e a todos.
Nem a eminente fome parecia mudar teu semblante.
Nunca vi choro em seus olhos, exceto na sua viuvez.
Mas tenho convicção que para cada filho que seguia os próprios passos
Colocavas lágrimas no canto do olho.
Era mestre em disfarçar. Mas adoçava-se a cada uma destas partidas.
Com quinze anos, me fiz adulto e segui meus passos.
O homem refratário, penso até hoje, preferiu não me ver partir.
Era contido em suas demonstrações de afeto, contudo tinha no peito,
Um coração generoso que a nós transferiu pedaços.
Com minha vida ancorada nas minhas próprias costas
Passei a entender ações e reações de um pai.
Vi-me sozinho e triste em muitas esquinas da vida.
Descobri porque ele tentava mostrar ser aquela fortaleza.
Hoje meu corpo já acusa a idade.
Na mesma proporção meu coração acusa ainda mais a saudade.
Os valores que recebemos não foram financeiros.
Ainda bem.
Hoje sabemos o valor de cada coisa.
Jamais esqueceremos os conselhos, ensinamentos e exemplo que foste.
De você, herdamos o melhor:
Princípios dignos de justiça e convivência social.
O amor pelas pessoas independente de qualquer outra coisa.
Herdamos a certeza que o bem sempre vale mais a pena.
Ficamos sem tua presença física, mas sei que nunca nos abandonaste.
Onde estiver pai, um beijo de reconhecimento e amor neste dia dos pais.

Inserida por Moapoesias

Desejos
Que o peso nas asas não aborte o voo.
Que o medo não chamusque o amor.
Que o calor dos corpos aqueça o sentir.
Que os lábios se toquem mesmo sem partir.
Que meu amor te abrace na noite calada.
Que te sintas envolvida por inteira.
Que ao meu lado perceba-se plenamente amada.
Que o tédio da vida não nos leve á morte.
Que o desgaste do rosto não nos torne estranhos.
Que o erro amoroso não criminalize.
Que a chegada desejada não se transforme em partida.
Que os desejos sejam intensos na madrugada.
Que não se condene o amor mesmo quando não se está amando.
Que se durma feliz e,
Que se acorde sonhando.

Inserida por Moapoesias

Um dia II
Um dia tive que entender que sou finito.
Que ninguém ficará pra semente.
Que existem os feios e os bonitos.
Que sendo como for, somos apenas gente.

Um dia me propuseram eliminar as aventuras,
Apenas cuidar da saúde do corpo.
Tocar a vida sem fazer loucuras
Viver na base e esquecer o topo.

Um dia me pediram pra repousar,
A entender que o sonho acabou.
Todos os projetos de vida abandonar.
Só entende, quem por isso já passou.

Impossível. Não nasci pra me acomodar.
Não vou reclamar da sorte.
Lutarei enquanto respirar,
Cessarei sim. Perante a morte.

Inserida por Moapoesias

Silêncio insano
Eu conheço o barulho da porta que fecha.
Já senti o suor das mãos frias.
Conheço a dor na cravada da flecha.
Pisei as pedras da estrada vazia.

Eu conheço o grito que ninguém ouve.
O silêncio que nos faz insano.
Já via lagarta na folha da couve
Vi a tesoura cortando no pano.

Eu conheço a tristeza da estação depois que o trem passa.
A incerteza se a dor irá parar.
Já vi choro no embarque, ouvi as promessas.
Coração que se divide pra depois suspirar.

