Elis Barroso

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COMO NASCEM OS POEMAS
Poemas nascem do amor entre a caneta e o papel
Cada qual com a missão
De libertar a quem o lê.

Inserida por elis_barroso

DESEJO A VOCÊ

Que tu saibas encontrar felicidade em um botão de flor
Em um dia nublado
No inverno prolongado
E até mesmo na dor

Desejo que sejas feliz até no dia ruim
Quando o riso não for tão constante
Quando ouvires mais nãos do que sins

Quero que aches graça nos próprios tombos
Que mude de sonhos
De rumo
De planos

Que tu saibas encontrar a felicidade
Ou melhor
Que ela se encontre em você.

Inserida por elis_barroso

Deixe um pouquinho de ti
Leve um cadinho de mim
Quem sabe assim
Eu cresça em você
E floresças em mim.

Inserida por elis_barroso

PAI

Pai, quantas vezes fiquei revoltado
Por não deixar-me andar com aqueles "amigos"
Que gostavam de correr perigo
Por não teres me dado aquele tênis irado.

Pai, tantas vezes eu não entendi
O porquê de querer me levar pra escola
Deixar-me de castigo por notas vermelhas
Beijar-me na bochecha sem entender que cresci.

Pai, tantas vezes desprezei seus conselhos
Fugi de casa pra viajar com colegas
Acidentei-me naquele carro sem freio
No hospital virei a cara aos seus beijos.

Pai, hoje sei que você estava certo
Quando queria que eu chegasse cedo em casa
Quando dizia que não fosse tarde pra cama
Quando mandava eu ficar por perto.

Pai, levou tempo, mas agora entendo
Suas lágrimas em minha formatura
Àquela surra quando roubei no mercado
Seus soluços ao ver vovô morrendo.

Pai, como eu queria que você soubesse
Hoje sou igualzinho a você
Meus filhos ainda não me entendem
Como eu queria que seus conselhos desse.

Meu pai, tudo eu daria com toda certeza
Pra ter direito a um último pedido
Pois sem você eu me sinto perdido
Só mais um beijo em minha bochecha.

Inserida por elis_barroso

A DOR QUE NÃO VIRA POEMA

A dor que não vira poema
Sufoca na garganta
Cresce um pouco a cada dia
Mata devagarinho

A dor que não transborda em poesia
Cria limo no peito
Cresce lodo na alma
Afoga a esperança

A dor que vira poema
Derrete
Esvai
Se vai.

Inserida por elis_barroso

BALANÇO

Quando criança eu não sabia do vai e vem da vida
Cada coisa estava sempre no mesmo lugar
O limoeiro, a mangueira
O pé de papoulas em que eu brincava de comidinha
O varal de roupas branquinhas que pareciam bandeiras da paz
A merenda estava sempre na lancheira
O café na garrafa
Cada coisa em seu lugar
Parecia que nada nunca mudaria

Fui descobrindo que não
Os avós não são para sempre
Muitos amigos se vão
As nuvens nem sempre tem forma
Às vezes são só uns borrões
Nos terrenos baldios nascem prédios
As estradas se bifurcam
Nos obrigam a tomar direções

Quando criança eu não sabia do vai e vem da vida
Ainda estou aprendendo a me equilibrar.

Inserida por elis_barroso

ACREDITO

Perguntaram-me se acredito em amor que dura pra sempre
Respondi que sim
Os meus são todos eternos
Os levarei pra sempre comigo
Vivos
Gravados com tinta no papel
Transformados em poema.

Inserida por elis_barroso

DIVAGAÇÕES

Divagando em minha teia de pensamentos
Enquanto tecia memórias
Quis saber qual palavra mais causa tormentos
Morte, dor, desprezo, escória...
Entre tantas mazelas
Lá estava ela
QUASE
Quase é a palavra
Palavra que mais maltrata

Quase passou no concurso
Quase chegou a tempo
Quase conseguiu o aumento
Um quase beijo
Quase amor
Quase se libertou
Quase foi escolhida
Quase ganhou a corrida
Quase, é a mais doída
Quase, jamais gera vida

Quase, é a palavra daquele que não alcançou
De quem não ficou e nem chegou
De quem se perdeu no caminho

Ainda em minha divagação, pensei
A água quase quente não serve pro café
Ah!! Uma vida sem café não dá...
Nem tem discussão. Né?!

TROCA

Vamos trocar nossos saberes
Você aumenta meu mundo
Eu aumento o seu
Você me ensina a escrever
Eu te ensino a remar

Peraí! Eu não sei remar
Te ensino quando aprender
Amar eu sei!
Deve ser quase a mesma coisa.

Inserida por elis_barroso

PRECE

Ainda trago na boca
O gosto dos beijos teus
Meu corpo agradece
E quase faz uma prece
Rogando que seja seu.

Inserida por elis_barroso

PEDAÇOS

Pedacinhos de mim
Vai ficando em cada verso de poema
Em meus riscos
Rabiscos
Em cada frase
Num conto
Em uma crônica

Lascas de mim
Caem entre os vãos das palavras
Ficam presas em vírgulas
Entre as páginas de um livro

Já não sou mais inteira
Derramo-me a cada deslizar da caneta

Um dia
Serei feito folhas ao vento
Terei em cada canto
Um pouquinho de mim.

