Clay Werley

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Soneto de autopostumação

Sensações póstumas devem ser reconfortantes,
pelo alívio do sofrimento de uma vida inteira,
tornando todo o peso do dia a dia uma besteira,
uma vez do outro lado nada mais será como antes...

Preocupações de outrora em vida serão irrelevantes,
parte de uma extinta realidade passageira,
meu espírito, móvel velho em que se tirou poeira;
renovado, fará de angústias e mágoas coisas distantes...

Não há medo, confio no que mereço, por tudo que fiz;
a morte é um processo natural, calmo e bem-vindo,
finalmente terei a chance de ser bem mais feliz...

Ao partir sei que a caminho do maior estarei indo,
será bom, jamais vi uma caveira com semblante infeliz,
todas espontaneamente estão sempre sorrindo.

Dramática limitação

Minha poesia é dramática,
acatafasia de temáticas vividas,
ama sucessão de ideias repetidas,
limitadas pela gramática...

Sentimentos em forma enfática,
exprimidos em frases batidas,
é osistema com suas medidas,
tornando minha poesia apática...

Assolado pela falta de instrução,
à insipiência, condenado estou,
ainda assim, sigo na contramão...

Incomodando,por todo lugar onde vou,
indesejável anticlimax de talobjetivação,
umgoleiro, a voar na bola e evitar o gol.

Soneto de metamorfose

Vida de lagarta.... Total limitação...
A sina de uma existência asquerosa,
de uma condição naturalmente desairosa,
melancólica, frágil e sem opção...

Destino de incomoda sujeição,
uma vida sofrida, triste e morosa,
de uma falta de perspectivas pavorosa,
onde há apenas a morte como solução...

Quando minha alma, este fulgor tépido;
de meu velho corpo irá se separar;
meu caixão, morada do cadáver fétido;

será o casulo que irei abandonar;
e estarei livre, me sentirei lépido;
borboleta pronta para voar.

Soneto de realidade

Outra vez uma história mal contada...
E acada frágil argumentolançado,
quebro, como umvaso despedaçado,
retrato da minha alma machucada...

A decepção bruscamente instaurada...
O afeto assim se fez, menosprezado,
a confiança, este bem tão estimado,
destruída, implodida; reduzida a nada...

Humilhado, sem ter tidoo ônus de errar,
iludido, perdido no limbo desse ínterim,
até sentir o açoite da traição aestalar...

Respiro consternado, perante o fim,
quizera eu, apenas a utopia de amar,
sem que fosse usado isso, contra mim.

Normose

Uma triste epidemia assola a humanidade,
sintomas claros, quase sempre ignorados,
produzindo indivíduos massificados,
destruindo toda e qualquer individualidade...

Um distúrbio coletivo de personalidade,
criando humanos cada vez mais alienados,
com estilos e pensamentos padronizados,
Impostos por nossa hipócrita sociedade...

Condenando-os a este mar de mediocridade,
onde impera uma absurda falta de criatividade,
aliada a medo, conformismo e incapacidade...

Eu... Tento preservar a minha integridade,
permanecendo fiel a minha própria identidade,
mas isso soa para a maioria como insanidade.

Considerações póstumas a uma paixão

Quando eu romper o fio que me prende a terena existência,
e minha alma liberta naturalmente encontrar seu caminho,
não quero que lágrimas demonstrem que me tens carinho,
não me honras o troféu de sua tristeza em minha reverência...

E quando a lousa fria vier a refletir a prateada reluzência,
não percas seu sono, ainda conservo por ti o mesmo aninho,
não me agraria teu sofrer, nem me orgulharia o teu definho,
se dedique-lhe amor não foi pra que fizeste dele penitência...

Se o destino ingrato não nos deu sequer direito a despedida,
ao menos sei que terás boas lembranças de nossa trajetória;
sei também que sentirás pelo que não fez por mim em vida...

Mas aos poucos merecidamente, seguirás com tua história;
e minha ausência sem que percebas não mais será sentida...
Pois o tempo... É o funeral para sempre da memória.

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Cantilena

Minha vida é mesmo tediosa,
é uma sucessão de mal-entendidos,
tantos amores não correspondidos,
é uma experiência dolorosa...