Inserida por Moapoesias

Calças rasgadas
Bateram à porta dos anos oitenta ainda adolescentes. Cabelos estranhos, desejos na mala e bolso vazio. Começavam a entender certas rebeldias, costumes e hábitos desta década, para alguns foi perdida, para outros, muito marcante. Traziam na bagagem uma vontade enorme de matar as curiosidades e a fome.
Juntaram-se a outros tantos jovens nos primeiros movimentos pela democracia. Orgulhosamente, de cara pintada, foram ás ruas pedir eleições livres.
Nas noites que passavam na danceteria Cacimba night Club, bebiam cuba libre e gim soda ouvindo Blitz, Cazuza, RPM e tantos outros imortalizados.
Motivado por esta vertente de ouro da música nacional o Brasil marca época com o primeiro Rock in Rio.
No cenário internacional o mundo conhecia a força musical de Bom Jovi, U2, Pet Shop Boys. Thriller tocava em todos os cantos do planeta. Madonna se tornava unanimidade.
Anos romanticamente alvissareiros em que a Columbia impressionava a todos em seu primeiro voo. A Argentina tentava defender as Ilhas Malvinas, Itaipu finalmente começava a produzir enquanto o muro de Berlim caía, pela paz. Chaves estreava no Brasil e E.T. ganhava as telas de todos os quadrantes. Junto com a esperança de um novo milagre econômico nascia o primeiro bebê de proveta brasileiro.
Foram anos românticos e rebeldes. Talvez só não foram mais intensos do que os anos de Woodstock, da então geração paz e amor.
Sou saudosista deste romantismo marcante. Dos cabelos volumosamente longos, dos amores e roupas coloridas. Época da rebeldia e das calças, propositadamente, rasgadas usadas com os All Star inesquecíveis.
Década em que se voltava para o futuro curtindo nove semanas e meia de amor sem esquecer que sempre haveria um tira da pesada nas ruas de fogo.
Tempos de quebrar regras, inovar, lutar pelo novo, mas mantendo sempre a doçura e a ternura tão própria de uma geração que foi à guerra lutar pela paz.

Inserida por Moapoesias

Estrada de terra
Pinheiro Marcado, 28 de fevereiro de 1979.

À Meritíssima juíza da VII vara crime desta comarca.

Permita-me Meritíssima juíza Cristina Magalhães, em nome da amizade que vivemos na infância, te chamar de Cris.
Eram assim que eu te chamava quando juntos corríamos nos campos e brincávamos nas águas, ainda cristalinas do rio. Pra você, eu lembro bem, eu era o pequeno Ilo.
Acho que eu era meio teu herói. Crescemos num tempo em que não havia estes brinquedos eletrônicos e, isolados naquele fundão, nos tornamos tão próximo.
Você dizia que se os pais deixassem iria casar comigo. Você queria ter uma menina. Até o nome já estava escolhido. Maria Luísa. A nossa Malu.
Eu também tinha meus sonhos. Eu também queria este casamento. Imagina! Duas crianças totalmente inocentes.
Há pouco tempo encontrei um retratinho em que estávamos eu e tu brincando na estrada de terra. Tu com aquele vestidinho que te envaidecia, mas que em poucos minutos estava totalmente sujo. Eu só de calção. Nem sei que cor era. Não lembro e, a foto, evidentemente é em preto e branco.
Pra falar a verdade doutora nem parece que somos nós.
Olha Meritíssima juíza crescer significou me afastar de você. Não quer dizer que eu te esqueci. Eu continuei na minha simplicidade interiorana não tive a mesma sorte da senhora.
Se o destino nos coloca hoje frente a frente não é por acaso. Hoje estou nas tuas mãos como nas minhas estiveste lá na infância quando te socorri das correntezas em que te afogavas.
Peço-te que me sentencie conforme tua vontade e a lei, mas leve em conta que agredi a ele por te amar desde a tenra idade.
Teu sempre admirador,
Murilo Sá. (teu Ilo)

Inserida por Moapoesias

Simbologia.
A tinta no papel faz a simbologia.
Redijo nele sentimentos selecionados e profundos.
Uma lágrima inevitavelmente cai.
Até sem dor,
Talvez solitária.
Talvez carregada de amor.
Este papel que tudo aceita,
Não traz da felicidade a receita.
Nem tem a perfeição do amor infinito.
Ainda assim o amor sempre ama alguém.
Ele é bom. Ele vale sim, a pena.
Nas esquinas do coração tem marcas,
Que o tempo ali fez.
Tem incertezas, tem dúvidas e um mínimo de lucidez.
Por vezes corroído de saudades.
Por outros de desejos e vontades.
Se paga o preço,
Quando o amor não se sente amado.
Que a ternura, ainda assim, nunca saia de você.
Nunca perca este teu jeito carinhoso de ser.
Mantenha sempre mole o coração
Para o amor se instalar.
Crescer e se consolidar.
E se não puder ser pra sempre,
Que seja só e tão somente eterno.

Inserida por Moapoesias

Versos tortos
Meus versos já não mais vejo.
Mal e baixinho apenas os escuto.
Não instigam meus desejos
No meu poema vesti luto.