Inserida por elis_barroso

DESCOBRI

Um dia cresci
Descobri que o barulho na concha
Não era o som do mar
Que pai e mãe também erram
Que a cada dia sei menos das coisas
Descobri que verdadeiros amigos se conta nos dedos
Que ganhar colo é bom em qualquer idade
E que sempre vou querer raspar a vasilha de bolo

Um dia cresci
Descobri que o para sempre
Às vezes tem fim
Que nem sempre o sim é melhor que o não

E o melhor de tudo
Descobri que os grandes abismos
Podiam ser pulados feito poças d’água.

DIAGNÓSTICO

Quando o olhar te trai
O corpo sua
A língua tem sede
A pele arrepia
Quando as pernas vacilam

Será doença ou paixão?
Indecisão!
Quem sabe são a mesma coisa.

Inserida por elis_barroso

MISTÉRIO

Entre o batom e o perfume
A montanha russa de hormônios
Nos vãos da doçura e da artimanha
Nem mil filosofias explicarão
O que se esconde em uma bolsa
E na alma de uma mulher.

Inserida por elis_barroso

EU QUERIA SABER

Quanto tempo o tempo leva
Pra água esculpir a pedra
O tolo parar de bancar o juiz
Perceber que ser aprendiz é melhor

Quanto tempo o tempo leva
Pra eu descobrir quem sou
Se sou uma ou se sou várias
Se a dor é minha ou do poema

Quanto tempo o tempo leva
Pra engavetar uma teimosa paixão
A violenta saudade domar
Uma ferida virar cicatriz
A ausência parar de doer
Leva, Tempo?
Leva!

DOS QUE PARTIRAM

Nesse mundo tão grande
Muitos passaram por mim
Uns deixaram saudades
Outros ensinamentos
Teve aquele que não fez diferença
E até quem mudasse minha crença
Você?!
Você ainda mora em mim.

Inserida por elis_barroso

COMPANHIA

Que meus versos que andam por aí
Um dia te encontrem
Te contem segredos
Levem a você um pouco de paz

Que as palavras que escondi em poemas
Sejam companhia depois que eu me for
Seja aqui ou distante
Breve ou eterno
Espero que meus versos te liguem a mim.

Inserida por elis_barroso

ANTAGÔNICA

Anoitece lá fora
Enquanto eu amanheço
É inverno do outro lado da porta
O sol me aquece por dentro

No verão deixo que caiam minhas folhas
No inverno floresço
Na primavera aqueço

Desabrocho em qualquer ocasião
Já não obedeço estação
Não me adequei aos padrões
Sermões se tornaram vazios

Se desejam calor
Eu faço frio.

Inserida por elis_barroso

DE BARRO

Sou barro
Sem forma
Sem beleza
Barro sem serventia
Poderia ser pisado
Soprado pelo vento até não sobrar um grão sequer
Simplesmente virar pó

Sou barro
A espera que o Oleiro
Me coloque em suas mãos
E dê a forma que quiser.

Inserida por elis_barroso

TEMPO

Às vezes tão lento
Quando tudo que queremos é que se vá
Leve as dores
Apresse as tempestades
Fica ele ali tal qual relógio com o ponteiro quebrado

Ora passa rápido
Como os números no cronômetro
Mal pode ser visto
Quando se percebe
O menino cresceu
A rosa murchou
Perdeu-se o trem
Nem foi dado o adeus

Tempo
Se passas lento como as borboletas
Ou ágil como os Colibris
Já não importa
Desisti de entender em qual asas vêm

Me ensine a voar contigo.

ASSIM É

Janela que dá pra lugar nenhum
Trevo que perdeu a quarta folha
Concha tirada do mar
Cobertor que não tapa os pés
Assim é aquele que perdeu a voz
Foi negado o saber
Queimada a história.

Na folha de papel
Vi que palavras não se pode prender
Senti cheiro de liberdade
Enxerguei colibris
Descobri então
Que sou feita de asas.

POUSO

Tal qual a caneta que após percorrer todas as linhas repousa exaurida sobre a folha de papel
Depois que eu fizer todo o percurso de sua pele
Embrenhar-me em seu corpo
Enfim exausta
Ofereça-me seu peito como pouso.

Robôs

Espero que não seja tarde
O dia em que a humanidade descobrir
Que máquinas não fazem flor
E robôs jamais escreverão poemas

Inserida por elis_barroso

POR AÍ

Hoje saí pelas ruas da cidade
Vi edifícios com mil janelinhas
Cada qual com uma história para contar
Vi gente apressada mesmo sem ter onde ir
Vi a moça fazendo bala de coco no tacho
O coco queimado no açúcar tinha cheiro de infância
Por alguns minutos fui criança outra vez

Senti cheiro de terra molhada ao passar por um jardim regado
Senti respingar na pele águas de um chafariz
Senti alegria ao ver o abraço entre duas crianças
Senti uma vontade danada de sentar numa calçada
E sentei

Hoje saí pelas ruas da cidade
Achei tantos tesouros
Que jamais poderia pagar.

Inserida por elis_barroso