José Craveirinha

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Grito Negro
Eu sou carvão!
E tu arrancas-me
brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.
Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão,
para te servir eternamente
como força motriz
mas eternamente não, patrão.
Eu sou carvão
e tenho que arder sim;
queimar tudo com a força da
minha combustão.
Eu sou carvão;
tenho que arder na exploração
arder até às cinzas da
maldição
arder vivo como alcatrão, meu
irmão,
até não ser mais a tua mina,
patrão.
Eu sou carvão.
Tenho que arder
Queimar tudo com o fogo da
minha combustão.
Sim!
Eu sou o teu carvão, patrão.

Poema do futuro cidadão
Vim de qualquer parte
de uma Nação que ainda não
existe.
Vim e estou aqui!
Não nasci apenas eu
nem tu nem outro...
mas irmão.
Mas
tenho amor para dar às mãos-
cheias.
Amor do que sou
e nada mais.
E
tenho no coração
gritos que não são meus
somente
porque venho dum país que
ainda não existe.
Ah! Tenho meu amor à rodos
para dar
do que sou.
Eu!
Homem qualquer
cidadão de uma nação que
ainda não existe.

O meu rosto
Logo pela manhã
dizem-me carrancuda a
expressão
da minha face.
Escarninho não respondo.
Para quê as palavras
ante a evidência das rugas?
A esferográfica escreve
o que sinto
e explícita a face hostil
reduz a mim mesmo
a tristeza do que nos sucede.
Depois...
é só passar à maquina.

Fábula
"Menino gordo comprou um
balão
e assoprou
assoprou
assoprou com força o balão
amarelo.
Menino gordo assoprou
assoprou
assoprou
o balão inchou
inchou
e rebentou!
Meninos magros apanharam
os restos
e fizeram balõezinhos."

Aforismo

Havia uma formiga
compartilhando comigo o isolamento
e comendo juntos.

Estávamos iguais
com duas diferenças:

Não era interrogada
e por descuido podiam pisá-la.

Mas aos dois intencionalmente
podiam pôr-nos de rastos
mas não podiam
ajoelhar-nos.

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