Coleção pessoal de elis_barroso

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GALHO SECO

Num galho seco caído à beira do caminho
Vi pousar um alegre passarinho
Quebrou um galhinho com o bico
Voou dali para longe

Aquele galho seco caído no chão
Um dia foi verde
Deu flor
Agora tão frágil
Sem cor
Mesmo assim me ensinou:

Só gravetos secos podem ser ninho.

O TEMPO

As horas ficaram para trás
Os dias se perderam no ontem
As estações mudaram
Os anos se foram
O tempo se perdeu no caminho
Quase tudo mudou
Só o que sinto por você é igual.

Quem sabe um dia a gente se esbarre
Numa encruzilhada qualquer nossos olhos se cruzem
Não tendo para onde fugir
Só assim
Parem de fingir.

DIA FRIO
Num dia frio
Enquanto a chuva fina brinca de escorrega nos telhados
De embaçar as vidraças
E fazer poças nas calçadas
Só quero uma xícara de café
Um pedaço de poesia
E você
Bem quente...

Eu queria ser poeta
Para uns versos escrever
Com a unha
Em sua pele.

Pontuações

Interrogações nem sempre tem respostas
Vírgulas escondem suspiros
Reticências guardam infinitos

As pontuações me ensinam:
Às vezes é preciso silêncio.

QUASE ESCREVI

Quase escrevi um poema
Tinha gosto de bolo de vó
Cheiro de café passado na hora
O poema que quase escrevi tinha o aconchego de abraço apertado em dia frio
De barulho de chuva na janela
Que pena!
Quase escrevi um poema.

RASCUNHOS
Se a vida desse direito a rascunhos
Em todos os riscos e rabiscos
Eu colocaria você.

PERDI UM POEMA

Perdi um poema no caminho
Talvez seja semente
Ou quem sabe vire pedra
Era um poema pequenininho
Cabe na palma da mão
Se achar leve contigo
Quem sabe um dia floresça

JANELINHAS

Na madrugada
Quando vejo janelinhas acesas
Acho que ali moram corações partidos
Insones
Penso nas histórias de amor que poderiam virar poesia.

Aceito convite para assistir a lua e as estrelas da varanda
Para ouvir uma orquestra de grilos
Ou tomar um porre de risos até doer a barriga.

CONCLUÍ
Olhando uma bela xícara que virou vaso de flor
Concluí:

Para nada existe fim
Só mudanças
Recomeços.

DESCONEXO

Sinto o gosto do abraço
O afago do beijo
Ouço a conversa dos olhares
Descobri:
Viver não precisa fazer sentido.

ENTRE OS LENÇÓIS

Nossos pés se procuram entre os lençóis
Num roçar suave se acariciam
Confidenciam em silêncio
Fazem juras sem palavras

Nossos pés entre os lençóis
Sussurram segredos que meros humanos jamais vão saber.

Ela é assim
Um tanto lua
Um tanto mar
É feita de fases
Regida por suas próprias marés

Ela é mulher.

UM NINHO

Em um velho tronco seco
Encontrei um ninho abandonado com apenas um ovo
Tão pequenino
Tão solitário
Um ovo que não se quebrou de dentro para fora
Guardou em si um passarinho que nunca voou

Pensei aonde estariam todos os outros
Talvez por aí visitando telhados
Construindo novos ninhos
Fazendo música em nossas manhãs

E ovo solitário do ninho abandonado?
Ah! Esse teve sua missão
Bem diferente dos seus irmãos
Me ensinou que para ter vida
Que para voar
É preciso se quebrar

De dentro para fora.

SENTIDOS

Se fores capaz
De enxergar a tristeza estampada em um sorriso
Ouvir o grito silencioso de bocas mudas
sentir o cheiro da podridão encoberta por caros perfumes
O gosto amargo do cálice bebido por seu irmão
E se conseguires tocar em vidas.

Seus cinco sentidos dirão que és humano.

PRA VOCÊ EU QUERO...

Ser menina nas brincadeiras
Na cama ser mulher
Ser sua melhor amiga
E desconhecida para que sempre tenhas algo novo a descobrir
Eu quero ser o porto onde desejes ancorar
Mas também quero ser o vento que te leva a outras águas
Eu quero ser primavera para que regues minha flor
Também quero ser outono para que comas do meu fruto

Eu quero ser poesia em sete versos e assim me leias com um olhar
E seu romance de cabeceira para que me leias a vida inteira.

DOCE DESPEDIDA

Hoje vou deixar nosso amor morrer com poesia

Escorrer dos olhos todo desmedido

Encontrar beleza no que me fez perdido

Transbordar do peito límpido e sereno

Toda essa agonia que me corrói por dentro.

Hoje sorrirei com tranquilidade

Pingando a saudade banhando os lençóis

Nessa terna beleza

De candura e singeleza

Derretendo a tristeza

Da tão atroz partida.

Hoje vou valsar bem leve

A inquietude que o momento pede

Cantarolar suave

Enquanto minh`alma se abre

Transformando em música toda essa dor.

Nessa leve despedida vou seguir a vida

Vazando a tristeza

Levando a certeza

Que é assim que se faz.

CANETAS

Tentei escrever alguns versos
Alegres
Utópicos
Até sobre melancolia
Mas minha caneta teimosa hoje só quer fazer poemas de amor

Que loucura!
Nunca soube que canetas tinham coração.