Chico Buarque
"Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes.."
....E AO LHE VER ASSIM CANSADO
MALTRAPILHO E MALTRATADO
AINDA QUIS ME ABORRECER....
QUAL O QUE....
LOGO VOU ESQUENTAR SEU PRATO
DOU UM BEIJO EM SEU RETRATO
E ABRO MEUS BRAÇOS PRA VOCÊ....
Receita para virar a casaca
Amigo ciro muito te adimiro
o meu chapeu pra ti eu tiro
muito humildemente minha petiz agradece a camisa que lhe deste a gulsa de gentil presente
mas caro nego
um pano rubro negro é presente de grego
não de um bom irmão
nós separados nas arquibancadas
temos sido tão chegados na desolação
amigo velho
amei o teu conselho
amei o teu vermelho que é de tanto ardor
mas quis o verde que te quero verde
é bom pra quem vai ser um bom sofredor
pintei de branco o teu preto
ficando completo o jogo da cor
virei-lhe o inlustrado do peito
nasceu deste geito um outro tricolor.
Era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim?
Nina diz que, embora nova
Por amores já chorou que nem viúva
Mas acabou, esqueceu
E ela sempre se perguntava qual era o problema
Amava muito?
Sofria muito?
Sentia muito.
Vovó a colocou no colo e explicou a situação:
Amar não é problema
As pessoas são.
“Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado.”
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão
Não solidão, hoje não quero me retocar
Nesse salão de tristeza onde as outras penteiam mágoas
Deixo que as águas invadam meu rosto
Gosto de me ver chorar
Finjo que estão me vendo
Eu preciso me mostrar.
agora falando sério..
preferia não falar
nada que distraísse o sono difícil,
como acalanto
eu quero fazer silêncio
um silêncio tão doente do vizinho reclamar
e chamar polícia e médico e o síndico do meu prédio pedindo para eu cantar..
Prometo te querer
até o amor cair doente, doente.
Prefiro, então, partir
a tempo de poder
a gente se desvencilhar da gente.
Depois de te perder, te encontro
com certeza.
Talvez, num tempo da delicadeza,
Onde não diremos nada, nada aconteceu;
apenas seguirei, como encantado,
ao lado teu.
Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo...(além da
sífilis, é claro)*
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora...
Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto
Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto
Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa
Mas o meu peito se desabotoa
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa...
E um dia, afinal,
Tinham direito a uma alegria fugaz
Uma ofegante epidemia
Que se chamava Carnaval
Dorme, minha pequena
Não vale a pena despertar
Eu vou sair por aí afora
Atrás da aurora mais serena