Viva a Vida como se Fosse a Ultima

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Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um
pouco seca e se vê por que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de
antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas
falando e rindo, falavam e riam para dar matéria e peso à levíssima embriaguez que era a alegria da
sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça,
mas, as águas são uma beleza de escuras – e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca
ficando um pouco mais seca de admiração.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Por não estarem distraídos.

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A calma, o equilíbrio, as palavras ditas lentamente, como se escolhesse. Raramente um gesto, um tom mais espontâneo. Tão bom ator que ninguém percebe minha péssima atuação.

Acho que é bom a gente saber que existe desse jeito em alguém, como você existe em mim.

'Felicidade'. Por causa dela, seriam buscados outros bens, como os materiais, por exemplo, cuja ausência poderia comprometer a felicidade, mas cuja presença não bastaria para que se pudesse alcançá-la.

Vi que sem você não há caminho,
eu não me acho
Vi um grande amor gritar dentro de mim como
eu sonhei um dia
Quando o meu mundo era mais mundo
E todo mundo admitia
Uma mudança muito estranha
Mais pureza, mais carinho mais calma,
mais alegria
No meu jeito de me dar
Quando a canção se fez mais clara e mais sentida

Como eu queria agora ir para a sua casa, deitar na sua cama, ouvir a sua voz, esquentar meu pé na sua batata da perna.

Faça o bem ao próximo assim como você gostaria de receber dele a bondade. Eis um dos pilares da verdadeira sabedoria!

Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Toda arte e toda investigação, assim como toda ação e toda escolha, tem em mira um bem qualquer; e por isso foi dito, com muito acerto que o bem é aquilo a que todas as coisas tendem

"Eu perturbo a paz dos surdos com meus gritos inúteis..."

"... você é como a cotovia que ao romper do dia se levanta da terra sombria".

Vou mostrando como sou e vou sendo como posso.

E como eu faço pra chamar a atenção de alguém que parece estar nem aí pra mim?

Importante não é quando volto, mas como volto: mais feliz, mais maduro, mais pleno? Mais vivido.

Importante é viajar, conhecer novas culturas, cidades, portos. É confrontar pensamentos, valores, conceitos, sentimentos...

Estou aprendendo e vivendo e assim continuo...

Importante é recomeçar. É o velho novo, de novo. É tentar, tentar e tentar. E se nada do planejado der certo, simplesmente não planejar e seguir em frente. Há tantos lugares para ir, tantos Nortes e tantos Lestes.

Importante é fechar portas e abrir possibilidades. Vou, assim como vim. Como um barquinho de papel deslizando na correnteza da vida.

"Quem já perdeu alguma coisa que tinha como garantida (algo que já me aconteceu muitas vezes), acaba por aprender que nada lhe pertence.

O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formámos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão.

Fernando Pessoa

Nota: Trecho adaptado de poema do "Livro do Desassossego", de Bernardo Soares (heterônimo de Fernando Pessoa).

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Por que ela estava tão ardente e leve, como o ar que vem do fogão que se destampa?

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Tenho visto muito bom caráter em pessoas com comportamento
tido como transgressor, polêmico ou depravado,
e muita vileza escondida por trás de quem adora mostrar-se
como pessoa de bons costumes...

Médico e o monstro da solidão

Era “neuro”, como dizem. Já nem sabia mais se queria aquela profissão porque não tinha escolhido a medicina para “salvar pessoas” e sim para “salvar sua conta bancária”. Trabalhava que nem um condenado para tirar 6, 7 paus por mês, o que não era péssimo mas estava longe de ser enriquecedor. Pra piorar, não agüentava mais a vida real com toda aquela galera doente e queria virar cineasta.
Ela era “neuro” também, como dizem também. Já estava no décimo ano de terapia e continuava igual, fazia parte da sua alma, não tinha jeito. Era poeta, tinha até um site onde vomitava textos pesados e sem rima. Detestava os poetas tuberculosos que tinha estudado para o vestibular.
Em comum, além da abreviação, eles tinham a vontade de deixar de ser singular. Foi aí que ele, um dia, depois de tomar banho e não ter vontade nem de se vestir (pra quem?), digitou no google a palavra “solidão”. Caiu direto no site da garota neurótica. Era uma poesia que se chamava “solidão o cacete”.
Essa internet expõe mesmo as pessoas, ele pensou. Ainda bem, ele pensou quando viu a foto dela e achou a mistura daquele texto com aquele rosto algo merecedor de mais exposição:
-Ei, figura, tudo bem? Caí aqui no seu site, nessa noite quente por fora e fria por dentro. Sou neurocirurgião, posso abrir sua cabeça. Não que você seja limitada.
Ela, que não estava acostumada a responder esse tipo de e-mail (sua mãe moderna sempre dizia “naum tc com estranhos”), resolveu abrir uma exceção porque achou o máximo falar com um neurocirurgião e também porque pensou que ele devia ganhar bem:
-Ei, figura, tô precisando muito que alguém me faça uma lavagem cerebral. Conta mais.
-Só se for ao vivo.
-Fechado.
Se encontraram na Fnac da Paulista, ele era alto demais pro gosto dela, ela baixa demais para o dele. Foto engana. E o pior é que nem o papo manteve-se à altura do esperado.
-Sabe, sou louca. Odeio o mundo.
-Você é mais normal do que imagina.
-Nunca saí com um fã.
-Isso não é um encontro.
-Eu sou feia?
-Linda, mas não faz meu tipo.
-Ótimo, uma amizade dura mais que um amor, nunca mais vamos sofrer de solidão.
Ela foi falsa com as palavras cheias de rapidez empolgada, ele com o consentimento cheio de sorrisos encantados. Conversaram amenidades, comeram pão de queijo, falaram mal de um casal freak que se beijava na frente de crianças, ensaiaram um beijo desconexo para manter viva a chama do teatro e não decepcionar a tarde que se despedia esperançosa, desceram as escadas rolantes e deram graças a Deus quando tudo acabou.
Por trás daquele e-mail morava o homem da vida dela, sensível, engraçado e charmoso. Ela não podia perdoá-lo por não ser ele. Por trás daquele e-mail morava uma loira gigante, corpulenta e que fala “cacete”, aquela menina metida a intelectual merecia a morte.

Trate seus amigos da forma como faria com uma conta no banco - evite retirar demais.

Deixa ser, como será!
Quando a gente se encontrar
No pé, o céu de um parque a nos testemunhar...