Coleção pessoal de IoneZero

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O Tempo de um Diário

Há quanto tempo.
Tempo que mais tenho,
há quanto tempo.
Mas tempo é que
não me falta,
para lembrar-me que
há muito tempo,
você tinha tempo,
para lembrar-se do tempo,
em que me tinhas.
Bons tempos aqueles!

(1979/1980)

Ás Moscas

Poesia é o grito de liberdade do poeta!

Ponto

No faz de conta do meu mundo real, às vezes não existo.

Irrespondível

Pra que colorir o arco-íris, se o céu teima em aparecer cinza tempestade?

Meu "Eu" Palhaço

No dia em que o sorriso se transformar em lágrimas, abdicará do palco, se vinculará a platéia.

Injúrias

Na guerra das línguas, a primeira a morrer é a verdade.

Remendos

Primeiro vou
alinhavando os trapos
refazendo
com pontos largos
depois ajusto
com pontos miúdos
juntando os pedaços
parte a parte
puxo daqui
uma linha ali
por ultimo um nó
bem apertado
que é pra ver
se não me desfaço

"Viver é um rasgar-se e remendar-se."
(Guimarães Rosa)

Ser

Estou desistindo do ser
Ser aproveitador
Desagradecido
Maquiavélico
Desonesto
Perverso
Invejoso
Cínico
Falso
Mau
Um ser humano

Pés no Chão

Assim se todos amores fossem amigos, não veríamos tantos pés maduros voando por aí.

Singular

O fidedigno cravo sutilmente toca a rosa sem esbarrar em seus espinhos.

Leva a Maria

O homem refém da sua existência
Tempera a saliva com a bagaceira e mel
Mastiga o ego rompendo o fel
A cada palavra dita
Enreda-se em laço de fita
Desaba na graça do povo
Risível o triângulo amoroso
Leva a Maria Zé
Que vale a formosura
Sujeita boa de morder fumo
Leva a Maria Zé
Negócio de amigo
Na segunda vê se devolve
Porque a Maria já tem dono.

Coração

O que tem sido de você, meu velho companheiro, os batimentos quase imperceptíveis, sujeito de parcos sentimentos, sumido no horizonte arrítmico transcendendo em razão.

Desobrigado

De nada valem as palavras amordaças pela tirania,
corre-se o risco da desapropriação de pensamentos,
aprisionado na sua caixa craniana.
Ideando uma expressão de desprezo,
a língua cala a lágrima que falha,
restando-lhe um nó na garganta para ser desatado.

Enigma

O mistério é uma gota mergulhada em águas profundas.

Sobre o Poeta

O maior rival do poeta é o silêncio interior.

Rosa

O mundo precisa de mais Rosa
A vaidade gira em torno
de ideias nefastas trazida
pela desesperança.
O orgulho mata as pessoas
Nesse plano Rosa não deixa magoas
Quando se vive com dignidade
Tudo vale a pena, até a morte
"Deus não falhou, ele curou minha alma."

(Dedicado a um espírito de luz)

Olhos Negros

Ah! Como é engraçado o tempo, sempre pontual, um equilíbrio natural.
Passam se os segundos vão se os minutos, amanhece o dia, chega-se
a noite.
Segunda anuncia que...
A Terça vai ser um slow motion.
Já Quarta é o meio depois do começo e antes do fim.
No desespero do ultimo round se encerra a Quinta.
Bendita seja Sexta entre um sorriso e um drink u.u... happy hour.
Sábado promete a pegação total na night.
É Domingo após almoço em família bodeado que agonia.
Foi se a semana, deu-se o lugar ao Mês.
Entre suor e samba no carnaval beijo não pode mais.
A mulher reivindica seus direitos e exige respeito.
Morre a dieta em uma reprodução desenfreada dos coelhos achocolatados.
Um elo liga a noiva à maternidade se tornando na máxima protetora mãe.
Saudades que não mata, mas que traz doces recordações dos avós queridos.
Pai herói ou não, vão ser sempre fonte de inspiração.
Independência outrora, na atualidade o clamor e o grito de liberdade do oprimido.
Meio dia em ponto uma mistura de fé e consumismo, mas criança não tem valores invertidos.
As almas clamam por si, uma energia de agitação que causa estranheza, mais uma mistura de fé, consumismo e fantasia.
É semana que emenda na outra, tanta comilança uns vão pro retiro, há quem a beira mar roga um ano vindouro.
Pra uns começa tudo de novo e outros se retiram.
Não, não é o fim e sim o começo deste texto,
foi na retrospectiva que percebi que estou enamorado desses olhos negros.

Harmonia

Sem música a vida seria um desatino desafinado.

Mira

Não adianta trocar os sapatos se as pedras miram os olhos!

Na Velhice

O último rosto a esquecer, é aquele que nos acompanhou até aqui.
O cansaço me colocou a dormir um pouco mais do que o habitual, o galo não cantou como de costume, danado não me despertou, causou-me estranheza, o que teria acontecido com o velho petrukio, nosso único galo no galinheiro. Quando fui pego pelo cheiro e um aroma delicioso que vinha da cozinha, era de bolo de milho e café, por certo não passa dás dez. Levanto, calço minhas chinelas surradas e a passos lentos vou espichando daqui e alongando ali até chegar na varanda, onde o café está posto na mesa grande, o sol pela janela lambe quase toda a varanda, o manto azul no céu doa aos pássaros a liberdade de ir e vir sem nenhum obstáculo, ouço um som de água borbulhando dentro da chaleira e da madeira a estalar no fogão a lenha, quase que atropelado pelas brincadeiras das crianças, penso, a algazarra está completa pelo pega-pega, pelos gritos e gargalhadas que ecoam nos corredores da velha casa, sinto-me regozijado pelo feito, então o silêncio sobrevém juntamente de uma tristeza sem fim, quando finalmente sou amparado e com suas mãos a cariciar meus cabelos, de uma voz doce e conhecida a me conduzir ao um grande tacho onde ela me banha todas as manhãs, diz-me o presente. O que meu velho anda sonhando acordado?