Fiz silêncio por um tempo
Até mais do que um minuto,
Na saudade que hoje sento,
Até as lembranças eu insulto.

Não vou vesti-los de preto
A cor pra mim não importa,
Depois de mata-los não tem jeito,
Não é a perda, é a tristeza que me entorta.

Inserida por Moapoesias

Cadeira vazia
Na primeira fila tem uma cadeira vazia.
Sempre que alguém sai fica uma lacuna.
Não foi uma simples saída sem valia.
É uma ausência sentida e não oportuna.

Viver eu sei, não é show eterno.
Por vezes a peça termina antes da hora.
Sem palmas tudo fica ermo.
Apago a luz e no escuro vou-me embora.

Inserida por Moapoesias

Framboesa
Quando me perguntam quem sou eu.
Eu não respondo.
Não sei quem sou.
Sou apenas pedaço.
Que foi salvo pela sorte.
Ou quem sabe serei vida
Amparado pela morte.
Posso ser teu azar
Ou tua sorte.
Faça-me ser o que sou.
Serei o que queres que eu seja.
Posso ser amargura
Ou o doce da framboesa.
Posso correr pelo mundo
Com as rédeas do destino.
Posso ser homem formado e cruel
Ou um frágil e sensível menino.

Inserida por Moapoesias

Arranjos de algodão
Hoje quero um buquê de estrelas,
Com arranjos de algodão,
Com duas luas gigantes
E fiapos de vida em cordão.

Quero meu sonho entregar.
Falar apenas palavras breves,
Acordando sonolento escutar
A voz do amor meiga suave e leve.

Quero a luz penumbra da lua.
A brisa noturna motivadora.
Refletir a linda imagem tua,
Linda, leve e sedutora.

Minha alma na tua se espelha
Sempre meiga e formosa.
Mesmo que sejam vermelhas
Pétalas sempre serão de rosas.

Inserida por Moapoesias

A noite
A noite tem seus encantos,
Suas magias.
Seus romances.
Suas poesias.

A noite tem prantos,
Bijuterias.
Tem desencantos.
Tem agonias.

A noite é sedutora.
Acolhedora.
Reveladora.
À noite...
É sonhadora.

Inserida por Moapoesias

Maçã podre
Planto na sombra dos corpos grudados
O cálice amargo do licor condensado.
A magia transformada em vultos derramados
Vozes se transformam em gemidos sussurrados.

Quem sente mais forte não entende
A fraqueza pragueja nos arredores.
Estica-te na suavidade que me rende
Prece vazia de filme de horrores.

Aquele que feliz sorri na vida
Que toca o pandeiro da alma contente
Tem minha inveja assumida,
Ah, não quero ver nem mostrar os dentes.

Junto no chão a maçã mais podre.
Escuto ao longe fortes gargalhadas.
Sento a beira da margem salobra
Sem força e sem rumo pra pegar a estrada.

Inserida por Moapoesias

Sopro no rosto
E às vezes quero ficar quietinho, no meu canto sem ser visto.
Quero ficar no meu casulo, na escuridão da vida.
Prefiro não ler o último verso,
Que talvez fale de partidas.
Mas o vento...
Impiedoso,
Balança meus cabelos,
Faz-me acordar.
Sopra meu rosto.
Resseca minha pele
E me avisa
Que é preciso seguir.
Sim, existe vida ainda que com sombras.
Levanta!
Segue teus passos
Bata o pó da tua alma,
Espana as traças do teu íntimo.
Lágrimas? Quem não as tem.
O sol, hoje está do outro lado,
Mesmo que eu não o veja ele pode brilhar.
Pode sim.
Ele brilhará...

Inserida por Moapoesias

Inseguranças e medos
Se eu tivesse tido tempo de saber qual o seu prato preferido
Hoje eu faria pra você.
Se eu tivesse tido tempo de saber qual a sua sobremesa preferida
Hoje ela estaria á mesa.

Se eu tivesse como,
Hoje iria com você na sorveteria.
Qual seria teu sabor predileto?
Poderíamos pedir dois de framboesa?

Hoje traria pra você o mais lindo buquê de rosas.
Da tua cor preferida. Qual seria?