Realidade pouco gloriosa,
de vários fracassos assumidos,
infinitos sonhos mal-sucedidos,
triste vida, injusta e morosa...

Tal qual um filme de roteiro chato,
em que pouca coisa acontece,
me conduzindo ao tédio de fato...

E por isso meu coração perece,
tornando-me mais um poeta barato,
enquanto Deus de mim, se esquece.

Inserida por ClayWerley

Guardião

Nobre emissário de Deus, porque choras?

Temporariamente distante da morada eterna,
sabes que tens uma importante missão a cumprir...
Triste e solitário, ele olha o horizonte,
permanece parado, inócuo, circunspecto...
Em seu rosto a expressão pensativa
não esconde as lágrimas,
tristes lágrimas de pesar...

Mas porque choras?

Momentaneamente a alvura de suas impecáveis vestes,
perdera o brilho, e a resplandescência de sua aura
perdera o encanto, a simetria de seus traços, a beleza;
o esplendor de sua presença, a magia;
porém a pureza de seus gestos permanecera...
Do choro, lagrimas sinceras de consternação...

Mas, porque?

Subitamente sua imagem passou a ser ofuscante,
estava agora, ali; um ser lucido e sereno,
e sem fugir das responsabilidades, bateu asas;
flutuou suavemente e sumiu ao longe...
E só então pude entender...
Nem mesmo os anjos permanecem alheios
as atrocidades humanas,
este precisou ter seu momento...

Reestruturar as bases fortes de sua interna fortaleza.

Inserida por ClayWerley

Onicofagia

Nos limites mais extremos da tensão,
a assumir caráter destrutivo...
Tendo como berço cativo,
o tédio, a ansiedade e a depressão...

Válvula de escape em momentos de pressão,
tendo como princípio ativo,
um forte instinto auto-depressivo,
que nessas horas sobressai-se a razão...

A angustiante espera por definição,
acaba sendo o principal motivo,
até que enfim apareça uma solução...

Que venha modificar o ambiente apreensivo,
e então, os dedos doloridos de minha mão,
serão a prova, de que ainda estarei vivo.

Inserida por ClayWerley

O abstrato mito do silêncio absoluto

Um dia resolvi contemplar o silêncio absoluto,
queria saber o que estaria além de tudo o que escuto,
determinado contra os barulhos do mundo me isolei,
em um ambiente de total isolamento acústico tentei...

Surpreendentemente meu objetivo não pude alcançar,
impedido por sons sincronizados de meu respirar;
tomei fôlego, prendi a respiração, tentei novamente;
e percebi o quanto a tentativa se mostrava incoerente...

Talvez tal silêncio seja incompatível com a vida;
já que esta é movimento, respiração, pulsação;
estagnação vital é algo insustentável e sem medida...

Talvez a morte seja este silêncio em real definição...
Pois em vida não passa de sentença desmentida,
refutada por compassadas batidas; do meu coração.

Inserida por ClayWerley

Me condenaste ao limbo

Eu sou a página virada,
o sonho que não vingou,
a felicidade que acabou,
o tudo que tornou-se nada...

Sou a ironia velada
do momento que passou,
e da lembrança que restou,
sou a saudade jamais exaltada...

Triste dor... A sua indiferença,
me conduziu ao buraco em que estou.
Se de sua vida você me exclui

a inexistência do que outrora fui,
faz de mim o que agora eu sou...
Ausência, ausência; ausência.

Inserida por ClayWerley

Argucia

Sou um animal frágil e pouco competitivo,
sou um cidadão pobre e sem influência;
sou mais um ignorante subnutrido,
e não bastasse minha própria miséria,
ainda sou um perdedor por excelência...

Mas de minha realidade sou consciente,
clássico exemplo de humano angustiado,
as vezes agindo de forma incoerente...
Por vezes deprimido, por vezes irado;
no fundo, no fundo... Um pobre coitado.

Defeitos me conduzem a beira da imperfeição,
sou falho; e por isso mesmo sou humano...
Pois onde somente o mais forte sobrevive,
onde não há espaço para compaixão e delicadeza;
ser humano é subverter as próprias leis da natureza.

