Amor Sincero e Nao Correspondido
CONTENTAS
Contentas... Mas que enfado perturba
A alma inquieta? Que dor esta serva
Que ao peito aperta, e pouco se eleva
A fé, casta, vibrante tal o som duma tuba
É o banzé! Que palpita como uma turba
Nos devaneios, e os sonhos de mim leva
Do meu seio, e vão, desenhando treva
Assim aos luzidos pensamentos deturba
Aquietes, com o juízo nu, no travesseiro
Solto as quimeras... e ei-las, aligeirar
Nos caminhos da serenidade por inteiro
Alegra-te na concórdia doce e macia
Da vida, leve, com o desejo de amar
O bom hálito do prazer subleva o dia!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
23 de agosto de 2019
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
Tudo tão longe, tão grande, tão emudecido
aqui neste gemido em sofrido alarido...
Me ponho ao vento por ti clamar:
- como é bom poder te amar!
dor
escrevo com lágrima
este verso sofredor
de rima sem estima
de pancada e temor
e essa enzima
de um eterno amador
é um gemido, avena
num poema sem cor
onde chora minha pena!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
18 de setembro de 2019
Araguari, Triângulo Mineiro
ERRANTE
sonho
tornei-me assim devaneador
quando o anseio, enfadonho
despiram as quimeras em dor
de mim então fracassei
me achei e me perdi
nesta vontade, chorei!
ficou a frustração comigo
criou raiz na imaginação
tal um áspero castigo
indignação...
os olhos de tristura
choviam pela emoção
escoando amargura
sou tal qual um incessante
enxurro, transbordo, derramo
teimosia, um pescador andante
sangro, e no amor me esparramo
(nesta turra, errante!)
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
19/09/2017
Araguari, Triângulo Mineiro
SAGRAS
Há os sonhos ocultos
dizer o que? Vultos...
Há a poesia derrocada
calhorda a sua fornada
O dedo em riste, olha
insiste, a alma desfolha
Não há poetar sonegado:
- o verso nunca é calado
Há desencontro na colisão
também o meu e seu perdão
O fado tem vida peculiar
o amor não, tem de amar!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
25/09/2019
Araguari, Triângulo Mineiro
nascente
nem dia ainda é
nem escuridão
nesta hora de silêncio, fé
o sono já em vão
e a alma já de pé
mansidão
neste momento aflito
agoniada a solidão
que suspira num agito
num grito, em oração
será meu este delito
ou será do coração?
não importa a importância
não importa o cravo
o amor é relevância
o poeta da poesia escravo
a poesia pro poeta substância:
prosa, cria, aroma, desagravo...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
setembro de 2019
Araguari, Triângulo Mineiro
TORMENTO
Divagando pela veneta
Da noite
Destrancando minha gaveta
Das aflições em açoite
Entre as estrelas e a lua
Na janela das saudades silentes
Em delação tão minha, tão sua
Vou trovando motivos urgentes
Nos lamentos com agrura crua
De um tempo que já se foi...
E neste silencioso agudo
Só a alma põe-se falante
E assim, então, eu a saúdo
Segando o tormento dissonante
Versando a solidão em suspiros rudo.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
06/04/2013, 01’45”
Cerrado goiano
perdulário
gastei todas as rimas ao sonhar...
gastei todos as ilusões ao amar...
me sobrou o poetar.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
advir
que venha o viver
deixe estar
que tenha prazer
deixe ficar
amar é haver...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
SONETO NA PRIMEIRA PESSOA
O nosso eu, está em constante luta
Que eu em mim, agora vai portento?
Se sou quem sou, não sou momento
Pra ser quem sou, no eu tive conduta
Em nada fiz pro eu estar desatento
De fora ou de dentro, da vida recruta
Se não vago, eu, sempre na labuta
Pois, o tempo é eterno ensinamento
Quem é este em mim que o ser imputa
Pois, o diverso é mais que juntamento
É sentimento, num tal zelo sem disputa
Não hei sabê-lo se houver "divisamento"
Afinal, se há partilha há também permuta
E meu eu: é fé e amor num só complemento
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
10 de agosto, 2016
Cerrado goiano
Tudo
Tudo,
são metamorfose,
e também sanhudo.
Se é grão, se é chão,
criador e criado,
do todo, expressão,
desamor e amado...
Porém, se é do coração,
o afeto é apropriado,
e a poesia eterna canção...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro, 26 de 2016
Cerrado goiano
Alforria
Seria bom, eu queria
Ter uma afeição tua
Uma palavra à revelia
Nada ouço ou vejo na rua
Noturnal, duma noite vazia
Só a lua solitária, fria e nua
me fazendo companhia...
Mas a saudade é sua
ou é minha?
Não importa a quem valeria
se a vida é torta
e reta é a sabedoria
do tempo. Se viva ou morta
a prosa da poesia.
