Poemas curtos de Clarice Lispector
Nossa amizade era tão insolúvel como a soma de dois números: inútil querer desenvolver para mais de um momento a certeza de que dois são cinco.
Como é bom o instante de precisar que antecede o instante de se ter.
Pois há um tempo de rosas, outro de melões, e não comereis morangos senão na época de morangos.
O verão está instalado no meu coração.
E todos os dias ficarei tão alegre que incomodarei os outros.
Eu queria escrever um livro. Mas onde estão as palavras? esgotaram-se os significados.
E eu não aguento a resignação. Ah, como devoro com fome e prazer a revolta.
Nota: Trecho da crônica As crianças chatas.
...MaisQuando de noite ele me chamar para a atração do inferno, irei. Desço como um gato pelos telhados. Ninguém sabe, ninguém vê. Só os cães ladram pressentindo o sobrenatural.
Enquanto escrever e falar vou ter que fingir que alguém está segurando a minha mão.
Se me abandonar, ainda vivo um pouco, o tempo que um passarinho fica no ar sem bater asas, depois caio, caio e morro.
Mas não há paixão sofrida em dor e amor a que não se siga uma aleluia.
Não ter forças para lutar era o meu único perdão.
Minhas ideias são inventadas. Eu não me responsabilizo por elas.
A fé – é saber que se pode ir e comer o milagre. A fome, esta é que é em si mesma a fé – e ter necessidade é a minha garantia de que sempre me será dado. A necessidade é o meu guia.
Cada um tem o anjo que merece.
O grande vazio em mim será o meu lugar de existir; minha pobreza extrema será uma grande vontade. Tenho que me violentar até não ter nada, e precisar de tudo; quando eu precisar, então eu terei, porque sei que é de justiça dar mais a quem pede mais, minha exigência é o meu tamanho, meu vazio é a minha medida.
Preciso ser livre - não aguento a escravidão do amor grande, o amor não me prende tanto.
