Velhos Companheiros
Nada, jamais, substituirá um companheiro perdido.
Ninguém pode recriar velhos companheiros.
Nada vale o tesouro de tantas recordações comuns, de tantas horas más vividas juntos, de tantas desavenças, de tantas reconciliações, de tantos impulsos afetivos.
Não se reconstroem essas amizades.
Seria inútil plantar um carvalho na esperança de ter, em breve, o abrigo de suas folhas.
Assim vai a vida.
A princípio enriquecemos.
Plantamos durante anos, mas os anos chegam em que o tempo destrói esse trabalho, arranca essas árvores.
Um a um, os companheiros nos tiram suas sombras.
E aos nossos lutos mistura-se então
A mágoa secreta de envelhecer...
Corpo, meu velho companheiro, nós pereceremos juntos. Como não te amar, forma a quem me assemelho, se é nos teus braços que abarco o universo.
Domingo à noite,
Sentado na varanda da vida...
Acendo meu cachimbo... meu velho companheiro...
Que na espiral da fumaça me leva...
A ascender meus pensamentos...
Ouço o barulhos dos carros a cortar as avenidas...
Relembro um belo rapazinho...
Que todos os dias planejava dominar o mundo...
Mil planos e projetos que lhes trariam poder e fortuna...
Em vinte anos seria milionário ...
Acumulando bens e muitos tesouros...
Deparo hoje com ele...
Não tão belo, pois a vida lhe concedeu...
Além dos anos... alguns quilinhos a mais...
Não ganhou fortuna ou acumulou bens...
Mas sente-se feliz...
Apesar das suas fraquezas e imperfeições ...
Jamais desistiu de dominar o mundo...
Continua tentando e sonhando...
Com a mais absoluta certeza de que a vida prossegue...
Ensinando e lhe dando..
Não tudo aquilo que ele quer...
Mas muito mais do que ele merece...
Nesta abençoada escola da vida!
A simplicidade encontrou um velho companheiro.
Então ele perguntou: "Simplicidade, como você está? Quanto tempo não nos vemos! Você está do mesmo jeito, não mudou nada! Me lembro do tempo em que você estava sempre comigo e em minha casa morava. O que aconteceu?"
A simplicidade respondeu: "É verdade, tem alguns anos que não nos vemos, desde o tempo que a riqueza entrou em sua casa e veio com ela a soberba, que possou a ser sua companheira. Deixei de morar em sua casa e também de ser sua companheira, porque eu e a soberba não concatenamos."
Coração
O que tem sido de você, meu velho companheiro, os batimentos quase imperceptíveis, sujeito de parcos sentimentos, sumido no horizonte arrítmico transcendendo em razão.
Vinho, velho companheiro, a cada bebericar trago à tona uma lembrança, não importa se distante ou próxima, uma música especial, poesias, sabores, muitas cores, confidências, amores, verdades, vida em efervescência, transporto para bem longe minhas dores e transformo em vinho as minhas lágrimas, para bebê-las pensando em você! (Pedro Marcos)