O que voga é o que o amor reporta
aí sim, a paixão tem harmonia
e a permissão, na solidão, exporta...
Alforria!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Dezembro, 2016
Cerrado goiano
SONETO NA CONTRAMÃO
O badalo bate, o sino da igreja soa
Qual navalha o som corta a solidão
Chiando no silêncio pesar e aflição
E no relógio a hora a ligeireza ecoa
Num labirinto de saudade e emoção
A lembrança de asas no tempo voa
Desgovernando o sentimento a toa
Num vácuo de suspiros no coração
Então, o seu ganido invade a proa
Da alma, que se sente sem razão
E cansada de tantos ruídos, arpoa
Nesta quimera de dor e de paixão
Os olhos são cerrados pela garoa
Pingada das lágrimas na contramão
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Dezembro, 2016
Cerrado goiano
SONETO ABARROTADO
Cá estou neste um lhano afável poetar
No estribo da rima, "eu te amo", tramo
Porque nos meus versos eu te clamo
E na poesia és meu constante venerar
Não deixes o encantamento no escamo
Nem no peito a fascinação então secar
Grite aos ouvidos desejos atirados ao ar
Pois uma paixão não resiste ao reclamo
E neste soneto abarrotado a sublinhar
Então poderei lhe dizer: - eu te amo!
Sem que o silêncio nos faça ultimar
Vim aqui fazer este breve invocamo
Onde cada sentido busca o teu olhar
Assim, firmar que no amor és reclamo!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Fevereiro de 2017
Cerrado goiano
A UM TRISTE (soneto)
O meu destino é talvez a do azar
Jurando as venturas... de maneira
Que com o acaso se possa sonhar.
Vidas de má sorte várias, herdeira!
Outros êxitos talvez já pude gastar
Fui, um aventureiro na tranqueira
Do fado. E infausto agora a chorar
Ou pesado no sortilégio, na beira...
É brado num temor sem tamanho
Num luto da felicidade: permitidos
Mártir na dor, um desígnio estranho
Por isso, lamento aflição e pranto
Sentimentos dos heróis vencidos.
E com a alma cartada no recanto...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro, 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
À SOLIDÃO (soneto)
Oh! jornada de inação. O silêncio em arruaça
Arde as mãos, o coração, aperreado arrepia
O olhar, tremulo e ansioso, tão calado espia
O tempo, no tempo, lento, que ali não passa
No cerrado ressequido, emurchecido é o dia
E vê fugir, a noite ribanceira abaixo, devassa
E só, abafadiço, o isolamento estardalhaça
No peito aflito de uma emoção áspera e fria
Pobre! Se põe a sofrer, nesta tua má sorte
No indizível horror de um sentimento vão
Quando silenciosa e solitária é a morte...
Bem à tua paz! Bem ao teu “às” sossego!
Melhor na quietude, ao espírito elevação.
Se na solidão, viva! E saia deste apego!...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, 11 de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
DENTRO DA NOITE (soneto)
A luz da lua no quarto me banha
No canto do sonho a noite palpita
As estrelas, no céu no breu agita
O silêncio na escuridão entranha
O cerrado se cala, a treva vomita
Quimeras na imaginação, manha
No ouvido e no olhar, e barganha
Com as ilusões, vestida de chita
E a sombra continua a jornada
Como que, o sossego que canta
A caminho da alta madrugada...
Baralha, mistura na cor prateada
Encantada, que então se agiganta
Dentro da noite, a lua enamorada
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
PER VIVERE DI NUOVO (soneto)
Se aos iguais pesares me convidas
Com as mesmas dores dilacerantes
Para mim saudosar pelas horas idas
Na lembrança de tempos vibrantes
Não me digas nada! Já são perdidas
As recordações. Ilusões dissonantes
Desvanecidas pelas outroras vidas
E à emoção, outras razões de antes
“Per vivere di nuovo”, - o que importa!
Desatrele do passado… - vida nova!
Pois a nossa estória já trancou a porta
Amei-te! Mais que os amores tantos
E se apartado, resta está única trova
Não mais por ti evocarei meus prantos...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
SONETO QUE TE DOU
Escute este soneto que te dou, cerrado
o fiz sob o céu com o olhar envolvido
o coração aturdido no pasmo prendido
versos os farei, pra ti, chão articulado
Se são poucos para lhe ser servido
hei de fazê-los pra te ser anunciado
poema dum sublime a ser mediado
de suas variações que aqui alarido
São sons repletos do vário, moldado
nos cascalhados e no vento corrido
entre arbusto de esgalho aveludado
Versos meus, os faço seus, provido
de admiração, dum sertão alumiado
onde o diverso no cotidiano é vivido
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2017, junho
Cerrado goiano