Inserida por ClayWerley

Soneto de indignação

A aparente ossada do animal morto intimida,
mosaicos na pele, nos pés, no chão, seco e rachado,
a aridez pastel contrasta com a beleza do céu azulado,
a inabalável fé vencendo um ambiente hostil a vida...

A pseudo falta de solução, ativo de útil contrapartida,
para heróis que logo somem após terem se elevado,
se apropriando da esperança de um povo subjugado,
Indecente placebo que ilude mas não cura a ferida...

Mas a maior virtude é persistir um tanto a mais,
quando tudo de fato já parece totalmente perdido,
onde o ato de sobreviver se torna um fato contumaz

Inerente a força de quem acostumou-se a ser esquecido,
vivendo um dia por vez à sombra da ganância voraz,
onde para o povo pobre o pior foi ter nascido.

Inserida por ClayWerley

Soneto de contradição

Meus sonetos não seguem métrica
Nem tem métodossofisticados
Não tem vocábulos rebuscados
Nem abusam de dialética

Rimas de pobre fonética
Períodos longos e arrastados
Ritmo lento e cadenciado
Muita verve, pouca técnica

Porém carregam em si verdades
Das quais nunca se pode abrir mão
Idéias postas sem vaidades

Priorizadas em sua construção
Desrespeitando formalidades
Em nome do que vem do coração.

Inserida por ClayWerley

Auto-prazer

O ser humano faz da busca por prazer obsessão,
contraria a si próprio, suporta dor e até humilhação,
sofre, se reprime, se acovarda por medo da rejeição,
negaceando instintos básicos dessa humana condição...

Machos e fêmeas tem o sexo como inerente destinação,
onipresente inconscientemente como segunda intenção,
sutilmente camuflado em meio a cinismo e dissimulação,
e quando naufraga no eterno jogo da sedução...

O instinto reprimido sobressai entrando em ebulição,
e o desejo intransigente tem como única solução,
aliar-se ao poder realizador de nossa imaginação...

Um pseudo prazer em que o orgasmo põe fim a ilusão,
nos atirando de volta abruptamente em uma explosão,
a estatelar-se pateticamente na realidade da frustração.

Inserida por ClayWerley

Soneto de amor não correspondido

Amo e não sou correspondido,
sei o quanto isto é patético,
por mais que soe poético,
estar assim tão deprimido...

Me sinto incompreendido,
tal amor nem chega a ser hipotético,
a dor é o que me faz cético,
a pensar no que poderia ter sido...

Não quero viver sonhando acordado,
mas fico a mercê de meu coração,
a caminho do fogo sabendo que serei queimado

cego, louco, entorpecido de paixão...
Triste sina, amar sem ser amado...
Sofrer, sofrer; sofrer... Em vão.

O Império dos fatos

Capitalismo é dependência química...
Socialismo é síndrome de abstinência...
Não sei mais o que fazer,
a que recorrer,
para libertar minha consciência...
Busque status,
entregue-se a paranoia...
Escolha seu sistema de morte,
tenha calma,
paz de espírito,
e também um pouco de sorte...
É você que escolhe,
seu próprio sofrimento...
É você que determina,
a intensidade de seu tormento.

Inserida por ClayWerley

Sub-humano

Sem opção durmo na rua...
Tratam-me como bicho,
sei que causo buxicho,
ao menos tenho a lua...

Meu tormento continua,
Vivo em meio ao lixo,
tal condição é resquício,
do governo que não atua...

Quase sempre embriagado,
faço do copo uma taça,
não me faço de rogado...

Brindo a dose de cachaça,
líquido abençoado,
que a tristeza rechaça!

Inserida por ClayWerley

Vida, abstrata vida...

Eu vejo o tempo passar...
Quem poderá entendê-la?
Vivo sem compreendê-la,
penso a olhar para o mar.

Até onde irei chegar?
Não sei como resolvê-la...
Um dia desses irei perdê-la,
não tenho como evitar.

Não sei para onde vou,
como encontrar saída?
Mal informado estou...

