Adolfo Bioy Casares

Nossos hábitos pressupõem uma maneira de as coisas acontecerem, uma vaga coerência do mundo.

Creio que perdemos a imortalidade porque a resistência à morte não evoluiu; seus aperfeiçoamentos insistem na primeira ideia, rudimentar: manter vivo o corpo inteiro. Só se deveria buscar a conservação daquilo que interessa à consciência.

Por aquele corpo interminável, por aquelas pernas longas demais, por aquela tola sensualidade, eu arriscava a calma, o Universo, as lembranças, a ansiedade tão vívida, a riqueza de conhecer os hábitos das marés e mais de uma raiz inofensiva.

Acho que parte do meu amor pela vida se deve ao meu amor pelos livros.

Às vezes a memória deixada por um livro é mais importante do que o próprio livro.

Resta este caminho; viver, ser o mais feliz dos mortais.
Mas a condição de minha felicidade, como tudo o que é humano, é instável.