Vital
NAU DE ILUSÕES
Se eu quiser sonhar
- Desperto...
Meus sonhos vesgos sobre obliquas paralelas
Aportam em mares tênues sob náufrago porto solidão.
E meus sedentos lamentos à razão
Naufragam mortos mares de ilusões
A deriva essa nau de emoções
Zarpa no infindo oceano da paixão.
Esse emaranhado de cordas
Que se chama coração.
NINGUÉM DE MIM SABERÁ
Ninguém me ver...
Ninguém me sabe!
Meu coração um perfeito
- Pretérito...
Nada do que fui tornará
Nada do que sou sobreviverá!
E minha alma em algures
- Preterida está.
Só a morte me resta como única
Essa pantera, conclusão me fará.
Ninguém me ver
Ninguém de mim saberá.
NINGUÉM É SENHOR DE NINGUÉM
Viver à altura do meu mister
No limiar de minha vida
Essa é a nossa maior premissa.
- A alma!
Axioma ou pura quimérica?
É certo que a lua brilha e mira-se nos lagos
Por está nas alturas...
E a doença física é a cura da alma.
Aquilo que mais me pertence
- Permite e perdoa
Somos apenas um amontoado de erros!
Ninguém é senhor de ninguém.
MINHA ESPERANÇA:
Oh, Banabuiê do meu encanto!
Tuas águas tênues, teus ipês sombrios, quanta saudade eu sinto!
Tua ingenuidade de menina moça, teu talento,
Saudades de ti pequenina eu tenho
De tuas ruas In-natura e pouco movimento.
De teu comércio ainda sem muito alento.
Ah, Banabuiê de seu primeiro intento!
Queria eu a ti voltar ao tempo,
E rever meu quintal às margens de quem te fizera Esperança
Aonde ainda eu criança
Brinquei com meus barquinhos de gazeta margem à margem
Então como Esperança.
Que rompe-me a maturação e faz migrar meus sonhos pueris
De crescer não ser criança
Se eu pudesse neste instante, verter minha ilusão adulta
Da inveja, da cobiça e do semblante
Dormiria eternamente
Para não emergir aos meus sonhos de infante
Tampouco sentir o odor nauseabundo de quem a ti.
Fez surgir o progresso itinerante.
LEIA
Se encontrares esse poema leia.
Rasgue e jogue-o ao vento.
Para que seus sobejos se espalhem no variado universo.
Depois procure-o!
Vasculhe o coletor de lixo, as orlas e até tua casa.
Só leia e, leia!
Porque o sol, a chuva, a lua e, o moço do lixo.
O destruirão de vez...
Por fim procure-o em si.
SUPLICANTE
Se queres me negar, seja de pouquinho
Que não possa ouvir o tilitar do teu coração
Enebriar-se de rancor.
Quando fores... Saia de mansinho
Pode estar meu coração.
ABJETO
Quando o império pensar que virá
Sério! Já serei terno.
Não queira ouvir a voz que seduz!
Quando o mistério voltar
Mister será senil.
Imperativos...
Produz almas vazias.
LUSCINIA
Sob o sol ainda brando da aurora
A sutileza dos ventos pacífica sua cópula sobre a copa das árvores em bulicio.
Tinhosa, a clorofila põe -se em rosa pros acordes dedilhar.
Seu canto magestoso me embala a versejar.
Prefiro a lira do seu canto
A copla de seus versos
Suas rimas seu trovar.
O mais celebre dos poetas
Se fazia destoar.
SINESTESIA
Todos nós somos sozinhos
Na pele e na alma.
Quando adolescente a solidão
Fazia-me sentir-se o mais infeliz dos humanos.
Hoje, sinto essa necessidade de estar sozinho.
A solidão é condição sine qua non do ser humano.
Adultos são tristes e solitários.
Apesar de perigosa e viciante
Nada assustadora.
Remete ao cerne das inspirações.
Sobre o amor a solidão se acalma.
Criança possui fantasia...
Às vezes, preciso encontrar a criança
Que deixei no passado a chorar
Solidão, a fantasia!
Viva a fantasia!
Colossais figuras humanoides
Viajam na imaginação dos amantes.
ALMA POÉTICA
O poeta pôs-se a dizer que a dor da alma,
Antagônica à física, remedia-se com a suavidade do silêncio e, a amorosa companhia noturna.
Ou, quiçá, uma moda do Jonh Cale para aplacar seus males.
E, que o poema não!
O poema, apenas lhe oferecerá carinho.
Ah, o poema!
Esse sim, é lenitivo à alma e os males que aflige o poeta.
NÃO DIGAS NADA
O silêncio é tão suave
Que explicita minhas reticências
Tão leve, que leva à toda compreensão
Não digas nada...
Nada mais perigoso que a certeza da razão.
Nada digas haver razão
Venere o frescor da dúvida
E, te farás razoável, são.
MIOPIA
Os olhos miram o horizonte
Em buscado do que deve estar em falta.
E, por sua ineficácia não encontram.
Se quiseres chorar que chores!
... Que não seja por acaso!
Bem sabes que não morri
Apena me embriaguei
Na orla do meu cansaço.
AUTOCONSCIÊNCIA
O poeta diria que não há comunicação com a alma.
Senão, a própria.
Alheia...
Apenas alhares, gestos ou palavras.
Meu âmago é seco porque minh'alma
Dialoga com a tua em pleno hecatombe existencial.
O abismo entre mim e você se reflete no soprar do vento aos meus ouvidos.
Como será o interior de outrem,
Alguém se atreveria sonhar?
A lei do espelho fala por si.
O poeta não apenas escreve
Reflete pensamentos.
QUANTAS ALMAS TEMOS:
Quando criança está sozinho me era aprazível.
Meus poucos amigos, pouco me eram!
Assim me fez viciar ao perigo da solidão.
Recluso ao meu tumulo, em silêncio,
Escutei a voz do coração distanciando-me
Do convívio com pessoas.
Saímos de cena para deixar fluir!
Na plateia mascaras sem olhos.
Metade de mim era alma, outra metade nem calma.
A vida nada mais que comédia suburbana
O único ato de um único monólogo.
O idiota canta, sozinho encena horas a fio
Logo sua voz se faz silêncio sob a égide de um até breve.
Quando, vê, o show acabou.
A comédia bufou.
Nada é eterno!
Não sabemos quantas almas temos.
Cada momento não somos ou cabemos.
NUDEZ
Me despi
Não do corpo têxtil
Me despi
Desse inócuo corpo físico
Me despi
De sentimentos índolentes que não me apraz.
Me despi
De esperanças vãs que nunca aportam o meu ser.
Me despi
Dessa indolente arrogância que se faz competir.
Me despi
E sigo assim para me vestir de sonhos
E, seguir.
Série Minicontos
IDÍLIO
No limiar da noite sobre a namoradeira.
Um longo preto estampado em flores escorria sobre o corpo. Jonny, lhe adornava os ralos cabelos negros. A vovó Deinha trançava o sonho azul do netinho Pedro, que ao pé da letra dormia envolto ao mundo de fantasias. Quando acordou, estava lá.
Série Minicontos
CAFÉ SOCIOLÓGICO
À medida que serena a noite, aumenta meu interesse pela cena.
O lugar expressa luxo, frequentado aos fins de semana. Eles se arvoram celebres. Sempre ali reunidos. Celebrando das mais importantes à mais fútil.
O ar rarefeito que sopra de fora para dentro do ambiente surge com pai e filho que sempre àquela hora naquele café, pedem pizza, saem sem ser vistos e não comem.
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