És viagem só de ida?
A chama já se apagou.
Oh vida! Abstrata vida.

Inserida por ClayWerley

Origami

Para você um dia dobrei,
o mais belo origami...
Mesmo que tu não me ame,
De ti, para sempre eu lembrarei...

Destino não quis? Não sei...
Por mais que eu reclame,
e em meus poemas declame,
de certo, nunca saberei...

Sutil arte em definição,
meu amor por ti assina,
singela obra de paixão...

Geometria divina!
Resta lembrar que perfeição,
para mim és tu, menina.

Uma tradicional valsa

Sua ausência, terrível hecatombe a asolar meu coração.
Me devastando, atentando contra minha autoestima,
dilacerando-me e fazendo-me crer que esta é minha sina...
Não me amas e vivo a insistir não aceitar tal condição...

Buscando motivos e sinais que justifiquem essa ilusão...
Sonhando, fazendo de minha dor uma digna obra prima,
sofro em silêncio, sofro em vão... Isso nunca termina.

Ouvi dizer que o amor sobressai na adversidade,
e apenas a dificuldade alicerça o que se intenta conquistar...
Mesmo cético, me vejo tentando crer nessa verdade...

Mergulhando de cabeça, ignorando que não sei nadar...
Me mantendo perto, ombro amigo; esquecendo a vaidade.
Em um sofrer entorpecido como uma valsa a se arrastar.

Inserida por ClayWerley

Escravo do sistema

Segunda-feira, obrigação de ter que ir trabalhar.
O sono ainda reside em meu corpo, me sinto cansado,
o relógio já despertou, e me vejo novamente atrasado,
ainda há estrelas no céu, mas tenho que levantar...

Tomar banho, escovar dentes, enfim me arrumar...
Acelerando meu próprio ritmo ainda que contrariado,
rumo ao ponto de ônibus rezando que não venha lotado,
esquecendo o café da manhã; sem tempo para tomar.

Mero detalhe diante de tantas outras adversidades,
que durante a semana inteira irão me aborrecer...
No fim de semana o cansaço esgotará as possibilidades.

Trabalhar, trabalhar; trabalhar... E não viver.
Escravo do sistema, encurralado por minhas próprias necessidades,
não tenho direito a nada que me dê prazer.

A deusa da perdição

Teu charme é algo indescritível,
é devastador, pura dinamite.
Faz jogo... Sua beleza lhe permite;
demonstrando um cinismo terrível.

Ela se diverte por ser irresistível,
sou mais uma presa fácil... Acredite!
Personificação de afrodite,
cai em sua armadilha invisível...

Frente a ti, eu só penso em sexo...
A ponto de me tornar outro se te vejo,
fato natural, nada há de complexo.

É a força ódica do desejo,
me perco em atitudes sem nexo,
e tudo começou em um simples beijo.

Eternizado em arte morta

Dizem que eucultivo uma arte morta,
algo aqual não se enxerga utilidade,
algoque sequer pertence a realidade.
Enquanto a depressão me bate a porta.

Mas o que outros dizem, não importa;
O que vale mais é minha necessidade,
essemeu eterno culto a dignidade,
essemeu desabafo, nessa vida torta.

Não tenho pretensão de ser intelectual,
apenas preencho o vazio da madrugada,
escrevo para mim mesmo, ao natural...

Versejo e rimo, sobre o tudo e o nada,
E assim aextrapolar esse mundo mortal,
minha existênciajamais será apagada.

Inserida por ClayWerley

Cefaléia

Meu nível de serotonina caiu derepente,
a cabeça parece estar prestes a explodir,
lateja incomodamente, não há como fugir,
o mal estar chegou de forma contundente.

Não há poesia aos olhos de um doente,
aesperança volatilizou, até se esvair,
apenas dor, define a realidade de existir...
Eu agora, um agonizante sobrevivente.

Triste realidade, apenas dor e desilusão...
Que falta faz o carinho do amor perdido,
irremediavel mesmo é curar um coração.

So me resta então, recorer aum comprimido.
Ser determinado, forte;e esquecer a solidão,
calvario inalienável de um coração partido.

Inserida por ClayWerley