Se fosse possível,
Estaria na tua página na rede social
Parabenizando-te.
Que tipo de postagens eu viria por lá?

Como estaria teu rosto hoje?
De qualquer forma eu te encheria de beijos.

Que roupas você estaria usando?

Que caminhos meus te fariam feliz?

Que músicas te colocariam com olhar contemplativo?

Que tom de voz usarias ao falar comigo?

Nunca tive e nem terei estas respostas.
Contudo sei que mãe quando parte muito cedo,
Deixa com os filhos seu amor para que suportem e superem
Certas inseguranças e medos.

Inserida por Moapoesias

Calças Jeans
Pisava os chinelos.
Apertada pelas calças jeans
Manchadas.
Expunha o corpo
Nos passos que dava.
Músicas no ouvido
E a arrogância dos olhos
Saltava.

Pressuposto

O reflexo formava um rosto,
era o teu, por pressuposto,
e a chuva gota a gota
clamava tua voz.
No soprar do vento amargo
a nuvem foi afastada
e a luz se apagou.
Sem reflexo e sem voz
Pensei o que será de nós
se a presença não existe
sem a ilusão é ainda mais triste
não há no mundo quem resiste
se o sonho não dá palpite
a vida é só um despiste.

Inserida por Moapoesias

Vivi um tempo em que as pontes eram feitas de tábuas e energia elétrica era luxo no distante distrito de Pinheiro Marcado. Infância que no pinheiro da vida deixou marcas eternas.

Inserida por Moapoesias

Céu
Pendurei os sonhos no céu,
vivo tentando alcança-los,
minhas estratégias fracassam
não consigo nem tocá-los.
Pedi ajuda ao poeta
pra poder derrubá-los
disse-me que sonhos do céu não caem
para tê-los
é preciso busca-los a cada dia mais.

Inserida por Moapoesias

Formigas
A preciosidade é sempre interna
Não depende de externos fatores
Não é pela cor da pele que se
definem-se os louvores.

Na sombra dos escurecidos cílios
pálpebras se abrem reticentes,
o mundo se deslumbra em brilhos
iluminando os olhares carentes.

Na sombra das folhas verdes
formigas marcham exuberantes
despontam raízes na profundeza do mundo
buscando a água da vida,
que corre nas folhas divididas
da vida que alimenta outra vida.

Na sombra dos versos iludidos
repousa o poeta que sonhou
sente seu tempo perdido
marcado pela vida que murchou.

Inserida por Moapoesias

Saudades
Com o passar do tempo
acabamos nos afastando de vários amigos.
Saem suave como a leveza do vento
e alguns nunca mais voltam.
Com eles vai o futebol dos fins de semana,
histórias de amores fantasiosos,
na mesa de muitas falas e bebedeiras.
Mais tarde as lembranças
Provocam saudades enormes.
Alguns nunca mais veremos;
Outros, um alô e nada mais.
Também há os que ficam por perto
Fieis e leais, outros que mesmo longe estão pertos
destes, permita Deus,
não quero me afastar... Jamais.

Inserida por Moapoesias

Certo
Certo dia é qualquer dia.
Qualquer, quem diria, é o dia certo.
Portanto, certo é qualquer dia.

Inserida por Moapoesias

Lobista
- Olá doutor. Como vai?
- E aí grande Zé das Moças?
- Onde tens andado Doutor?
- Estou na capital.
- É mesmo? Fazendo o quê?
- Sou lobista.
- Bah Doutor. Eu nem sabia deste teu lado destemido.
- Imagina. Nada disso Zé.
- Mas só tem bicho grande nisso aí doutor.
- Isso é mesmo. Só tem feras.
- E como faz para alimentar todos? Custa caro não é doutor?
- Ah sim, não é barato. Mas sempre se dá um jeitinho. Tem muitas obras e outras oportunidades nestes pais.
- Isso é mesmo...
- Até mais Zé.
- Uma boa tarde Doutor.

Enquanto o finório se afasta Zé pensa: pelo jeito este negócio de lobos dá bem mesmo. Tá por cima da carne seca o doutor.
Carrão importado.
Beca impecável... Bela loba.

- Bem cuidado aí doutor!

Inserida por Moapoesias

A arte poética é sempre um desejo, um sonho, uma busca.
Quando vira fato já deixou de ser poesia.

Inserida por Moapoesias