Versos de Comedia

Cerca de 108600 frases e pensamentos: Versos de Comedia

O invejoso é tirano e verdugo de si próprio: ele sofre porque os outros gozam.

Os homens são poucas vezes o que parecem; eles trabalham incessantemente por parecer o que não são.

Admiramos o mundo através do que amamos.

Seja no que for, apenas poderemos ser julgados pelos nossos pares.

Não existe vício que não tenha uma falsa semelhança com uma virtude e que disso não tire proveito.

O pretexto normal dos que fazem a infelicidade dos outros é de quererem o bem deles.

Nunca a polícia terá espiões comparáveis aos que se colocam ao serviço do ódio.

Em grande parte, os maridos são como as mulheres os fazem.

A ambição sujeita os homens a maior servilismo do que a fome e a pobreza.

Quem sem descanso apregoa a sua virtude, a si próprio se sugestiona virtuosamente e acaba por ser às vezes virtuoso.

É mais vulgar ver um amor absoluto do que uma amizade perfeita.

O fim da vida não é a felicidade, mas o aperfeiçoamento.

As amoras

O meu país sabe às amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

Eugénio de Andrade
O Outro Nome da Terra

Uma árvore nua
aponta o céu. Numa ponta
brota um fruto. A lua?

Deus, que eu morra no palco!
Não me coroem
De rosas infecundas a agonia!

A ponte é um pássaro
de certeiro vôo: sua sombra
perdura na lembrança.

Neblina? ou vidraça
que o quente alento da gente,
que olha a rua, embaça?

Mors Amor

Esse negro corcel, cujas passadas
Escuto em sonhos, quando a sombra desce,
E, passando a galope, me aparece
Da noite nas fantásticas estradas,

Donde vem ele? Que regiões sagradas
E terríveis cruzou, que assim parece
Tenebroso e sublime, e lhe estremece
Não sei que horror nas crinas agitadas?

Um cavaleiro de expressão potente,
Formidável, mas plácido, no porte,
Vestido de armadura reluzente,

Cavalga a fera estranha sem temor:
E o corcel negro diz: "Eu sou a morte!"
Responde o cavaleiro: "Eu sou o Amor!"

Contemplação

Sonho de olhos abertos, caminhando
Não entre as formas já e as aparências,
Mas vendo a face imóvel das essências,
Entre ideias e espíritos pairando...

Que é o Mundo ante mim? fumo ondeando,
Visões sem ser, fragmentos de existências...
Uma névoa de enganos e impotências
Sobre vácuo insondável rastejando...

E dentre a névoa e a sombra universais
Só me chega um murmúrio, feito de ais...
É a queixa, o profundíssimo gemido

Das coisas, que procuram cegamente
Na sua noite e dolorosamente
Outra luz, outro fim só pressentindo...

o mar urrava
como um fauno
após o coito